sábado, março 04, 2006

AS BESTEIRAS DO DIRCEU

Não costumo perder tempo criticando textos extremamente ridículos: quando a quantidade de bobagens escritas neles ultrapassa certo limite, o melhor é ignorá-los. Às vezes critico intelectuais de primeiro nível, como Olavo de Carvalho e Reinaldo Azevedo, simplesmente porque leio todos os seus artigos, (já que não há nenhum brasileiro mais competente do que eles para comentar os fatos da política) e é inevitável que surja uma ou outra discordância de vez em quando. Mas em geral concordo com eles, embora eu me manifeste principalmente quando discordo. Já em relação a subintelectuais como Frei Betto, Leonardo Boff, Emir Sader e outros de mesma estatura, prefiro ficar quieto, uma vez que o comentário das infinitas bobagens produzidas por eles a toda hora exigiria enorme dose de paciência. Além disso, não sobraria tempo para fazer mais nada na vida...
Hoje, ao ler as notícias do Jornal do Brasil na Internet, cliquei num artigo com o título Esquerda, volver. Quando acessei o artigo, percebi que o autor era... José Dirceu! Sim, ele mesmo. Depois de tudo o que aconteceu com ele no governo Lula, está aí, livre, leve e solto, escrevendo besteiras e influenciando muita gente. Usando a expressão de Olavo de Carvalho, mergulhei no esterco... A melhor propaganda anticomunista é deixar os comunistas falarem, dizia Paulo Francis. O artigo de Dirceu confirma essa verdade...
Dirceu começa o seu artigo com esta frase: “É sintomático que a mídia, recentemente, tenha levantado o debate sobre a chance de retorno da direita no Brasil”. Prestem atenção: Dirceu fala no debate sobre a chance de retorno da direita. Ora, ele já está admitindo que a direita praticamente não existe no Brasil, ao contrário do que afirmará mais adiante.
Dirceu vê com estranheza uma direita que defende a democracia e os direitos humanos, como se isso fosse monopólio da esquerda. Na verdade, a esquerda brasileira (e Dirceu pertence a ela) costuma defender ditaduras comunistas nas quais não há o menor sinal de democracia. E nenhum país comunista respeitou os direitos humanos, o que não é de surpreender, considerando-se a defesa da violência por parte dos teóricos da esquerda radical, ainda muito cultuados no Brasil.
Tanto a direita quanto a esquerda podem ser autoritárias ou democráticas. Não há razão para o espanto de Dirceu com uma direita democrática. O que ele pretende é rotular todos os seus oponentes como malvados direitistas, associando-os a ditaduras, autoritarismo, nazismo, fascismo etc. É aquele velho discurso dos fanáticos, que ainda conquista muita gente no Brasil.
Dirceu diz que “eternos corruptos, conhecidos da sociedade e da mídia, são arautos da ética e da moralidade pública”. É inacreditável: um dos homens mais poderosos do governo mais corrupto da história do Brasil falando em moralidade! Quem são os corruptos a que Dirceu se refere? Por que ele não cita nomes? Ele quer dizer que toda a direita é corrupta?
Segundo Dirceu, a direita (qual direita?) diz que a esquerda é intolerante e não tem compromisso com a democracia. Parte considerável da esquerda brasileira é mesmo hostil à democracia. Fidel Castro ainda é idolatrado por muitas pessoas no Brasil.
Dirceu põe em dúvida a tese de que a esquerda domina a mídia, as universidades e a cultura. Ora, para confirmar o fato de que a esquerda é dominante, basta comparar o espaço que as universidades brasileiras dão a pensadores liberais e socialistas. Estes últimos são muito mais comentados. Sobre a mídia esquerdista, basta constatar o esforço que esta fez para abafar as investigações sobre a corrupção no governo Lula. Dirceu afirmou que um dos porta-vozes da nova direita quer a eliminação da esquerda. Li a reportagem da Folha de São Paulo, que motivou o artigo de Dirceu, e não encontrei nada semelhante a isso. O curioso é que Dirceu não cita o nome do tal porta-voz... Por quê? Por medo de levar uma surra?
