sexta-feira, março 31, 2006

De vis, boçais e cínicos

Se não existisse a oposição, o governo Lula já teria acabado há muito tempo. Os companheiros e neocompanheiros se matam entre eles e, no processo, revelam ao distinto público o caráter que eles próprios acham que o governo tem.
Para ficar só nas contendas mais recentes, há o affaire Antonio Palocci x Jorge Mattoso. O público só ficou sabendo detalhes quase completos do crime do governo contra o caseiro Francenildo graças à pendência entre eles. Um, ministro da Fazenda, o outro, presidente da Caixa Econômica Federal. Reúnem-se em pleno Palácio do Planalto, mas não discutem economia. Discutem um crime. Diz tudo a respeito do caráter de um governo. É claro que o presidente da República não sabia de nada, de novo. Também diz muito sobre o caráter do governo.
Mal as brasas começam a adormecer sobre mais esse crime do lulo-petismo, ficamos sabendo que o governo inclui um "empresário boçal", ainda por cima favorável ao monopólio, e um ministro "vil".
O "empresário boçal" seria o ministro das Comunicações, Hélio Costa, na versão vil, ops, na versão Gilberto Gil, que não teve o menor pejo de ler em público texto em que assim era qualificado seu, digamos, colega de gabinete. O "vil" é o Gil -ou o Gil é o "vil", sei lá-, na versão do "empresário boçal" em declarações aos jornalistas.
Com um ministério assim, o governo não precisa de oposição.
Só num governo assim é possível existir uma líder (no Senado) como Ideli Salvatti, que, sobre a violação do sigilo bancário do caseiro, teve o seguinte "insight": "Qualquer pessoa pode esquecer um extrato em algum lugar e alguém ler".
Poderia ter acrescentado que Francenildo teve o azar de "esquecer" seu extrato justamente na mesa da casa do ministro Palocci.
Cinismo, tudo bem. Já estamos habituados. Mas, pelo amor de Deus, com um mínimo de cérebro.
Clovis Rossi - @ - crossi@uol.com.br

quarta-feira, março 29, 2006

Algumas sobras

"A intromissão de uma verdade onde nenhuma fora prevista, por princípio e por necessidade, destruiu o plano articulado para a permanência de Antonio Palocci no ministério, mas o que sobrou de inverdades e de aparências enganosas continua adulterando os fatos.
Sobre Lula, por exemplo, consta que só veio a saber do depoimento de Jorge Mattoso ao voltar de Curitiba a Brasília no fim da tarde de segunda-feira, e decidiu demitir Palocci. Irritado, teria até emitido um "Palloci, venha cá".

Pois bem, ao embarcar para Curitiba, ainda na parte da manhã, Lula já recebera duas informações dadas pessoalmente por Jorge Mattoso: o pedido de demissão do presidente da Caixa, apresentado ali mesmo; e sua decisão de dizer, ao depor na Polícia Federal à tarde, que entregara a Palocci o extrato da conta de Francenildo Costa na Caixa, e daí em diante só o ministro da Fazenda poderia explicar.
Lula não se decidiu pela saída de Palocci ao voltar a Brasília. Disso, por sinal, deixou várias pistas. Uma, no discurso em que, contrariando a conduta de sempre, não fez nem a mais leve referência ao cenário político, às críticas a seu governo ou à oposição. Seu abatimento era tão perceptível, que foi mencionado nos relatos imediatos de repórteres de TV e rádio. E Lula já deixara convocados os ministros do chamado conselho político, para a reunião em que, de volta a Brasília, depressa selou formalmente a saída de Palocci.

Se nem Lula foi surpreendido pelo depoimento de Jorge Mattoso, Palocci é que não poderia sê-lo. Mattoso forjou a necessidade de 15 dias para desvendar a quebra de sigilo do caseiro na Caixa, criou uma comissão de sindicância para descobrir a autoria de um ato de que ele mesmo era o autor, lançou o falso desaparecimento do laptop usado na quebra do sigilo, faltou à primeira convocação da PF -e depois de tudo isso, ao voltar de breve ida a São Paulo, estava convencido a dizer a verdade sobre o seu papel na trama para desmoralizar Francenildo. A partir desse ponto, e não de "avaliações de Lula", o episódio mudaria o seu rumo.

O desaparecimento de Palocci por algumas horas, quando repórteres o viram sair de casa no domingo, teve diferentes explicações, iguais na sua falsidade. Palloci conversou por cerca de duas horas com Jorge Mattoso. Em vão. Não conseguiu demovê-lo da nova disposição, que implicaria a saída de ambos do governo e várias outras conseqüências, inclusive policiais e judiciais.

É improvável que Palocci não tenha informado Lula ainda no domingo. Tanto que Lula quis a conversa com Mattoso ainda antes de sair para Curitiba na manhã de segunda. Mesmo que só no domingo ou na segunda Lula tenha sabido a maneira como foi conhecida a conta de Francenildo, há indicações de que já conhecia os depósitos altos na conta desde a quinta-feira 16.

Alguns petistas tiveram também a informação, revelando-se ao se gabarem de esperadas reversões da situação em futuro próximo. A senadora Ideli Salvatti, então feliz com a revelação de depósitos na conta de Francenildo, chegou a narrar sua dedução, na sexta-feira, 17, de que Lula já sabia da descoberta.

A dedução viera do sorriso, apenas um sorriso, com que Lula respondeu à referência da senadora à grave revelação, que o site da "Época" estava fazendo, dos tais depósitos incriminadores. (Desmoralizada a incriminação, a senadora quer outras investigações contra Francenildo: a vingança tem vida própria).

Palloci não precisou escrever às carreiras a carta de "pedido de demissão" que distribuiu aos jornais, pouco depois de selada no Planalto a sua saída. Pôde preparar o longo texto desde que, na véspera, Jorge Mattoso não retrocedeu quanto ao depoimento. O tempo, porém, não foi bastante para impedir Palocci de dizer que não divulgou nem autorizou "nenhuma divulgação sobre informações sigilosas da Caixa".

O extrato foi entregue por Jorge Mattoso a Palocci na noite da quinta-feira e, na sexta, estava no site de uma revista. Na qual trabalha um parente direto do assessor de comunicação de Palocci, Marcelo Netto, assessor de Zélia Cardoso de Mello nos tempos de PC Farias/Collor. É razoável que a Marcelo Netto esteja atribuída a artimanha da entrega à revista e é certo que o extrato saiu das mãos Palocci. Mas não faz diferença uma mentira sua a mais ou a menos."
Janio de Freitas

terça-feira, março 28, 2006

É uma vergonha!

Jamais o Brasil assistiu a tamanho descalabro de um governo. Quem se der ao trabalho de esmiuçar a história do país certamente constatará que nada semelhante havia ocorrido até a gestão do atual ocupante do Palácio do Planalto. Há, desde o tempo do Brasil colônia, um sem número de episódios graves de corrupção e de incompetência. Mas o nível alcançado pelo governo Lula é insuperável.
Não se trata de um ou de alguns focos de corrupção. Vai muito além. Exibe notável desprezo pelas liberdades e pela democracia. Manipula a máquina administrativa a seu bel-prazer, de modo a colocar o Estado a favor de sua inesgotável sanha de poder. Um exemplo mais recente é a ação grotesca contra um simples caseiro, transformado em investigado por dizer a verdade depois de ser submetido a uma ação de provocar náuseas em qualquer stalinista.
Não se investiga o ministro Palocci, acusado de freqüentar um "bunker" destinado a operar negócios escusos em Brasília e de ter mentido a respeito ao Congresso. Tenta-se, a qualquer preço, desqualificar a testemunha para encobrir o óbvio. E o desespero da empreitada conduziu a uma canhestra operação que agora o governo pretende encobrir, inclusive intimidando o caseiro.
Do presidente da República, sob a escusa pueril de dever muito a Palocci (talvez pela conquista do troféu dos juros mais altos do mundo e pelo crescimento ridículo do PIB), só se ouve a defesa pífia dos que não conseguem dissimular a culpa. A única providência das autoridades federais foi um simulacro de investigação, com a cumplicidade da Caixa Econômica Federal.
Todos os limites foram ultrapassados; não há como o Congresso postergar um processo de impeachment contra Lula. Ou melhor, a favor do Brasil.

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Lula seria o primeiro a sofrer impeachment não apenas pelos crimes de responsabilidade mas também por toda a obra.
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O argumento para não afastar Lula, de que sua gestão vive os últimos meses, é um auto-engano! A proximidade das eleições faz com que o governo use e abuse ainda mais do poder. Desde o início, este governo é envolvido na compra de consciências, na lubrificação da alma de órgãos de comunicação por meio de gigantescas verbas publicitárias e de perseguir os que lhe negam aplauso.
Outro argumento usado para não afastar Luiz Inácio Lula da Silva é a sua biografia, a saga do trabalhador, do sindicalista que chegou a presidente. Ora, aquele metalúrgico já não existe há muito tempo. Sua legenda enferrujou. Foi tragado por sua verdadeira figura, submetido a uma metamorfose às avessas.
As razões legais para o processo de impeachment gritam no artigo 85 da Constituição, que versa sobre os crimes de responsabilidade do presidente. Basta ler os seguintes motivos constantes da Carta Magna para que o Congresso promova o processo de impeachment de Lula: atentar contra o livre exercício do Poder Legislativo, contra o livre exercício dos direitos individuais ou contra a probidade da administração. Seguem alguns exemplos ilustrativos.
No "mensalão", fato que Lula tentou transformar em um pecadilho cultural da política brasileira, reside um grave atentado contra o livre funcionamento do Congresso Nacional. A compra de consciências não só interferiu na vida do Poder Legislativo como também demonstrou a disposição petista de romper a barreira entre a democracia e o autoritarismo, utilizando a máxima de que os fins justificam os meios.
Jamais as instituições bancárias estatais foram tão agredidas. O Banco do Brasil teve seu dinheiro colocado a serviço de interesse escusos; a Caixa Econômica Federal também, demonstrando que o sigilo bancário de seus depositantes foi posto à mercê da pilantragem política.
No escândalo dos Correios, mais que corrupção, foi posto a nu, além do assalto aos cofres públicos, um cuidadosamente urdido esquema de satrapias destinado a alimentar as necessidades pecuniárias de participantes da mesma viagem. Como costuma acontecer nesses casos, o escândalo veio à tona na divisão do botim.
Causa perplexidade, também, a maneira cínica com que o governo tenta se defender, usando todos os truques jurídicos para criar uma carapaça que evite investigações de suspeitas gravíssimas em torno do presidente do Sebrae, o generoso Paulo Okamotto, pródigo em cobrir gastos do amigo Lula -sem que ele saiba. Aliás, ele nunca sabe de nada...
Lula passará à história, além de tudo, como alguém que procurou amordaçar a imprensa com a tentativa da criação de um orwelliano "conselho" nacional de jornalismo e com uma legislação para o audiovisual, que tentou calar o Ministério Público pela Lei da Mordaça e que protagonizou uma pueril tentativa de expulsar do país um correspondente estrangeiro que lhe havia agredido a honra.
Neste momento grave, o Congresso Nacional não pode abdicar de suas responsabilidades, sob o perigo de passar à história como cúmplice do comprometimento irreversível do futuro do país. As determinantes legais invocadas para o processo de impeachment encontram, todas elas, respaldo nos fatos.
Mas, infelizmente, na Constituição brasileira falta uma razão que bem melhor poderia resumir o que estamos assistindo: Lula seria o primeiro presidente a sofrer impeachment não apenas pela prática de crimes de responsabilidade mas também pelo ímpar conjunto de sua obra.



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Boris Casoy, 65, é jornalista. Foi editor-responsável da Folha de 1974 a 76 e de 1977 a 84. Na televisão, foi âncora do TJ Brasil (SBT) e do Jornal da Record (Rede Record).

segunda-feira, março 27, 2006

Já não podemos dizer nada!

Em 14 de de abril de 1930, aos 36 anos, Vladimir Maiakóvski, o maior poeta russo da era contemporânea, deu um fim trágico à sua atormentada vida. Matou-se porque perdeu toda a esperança e se viu diante de uma estrada sem saída.

Sua obra é absolutamente revolucionária, como revolucionárias eram as suas idéias. Mas o poeta, dizia ele, por mais revolucionário que seja, não pode perder a alma!

Ele acreditou piamente na Revolução Russa e pensou que um mundo melhor surgiria de toda aquela brusca e violenta transformação. Aos poucos, porém, foi percebendo que seus líderes haviam perdido a alma.

A brutalidade crescia. A impunidade era a regra. O desrespeito às criaturas era a norma geral. Toda e qualquer reação resultava em mais iniqüidades, em mais violência. Um stalinismo brutal assolou a pátria russa. Uma onda avassaladora de horror e impotência tomou conta de seu espírito, embora ainda tentasse protestar. Mas foi em vão. Rendeu-se e saiu de cena.

