sábado, novembro 12, 2005

NÃO MUDE, ALBERTO DINES

por Sandro Guidalli em 11 de novembro de 2005

Resumo: Ao invés de aprofundar as investigações ou ao menos estimular o seu desenvolvimento, jornalistas como o veterano Alberto Dines logo partiram para desqualificar as denúncias da revista Veja. Na TV Globo, a ordem é outra: vamos fazer de conta que a revista não existe.

Fiquei aliviado quando soube que o veterano jornalista Alberto Dines desqualificou a última denúncia de Veja, esta de que Fidel mandou dinheiro para o PT. Isso me tranqüilizou porque, neste país de malucos, Dines continua sendo Dines. Sua permanente defesa do PT e de Lula da Silva mostra que um pouco de coerência ainda nos resta. O seu talento para adular os petistas, a sua compulsão para elogiar os intelectuais lulistas, o seu compromisso em manipular os fatos em seu programa de TV e em seu sítio na Internet permanecem, portanto, inalterados, inabalados. O velho Dines continua o mesmo desonesto de sempre. Se um dia ele mudar, se um dia o seu programa for mais correto e imparcial, se um dia ele tomar vergonha em sua cara enrugada, aí sim, aí perderemos o velho Dines. O mesmo acontecerá com o Ancelmo Góis. Pois o Ancelo Góis também não pode mudar. Esse cinismo militante desse jornalista que já inclusive trabalhou na revista Veja (como ela melhorou, desde então...) é uma espécie de patrimônio negativo da imprensa brasileira. Há anos esses petistas fingem ignorar as relações entre o PT, José Dirceu, Lula e Marco Aurélio Garcia com o regime tirânico de Cuba e com o exército narcoguerrilheiro das FARC. Pois eles sabem, perfeitamente, como é plausível o financiamento ilegal da campanha de Lula tendo como origem o tráfico internacional de drogas, a lavagem de dinheiro e, por que não, o petróleo venezuelano. Sim, porque a Venezuela de Hugo Chávez se transformou numa Cuba endinheirada. Endinheirada mas com a "soberania ameaçada".


Mas, voltando ao Dines e ao Góis, o vigor deste cordão de isolamento midiático que mantém Lula da Silva a salvo depois de tantas denúncias e escândalos será suficiente para levá-lo ao final de seu mandato? Será. Disso não se duvida. Talvez ele não seja forte o suficiente para reelegê-lo mas esta possibilidade nunca deverá ser menosprezada. O apoio de Lula na imprensa brasileira é grande o bastante, porém, para anular os efeitos que sobre outro governo seriam devastadores, destruidores, mortais. Alguém imagina se, suponhamos, o presidente da República fosse pró-americano e anti-esquerdista e tivessem sido descobertas remessas de dinheiro dos Estados Unidos para a sua campanha, repito, alguém acreditaria que ele continuaria no posto para o qual havia sido eleito? A imprensa inteira, e não só a revista Veja, iniciaria uma campanha que faria daquela contra Collor de Mello um ensaio de amadores. Alberto Dines babaria de raiva em seu programa de TV até encharcar as câmeras que obtêm sua imagem. Ancelmo Góis e Merval Pereira liderariam uma frente de profissionais de imprensa a fim de "salvar a Democracia" e combater a corrupção. Jô Soares e suas "analistas" da conjuntura, aquelas jornalistas cafonas e lulistas, bradariam a palavra hoje proibida: "Impeachment!!!". Mas quanto ao dinheiro de Fidel, não, ele é improvável demais, é inverossímil demais para dar atenção. "A editora Abril, que edita a Veja, deve estar querendo algum dinheiro do governo, não é possível....", devem dizer.


Na Tv Globo o tom é outro. Se não desqualifica, ignora. A capacidade dos homens do jornalismo da emissora de omitir denúncias e fatos ao mesmo tempo em que fazem cara feia para novas investigações que possam levar à comprovação das suposições é de uma desonestidade asquerosa. Nada de FARC ou Cuba. A Tv Globo vai de "Linha Direta", em defesa do MST dando espaço ao ministro emessetista Miguel Rosseto e seu ódio contra os proprietários rurais. Jornalismo de mão única, finge desconhecer os crimes do lado que tem o apoio do governo. Faltou entrevistar João Pedro Stédile, caro Domingos Meirelles. Teria sido problema de agenda?


E não adianta pensar que um eventual aprofundamento investigativo nas conexões entre o PT, Cuba e FARC poderá mudar o rumo das coisas. Em primeiro lugar estão as dificuldades de se provar materialmente estes elos. Notem que, no caso da remessa de dinheiro cubano para o PT e transportado em caixas de bebida, o que se tem são depoimentos, são palavras que narram os fatos, mas sem que se possa obter provas. Os dólares do narcotráfico que abasteceram a campanha do partido de Lula da Silva não têm lastro, é dinheiro sem carimbo nem conta bancária. As chances de, um dia, o país ter conhecimento detalhado deste esquema são muito pequenas. Em segundo lugar está a preguiça ideológica dos jornalistas brasileiros, pouco interessados em que isso venha à superfície. É preciso reconhecer, portanto, que nunca houve caso similar na história republicana no Brasil em que os homens responsáveis por investigar e checar as ações do governo dentro das redações dos jornais e TVs abrissem mão de suas tarefas em nome de uma paixão política. Nem mesmo durante o regime militar houve tanta adulação aos que detinham o poder. Nem mesmo Amaral Neto, o repórter, imaginaria situação parecida lá do alto do seu helicóptero sobrevoando alguma obra do governo. Silvio Santos, Flávio Cavalcanti, Hélio Costa, nenhum deles jamais ousou conceber tanto apoio a um governante... Nem as colegas de auditório.


O caso da última denúncia da revista Veja, a de que a campanha do PT recebeu dólares de Cuba, é, por isso, um emblema do que ocorre no país. Não foram poucos os que se apressaram em desqualificá-la ao invés de aprofundar as investigações. Ora vejam só... Fizeram justamente o contrário do que deveriam fazer. Nem mesmo pediram mais tempo para que novos fatos surgissem. Partiram logo para o chiste, a galhofa, alegando suposta implausibilidade nos acontecimentos relatados. Atuaram de forma harmônica, dando sustentação aos argumentos do presidente da República de que há denúncias demais, acusações demais e todas elas sem provas... Para a maioria dos colunistas políticos, para os editores, para os repórteres de plantão, fantasia-se demais no país... Não, os principais defensores de Lula não estão nas tribunas do Congresso nem nas manifestações da CUT ou da UNE. Também não estão só na USP. Estão n´O Globo, na Folha de São Paulo, na revista Istoé, ou por onde quer que o leitor imagine. Este pessoal, esta tropa de choque na mídia que mantém o cordão sanitário em torno de Lula firme e forte teve que suportar a implosão do PT. Mas não irá tolerar o enfraquecimento político de Lula da Silva. Este ícone da intelectualidade esquerdista mundial precisa de amianto. Portanto, ao trabalho pessoal!

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