Para Dirceu, a direita “domina e governa” o Brasil há muito tempo. Ora, não existe uma única direita. Dirceu tenta relacionar a nova direita à ditadura militar. E não é verdade que os males do Brasil foram causados apenas pela direita. A esquerda atrapalhou bastante, como mostrou Roberto Campos em seus artigos. O Brasil ficou estagnado principalmente pela influência das idéias da esquerda, que levaram ao intervencionismo estatal. O Brasil nunca esteve entre os países com maior grau de liberdade econômica.
Mais ridícula ainda é a afirmação de Dirceu segundo a qual a democratização do país foi obra da esquerda. Ora, grande parte da esquerda lutava pela implantação de uma ditadura muito pior do que aquela que existiu no Brasil. O modelo de José Dirceu, que ele queria para o Brasil, era a Cuba de Fidel Castro, a pior ditadura das Américas. Agora ele se faz de bonzinho, como se fosse um defensor da democracia.
Mais uma besteira escrita por Dirceu: “Mas o que esse movimento tenta, na verdade, é levar o macartismo, que domina nossa cena política, para a cultura e a universidade”. A universidade e a cultura são quase totalmente dominadas pela esquerda, que impõe suas taras ideológicas. E qual é a evidência de que a nova direita quer eliminar a esquerda? Onde está o tal macartismo?
Dirceu diz que o discurso da nova direita é o mesmo das ditaduras “sangrentas e corruptas” da América Latina. Qual representante da nova direita defendeu ditaduras sangrentas? E a ditadura de Fidel Castro não é sangrenta? É ela o modelo da nova direita?
Dirceu sustenta que a direita não pratica o livre comércio. Qual direita? E a esquerda pratica mais? Para Dirceu, a direita liquida a democracia liberal quando seus interesses não são atendidos. Novamente pergunto: qual direita? E que relação esta teria com a nova direita?
No final do seu artigo, Dirceu cita o ódio a Lula, Chávez e Morales. Somos obrigados a gostar de tais figuras? E por que não podemos expressar nosso desprezo em relação a essa gente, considerando-se o mal que ela faz? Chávez teria sido caricaturizado. Dirceu não diz quem foi injusto com Chávez nem explica por que o presidente da Venezuela mereceria melhor tratamento. Um detalhe: por que Dirceu não citou Fidel? Ele não é odiado pela malvada direita? É melhor esquecer de Cuba... A esquerda é tão democrática...
Dirceu supõe que os intelectuais da direita de hoje são tão ávidos pelo poder quanto ele. A nova direita estaria “ávida pela volta ao governo”, como se algum teórico dela tivesse governado o Brasil ou dispusesse do poder de Dirceu no governo Lula... Mais uma vez, Dirceu não cita nomes nem dá nenhuma prova de que a nova direita estaria ávida pelo poder.
E Dirceu encerra o seu amontoado de bobagens dizendo que a violência das grandes cidades resulta de séculos de domínio da elite e da direita, como se a esquerda não tivesse dado a sua colaboração para o caos atual. Aliás, esse assunto foi muito bem explicado por Olavo de Carvalho no artigo Bandidos & Letrados.
É impressionante como José Dirceu distorce as idéias dos intelectuais de direita. Com medo do confronto com gente muito mais culta do que ele, não cita nomes, apenas faz insinuações. Além disso, faz generalizações que não têm o menor fundamento, como se houvesse apenas uma direita, autoritária e intolerante. É lamentável que uma figura dessas, que mostra tamanha incapacidade de compreender o pensamento dos outros, tenha ainda tanta influência atualmente. Já deveria estar esquecido há muito tempo. Suas idéias são tão estúpidas que eu não tinha vontade de perder tempo com sua refutação. Mas sei que há muita gente para quem as besteiras de Dirceu são a mais pura verdade. Por isso, dei a minha modesta contribuição para desmascarar as tolices de Dirceu. Afinal, uma das tarefas de quem escreve sobre questões políticas é livrar o Brasil do lixo ideológico dos comunistas.
Marco Aurélio Torres Antunes