Em 1936, escreveu Eduardo Alves da Costa o poema No caminho com Maiakóvski, que resume sua desoladora tragédia.

"... Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ de nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem:/ pisam as flores,/ matam nosso cão,/ e não dizemos nada./ Até que um dia,/ o mais frágil deles/ entra sozinho em nossa casa,/ rouba-nos a luz e,/ conhecendo nosso medo,/ arranca-nos a voz da garganta./ E já não podemos dizer nada."

Nestes tristes tempos, muitos estão vivendo as angústias desabafadas neste poema. Também acreditaram em líderes milagrosos, tiveram esperanças em dias mais serenos, esperaram por oportunidades melhores e sonharam com paz e alegria. Nunca imaginaram que, em seu lugar, viriam a impunidade, a violência, o rancor e a cobiça. Os que chegaram ao poder, sem nenhuma noção de servir ao povo, logo revelaram a sua verdadeira face.

O País está vivendo uma fase de completo e total desrespeito às leis. A Lei Maior, aquela que o País aprovou por meio de seus representantes, não existe. Para uns, todas as leniências. Para outros, todos as violências. Nas grandes cidades, dois governos, duas autoridades: a tradicional e a dos marginais. No campo, ausência de direitos e deveres. Uma malta de desocupados, chefiados por líderes atrevidos e até debochados, está conseguindo levar o desassossego e a insegurança aos milhões de trabalhadores rurais que ali se esforçam para sobreviver. Isso já vem acontecendo há muito tempo e não há sinal de que alguma autoridade pretenda submetê-los às penas da lei. Ao contrário. Eles gozam de imenso prestígio junto ao presidente, que não se acanha em lhes dar cobertura e agir com a maior cumplicidade.

A ausência das autoridades tem sido o grande estímulo para que esses grupos, e outros que vão surgindo, venham conseguindo, num crescendo de audácia e desrespeito, levar o pânico aos que vivem do trabalho no campo. A mesma audácia impune garante também a expansão das quadrilhas de narcotraficantes em todo o País. A cada dia que passa eles chegam mais perto de nós. Se examinarmos com atenção os acontecimentos destes últimos dois anos, dá para entender o nosso medo.

Quando explodiu o caso do Waldomiro Diniz, as autoridades estavam na obrigação de investigar tudo e dar uma punição exemplar. O que se viu? Uma porção de manobras para encobrir os fatos e manter os esquemas intocáveis. E qual foi a reação do povo? Nenhuma.

Roubaram uma flor de nosso jardim, a flor da decência, da dignidade, da ética, e nós não dissemos nada!

Quando, da noite para o dia, dezenas de deputados largaram suas legendas e se bandearam para as hostes do governo, era preciso explicar tão misteriosa adesão. O que se viu? Uma descarada e desafiadora alegria no alto comando do País! E qual foi a reação do povo? Nenhuma.

Eles nem se esconderam. Pisaram em nossas flores, mataram o cão que nos podia defender. E nós não dissemos nada!

Quando um parlamentar, que integrava a tal maioria, veio denunciar o uso de recursos públicos, desviados de forma indecente, com a conivência dos altos ocupantes do governo, provando que a direção do PT e do governo sabiam de tudo e de tudo se haviam aproveitado, qual foi a reação do povo? Nenhuma.

Eles nem se importaram com o fato de terem sido descobertos. O mais frágil deles entrou em nossa vida, roubou a luz de nossas esperanças e, conhecendo o nosso medo, ainda se deu ao luxo de arrancar a nossa voz da garganta!

Será que vamos aceitar? Não vamos dizer nada? Será que o povo brasileiro perdeu de vez a sua capacidade de se indignar? A sua capacidade de discernir? A sua capacidade de punir?

Acho que não. Torço para que isso não esteja acontecendo. Sinto, por onde ando e por onde vou, que lá no mar alto uma onda de nojo está crescendo, avolumando-se, preparando-se para chegar e afogar esses aventureiros. Não se trata, simplesmente, de uma questão eleitoral. Não se cuida apenas de ganhar uma eleição. O importante é não perder a alma. O direito de sonhar. A vontade de viver melhor.

Colocar este momento como uma simples luta entre governo e oposição é muito pouco. E derrotá-los, simplesmente, também é muito pouco, diante do crime que eles praticaram contra as esperanças de um povo de boa-fé.

O que vai hoje na alma das pessoas é o corajoso sentimento de que é preciso vencer o pavor e o pânico diante da audácia dessa gente, não permitindo que eles nos calem para sempre. Se não forem enfrentados, se não forem punidos, se seus métodos e processos não forem repudiados, nosso futuro terá sido roubado. Nossa voz terá sido arrancada de nossa garganta.

E já não poderemos dizer nada.

Sandra Cavalcanti, professora, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Lacerda, fundadora e presidente do BNH
E-mail: sandra_c@ig.com.br

O fim da vergonha!!

Estou convencido de que o Estado é essencialmente uma quadrilha de bandidos.

É uma conclusão analiticamente demonstrável. É um fato empiricamente comprovável. É assim em toda parte. Foi assim em todas as épocas. Nenhuma vilania estatal, portanto, deveria surpreender-me. Mas eu confesso: estou espantado com a situação atual do país. Nunca se viu tanta bandalheira, tanta desfaçatez.

Segundo um artigo recente do antropólogo Roberto DaMatta, o que está acontecendo relaciona-se com o declínio da culpa e a vergonha. A culpa, neste contexto, é a consciência de uma conduta imoral ou ilegal, a admissão de alguém para si mesmo que fez algo reprovável. A vergonha é o sentimento de desonra perante a comunidade por ter sido apanhado fazendo algo de errado. São dois poderosos fatores de inibição da prática de condutas anti-sociais. A vida em comunidade é impossível sem a culpa e a vergonha.

De modo geral, tendo em vista o crescente relativismo moral reinante, a culpa há tempos deixou de ser obstáculo à perpetração de ignomínias. O sentimento que ainda mantinha funcionando a sociedade era a vergonha. Todos têm os seus “esquemas”, mas ninguém queria ser flagrado e passar o vexame de ser censurado moralmente diante do público, mesmo que não sofresse punições concretas. O PT mudou isso simplesmente abolindo a vergonha.

A culpa sempre foi um sentimento estranho aos petistas. Mentir, trair, roubar e matar em nome da “causa” são atos normais, e até meritórios, no universo mental formado no marxismo. Para um petista, não existe uma ordem moral objetiva. Logo, também não existem atos imorais. Como não são atormentados pela culpa, eles nunca tiveram vergonha de fazer o que quer que fosse em nome da causa, ou seja, da tomada do poder político.

Uma vez eleito Lula, a supressão da vergonha, já uma realidade difusa em função da hegemonia intelectual do petismo, oficializou-se e difundiu-se rapidamente em todo o organismo estatal. De agora em diante, a mera aparência de honestidade e decência é desnecessária, uma relíquia histórica. Se o presidente da república não tem vergonha de ser apanhado comprando deputados, favorecendo parentes, fazendo caixa 2, humilhando um humilde caseiro e absolutamente nada lhe acontece – ao contrário, sua popularidade se mantém alta -, o que se pode esperar dos demais agentes estatais?

Os parlamentares do Congresso Nacional perderam a vergonha de alugar seus votos no atacado e no varejo. Magistrados dos mais altos tribunais perderam a vergonha de proferir decisões claramente encomendadas pelo PT. O eleitorado de todas as classes sociais perdeu a vergonha de apoiar um presidente incapaz e corrupto em troca das migalhas do bolsa-família, do dólar barato do “bolsa-miami”, dos juros altos para os banqueiros etc.

A extinção da vergonha é uma estratégia de conquista do poder, pois ao mesmo tempo em que iguala todas as facções políticas, beneficia o grupo mais aguerrido e amoral, isto é, o PT. Trata-se de nada menos do que uma revolução que será ratificada em outubro, com a reeleição do presidente. O país jamais será o mesmo.
Alceu Garcia

domingo, março 26, 2006

ABUSO DE PODER

A desfaçatez, o uso sistemático da mentira, o empenho em desqualificar qualquer denúncia, nada disso constitui novidade no comportamento do governo Lula. Chegou-se nos últimos dias, entretanto, a níveis inéditos de degradação ética, de violência institucional e de afronta às normas da convivência democrática.
Na tentativa inútil de salvar a credibilidade em farrapos de um ministro, viola-se o sigilo bancário de um cidadão comum, o caseiro Francenildo Costa _enquanto toda sorte de malabarismos jurídicos e parlamentares protege as contas de Paulo Okamotto, celebrizado pelos nebulosos favores que prestou ao presidente. Fato ainda mais grave, o caseiro se torna alvo de investigação por parte da Polícia Federal, num ato indisfarçável de ameaça e abuso de poder. A iniciativa _tomada em tempo recorde_ não tem paralelo na história recente do país, infelizmente pródiga em situações nas quais representantes do poder público se viram às voltas com denúncias sérias de corrupção.
Seria o caso de qualificá-la como um crime de Estado, não fosse, talvez, excessiva indulgência chamar de "Estado" o esquema de intimidação oficial que assume o proscênio no momento. Com arrogância e desenvoltura típicas de uma organização habituada à impunidade e aos acertos inconfessáveis, representantes do lulismo já faziam saber, antes mesmo que as contas do caseiro viessem ao conhecimento público, que dispunham de dados supostamente capazes de incriminá-lo.
Posteriormente, a demora em chegar aos responsáveis pelo abuso não fez mais do que intensificar as convicções de que terá partido dos altos escalões governamentais a orientação para que fosse levado a efeito.
Da "lei da mordaça" contra o Ministério Público ao abortado projeto de um Conselho Nacional de Jornalismo, da tentativa de expulsar do país o correspondente do jornal "The New York Times" aos sucessivos embaraços antepostos à ação das CPIs, o governo Lula já deu mostras de que convive mal com a liberdade de imprensa e com a procura da verdade. Ultrapassou, contudo, o terreno das propostas legislativas desastrosas, como ultrapassou também o terreno das bazófias, das chicanas e do cinismo militante, para se aventurar na prática da chantagem e do abuso de poder.
Editorial FSP - 26/03

República de "pelegos"

No momento em que Lula busca um novo período para seu governo, fica a impressão de que o ex-sindicalista, mais do que a integração da classe operária à democracia, dedicou-se a construir um governo de “pelegos”. Tradição do sindicalismo brasileiro, os “pelegos” eram criticados, há algum tempo, porque cumpriam a função de amaciar o cavalo para maior comodidade do cavaleiro.

Líder de um sindicalismo então combativo, Lula usou a palavra contra seus adversários, como antes dele muitos na esquerda. Em filme-documentário recente, chamou de “pelegão” até Lech Walesa, importante líder sindical polonês que se elegeu presidente da Republica e fracassou no governo.

Típico do “pelego” é viver de dinheiro público, fazer demagogia social e cuidar dos próprios interesses pessoais e corporativos, mesmo a despeito da lei. Dentre os muitos exemplos, o mais recente é a devassa do sigilo bancário do caseiro Francenildo, por ordem de um gerente da Caixa Econômica Federal. Como sabemos que o governo vem tomando como prática usual o loteamento político de cargos, é bem provável que esse gerente da CEF seja um “pelego” a serviço de algum outro.

Vale lembrar, a propósito, a confissão pública do Lula que, desrespeitando a lei, mandou se calar um “alto companheiro” que sabia de irregularidades na instituição em que trabalhava. No caso de Francenildo o procedimento foi inverso. Nada de irregular foi encontrado na conta do caseiro. Mas foi igual o desrespeito à lei pelos “pelegos” da CEF. O “pelego” faz o que o cavaleiro manda, em especial quando este é um “companheiro” de alta hierarquia.

A partir do “núcleo duro” do governo, criou-se um estilo que contamina muita gente na administração federal. Atento ao marketing e às pesquisas eleitorais, Lula joga para a arquibancada, promete investigação, punições etc., assim transmitindo a imagem de que não tem nada a ver com isso.

Os ministros, por seu lado, tratam de amaciar as coisas, deslocar o foco, dilatar prazos etc. Foi na preocupação de deslocar o foco que o ministro do Trabalho, um ex-sindicalista, usou palavras de desprezo a propósito do caseiro, segundo ele, manipulado pela oposição. Quanto ao ministro da Justiça, seu papel é o de amaciar, buscar atenuantes. Conhecido criminalista, reconheceu que o assunto “é grave e será apurado”, mas, logo a seguir, disse que isso é prática usual, tratando o crime como se fosse um “vazamento”. Não tem algo de semelhante sua intervenção nas patranhas do “mensalão” do Delúbio e do Marcos Valério? Quanto ao presidente da CEF, que dirige um banco altamente informatizado, ninguém acreditou quando ele disse à imprensa que precisava de “quinze dias” para descobrir quem cometeu o crime contra os direitos de Francenildo. E, agora, o COAF se dedica a investigar a vida financeira do caseiro.

