O Brasil é o país do "nem". Ou, posto de outra forma, as coisas quase nunca ficam definitivamente estabelecidas.
Tome-se o escândalo que há nove meses habita os jornais. Nem surgiu o "smoking gun", que provaria a culpabilidade do presidente da República, nem o presidente ficou definitivamente inocentado.
Esse "nem" reflete-se nas intenções de voto. Nem Lula deixou de ser um candidato competitivo nem consegue superar a maioria absoluta dos votos quando a simulação de segundo turno é feita com o candidato (José Serra) que as pesquisas dizem ser o segundo mais forte.
O formato de dois turnos foi inventado precisamente para permitir a eleição de um presidente com amplo nível de respaldo popular, a maioria absoluta. Não atingi-la, após três anos e três meses de mandato e depois de ter sido eleito com dois terços dos votos, é um resultado "nem". Nem ruim nem ótimo.
Pegue-se agora o caso das armas roubadas do Exército. Na segunda-feira, o chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Leste, general Hélio Chagas de Macedo Júnior, deu sua primeira entrevista, 11 dias após o roubo. Classificou de "muito bom" o resultado das ações militares. Só não cravou "ótimo" porque as armas não haviam sido recuperadas.
No dia seguinte, as armas já haviam sido encontradas -e desde domingo, 24 horas antes de o general dizer que não o haviam sido.
Tem mais: a recuperação das armas teria sido, na primeira versão, graças à denúncia de um anônimo. Na segunda versão, graças ao serviço militar de inteligência.
Ou o general mentiu, ou mentiram para o general, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Como é que o distinto público pode acreditar no que dizem as autoridades? Como alguém pode acreditar nas juras do Exército de que não houve negociação com o narcotráfico?
É o Brasil do "nem". Nem as autoridades se explicam nem são punidas.
Clovis Rossi
Um comentário:
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