Por Liliana Pinheiro
Tem gente atilada no mundo da análise política profissional e amadora — escrevinhadores da mídia e alguns de seus leitores, além de personalidades de várias áreas. Gente que tudo vê e até antevê porque reconhece sinais de que vem barulho pela frente muito antes da maioria. E tem gente boa demais, bem informada, mas ingênua de dar dó. O que os une, muitas vezes, é o desejo de acertar e de colocar o país nos eixos. Em algum momento, os dois times se encontram, e é chegada a hora do acerto de contas com os poderosos.No Brasil, sob o governo Lula, essa hora tarda. Fala-se da imensa capacidade de resistência dos petistas, a começar do presidente, passando por seu braço direito, José Dirceu, e pelos capatazes que vão sendo apresentados ao país pelas CPIs. No mundo da política, porém, é difícil crer em grandes homens e grandes mulheres capazes de se tornar, por si mesmos, invulneráveis. Idéias ou esquemas bem trabalhados, de modo a ter respaldo de um grupo ativo e numeroso de pessoas, os mantêm em pé, além de circunstâncias históricas favoráveis.
Lendo texto de Rui Nogueira, publicado na quinta-feira neste site, encontram-se pistas da espinha dorsal dessa resistência e da reação tardia da sociedade aos presentes desmandos. Vamos a ele.
“Ninguém parte para um aparelhamento desenfreado, que incluía até o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, a Embrapa e outros órgãos sagrados da administração pública, só para brincar de ocupar espaços políticos!”, diz Nogueira.
No dia seguinte, sexta, a coluna de Dora Kramer no jornal O Estado de S. Paulo apresentou idêntica constatação. Também comentando o esquema Banco do Brasil-Visanet-Valério-PT, ela diz: “Ficam sobretudo expostas as razões do aparelhamento do Estado: elas vão muito além da motivação ideológica da garantia de execução de um projeto de governo e visam a assegurar, pela via do tráfico de influência, a sustentação econômica de um partido”.
Por razões diversas, que passam inclusive por características do funcionalismo e pela confusão de cargos de confiança no Estado, criou-se na política brasileira a cultura da dominação da máquina pública como garantidora de projetos de poder que se reivindicam bons e necessários para o país. De preferência, por um longo período — duas gestões, três, 20 anos, ah, 20anos! Todos sonham com isso. Por outras razões, essas sim interessantes para esse texto, esse sonho foi legitimado pela sociedade.
O nascedouro dessa legitimação foi a militância dos vários partidos, em especial a do PT. A “doutrina” petista ensinou aos seus seguidores o caminho da paranóia — o adversário político, tratado invariavelmente com status de “inimigo” estaria, sempre, pronto a aniquilar uma experiência “popular” de poder. E também indicou a arma para fazer frente a essa ameaça, que seria a infiltração ou a conquista de aliados, sempre que possível, em postos-chave da administração pública. Estando ou não o PT no poder.
É quase parte do insuportável código de conduta politicamente correta aceitar essa situação como verdadeira e adequada. Seria expressão da política real, para a qual só os alienados virariam o rosto. E essa crença se alastrou. Os espertos trabalharam esse conceito, aceito como justo, até que ele ficasse à sua imagem e semelhança. Lula se tornou intocável. Da tolerância ao aparelhamento, a opinião pública migrou para a condescendência aos líderes dessa forma de “resistência” democrática ou revolucionária — a qualificação sempre ficou ao gosto do freguês na barafunda ideológica do petismo, que, no fundo, sonhava apenas em ser grande.
Por isso é importante ler o que disse Rui Nogueira — o texto está ainda disponível nesta edição. Só desmontando a tese primeira — a de que aparelhamento serve a um projeto nobre, quando na verdade serve ao enriquecimento de um grupo —, se conseguirá, num segundo momento, debater toda a bobagem na qual, hoje, os brasileiros se encontram enredados. Depois disso, o acerto de contas virá.