A propósito, que dizer do delegado da Polícia Federal que, ao ser indagado pela imprensa por que ainda não abrira inquérito depois de vários dias do crime, teve o desplante de responder: “Como demorando? Você está no Brasil, pelo amor de Deus!” Como a COAF, a PF se dedica agora a investigar Francenildo, na evidente tentativa de intimidação do governo contra cidadãos, especialmente os mais pobres, que se disponham a acusá-lo.

O cidadão que acompanha a avalancha dos fatos e a degenerescência de conceitos, instituições e personalidades não consegue entender por que a oposição, supostamente tão poderosa, é incapaz de abrir, na forma da lei, o sigilo bancário do ex-sindicalista, hoje empresário, Paulo Okamoto, que pagou contas do Lula não se sabe com dinheiro de quem. Ou do biólogo Fabio Lula da Silva, filho do presidente e hoje também empresário, favorecido por um milionário contrato com a Telemar, empresa da qual participam fundos de pensão, nos quais outros “pelegos” têm considerável influência.

É claro, o cidadão sabe que o STF, atendendo ao PT, impediu a continuação da presença de Francenildo na CPI. E, depois da inacreditável greve dos desembargadores de Minas Gerais, tem também a impressão de que o estilo pelego chegou ao sistema judiciário.

Meio século atrás um dos grandes temores da direita era de que o Brasil viesse a ser uma “república sindicalista”. Chegamos a ela, mas a direita não tem nada a temer. O que temos aí é apenas um governo de “pelegos”. E os “pelegos”, como é da sua natureza e dos seus privilégios, prejudicarão o povo, jamais os grandes interesses que a direita e eles próprios defendem. Se algum dia vier a se interessar pelo Brasil, que dirá Lech Walesa de Lula, se não que também é um “pelegão” e que também fracassou no governo?

FRANCISCO C. WEFFORT foi um dos fundadores do PT.
É decano do Instituto de Estudos de Políticas Econômicas e Sociais e professor visitante de História Comparada do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro

sábado, março 25, 2006

"Nada sei"

Ver um grupo de amigos do ministro da Fazenda montar uma ''central de negócios'' e festas ''alegres'' é um escândalo que em qualquer país civilizado demoliria o governo na hora, sem prejuízo das sanções penais a que os responsáveis estivessem sujeitos. Ironicamente, menos de 15 anos após o fim da ''República das Alagoas'', quando o PT era ainda uma vestal, defensora implacável dos mores (costumes) e da res publica (coisa pública), surge a ''República de Ribeirão Preto''. A vestal transformou-se numa criatura sem vergonha e sem moral. Convém lembrar que nos tempos romanos as vestais que prevaricavam eram enterradas vivas. Será esse o destino de Palocci & companhia?

O governo do Molusco tornou-se mestre na arte do ''nada sei''. Pratica a verdadeira omertá (a lei do silêncio) da máfia. O problema é que a responsabilidade tem dono quando se trata de poder. Palocci diz que nunca foi à casa e apresenta, para ''prová-lo'', um álibi em ouro maciço: ''nunca dirijo em Brasília''. Mais estapafúrdio é quase impossível.

Mas vamos dar-lhe o benefício da dúvida e admitir que não soubesse da ''central'' montada a poucos minutos de seu ministério. Se nada sabia, é mal informado e não tem competência para ocupar ministério onde informação é tão vital quanto o ar que respiramos. Se o ministro nunca foi à casa, mas sabia de sua existência, o fato é mais grave. E se tivesse ido, poderia ser caracterizado como o chefe da quadrilha e, além disso, participante das alegres celebrações locais que - pelo noticiário - tinham mais a ver com Baco do que com Vesta.

Violação da privacidade!, gritam os acólitos do NeoPT (incluindo os de ''esquerda'') que pararam de criticar a política econômica, representada pelo vice-rei Henrique Meirelles e seu BC independente do Brasil (sem que os brasileiros tenham votado nisso), único poder, funcional e real, da atual república do NeoPT.

Se o ministro celebrava ou não suas dionisíadas não vem ao caso. O que interessa são as atividades econômicas da ''central''. Mas é bom lembrar sempre que o conceito de privacidade para homens públicos não é igual ao existente para o cidadão comum. Se vizinhos e vizinhas adultos se reunirem por conta e consentimento próprio para uma orgia, ninguém tem nada com isso. Mas se houver negócios escusos e mera suspeita de envolvimento de dinheiro público, a coisa muda inteiramente de figura.

Além disso, fica demonstrado que na República do NeoPT existem dois critérios de privacidade. Para Paulo Okamoto, o amigo de Luiz Inácio que generosamente pagava as suas contas, o sigilo bancário é sacrossanto. O STF garante esse ''direito'', como o concedido a Duda Mendonça para repetir ad nauseam ''não vou responder'', num deboche público que mostrou o ponto de avacalhação a que chegou o Brasil.

Desmascarado pelo motorista Francisco das Chagas Costa e pelo caseiro Francenildo Santos, o Nildo, Palocci insiste em mentir (como já mentiu antes). Nildo foi chamado à Polícia Federal para depor na quinta-feira à noite. Entregou os seus documentos, inclusive o cartão bancário. Enquanto depunha, a revista Época (do grupo de O Globo) conseguia uma cópia de seu extrato na Caixa Econômica Federal, mostrando que R$ 38 mil tinham sido depositados em sua conta nos últimos três meses.

A tentativa de desmoralizar a acusação é evidente, mas Francenildo já havia revelado que o depósito fora feito por um empresário piauiense, que seria seu pai. Nildo exigia reconhecimento, o empresário negou, mas mandou-lhe dinheiro. Tanto o empresário como a mãe de Nildo confirmam o fato.

Mas, mesmo que seu depoimento tivesse sido comprado, a pergunta é: quem quebrou o sigilo bancário de Francenildo sem ordem judicial? Foi a PF? De posse do cartão é possível chegar à conta, desde que se tenha equipamento adequado. Foram a PF e a Caixa? Um telefonema permitiria a alguém na Caixa chegar aos dados sem grande dificuldade. Ou foi a CEF? Houve crime escancarado. Se o caseiro estivesse mentindo e tivesse vendido seu depoimento, deveria ser rigorosamente punido, mas através de uma investigação e de acordo com a lei, exatamente com os mesmos direitos dos amigos do Molusco.
Fritz Utzeri

O Estado policial

"O governo do operário ético faz com
o caseiro tudo o que o governo do
corrupto desvariado não ousou fazer
com o motorista"


O ministro Antonio Palocci, ao reaparecer em público na sexta-feira passada, depois de duas semanas escondido, disse que está vivendo um inferno. Dá para imaginar, então, o que deve estar vivendo o caseiro que o denunciou. Afinal, o caseiro resolveu contar o que viu no casarão do Lago Sul em Brasília e, em menos de dez dias, passou a ser investigado pela Polícia Federal sob a acusação de lavagem de dinheiro! Entrou na máquina de moer reputações. Primeiro, calaram-lhe a boca, depois quebraram-lhe o sigilo bancário e, agora, aterrorizam-no com um inquérito. Coisa de Estado policial. Na opinião do presidente da OAB, Roberto Busato, "coisa de gângster, de sindicato do crime".

O governo de Fernando Collor não fez nem um décimo disso contra Eriberto França, o motorista que prestou um depoimento devastador e terminal sobre as traficâncias do presidente e seu ex-tesoureiro de campanha. É preciso, em nome da verdade histórica, que se reconheça: o governo do operário ético faz com o caseiro tudo o que o governo do corrupto desvariado não ousou fazer com o motorista. E repare-se numa diferença: o motorista derrubou o governo literalmente. O caseiro derrubou o governo moralmente.

Na construção de seu inferno, Palocci teve em excesso tudo o que faltou ao caseiro. Examinemos:

A vida pessoal. O ministro jamais teve sua vida pessoal e familiar devassada. A própria imprensa, durante meses a fio, por respeito à privacidade do ministro, limitou-se a divulgar que o casarão era um ponto diurno de lobistas. Só noticiou que era também um ponto noturno de prostitutas quando isso se tornou um dado fundamental para entender o Paloccigate. No caso do caseiro, seu drama pessoal e familiar de filho bastardo foi revelado por inteiro em questão de dias, expondo a vida pregressa de sua mãe, Benta Soares, autora da frase mais reveladora da essência do governo Lula. Disse ela: "Peço ao presidente que não faça nada com meu filho".

O sigilo bancário. As contas do ministro Palocci estão devidamente preservadas, como aliás deve acontecer em qualquer nação civilizada. Nem se pediu que fosse quebrado seu sigilo bancário. Nem mesmo quando Rogério Buratti denunciou à polícia que Palocci retinha parte das propinas pagas por fornecedoras da prefeitura de Ribeirão. No caso do caseiro, sua vida bancária é um livro abertíssimo – ilegalmente abertíssimo. Depois disso, o caseiro decidiu abrir voluntariamente todos os seus sigilos, telefônico e fiscal, inclusive. Pediu que os outros seguissem sua atitude. Paulo Okamotto não se manifestou. Lulinha, o filho, também não.

O direito de falar. Palocci fala quando quiser, onde quiser, embora nos últimos dias tenha reivindicado seu direito de ficar em silêncio e, de preferência, longe dos holofotes. O caseiro não. O governo não deixa que abra a boca numa CPI. Só autoriza, e neste caso alegremente, que abra a boca no inquérito policial, no qual responde a perguntas na condição de acusado. O ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, achou mesmo que o caseiro não devia falar na CPI. Em seu despacho, o ministro explicou que seu depoimento seria inútil devido à "condição cultural" do caseiro. Se a moda pega, pobres e pouco instruídos devem viver calados.

Num Estado policial, a moda é capaz de pegar.
André Petry

sexta-feira, março 24, 2006

Samba da vergonha

"Escândalo, escárnio, deboche, desrespeito, pasmo.

Nenhum destes substantivos parece suficientemente abrangente para classificar a cena grotesca acontecida na madrugada de ontem na Câmara dos Deputados.

Uma deputada federal foi protagonista de uma das cenas mais inacreditáveis jamais acontecidas dentro do prédio do Congresso Nacional.

Ao final da votação que absolveu mais um deputado mensaleiro do PT, a deputada petista Angela Guadagnin pôs-se a dançar de alegria com a absolvição do companheiro.

Ontem, durante o dia inteiro essas imagens dantescas correram o país pela Internet.

Mas o principal sentimento foi mesmo de vergonha.

As mulheres vêm lutando há décadas para conquistar um lugar ao sol. Trabalhando, dando duro, estudando, prestando concursos rigorosíssimos, submetendo-se a eleições, enfim, batalhando para serem levadas a sério.

E aí aparece uma deputada, ex-prefeita de uma importante cidade paulista, portanto não se trata de uma marinheira de primeira viagem.

E a deputada se põe a sambar, enquanto mais uma absolvição estapafúrdia acontecia no plenário da Câmara dos Deputados.

No Conselho de Ética da Câmara, a deputada petista tem votado sistematicamente pela absolvição de seus companheiros. Votou pela cassação só dos ex-deputados Roberto Jefferson e Pedro Correia. Para todos os outros, pediu absolvição.

OK, faz parte do jogo. A deputada está no seu direito. E é digno de respeito o fato de ela se expor, pronunciar seu voto em voz alta e não ter nenhum problema em apoiar companheiros envolvidos nos escândalo do mensalão.

Mas o plenário da Câmara não é lugar para danças. Talvez numa churrascaria, num pagode ou num salão de baile, a deputada pudesse dar vazão a seus sentimentos de alegria com a absolvição do companheiro.

Mas nunca no plenário da Câmara.

O que vai acontecer no dia em que a deputada estiver muito triste? Vai atear fogo às vestes ou cortar os pulsos dentro do plenário da Câmara?

Francamente, certas pessoas, sobretudo certas autoridades, perderam inteiramente a compostura, perderam inteiramente o pudor.

Aliás, fica aqui a pergunta: este tipo de comportamento não configura quebra do decoro parlamentar?

Por essas e outras, cresce a campanha pelo voto nulo ou pela renovação total da Câmara dos Deputados.

É uma pena."
Lucia Hippolito

Inaceitável!

Políticos e jornalistas perguntaram ao ministro Antonio Palocci se ele processaria o seu ex-assessor Rogério Buratti. Sua resposta foi que jamais processaria alguém enquanto fosse ministro, porque não usaria o poder do cargo que ocupa contra um cidadão ou um jornalista. No caso Francenildo, o governo Lula faz muito pior: está usando todo o poder do Estado contra o cidadão. Isso é inadmissível na democracia, mas previsível no governo Lula.

