domingo, março 12, 2006

Enquanto isso, no Brasil...

Em 1945, Frederick Von Hayek procurou explicar, em seu livro “O Caminho da Servidão”, que os países que ignoravam a capacidade do mercado livre de tomar milhões de decisões econômicas e sociais a cada momento e usavam o governo para tomar decisões por seus habitantes estavam destinados ao fracasso.

Nós brasileiros, infelizmente, demos pouca atenção aos ensinamento de Hayek, ainda que seu livro esteja disponível em qualquer boa livraria do país.

Preferimos, ao invés disso, trilhar o caminho do nacionalismo míope e do esquerdismo idiota. Preferimos acreditar na lenda do “novo homem”, naquelas baboseiras de “um novo mundo é possível”.

E, no entanto, basta olhar ao nosso redor para encontrar exemplos da correção das idéias de Hayek – e do fracasso das idéias em que muitos brasileiros (brasileiros demais, na verdade) ainda acreditam.

Em seu livro “Something for Nothing”, Brian Tracy compara dois países e sua situação em 1945, quando Von Hayek publicou “O Caminho da Servidão”: Japão e Índia.

Naquele ano, ao final da Segunda Guerra Mundial, tanto Japão quanto China eram países pobres. O primeiro estava reduzido a ruínas e mal tinha digerido o impacto das bombas nucleares lançadas sobre seu território. A Índia era uma nação de miseráveis que lutava para deixar para trás 300 anos de colonização britânica.

O Japão enveredou pelo caminho do livre mercado, como escreve Tracy: “Grandes monopólios foram divididos, o capital começou a entrar e o mercado livre foi incentivado. Em três décadas, o Japão se transformou numa potência industrial ultramoderna, e sua população desfruta de um dos padrões de vida mais altos do mundo".

E a Índia? Bem, escreve Tracy: “Ao final da guerra, a Índia conseguiu sua independência e imediatamente introduziu um sistema socialista. A iniciativa privada e o mercado livre foram sufocados e substituídos por corrupção, favorecimento político e controles. Como resultado, a Índia permaneceu por décadas um país pobre, corrupto e atrasado, com centenas de milhões de seus habitantes mal recebendo salários de subsistência”.

Outro exemplo citado no livro de Brian Tracy é o da Nova Zelândia: “Ao final da guerra, seguindo o exemplo da Grã-Bretanha, esse país começou a caminhar cada vez em direção ao socialismo. O governo passou a interferir ou controlar quase todos os aspectos da atividade econômica e social. Apesar de ser rica em recursos naturais e de possuir uma população altamente educada, a Nova Zelândia ficou estagnada década após década".

“O governo criou camadas e mais camadas de regulamentações, controles e impostos em cada parte da economia neozelandeza”, escreve Tracy. “O desemprego disparou. Os custos dos programas sociais se tornaram insuportáveis. Os negócios estagnaram e a juventude começou a buscar oportunidades em outras terras.”

Em muitos aspectos, é como se Brian Tracy estivesse escrevendo sobre o Brasil.

A diferença é que os neozelandezes fizeram algo a respeito. Na década de 80, os trabalhistas liderados pelo primeiro-ministro David Lange decidiram que era hora de encarar a realidade. O sistema claramente não estava funcionando.

Influenciado por aquilo que Ronald Reagan estava fazendo nos Estados Unidos e Margareth Tatcher na Grã-Bretanha, o ministro de Finanças Roger Douglas criou um plano econômico que recolocou a Nova Zelândia no caminho apontado por Frederick Von Hayek. Descreve Brian Tracy:

“Em quatro anos, a economia sofreu uma reviravolta completa. O desemprego despencou e o número de pessoas que dependia de pagamentos do governo caiu pela metade. O governo privatizou a maioria das empresas estatais. As exportações cresceram, os empreendedores criaram novos negócios, e os padrões de vida aumentaram".

Nada mal. Ainda hoje, a Nova Zelândia cresce em média 4% ao ano. Sua economia é uma das menos regulamentadas do mundo (o país ocupa a nona posição no Índice de Liberdade Econômica). E, embora sua carga tributária seja elevada, os gastos do governo em relação ao Produto Interno Bruto continuam caindo.

Enquanto isso, no Brasil...

por Paulo Leite, de Washington, DC - Diego Casagrande