(liliana@primeiraleitura.com.br)
Publicado em 4 de novembro de 2005
Tem gente atilada no mundo da análise política profissional e amadora — escrevinhadores da mídia e alguns de seus leitores, além de personalidades de várias áreas. Gente que tudo vê e até antevê porque reconhece sinais de que vem barulho pela frente muito antes da maioria. E tem gente boa demais, bem informada, mas ingênua de dar dó. O que os une, muitas vezes, é o desejo de acertar e de colocar o país nos eixos. Em algum momento, os dois times se encontram, e é chegada a hora do acerto de contas com os poderosos.No Brasil, sob o governo Lula, essa hora tarda. Fala-se da imensa capacidade de resistência dos petistas, a começar do presidente, passando por seu braço direito, José Dirceu, e pelos capatazes que vão sendo apresentados ao país pelas CPIs. No mundo da política, porém, é difícil crer em grandes homens e grandes mulheres capazes de se tornar, por si mesmos, invulneráveis. Idéias ou esquemas bem trabalhados, de modo a ter respaldo de um grupo ativo e numeroso de pessoas, os mantêm em pé, além de circunstâncias históricas favoráveis.
Lendo texto de Rui Nogueira, publicado na quinta-feira neste site, encontram-se pistas da espinha dorsal dessa resistência e da reação tardia da sociedade aos presentes desmandos. Vamos a ele.
“Ninguém parte para um aparelhamento desenfreado, que incluía até o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, a Embrapa e outros órgãos sagrados da administração pública, só para brincar de ocupar espaços políticos!”, diz Nogueira.
No dia seguinte, sexta, a coluna de Dora Kramer no jornal O Estado de S. Paulo apresentou idêntica constatação. Também comentando o esquema Banco do Brasil-Visanet-Valério-PT, ela diz: “Ficam sobretudo expostas as razões do aparelhamento do Estado: elas vão muito além da motivação ideológica da garantia de execução de um projeto de governo e visam a assegurar, pela via do tráfico de influência, a sustentação econômica de um partido”.
Por razões diversas, que passam inclusive por características do funcionalismo e pela confusão de cargos de confiança no Estado, criou-se na política brasileira a cultura da dominação da máquina pública como garantidora de projetos de poder que se reivindicam bons e necessários para o país. De preferência, por um longo período — duas gestões, três, 20 anos, ah, 20anos! Todos sonham com isso. Por outras razões, essas sim interessantes para esse texto, esse sonho foi legitimado pela sociedade.
O nascedouro dessa legitimação foi a militância dos vários partidos, em especial a do PT. A “doutrina” petista ensinou aos seus seguidores o caminho da paranóia — o adversário político, tratado invariavelmente com status de “inimigo” estaria, sempre, pronto a aniquilar uma experiência “popular” de poder. E também indicou a arma para fazer frente a essa ameaça, que seria a infiltração ou a conquista de aliados, sempre que possível, em postos-chave da administração pública. Estando ou não o PT no poder.
É quase parte do insuportável código de conduta politicamente correta aceitar essa situação como verdadeira e adequada. Seria expressão da política real, para a qual só os alienados virariam o rosto. E essa crença se alastrou. Os espertos trabalharam esse conceito, aceito como justo, até que ele ficasse à sua imagem e semelhança. Lula se tornou intocável. Da tolerância ao aparelhamento, a opinião pública migrou para a condescendência aos líderes dessa forma de “resistência” democrática ou revolucionária — a qualificação sempre ficou ao gosto do freguês na barafunda ideológica do petismo, que, no fundo, sonhava apenas em ser grande.
Por isso é importante ler o que disse Rui Nogueira — o texto está ainda disponível nesta edição. Só desmontando a tese primeira — a de que aparelhamento serve a um projeto nobre, quando na verdade serve ao enriquecimento de um grupo —, se conseguirá, num segundo momento, debater toda a bobagem na qual, hoje, os brasileiros se encontram enredados. Depois disso, o acerto de contas virá.
(liliana@primeiraleitura.com.br)
Publicado em 4 de novembro de 2005
2 comentários:
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