O que está se passando com o caseiro, que acusa o ministro Palocci de mentir quando diz que não esteve na casa do lobby, é o uso grosseiro, abusivo e inconstitucional do aparelho do Estado pelo governo para servir a seus propósitos de obstruir a apuração dos fatos.

Ontem o governo escalou e emitiu sinais de que está usando a Caixa, o Coaf e a Polícia Federal para acuar a testemunha. O Coaf investiga as grandes movimentações financeiras. É informado automaticamente apenas de saques acima de R$ 100 mil. Os valores da conta de Francenildo são abaixo disso.

Encurralado, o governo primeiro pôs em prática a manobra protelatória, mentindo sobre a agilidade da Caixa Econômica Federal de encontrar os dados que permitirão o rastreamento do crime. Os bancos brasileiros fizeram grandes investimentos em informática. Todos os bancos, mesmo os estatais, que foram mais lentos nesse processo. Só com pesados investimentos em tecnologia de informação um banco sobrevive no mercado financeiro sofisticado de hoje. Portanto a hipótese levantada inicialmente, hoje totalmente desmascarada, de que precisava de tempo para buscar a informação é falsa. Visava a dar tempo à Caixa, onde o presidente, Jorge Mattoso, arrumava tranqüilamente as malas, certo da impunidade, para ir ao Japão. Quando o tempo fechou em Brasília, ele decidiu não decolar.

O segundo passo da tentativa de escapar ileso do crime cometido é o governo entregar uma “cabeça” aos políticos e à opinião pública. Não ajuda muito. O caso revela a sem-cerimônia com que o governo Lula se apossou do Estado, como se fosse seu protetorado e capitania. O governo do PT tem mostrado uma crônica incapacidade de enxergar a fronteira entre público e privado; entre Estado e governo.

O filho do presidente convida os amigos para férias por conta do erário. Os amigos viajam em avião da FAB e usam o Palácio Alvorada como resort. Quando o governo foi questionado pela imprensa, o presidente determinou que ninguém falasse sobre o assunto, nem mesmo a FAB, e reagiu indignado como se sua privacidade estivesse sendo invadida.

Os limites da privacidade de uma pessoa que ocupa um cargo público são diferentes de uma que não está a serviço do governo. Interessa saber, não os segredos pessoais, mas até que ponto o interesse público foi atingido. O ministro Palocci não pode reclamar de privacidade para proteger a informação sobre se ele foi ou não à casa do lobby montada por seus ex-assessores e amigos. Como ministro da Fazenda, com os poderes que tem, ele não pode ir a uma casa suspeita como aquela; qualquer que tenha sido a sua motivação. Não há como separar o público e o privado no caso. Simplesmente um ministro não pode freqüentar local onde secretamente se faz lobby.

Quando aparelhou todos os órgãos públicos, indicando pessoas sem qualquer capacidade para grande parte dos cargos da máquina pública; quando permitiu que dirigentes do PT usassem as instalações do Palácio do Planalto como se fossem propriedade petista; quando transformou a auto-suficiência de petróleo, conquistada por cinco séculos de esforço nacional, em campanha da atual gestão e em ano eleitoral, o governo Lula estava mostrando que não sabe diferenciar Estado de governo.

O governo Lula foi um retrocesso em inúmeros processos de aperfeiçoamento que o país vinha conquistando nos últimos tempos. O uso das agências como cabide de emprego de políticos sem mandato representou um enorme prejuízo em termos de avanço regulatório. No caso do petróleo, em que uma empresa é praticamente detentora de monopólio, a independência da ANP era fundamental para que a regulação fosse cumprida. Hoje, que poder teria a agência para impor qualquer limitação à poderosa estatal?

O caso Francenildo é o mais grave, o mais grosseiro, dos desrespeitos às fronteiras institucionais. Mas, quando era oposição, como bem lembrou ontem Tereza Cruvinel, o PT se aproveitava de informações que certos militantes dentro dos bancos passavam para o partido.

Certa vez, numa coluna que jamais esqueci, o nosso mestre Castelinho usou a expressão “imprecisos limites éticos” para se referir à equipe econômica do governo Collor, naquela época, sob denúncias de uso do dinheiro de PC Farias. Esta mesma imprecisão se alastrou no atual governo, contaminou a base partidária e deteriora as instituições brasileiras como a máxima do “fiz, mas quem não faz?” que parece imperar no governo.

Os deputados mensaleiros estão escapando desta ilesos, bastando, para isso, dizer que o dinheiro foi usado para o pagamento de contas de campanha. Isso é uma descarada forma de legalizar o caixa dois, aquilo que Lula afirma ser feito sistematicamente no país. Um político que recebe dinheiro em espécie, sem origem conhecida, de uma empresa de publicidade que presta serviços ao governo, e, além disso, não declarava o valor recebido à Justiça Eleitoral, é perdoado se usou o dinheiro para pagar dívidas de campanha. Isso cria então a lavanderia oficial do dinheiro sujo.

O que está acontecendo com o caseiro Nildo é uma perturbação inaceitável do estado de direito, um desrespeito aos direitos individuais. Não é mero evento da campanha eleitoral, como os petistas afirmam. É o governo usando o Estado para ameaçar um cidadão. A democracia não tolera um fato assim.
Miriam Leitão

quinta-feira, março 23, 2006

A gênese da violação

Não, não foi o presidente da Caixa Econômica Federal ou algum gerente o responsável pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo. Um ou outro pode até ter sido o agente operacional, mas o mandante do crime é a mentalidade que tomou conta do PT e, por extensão, do governo Lula.
Vejamos qual é essa mentalidade, na descrição de Oded Grajew, ex-assessor especial de Lula, ainda seu amigo, velho e leal companheiro de viagem do lulo-petismo, hoje desencantado com os companheiros:
"Quando falo de concessões éticas, me refiro à cúpula do partido e ao pessoal do aparelho burocrático, para quem a política é um modo de vida, sua maneira de ganhar a vida", diz Oded em "No Olho do Furacão", coletânea de depoimentos de gente de esquerda, preparada por duas jornalistas britânicas também de esquerda, sobre o colapso do PT.
Completa Oded: "Quando alguém se converte em prefeito ou em senador, o cargo passa a ser sua carreira. Quer ser reeleito, porque necessita dinheiro para viver".
Bingo. Oded poderia acrescentar a prefeito e senador toda a vastíssima gama de funcionários nomeados para os gabinetes dos vereadores, deputados estaduais, deputados federais e senadores do PT, bem como a massa de contratados para postos nas prefeituras, governos estaduais e governo federal.
Ah, não esquecer dos cargos na máquina partidária. Se ser secretário-geral do PT rende um Land Rover, dado por uma empresa que faz negócios com o governo, imagine a perspectiva de ganhos que surge de ocupar um cargo no próprio governo, como, digamos, Waldomiro Diniz.
Essa gente toda pisaria no pescoço da própria mãe para poder manter a "boquinha". Violar o sigilo de um caseiro, então, é fichinha.
Hoje, o "modo de vida" descrito por Oded é majoritário no PT. A militância autêntica e idealista ou acredita no conto do vigário da conspiração contra o lulo-petismo ou sai.
CLÓVIS ROSSI

Auto-engano petista

O PT contabilizou que 5.418 filiados deixaram a legenda em 2005, o ano do "mensalão". Outras 29.583 pessoas decidiram se filiar no mesmo período. O partido vende a idéia de que saiu mais forte da crise do que entrou. Bom exemplo de auto-engano, e não o único.
Números dizem o que quisermos, desde que bem torturados. Pode-se dizer que 5.418 pessoas deixaram o PT indignadas com a falta de sintonia entre o discurso ético e sua prática e que 29.583 novos filiados viram possibilidade de ascensão profissional ao tentar iniciar uma carreira de Delúbio. Querem enriquecer.
O PT tem acumulado exemplos de desconexão com o mundo real. Seu Diretório Nacional aprovou, no sábado, um texto de análise política que se aproxima do devaneio. Fala que PSDB e PFL foram "surpreendidos" pela "capacidade de reação" petista. Que reação? Desde a crise do "mensalão", o PT se enrolou cada vez mais e está desmilingüindo nos movimentos sociais que lhe deram origem.
Prosseguem os marcianos -só podem ser de outro mundo- que escreveram a análise petista: "Por isso, (PSDB e PFL) retomaram a fúria denuncista, tentando levar novamente as atenções para esse campo, pois avaliam que perdem no campo programático e na comparação de governos", diz o texto.
Denuncismo, não! Esse sempre foi um bordão de corruptos e corruptores. Hoje está impregnando os antes apenas chatos documentos internos do PT. O caixa dois petista é fruto de denuncismo? E o dinheiro desviado de contratos públicos? E os carros importados e depósitos no exterior?
O PT precisa de um choque de realidade. Mas é cada vez mais difícil esperar que isso ocorra, como mostra o exemplo do presidente Lula. Num dia, aparece tocando tambor, noutro coloca um cocar na cabeça, como se vivesse na ilha da fantasia. Falta a Lula um indicador que lhe mostre o caminho para escapar da lama que cerca o Planalto.

PLÍNIO FRAGA para a Folha

terça-feira, março 21, 2006

A DEGRADAÇÃO DOS PODERES DA REPÚBLICA

...E A VITÓRIA DO “CORRUPTISMO”

“Nossa massa encefálica é muito mais inteligente do que vocês pensam”: extrato filosófico do pensamento de um Apedeuta.

O Brasil está apresentando sucessivos exemplos de uma devassidão política, executiva e jurídica do poder público que está nos rotulando como cidadãos covardes ou omissos, pois estamos admitindo a imposição de uma autocracia fascista populista que agride frontalmente o Estado de Direito no país. Este degradante rótulo decorre de nossa aceitação da relativização da honestidade, da moral e da ética nas relações públicas-privadas, provocada pelo “corruptismo” que se transformou, de desvios de condutas de canalhas localizados, numa ideologia predominante e fundamentalista daqueles que querem se perpetuar no poder.

O caseiro que teve seu depoimento interrompido na CPI, por uma limitar do PT aceita pelo STF, experimentou o gosto da autocracia petista ao ter sua conta bancária devassada com sua privacidade de movimentação financeira invadida às 20h58m21s – hora registrada de emissão do seu extrato – no mesmo dia e no mesmo momento em que prestava declarações e fornecia informações pessoais dentro da Polícia Federal, conforme noticiado pela mídia.

O Sr. Francenildo Costa sentiu na pele a arbitrariedade jurídica corporativista que tem escandalizado o país.Estranhamente ninguém consegue quebrar o sigilo bancário de Paulo Okamotto, o fervoroso amigo e pagador de dívidas pessoais do presidente Lulla. Sabemos que não é difícil avaliar o porquê desta diferença de tratamento legal, melhor dizendo ilegal, imoral e aético.

A gentalha da política para se perpetuar no poder revela não ter mais limites em suas atitudes, demonstrando claramente seu potencial autocrático e autoritário, transformando a Polícia Federal ou qualquer outro órgão do Poder Judiciário, em um instrumento de um Estado Policial comandado por um presidente que deveria ter a dignidade de providenciar pelos meios legais adequados, a antecipação das eleições presidenciais e voltar para casa, pois já demonstrou não ter nenhuma das competências necessárias para dirigir o país, além de ter cometido graves crimes de prevaricação por ter permitido que o Estado fosse tomado por uma incontrolável onda de imoralidade, falta de ética e corrupção.

O corporativismo espúrio que está colocando servidores públicos e “empresários” acima da lei, humilha o povo brasileiro e envergonha o Brasil perante o mundo civilizado. É a destruição do Estado de Direito, ação que antecede a destruição de nossa democracia de mentirinha onde os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres ficam cada vez mais pobres e dependentes do assistencialismo fascista-populista de um governo mergulhado em um mar de denúncias de corrupção.

Personalidades tidas como impolutas e de alta credibilidade são acusadas de freqüentar bacanais da prostituição política para participar da distribuição do dinheiro dos dutos da corrupção, e curtir os amores passageiros das “Nailas”, das “Renatas” e das “Julianas”, entre outras possibilidades de nomes fantasia fictícios de assessoras especializadas em técnicas sexuais. Qualquer semelhança com nomes reais de profissionais do ramo será uma infeliz coincidência que deverá ser desconsiderada, com todo o respeito àquelas que cometem a infelicidade de se “doarem” aos vermes meliantes de nossa prostituída política, que devem dizer para suas famílias, que estão participando de reuniões executivas importantes com seus pares, enquanto se encontram para abrir as malas de dinheiro roubado do povo nos seus locais privativos de encontros furtivos com garotas de programa.

