domingo, novembro 13, 2005

Os bancos estão fora do complô

Augusto Nunes para o JB

O complô das elites reacionárias, em aliança com partidos da oposição conservadora, está por trás da crise política que começou em maio e não tem prazo para terminar. Essa teoria bisonha, criada para explicar a confusão na gafieira freqüentada pelo PT e seus parceiros alugados, foi berrada pelo deputado José Dirceu ao despencar na planície. O presidente Lula repetiu-a em alguns improvisos. De vez em quando, é ressuscitada por militantes que espancam sem dó a realidade.

O ministro Luiz Dulci, por exemplo, jura crer nessa sandice. Se acredita mesmo, pode comemorar uma vistosa defecção. Depois de setembro, não se deve convidar para a mesma mesa algum opositor do governo e um banqueiro de elite. Os bancos nunca lucraram tanto como no governo socialista e popular do presidente Lula da Silva – o Exterminador da Fome, o Pai dos Excluídos, a Locomotiva da Esperança, o Governador das Águas do Rio São Francisco.

Nenhum golpista contará com a ajuda dos bancos privados. (Os controlados já estão há tempos a serviço dos ladrões.) O Bradesco e o Itaú não têm um só motivo para queixar-se de Lula. Têm bilhões para festejar a Nova Era.

É o que sugere o mais recente balanço divulgado pelo Bradesco. De janeiro a setembro, o lucro líquido do banco somou R$ 4,05 bilhões. O Itaú, segundo colocado no ranking, lucrou apenas R$ 3,82 bilhões.

Espera reduzir a diferença no último trimestre de 2005. Mas já pode festejar, como o líder Bradesco, o mais extraordinário dos anos. Os números são de deixar rubro de inveja qualquer dos emires das Arábias.

Os bancos voam em céu de brigadeiro: em relação ao mesmo período de 2004, o lucro líquido do Bradesco registrou um salto de 102%. E não há nuvens no horizonte: nos Três Poderes, sobram amigos concentrados na vigília que permite aos banqueiros o sono dos generais exauridos por sucessivas vitórias.

No Supremo Tribunal Federal, vela pelos bancos o onipresente Nelson Jobim. Em abril de 2002, o ministro gaúcho pediu tempo para examinar com mais atenção uma questão relevante: o Código de Defesa do Consumidor deve ou não ser aplicado às instituições bancárias? Dois ministros haviam votado a favor do povo quando Jobim foi assaltado pela incerteza. O processo parou.

O julgamento estava previsto para outubro deste ano. O advogado e político Jobim não poderia reivindicar outra olhadela na papelada, sob pena de ser aposentado por amnésia seletiva. Então entrou em cena o presidente do STF: Jobim excluiu o processo da pauta de votações. O caso pode esperar alguns anos.