No rastro das marcas de lama da corrupção impregnada nos sapatos dos impuros “chefes de família” servidores públicos, nos quartos dos amores proibidos, são recolhidas por caseiros as camisinhas utilizadas, que protegem os sequazes da prostituição da política das doenças sexualmente transmissíveis, mas contaminam e degradam a imagem de “executivos” públicos que se apresentam sem a mínima qualificação moral e ética para ocupar um cargo público com seu salário e suas mordomias pagos pelo povo.

Apesar das evidências das denúncias, ficamos estarrecidos e demoramos a acreditar que nosso país virou um verdadeiro bacanal da política em que a hipocrisia, a leviandade, a desfaçatez, a falta de vergonha, a mentira deslavada, e o absoluto desrespeito aos Códigos Legais com a cumplicidade de um corporativismo fétido que nos enoja, se tornaram um lugar comum nas relações públicas-privadas.

Que tipo de credibilidade moral e ética pode ter qualquer pesquisa sobre intenção de votos com um governo que subverte de forma escandalosa e sistematica a sociedade com seu espúrio corporativismo e suas ações fascistas-populistas na cidade e no campo, com o apoio explícito da maior rede de televisão do país, credora de favores financeiros do poder público conforme freqüentemente divulgado em meios de comunicação alternativos?

Devemos questionar seriamente se as pesquisas de opinião conseguem refletir de alguma forma uma escolha consciente a partir de uma real avaliação crítica do desgoverno Lulla feita pelas amostras do povo pesquisado, ou simplesmente refletem os efetivos resultados de uma grotesca manipulação da opinião pública por força do escandaloso assistencialismo clientelista que substituiu as promessas de campanha do estelionato eleitoral de 2002.

A sociedade se transformou em uma amostra viciada pela ação incontrolável do fascismo-populista petista, aliado de um comunismo decadente autocrático e ditatorial, espelho do modelo político venezuelano-cubano, e promovido pela “inteligência” de marqueteiros adoradores de briga de galos, “profissionais” que recebem ilegalmente dinheiro do PT em contas abertas no exterior e que continuam impunes pelos crimes cometidos contra o povo. Bom mesmo é ser brasileiro: o que não pensa, diz o bordão da ignorância nacional.

Depois do estelionato eleitoral de 2002, para assumir o controle do Estado, a continuidade da meliância está sendo conseqüência da queda da máscara de um grupo de militantes petistas, que têm trazido à tona do mar de corrupção em que estão imersas as instituições públicas, suas verdadeiras intenções de perpetuação no poder para a destruição gradual de nossa frágil democracia enquanto promovem a quase irreversível captura e aparelhamento do Estado.

O certo é que estamos vivenciando a “qualidade” dos sonhos de poder de representantes de uma classe emergente de sindicalistas que trocaram as calçadas das fábricas pelo submundo prostituído da política, esquecendo rapidamente seus compromissos com o povo e com as mentirosas causas socialistas que defendiam sob a bandeira de uma moral e uma ética inexistentes nas suas ações depois que tomaram o poder e capturaram o Estado. O desastrado e incompetente segundo mandato de FHC se tornou irrelevante diante da grandeza da prostituição política, do corporativismo e da corrupção que tomaram conta das relações públicas-privadas no desgoverno Lulla, conforme as sistemáticas e repetidas denúncias retransmitidas pelos veículos de comunicação.

As táticas do “corruptismo” fascista-populista-autocrático para amordaçar o povo e comprar o apoio das elites dirigentes para a sua perpetuação no poder ficam claras e óbvias ao lermos as evidências contidas nas inúmeras reportagens feitas pela mídia em relação aos quase quatro anos do desgoverno Lulla:
– tentativa de censura à imprensa e à produção cultural do país;
– tentativa de desarmar a sociedade sem oferecer qualquer tipo de iniciativa que resolvesse o problema do contrabando de armas, do narcotráfico, e da guerrilha urbana que toma conta dos guetos residenciais onde os pobres e os menos favorecidos são confinados pelas elites dirigentes do país;
– transformação de mais de 30 milhões de pessoas em dependentes permanentes do Estado com seus programas bolsa-manutenção-da-pobreza, promovendo o assistencialismo clientelista catador de votos nas lixeiras de um processo educacional falido, para a reeleição do Apedeuta, sem precisar gerar os empregos necessários para a promoção da justiça social que todos almejam, nem uma política de desenvolvimento que possibilite o acesso do povo a uma renda justa para lutar por uma vida digna por seus próprios meios;
– promoção de inúmeras políticas de inclusão social para estudantes, sem qualquer atitude para combater as causas da falência do ensino público não universitário, transformando as universidades públicas federais e estaduais de centros de excelência acadêmica, em centros de tratamento da ignorância e da incompetência educacional. O resultado dessa estupidez não é difícil de prever: será o nivelamento por baixo do ensino universitário público, comprometendo a formação de profissionais em todas as áreas de pesquisas científicas e generalizando o processo de obtenção de um “canudo universitário” para conseguir uma vaga no mercado de trabalho, ou simplesmente adquirir o conhecimento necessário para passar em um concurso público e pendurar um diploma na parede de uma das salas dos centros de prostituição moral e ética espalhados pelo país;
– cooptação do apoio político de sindicatos, da UNE, de ONG´s e muitas outras organizações sociais com o poder do “convencimento” das verbas públicas;
– transformação do MST, de um movimento legítimo, em um movimento fora-da-lei para a promoção de invasão de propriedades privadas ou a destruição do patrimônio público;
– agravamento de forma criminosa de um corporativismo imoral e aético que provocou a ruptura de todos os princípios que devem fundamentar a independência entre os poderes da República fazendo do Poder Judiciário um “sócio” na luta pela perpetuação do PT no poder e do Legislativo um parceiro comprado pelos “mensalões” e pelas maracutais gestadas no laboratório na prostituição da política no submundo das negociações para o aliciamento do apoio de parlamentares para os projetos do desgoverno Lulla;
– compra do apoio dos donos do capital remunerando seus investimentos com a maior taxa de juros do mundo, fazendo da formação do superávit primário, para pagar os juros de uma dívida que já ultrapassou um trilhão de reais, uma prioridade cada vez maior do que os investimentos estruturais para o desenvolvimento sócio-econômico do país;
– captura da burocracia do Estado com centenas de militantes, tendo como meta uma massificação no poder público da ideologia do pensamento único e autocrático no comando de suas instituições, que devem ser escravas do fascismo populista do PT;

Diante de tais fatos e evidências que escancaram as intenções autocráticas e ditatoriais no meio da devassidão política, moral, ética e jurídica que toma conta do país, o silêncio do povo diante do corporativismo traidor do País é um solene e estúpido atestado de aceitação de um novo regime político para o país, o nacional fascismo populista com seus fundamentos de sobrevivência nos dogmas nas ideologias do “corruptismo”.

Aos historiadores sérios, honestos e imparciais – não aqueles “aprendizes” fabricantes de memórias para o engrandecimento de traidores do país – caberá a triste tarefa de retratar para o mundo a podridão das biografias de todos os irresponsáveis e inconseqüentes que fizeram do nosso país a partir dos governos FHC, o paraíso definitivo da corrupção e do corporativismo fétido, que conseguiu unir o Executivo, o Legislativo e o Judiciário nas mesmas salas privativas da prostituição da política para a formalização do aniquilamento da independência entre os poderes de nossa falida República, da queda do Estado de Direito e da implantação do Estado Policial para a perseguição implacável dos inimigos políticos do Apedeuta e para dar garantia da impunidade para os ideólogos praticantes do “corruptismo”.
Geraldo Almendra

sábado, março 18, 2006

A lei da mordaça do PT

Era uma vez um partido que empunhou a bandeira da ética para seduzir a "burguesia" brasileira, avessa às suas atávicas tendências carbonárias, simbolizadas pela então façanhuda figura do seu líder máximo, o Lula "hoje não tô bom". O estratagema funcionou: enquanto, como se viria a saber, o PT agia à semelhança de "tudo que está aí", conforme o seu jargão, nos governos municipais e estaduais que vinha conquistando, mais se excediam suas lideranças na invocação da moralidade pública como arma eleitoral para ascender ao comando do País.

E era uma vez um presidente da República que, diante das evidências incontestáveis de que um certo Waldomiro Diniz, braço direito do seu segundo no Planalto, José Dirceu, era no mínimo um extorsionário, jurou aos brasileiros que todos os eventuais ilícitos do assessor parlamentar do ministro da Casa Civil seriam apurados às últimas conseqüências. Enquanto isso, com a conivência do então presidente do Senado, José Sarney, o Planalto conseguia impedir o funcionamento da CPI dos Bingos, pedida pela oposição para apurar o escândalo em todas as suas ramificações. Só depois de mais de um ano, graças a uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), ela pôde ser instalada.

A essa altura, o mesmo presidente decerto já tinha perdido a conta das vezes em que prometera que os sinais de corrupção na administração federal direta e indireta - trazidos à luz no flagrante de suborno de um funcionário de segundo escalão dos Correios - e o pagamento sistemático de propinas a deputados, denunciado pelo petebista Roberto Jefferson, também seriam investigados em toda a sua extensão, "doa a quem doer". Enquanto isso, em perfeita sintonia com o Planalto, o PT e os seus igualmente inescrupulosos companheiros de viagem faziam o que sabiam e mais alguma coisa para matar no nascedouro a CPI dos Correios, ou ao menos emasculá-la para que não destampasse o lodo do governo que "não rouba, nem deixa roubar".

Numa frente da batalha pelo abafa e a impunidade, o governo se saiu bem. Outra CPI, a do Mensalão, morreu em surdina, sem produzir nem sequer o devido relatório de suas investigações. Em contrapartida, a comissão dos bingos, na qual a oposição prevalece, partiu do fato determinado que lhe deu origem para buscar outras peças que a ele se ligavam no vasto quebra-cabeça da corrupção petista. Passou a ser chamada, por isso, a CPI do fim do mundo. E foi ela que, inicialmente pisando em ovos, incluiu entre os seus objetivos o de apurar os ilícitos de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, era acusado, remontando aos seus tempos de prefeito em Ribeirão Preto e de coletor-sênior de fundos para a campanha presidencial de Lula.

A barragem rebentou com a entrevista ao Estado de Francenildo Santos Costa, caseiro do clube privé da cupinchada amiga do chefe, como ele fazia questão de ser chamado ali. O moço relatou - e reafirmou numa entrevista coletiva - o que obravam naquela mansão do Lago Sul os Burattis, Poletos e Barquetes, entre um repasse e outro de dinheiro vivo e entre um congraçamento e outro com as atendentes de madame Jeany Mary Corner. Anteontem, por fim, nos 55 minutos que teve para falar à CPI dos Bingos, antes que fosse amordaçado por uma liminar impetrada no STF por um senador petista, a mando pessoal do presidente Lula, ele reiterou "até morrer" tudo o que dissera da presença de Palocci na sede da República de Ribeirão.

Ao pulverizar com superabundante fartura de detalhes as negativas do ministro, o comprometeu irremediavelmente - nem tanto pelo que fez ou deixou de fazer no casarão, mas porque mentiu à CPI - como mentira antes sobre o avião "alugado pelo PT" e sobre os contratos do lixo. Seria o caso de dizer que, ao pedir ao Supremo - por intermédio do PT - que amordaçasse o caseiro Francenildo, o presidente Lula também deixou escancarado o seu comprometimento com a mentira, o engodo e a corrupção - qualquer o sentido que se dê à palavra.

Dolorosa é a descoberta da existência de dois Paloccis - o dr. Jekyll e o mr. Hyde. O primeiro é uma cabeça privilegiada, um ministro da Fazenda como poucos o Brasil teve - e que se cercou no ministério de uma equipe de excepcional qualidade. O segundo, um político municipal que se fez cercar por uma máfia de desqualificados, a cujas bandalheiras nunca terá estado alheio - para dizer o menos.
Estadão

sexta-feira, março 17, 2006

Nem

O Brasil é o país do "nem". Ou, posto de outra forma, as coisas quase nunca ficam definitivamente estabelecidas.
Tome-se o escândalo que há nove meses habita os jornais. Nem surgiu o "smoking gun", que provaria a culpabilidade do presidente da República, nem o presidente ficou definitivamente inocentado.
Esse "nem" reflete-se nas intenções de voto. Nem Lula deixou de ser um candidato competitivo nem consegue superar a maioria absoluta dos votos quando a simulação de segundo turno é feita com o candidato (José Serra) que as pesquisas dizem ser o segundo mais forte.
O formato de dois turnos foi inventado precisamente para permitir a eleição de um presidente com amplo nível de respaldo popular, a maioria absoluta. Não atingi-la, após três anos e três meses de mandato e depois de ter sido eleito com dois terços dos votos, é um resultado "nem". Nem ruim nem ótimo.
Pegue-se agora o caso das armas roubadas do Exército. Na segunda-feira, o chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste, general Hélio Chagas de Macedo Júnior, deu sua primeira entrevista, 11 dias após o roubo. Classificou de "muito bom" o resultado das ações militares. Só não cravou "ótimo" porque as armas não haviam sido recuperadas.
No dia seguinte, as armas já haviam sido encontradas -e desde domingo, 24 horas antes de o general dizer que não o haviam sido.
Tem mais: a recuperação das armas teria sido, na primeira versão, graças à denúncia de um anônimo. Na segunda versão, graças ao serviço militar de inteligência.
Ou o general mentiu, ou mentiram para o general, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Como é que o distinto público pode acreditar no que dizem as autoridades? Como alguém pode acreditar nas juras do Exército de que não houve negociação com o narcotráfico?
É o Brasil do "nem". Nem as autoridades se explicam nem são punidas.
Clovis Rossi

terça-feira, março 14, 2006

As pérolas pescadas no excremento

Toda hora ouço esta pergunta nas ruas e botequins: "E aí, seu Jabor, como é que fica?". "Não fica — respondo — nada se fecha na História...", declaro gravemente para boquiabertos negões que não tiveram a fortuna de estudar dialética na USP. No entanto, estamos num momento histórico importantíssimo no Brasil. Sinto uma bruta indigestão diante de tudo que comi no ano de 2005, com o maior escândalo de nossa História. Ando com vontade de vomitar, diante de fatos como o daquelas vagabundas do MST destruindo 20 anos de pesquisas da Aracruz, com o suíno barbudo do Stédile dizendo que são heroínas, ele, criado pelos bispos ignorantes da Pastoral da Terra (aliás, ninguém vai prender esse cara?). Tenho ganas de assassino ao ver o Pf. Luizinho saltitante na Câmara, o Janene armando fuga com aposentadoria, enquanto o Lula faz cara de lorde que nada sabia, ao lado da rainha da Inglaterra. O Brasil esta virando um bolo fecal... (desculpem as imagens intestinais, mas é o que me resta, caros leitores). Mas sejamos "dialéticos": vem aí uma nova fase. Não acabou em pizza. De novo me desculpem, mas a merda foi-nos utilíssima. Gosto muito da expressão do Oswald de Andrade "a contribuição milionária de todos os erros", que descreve, em outro contexto, a forma fortuita, volúvel de o país progredir. Nunca nossos vícios ficaram tão explícitos quanto nos últimos meses. Aprendemos a dura verdade num congestionamento de descobertas, como um rio sem foz, onde as sujeiras se acumulam sem escoamento. Finalmente, nossa crise endêmica está sujamente clara, em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha.

Assim, tento fazer a lista das vantagens do esterquilínio, das belezas do excremento, das pérolas que a lama podre revela. O Brasil evolui de marcha a ré. Mas esta diarréia esfuziante que temos visto grava na consciência nacional alguns insights novos que, pelo avesso, ajudam a nos esclarecer. Vamos lá.

A primeira conquista da merda é que já aprendemos que a corrupção e a sordidez no país não são um "desvio" da norma, não são pecados ou crimes casuais. Já sabemos que o crime "é" a norma, que está tudo entranhado na nacionalidade, nos códigos jurídicos, nas leis, nas almas.

Outro avanço é que também aprendemos a mecânica da escrotidão: a técnica de roubar o Estado para fins políticos, como os fundos de pensão perdem de propósito no mercado financeiro, como desviam 400 milhões para bancos fajutos em troca de maracutaias, como se faz superfaturamento em publicidade estatal, como se monta um esquema "revolucionário" de mensalão, como se nega tudo sempre, como nada prova nada e como depois os advogados oficiais desculpam tudo como "caixa de campanha". Creio que os mecanismos de controle vão se aperfeiçoar, junto com nosso des-asnamento .

Outro grande avanço é vermos, como disse Bobbio, que nada une tanto a esquerda atrasada e a direita visceral como o ódio à democracia.

Mais uma pérola: acabou o mito do "iluminismo proletário", acabou a idéia de que o "povo" encerraria uma mensagem de sabedoria e pureza. Descobrimos com dor (uivem, populistas...) que o "povo" é fraco, doente, ignorante e que só a educação e saúde no crescimento podem criar o progresso. Foi importante descobrirmos que Lula, o messias dos intelectuais, revelou-se apenas um alpinista social bem-sucedido, competentíssimo em cinismo político e gênio do marketing popular — o que deve reelegê-lo, já que a "economia, estúpidos!" foi a única coisa que funcionou, surrupiada do governo anterior, graças a Deus.

Outra pérola foi a indigência prática de tantos intelectuais medalhões, sua falta de contato com a realidade, sua erudição vazia, quase criminosa.

Outro bem que a bosta nos fez (o principal) foi a expulsão dos bolchevistas desse governo e vermos que seus fins ridículos e seus meios vagabundos não vão enganar mais tão facilmente as pessoas. Constatamos que não foi o PT que destruiu a "esquerda", foram as velhas idéias de "esquerda" que destruíram o PT.

Claro que os cassados serão poucos, mas a perda de poder do José Dirceu foi o fato histórico mais importante, pois ele era o único líder antigo que ainda comandava a dialética da estupidez. A permanência de Dirceu, Genoino e outros bolchevistas sem causa podia pôr em risco as conquistas da democracia dos últimos 20 anos e arrasar o sistema atual — sem dúvida excludente e injusto — em nome de um "frankenstein" maluco feito de teorias do século XIX. Em 2010, poderíamos estar diante do caos de 30 anos atrás, se o Bob Jefferson não tivesse nos "salvado" — espero em Deus.

Aprendemos também que não há "futuro" — só uma sucessão de "presentes" que têm de ser permanentemente enfrentados e corrigidos. Aprendemos que "utopia" é uma palavra ridícula, e que o certo é "planejamento", administração do possível, projetos democráticos e realistas.

Outra pérola tirada da bosta é a clareza de que o Estado patrimonialista, inchado, burocrático é que nos come a vida. Todos os críticos da economia sabem disso: enxugar os gastos públicos. Mas ninguém consegue. Ao menos, já conhecemos melhor o "inimigo principal", como diziam os maoístas.

A descoberta que mais me chocou pessoalmente é que não havia um mínimo de candura, de romantismo nos petistas que eu mesmo imaginava "éticos". Nunca pensei que casos tenebrosos como o massacre de Toninho do PT e Celso Daniel seriam ocultados com empáfia, depois de reuniões leninistas nas longas noites da Executiva.

Aprendemos, creio, que agora a modernização do país tem de ir muito mais fundo, além da estabilidade monetária conseguida pelos tucanos, que precisa ser formulada uma nova plataforma que dê conta da paralisia ibérica que nos assola. Um projeto democrático mais militante e social, com muito mais coragem para contrariar interesses, isso, se os tucanos forem eleitos e conseguirem acabar com o Hamlet que lhes vai na alma.

E se Lula for reeleito, só resta rezar para que não venha aí um populismo devastador para alegrar o Chávez e ocultar sua incompetência.
Arnaldo Jabor

domingo, março 12, 2006

Enquanto isso, no Brasil...

Em 1945, Frederick Von Hayek procurou explicar, em seu livro “O Caminho da Servidão”, que os países que ignoravam a capacidade do mercado livre de tomar milhões de decisões econômicas e sociais a cada momento e usavam o governo para tomar decisões por seus habitantes estavam destinados ao fracasso.

Nós brasileiros, infelizmente, demos pouca atenção aos ensinamento de Hayek, ainda que seu livro esteja disponível em qualquer boa livraria do país.

Preferimos, ao invés disso, trilhar o caminho do nacionalismo míope e do esquerdismo idiota. Preferimos acreditar na lenda do “novo homem”, naquelas baboseiras de “um novo mundo é possível”.

E, no entanto, basta olhar ao nosso redor para encontrar exemplos da correção das idéias de Hayek – e do fracasso das idéias em que muitos brasileiros (brasileiros demais, na verdade) ainda acreditam.

Em seu livro “Something for Nothing”, Brian Tracy compara dois países e sua situação em 1945, quando Von Hayek publicou “O Caminho da Servidão”: Japão e Índia.

Naquele ano, ao final da Segunda Guerra Mundial, tanto Japão quanto China eram países pobres. O primeiro estava reduzido a ruínas e mal tinha digerido o impacto das bombas nucleares lançadas sobre seu território. A Índia era uma nação de miseráveis que lutava para deixar para trás 300 anos de colonização britânica.

O Japão enveredou pelo caminho do livre mercado, como escreve Tracy: “Grandes monopólios foram divididos, o capital começou a entrar e o mercado livre foi incentivado. Em três décadas, o Japão se transformou numa potência industrial ultramoderna, e sua população desfruta de um dos padrões de vida mais altos do mundo".

E a Índia? Bem, escreve Tracy: “Ao final da guerra, a Índia conseguiu sua independência e imediatamente introduziu um sistema socialista. A iniciativa privada e o mercado livre foram sufocados e substituídos por corrupção, favorecimento político e controles. Como resultado, a Índia permaneceu por décadas um país pobre, corrupto e atrasado, com centenas de milhões de seus habitantes mal recebendo salários de subsistência”.

Outro exemplo citado no livro de Brian Tracy é o da Nova Zelândia: “Ao final da guerra, seguindo o exemplo da Grã-Bretanha, esse país começou a caminhar cada vez em direção ao socialismo. O governo passou a interferir ou controlar quase todos os aspectos da atividade econômica e social. Apesar de ser rica em recursos naturais e de possuir uma população altamente educada, a Nova Zelândia ficou estagnada década após década".

“O governo criou camadas e mais camadas de regulamentações, controles e impostos em cada parte da economia neozelandeza”, escreve Tracy. “O desemprego disparou. Os custos dos programas sociais se tornaram insuportáveis. Os negócios estagnaram e a juventude começou a buscar oportunidades em outras terras.”

Em muitos aspectos, é como se Brian Tracy estivesse escrevendo sobre o Brasil.

A diferença é que os neozelandezes fizeram algo a respeito. Na década de 80, os trabalhistas liderados pelo primeiro-ministro David Lange decidiram que era hora de encarar a realidade. O sistema claramente não estava funcionando.

Influenciado por aquilo que Ronald Reagan estava fazendo nos Estados Unidos e Margareth Tatcher na Grã-Bretanha, o ministro de Finanças Roger Douglas criou um plano econômico que recolocou a Nova Zelândia no caminho apontado por Frederick Von Hayek. Descreve Brian Tracy:

“Em quatro anos, a economia sofreu uma reviravolta completa. O desemprego despencou e o número de pessoas que dependia de pagamentos do governo caiu pela metade. O governo privatizou a maioria das empresas estatais. As exportações cresceram, os empreendedores criaram novos negócios, e os padrões de vida aumentaram".

Nada mal. Ainda hoje, a Nova Zelândia cresce em média 4% ao ano. Sua economia é uma das menos regulamentadas do mundo (o país ocupa a nona posição no Índice de Liberdade Econômica). E, embora sua carga tributária seja elevada, os gastos do governo em relação ao Produto Interno Bruto continuam caindo.

Enquanto isso, no Brasil...

por Paulo Leite, de Washington, DC - Diego Casagrande

Da invasão à destruição

Autorizado a transgredir, o MST evoluiu sem freios do socialismo ao banditismo

No dia 6 de julho de 2003, seis meses depois de assumir a Presidência da República, Luiz Inácio da Silva recebeu em seu gabinete a cúpula do MST com honras de Estado.

Pôs na cabeça o boné do movimento e escreveu ali o roteiro do qual hoje se vê a continuidade prevista: sem freios, autorizados a agredir a lei e atribular a ordem natural da punição como conseqüência da infração, os sem-terra foram subindo de escala em suas ações até chegarem ao patamar do mais puro e límpido banditismo.

Das invasões passaram aos saques, aos bloqueios de estradas, à ocupação de prédios, interrupção de pedágios, tomadas de reféns e, sob o beneplácito das autoridades constituídas, chegaram agora a práticas tão criminosas quanto obscurantistas.

O movimento nada mais tem de reivindicatório, de ideológico, nem mesmo guarda qualquer relação com a reforma agrária. Restaram a seus integrantes operações de destruição. Na semana passada atingiram um laboratório de pesquisas da Aracruz, no Rio Grande do Sul, mas na semana que vem podem alcançar as dependências de qualquer empresa ou instituição sob quaisquer pretextos.

Na definição de um dos líderes do movimento, Jaime Amorim, a depredação do laboratório da Aracruz, com a anulação de um trabalho de anos de pesquisas, teve o objetivo de "defender a saúde do povo e defender a soberania nacional". Bem como a ocupação de um prédio do Incra e a queima de veículos de propriedade pública, na concepção do mesmo autor, atendeu à meta de "fortalecer a infra-estrutura do órgão".

Ou seja, já não se pode nem mesmo medir os atos do MST pelos critérios mais comezinhos da lógica aplicada às relações de causa e efeito do cotidiano dos seres humanos comuns, o que torna seus alvos presentes e futuros, concretos ou presumidos, reféns das exacerbações mentais de sua tropa.

Na terça-feira, a motivação para o vandalismo contra a Aracruz foi a comemoração do Dia Internacional da Mulher. Em maio, quem sabe o que farão as valentes "companheiras mulheres" para celebrar o Dia das Mães?

Se a idéia é fazer uma agenda de barbáries obedecendo às datas marcantes, antes disso temos a Semana Santa para ser devidamente brutalizada e depois a Copa do Mundo, o Dia da Independência e, claro, o dia da eleição em outubro, efeméride máxima da democracia burguesa.

Caso o MST resolva explodir seções eleitorais ou algo parecido a propósito de proteger a população da eleição de políticos corruptos poderemos dizer mesmo o quê, se ficamos todos apenas docemente estupefatos diante da destruição de um laboratório de pesquisas para "proteger a saúde do povo"?

Nada, será normal mais uma vez aceitar. Com certo repúdio, é verdade, mas de forma muito comedida e comportada, como convém aos corretos ante a ação dos desvalidos, ainda que seus atos imponham uma derrota atrás da outra à sociedade organizada.

E vem mais por aí. O movimento já anunciou: 2006 "será vermelho".

Pelo visto, resta-nos aguardar sentados a execução da ameaça, tenha ela a conseqüência que tiver, pois para o governo federal não existem vândalos de alta periculosidade à solta, mas integrantes de um movimento social em pleno exercício de sua liberdade de manifestação.

Há três anos, quando saiu do gabinete presidencial João Pedro Stédile comemorava o resultado da reunião com Lula. "Foi ótima, vai dar 5 a 0 contra o latifúndio no segundo semestre", dizia, sem ter ouvido resquício de reprimenda por parte do presidente da República a respeito das invasões que ocorriam na ocasião.

Stédile estava certo, sua vitória configura-se de goleada desde aquele dia em que a figura presidencial foi usada como avalista da ilegalidade sem a menor preocupação com a preservação da essência do cargo para o qual fora eleito: governar para todos os brasileiros, respeitando seus direitos de forma igualitária sob o império da Constituição.

Inclusive porque, no que tange ao MST, o governo federal só se ocupa de conter as ações do movimento quando é para negociar uma "trégua" a fim de a radicalização do movimento não atrapalhar os candidatos do PT.

No tocante à obrigatoriedade de preservar a Constituição no capítulo das garantias e direitos individuais, não se vê a menor aflição. Ao contrário, desde o início do governo a opção ficou bem clara: entre a lei e o MST, dane-se a lei.

Ficou assim estabelecido quando, bem antes do episódio do boné, houve a decisão governamental de ignorar a medida provisória que retirava invasores e terras invadidas do programa de reforma agrária, sob a alegação de que essa MP representava o "autoritarismo de Estado" a ser revogado pelo PT.

E, de fato, revogou-se um princípio. Não o do autoritarismo, mas o da autoridade sem possibilidade de recuperação. Os stédiles e amorins continuarão dando as cartas, fazendo do país gato e sapato até que assuma o comando alguém capaz de consertar o estrago feito pelo governo do PT ao preceito básico do respeito à lei. Sob os mais variados aspectos, num horizonte bem mais amplo que o das transgressões do MST.

dkramer@estadao.com.br

O LABIRINTO DOS GENERAIS

A imprensa de hoje informa que a ação policial-militar em curso nos morros do Rio de Janeiro, executada pelo Exército, teve situação de tiroteio que durou duas horas. Pergunto-me quem haverá de ter poder de fogo para segurar uma força - sabidamente treinada, numerosa, bem armada e conduzida por uma elite de oficiais de carreira, muito bem formada - sem sofrer sérias baixas, por tanto tempo, em terreno conhecido e vizinho à sede do I Exército. Ninguém, pelo que eu saiba. O fato é que os comandantes da operação estão com as armas travadas, fingem uma ação mais dura, fazem de conta que o vistoso uniforme verde-oliva é o bastante para impingir medo aos delinqüentes. Sobem o morro fazendo um desfile militar, viraram combatentes de fancaria. É um lamentável episódio, o que vemos. Nosso Exército sofreu a humilhação de trocar tiros por duas horas sem conseguir impor-se, sem destruir o inimigo, como seria da ordem natural das coisas.

Dois generais suicidam-se em curto espaço de tempo, gente na ativa e no comando de importantes tropas. Dois! Deixam de ser meros dramas pessoais para refletir a angústia de uma elite forjada na melhor tradição militar brasileira, que chega ao seu apogeu desamparada, desprotegida e humilhada pelos antigos inimigos, ora governantes. Os oficiais superiores matam-se, penso eu, por vergonha de ver o nosso glorioso Exército (as Forças Armadas no conjunto, na verdade) chegar a um limite que poderá ser uma encruzilhada. Humilhar-se e submeter-se a uma escória governante que lhe tem o maior desprezo e o trata como inimigo das lutas passadas – a guerrilha que ninguém esquece, as traições de Lamarca e da Intentona de 35 – e das futuras, pois essa gente quer mesmo chegar lá abrasada pelo cheiro de pólvora. E as Forças Armadas, queiram ou não, serão o último obstáculo para essa violência que eles pensam ser revolucionária. Está aí a indignidade perpetrada pelo MST contra a lei, no momento, sob o beneplácito da mídia e a conivência criminosas dos governantes, a invadir terras, empresas, laboratórios e, na esteira, destruindo tudo que podem, a começar pela ordem legal.

Ser general em meio a esse caos, sem nada poder fazer, é ser general castrado. Um eunuco com armas na mão, descarregadas. Os dignos matam-se. Os mais dignos haveriam que tomar providências.

Essa operação no Rio de Janeiro reflete uma ambivalência existencial. O Exército não pode deixar-se achincalhar no limite de ver suas armas serem tomadas à luz do dia, nas barbas dos comandantes, sem a menor cerimônia e sem nenhum MEDO por parte dos meliantes. É a prova definitiva do caos que substituiu a ordem da lei, da qual as Forças Armadas são as guardiãs constitucionais, em última instância. Por outro lado, os comandantes estão impedidos de dar a grande ordem, a de se eliminar, por uma maneira ou por outra, os inimigos da sociedade. Sobem os morros de peito aberto e de armas nos coldres, com ordem para não fazer vítimas, vale dizer, não usar tiros letais. É corajoso e estúpido. É deprimente. É renunciar ao único poder que uma força armada não pode renunciar, ao seu poder de fogo diante de um inimigo que não hesita em atirar. Não se pode começar uma batalha para perdê-la deliberadamente. É fazer de nossos soldados alvos ambulantes dos delinqüentes.

O episódio do general Albuquerque, desrespeitado pela empresa aérea que lhe tirou o direito de voar a Brasília, mostra o tamanho do ridículo a que foram expostos os nossos líderes militares. O comandante maior da Força Terrestre teve que se valer de expedientes para poder embarcar, quando deveria ter à sua disposição uma aeronave privativa. Falsos ministros, de inutilidade comprovada, como esses da Pesca, do Meio-ambiente, da Reforma Agrária e congêneres, têm jatinhos da Força Aérea à disposição para deslocamentos cujos objetivos são levá-los para reuniões inúteis e desimportantes. O comandante maior da Força Terrestre tem que se deslocar em aviões de carreira e sujeitar-se a esse tipo de humilhação. É aterrador ver nossos generais passarem por essa situação grotesca. De fato, se não tiverem coragem para matar-se deveriam pensar em um meio de resolver a situação. Parece não haver terceiro termo nessa equação dantesca.

Caxias deve estar revirando-se no túmulo. Os que carregam no sangue a sua estirpe terão que descruzar os braços. A História não registrou nem seu suicídio e nem a sua desonra.

Nivaldo Cordeiro
www.nivaldocordeiro.org

sábado, março 11, 2006

A Cura do Esquerdismo

A Cura do Esquerdismo
Que o esquerdismo é uma doença que afeta essencialmente adolescentes todos já sabemos. O principal problema é que o Brasil insiste em continuar morando na casa dos pais mesmo depois de formado. Infelizmente o esquerdismo, ao contrário da puberdade, não apresenta nenhum sintoma físico e a pessoa que sofre da doença não se dá conta que o vírus já se alastrou. Se pipocasse umas espinhas na cara do esquerdista, um espelho seria suficiente para que ele fosse buscar ajuda. Como isso não acontece, ele continua se achando isento, achando que pensa por conta própria. Tenho visto algumas pessoas de boa índole tentando, sem sucesso, curar amigos. Vou passar então a minha experiência pessoal do que funciona e do que não funciona no tratamento da doença.
Muitas pessoas equilibradas tentam curar o doente com tratamento de choque. Recomendam a leitura dos sítios Mídia sem Máscara, Townhall, Diego Casagrande, Primeira Leitura ou- impensável- Olavo de Carvalho. Erradíssimo! Se o estágio da doença está muito avançado, um tratamento de choque irá criar resistência ao invés de matar o vírus. O tratamento deve começar com um diagnóstico preciso: quanto de esquerdismo já impregnou o cérebro do doente. Um erro na dosagem do remédio pode ser fatal. O tratamento aqui descrito já funcionou em diversos casos. Pode-se pular determinadas etapas se for diagnosticado que o doente já está pronto para a etapa seguinte.
Se o esquerdismo estiver em seus estágios mais avançados, você deve começar com doses homeopáticas. A leitura do relatório da CPI dos Correios é um excelente início. Diga ao doente que o presidente da CPI é do PT, portanto não é um membro da oposição golpista, da imprensa marrom ou da direita raivosa. É ele quem está dizendo que o mensalão existiu, que o Lula deveria ler o relatório antes de falar besteira e que o PT está sujo até a tampa. Não sou eu.
O passo seguinte é muito importante. Deve ser feito com muito cuidado. O doente pode falar que realmente o PT não serve, a solução é o PSOL. O vírus está se instalando em outra parte do cerébro. Se você deixar isso acontecer, é caso perdido. Com muito cuidado mostre ao doente que a gritaria da senhora Heloisa Helena não difere em nada da gritaria dos senhores José Dirceu, José Genoíno e Lula há dez anos. É a mesma coisa. Se você souber aplicar a dose certa, o vírus irá ceder.
Uma técnica muito eficiente é a do espelho. O vírus é feio de doer, e quando confrontado com um espelho, retrai-se. Ao ouvir um absurdo falado pelo doente, repita o que foi dito, concordando e acrescentando mais dados, com o intuito de mostrar o tamanho da idiotice. Exemplo: quando ouvir falar que precisamos de uma sociedade com menos desigualdades, diga que bom mesmo é Cuba. Lá, quase todo mundo ganha o mesmo. Um médico ou um pipoqueiro, tanto faz. Nos EUA, se você estudou por vinte anos ganha muito mais que quem não o fez. Um absurdo!
Se até aqui a doença seguiu retrocedendo, a próxima etapa é expor a chaga á luz do Sol. O esquerdismo pode retroceder ainda mais se for exposto a o que acontece no mundo, o que faz países crescerem e progredirem ou ficarem estagnados. Por que o Chile avança? Por que Cuba e URSS não deram certo? Por que a Índia não crescia até a década de 80 e a partir de então virou um dos emergentes? E principalmente, por que a gente está ficando para trás? O vírus pode voltar com força e gritar: China! Não perca a oportunidade de aplicar outra dose: recomende o livro O Mundo é Plano, do Thomas Friedman, que mostra que a China só está crescendo por causa do capitalismo. Mas atenção: não se esqueça que ainda está cedo para doses altas. Diga ao doente que o Thomas Friedman pertence à esquerda americana, odeia o Bush, adora o Clinton, foi contra a guerra do Iraque e repete todas as besteiras que a esquerda grita. Só não é idiota a ponto de achar o capitalismo ruim. Faça isso com o intuito de evitar um recrudescimento prematuro da doença, pois nesse estágio pode ser que o vírus ainda resista a qualquer coisa que seja americana, mesmo que seja de esquerda.
Se você obteve sucesso até essa etapa, pode começar a aumentar a dosagem. Recomende o sítio Primeira Leitura. Meio tucano, é verdade, mas razoável. Se o doente ficar por aqui, está ótimo! Não é nada que irá afetar a sua capacidade mental no futuro. Você também pode recomendar o sítio do Diego Casagrande. Já é uma dosagem mais respeitável, mas se ele já consegue pensar por conta própria e já é capaz de reconhecer que sofreu da doença, talvez seja proveitoso. Se quiser, aplique uma dose de Mídia Sem Máscara. Só então pense em falar no impronunciável, paranóico, raivoso e demente Olavo de Carvalho. Nem é tão necessário se o doente já chegou até aqui. Mas é sempre bom.
Eu estou cada vez mais convencido que o esquerdismo tem cura. O próprio Olavo de Carvalho foi do Partido Comunista e hoje está curado. Eu também me curei. Da mesma forma que um ex-drogado, também consegui me livrar do vício. Mas como qualquer doença, deve ser tratada da forma correta. No caso do Brasil, o mais rápido possível!

Crise entre os índios é a pior em uma década

Na véspera de Natal, pistoleiros mataram o líder indígena Dorvalino Rocha. No início do ano passado, sua comunidade de índios guaranis-caiovás tinha ganhado o direito de reocupar suas terras. Quando foi assassinado, Rocha e sua comunidade ainda estavam acampados à beira da uma estrada.

A morte dele elevou para 38 o número de índios mortos em 2005. Segundo o grupo Survival International, os povos indígenas do Brasil enfrentam sua pior crise numa década e o presidente Lula, que esta semana esteve em Londres em visita oficial à rainha e a Tony Blair, não cumpriu suas promessas eleitorais de protegê-los.

Há três anos, quando o ex-metalúrgico chegou ao palácio presidencial, parecia impossível que a situação dos povos indígenas brasileiros piorasse. Marina Silva, ex-seringueira e ecologista respeitada, foi nomeada ministra do Meio Ambiente. E trouxe para seu ministério dezenas de ativistas, determinada a parar com a destruição da extraordinária biodiversidade do Brasil. Marina afastou funcionários corruptos e criou reservas naturais. Mas falhou na sua principal meta - convencer o governo Lula a coibir o implacável movimento na direção norte da fronteira agrícola.

Quando, em maio de 2003, viajei com Blairo Maggi (governador de Mato Grosso), o maior produtor de soja do mundo, percorrendo campos de soja e milho numa área que não faz muito tempo era de floresta, ele pareceu preocupado com o futuro e repetidas vezes falou mal de Lula. Mas não precisava ter se preocupado, pois hoje os produtores de soja - e os bilhões de dólares que ganham com exportações - são intocáveis. Quase 90% das milhões de toneladas de soja que a gigantesca companhia americana Cargill compra em Santarém vêm de terras onde as árvores foram derrubadas e queimadas ilegalmente.

Quem mais sofreu com a destruição da floresta foram os índios, e a demarcação das reservas caminha a passo de tartaruga. Despojados de terras, seus filhos estão morrendo de fome e os adolescentes estão matando a si mesmos. Foram registrados 242 suicídios nos últimos 5 anos. Mais de uma dezena de pessoas, incluindo um ex-governador de Estado, foram presas, acusadas de genocídio de um grupo de índios ainda não contactado.

Há seis anos, o líder indígena Marcos Veron falou de forma comovente em Londres. "Tirem a minha terra e vocês tiram a minha vida." Três anos mais tarde, exatamente quando Lula chegava ao poder, Veron foi assassinado. Será que Lula dedicará um pensamento a ele?
*Sue Brandford escreve para o The Guardian

sexta-feira, março 10, 2006

Coincidências

O crescimento do banditismo veio junto com a ascensão política da esquerda, mas isso é mera coincidência. As gangues do morro foram adestradas em técnicas de guerrilha urbana pelos terroristas presos na Ilha Grande, mas é mera coincidência. Hoje são treinadas pelos guerrilheiros das Farc, mas é também coincidência. As Farc e o PT têm uma estratégia comum traçada nas assembléias do Foro de São Paulo? Coincidência. Toda prisão de narcoguerrilheiros ou seqüestradores estrangeiros vem seguida da imediata formação de um círculo de solidariedade e proteção entre seus correligionários da esquerda local? Coincidência, é claro. Se a epidemia de violência urbana cresceu junto com as ONGs de defesa dos direitos dos delinqüentes, alimentadas por poderosas fundações internacionais, quem verá algo mais que uma estúpida coincidência? Acossada pelos ataques da mídia e temerosa de infringir o decálogo politicamente correto, a polícia recua e entrega as cidades ao império dos bandidos, mas, uma vez mais, é pura coincidência. Todos os teóricos do comunismo ensinam que fomentar um estado de desordem e anomia é a melhor maneira de concentrar o poder nas mãos de um partido revolucionário, mas, se tudo se passa exatamente assim no Brasil, é coincidência, coincidência, coincidência e nada mais.

As mais patentes conexões entre atos e resultados, enfim, nada significam. Tudo é mera coincidência, nada é causa de nada, nada explica nada. O que explica tudo é o ''capitalismo'', é a ''desigualdade'', é a ''exclusão social''. Mesmo o fato de que a criminalidade tenha aumentado justamente nos anos em que, segundo o IBGE, a desigualdade e a exclusão social diminuíram muito não significa absolutamente nada, pelo simples fato de que é um fato, pois ninguém quer saber de fatos. Só o que vale é o fetiche teórico da luta de classes, que permite estabelecer relações infalíveis de causa e efeito sem a menor necessidade de consulta à execrável realidade, reacionária como ela só.

Com base nessa premissa, hoje amplamente aceita como dogma incontestável por todo o ensino universitário nacional, qualquer agente revolucionário, com ou sem treinamento em Cuba, está apto a explorar o desespero geral e utilizar as promessas mesmas de restauração da ordem pública como instrumento para gerar novos fatores de insegurança e aumentar um pouco mais o poder do partido salvador da pátria.

O truque é simples: basta confundir o fato brutalmente concreto da criminalidade com o conceito abstrato das suas causas sociais hipotéticas - quanto mais remotas, melhor - e condicionar a eliminação do primeiro à erradicação das segundas. Isso adia formidavelmente a punição dos criminosos e ainda garante, nesse ínterim, inumeráveis vantagens para o partido que os protege. Qualquer cidadão comum no pleno uso dos seus neurônios sabe que a criminalidade se elimina prendendo os criminosos. Mas um intelectual ativista tem razões que a própria razão desconhece. Ele demonstrará, por a mais b sobre y, dividido pela integral de x e subtraído do logaritmo da p. q. p., que quem compra armas no Líbano para trocá-las por toneladas de cocaína das Farc não são traficantes milionários, mas pobres garotos excluídos, vítimas da desigualdade. Tendo demonstrado essa sublime equação, ele proclamará que só reacionários simplistas podem achar que crime é caso de polícia. As pessoas inteligentes como ele, ao contrário, entendem que tudo são problemas sociais e que, no fim das contas, é preciso liberar mais não sei quantos bilhões de reais para clubes esportivos, escolas de balé, salões de manicure, praças cívicas e centros de doutrinação marxista que atacarão o mal nas suas raízes mais profundas. Quando tudo isso não funcionar de maneira alguma, como fatalmente acontecerá, ele lhes dirá com ar de tocante modéstia que, de fato, eram só paliativos beneméritos, que o que falta mesmo é acabar de vez com o maldito capitalismo. E o povo, atônito e exausto de tanto não entender nada, pode acabar lhe dando razão.
Olavo de Carvalho

Outra vez o MST...

Em 1798, no apagar das luzes do século 18, o pastor anglicano Thomas Malthus publicou um alarmante texto sobre o 'princípio da população'. A repercussão foi imediata e influenciou fortemente todo o pensamento econômico, político e social por várias décadas. A humanidade, então, atingia o impressionante número de 1 bilhão de pessoas e, segundo o economista inglês, não havia salvação possível. É bastante conhecido o seu enunciado de que, enquanto a produção de alimentos cresce em progressão aritmética (1, 2, 3, 4...), a população aumenta em progressão geométrica (2, 4, 8, 16...). Em breve, não haveria mais meios de subsistência para todos.
Quando isso ocorresse, os quatro cavaleiros do Apocalipse - Peste, Fome, Guerra e Morte - inevitavelmente varreriam a Terra. A tese, para a época, fazia sentido. As taxas de fertilidade humana eram altas, enquanto a agricultura ainda não conhecia o conceito de produtividade. A única forma de aumentar a produção era aumentar a área plantada. Os argumentos de Malthus serviram como base para muitos economistas de então defenderem a tese de que os salários deveriam ser rebaixados até o nível mínimo de subsistência. Qualquer incremento nos ganhos dos trabalhadores os levaria fatalmente a ter mais filhos, agravando, assim, o problema.
Felizmente, as profecias de Malthus não se concretizaram. Embora a população realmente tenha crescido em escala geométrica - somos mais de 6 bilhões hoje em dia -, a produção agrícola, com o crescente aporte da tecnologia, também cresceu e pôde alimentar a população do mundo.
João Pedro Stédile, o messiânico líder do MST, embora se afirme economista, teima em refutar essa realidade. Sua visão sobre a agricultura remonta à era pré-industrial. Ele idealiza um universo bucólico de micropropriedades rurais, cujos proprietários cultivariam uma lavoura de subsistência e seriam refratários a qualquer inovação tecnológica.
Na quarta-feira, milhares de mulheres do movimento Via Campesina invadiram o laboratório de uma empresa de celulose e destruíram, em minutos, todo um trabalho de pesquisas que demandou 20 anos. Enquanto isso, numa palestra televisionada, o sr. Stédile pontificava: 'O nosso maior inimigo não é mais o latifundiário improdutivo. É o agronegócio e também as empresas multinacionais voltadas para a produção agrícola!'
Não é a primeira vez que a raivosa e estúpida gente do sr. Stédile depreda centros de pesquisas agropecuárias. Como definiu com propriedade o deputado marxista Roberto Freire, o MST pode ser tudo, menos comunista. E explica: 'O comunismo é filho do iluminismo, uma corrente de pensamento que acredita no progresso da ciência como forma de minorar os males da humanidade. Destruir lavouras experimentais e laboratórios científicos nada mais é do que obscurantismo.' O deputado está coberto de razão. Não fossem a ciência e o progresso tecnológico, as tenebrosas profecias de Malthus de há muito já teriam sido cumpridas.
Em sua tresloucada cruzada contra a tecnologia e o capital estrangeiro no campo, mal sabe o sr. Stédile que, ironicamente, os bilhões de habitantes do planeta devem à 'detestável' Fundação Rockefeller (FR) o simples fato de estarem vivos.
A história merece ser recontada.
Nos anos finais da 2ª Guerra Mundial, preocupada com a possibilidade de uma grande fome devida ao rápido crescimento da população mundial que se seguiria ao conflito, a FR decidiu aplicar maciços recursos no incremento da produtividade de produtos agrícolas básicos. No início, as pesquisas se concentraram no trigo e no milho. Em 1944, a fundação criou um instituto, sob o comando do renomadoLOREDANO dr. Norman Borlaug, com o objetivo de desenvolver variedades da alta produtividade do trigo. O México, então, por ser um país com graves carências alimentares e vizinho dos Estados Unidos, foi o local escolhido para as experiências. Como não havia nenhum Stédile por lá, as pesquisas puderam ser realizadas de forma pacífica.
Apenas duas décadas depois, a fome no México não só foi extinta, como o país se tornou um grande exportador de alimentos. A Rockefeller, então, decidiu estender o seu trabalho para o sul da Ásia, em especial a Índia, conhecida, à época, como o 'continente da fome'.
Como não havia um MST na Índia, o projeto da FR foi acolhido de bom grado pelo governo e pela população local. O trabalho foi iniciado em 1966, com a introdução de sementes altamente modificadas e desenvolvidas de trigo e de milho. Eram o equivalente aos 'transgênicos' da época. Como nenhum Stédile atrapalhou, em menos de dez anos os resultados apareceram. A produção de alimentos da Índia mais do que dobrou e nunca mais o país passou necessidades. Centenas de milhões de indianos escaparam de morrer de fome, o fenômeno ficou historicamente conhecido como a 'Revolução Verde', o resto do mundo o adotou e Borlaug ganhou o Nobel da Paz.
Gente como Stédile, é claro, não compareceu à cerimônia.
O que eu não consigo entender, no Brasil, é como ele e seus asseclas ainda não estão na cadeia. Embora aleguem defender a 'democratização da propriedade', democratas é que eles não são. O MST, em suas ações, violenta, de forma contumaz, todas as instituições do Estado de Direito e da ordem democrática.
Reclamar para o bispo não dá. Ainda mais se ele for um desses que querem dividir na Terra os lotes que não terão no céu. Quanto ao governo, que ninguém espere nada. Lula ainda é do PT, que é irmão do MST. Ô familiazinha tinhosa! Tudo nela é vermelho: a idéia, a estrela, a bandeira e o estandarte. Vermelho, por sinal, é a cor do capeta. E também do seu reino, para o qual, com certeza, todos eles irão.


João Mellão Neto, jornalista, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado E-mail: j.mellao@uol.com.br Fax: (11) 3845-1794 Site: www.mellao.com.br