Não há praticamente ninguém, por mais alienado politicamente que seja, que não saiba que ações de guerrilhas comunistas no Brasil começaram já em 1967.
Aliás, o terrorismo se antecipou, quando explodiu a bomba no aeroporto de Recife, em meados de 1966, na tentativa de matar o marechal Costa e Silva, em visita ao Nordeste, pouco antes de sua posse na Presidência da República. O piedoso dom Helder Câmara - com quem sempre me dei pessoalmente muito bem - falou-me, certa vez em Recife, a propósito da sua tese da violência nº 2. Não podia deixar de reconhecer ter sido estúpido o atentado que matou um almirante reformado e um jornalista, além de ferir gravemente um policial militar e civis presentes à sala do aeroporto. Ele não justificava a felonia terrorista, mas tentava explicá-la como represália à deposição de um presidente eleito pelo povo, que seria a 'violência nº 1'. Em essência, igualava os fatos. Lembrei, em silêncio, da entrevista que ele dera à famosa escritora e jornalista Oriana Fallaci, publicada em seu livro 'Entrevistas com a História'. Perguntado por que fora integralista, tido como um mimetismo do nazismo, respondeu: 'Porque todos temos um fascista dentro de nós'. A 'violência nº 1', de dom Helder, foi apoiada, em 31 de março de 1964, pela quase unanimidade da Igreja Católica, que participou das Marchas com Deus e pela Liberdade, em São Paulo, da imprensa, do Congresso Nacional e dos governadores estaduais. A violência nº 2, apoiaram-na, somente anos depois, os padres e alguns bispos da Teologia da Libertação, condenada por João Paulo II, mas desobedecido, o que não surpreende, pois já não se respeita o papa como outrora (Roma locuta causa finita). Seminaristas dominicanos foram membros ativos da guerrilha comunista de Marighella, a quem acabaram levando à emboscada que o matou. Os governos da 'violência nº 1' venceram a luta armada, anistiaram os adversários em 1979 e propuseram, visando à reconciliação nacional, a anistia como esquecimento e não perdão, que pressupunha arrependimento.
Em 1994 foi eleito, também com os votos dos que venceram a luta armada, o anistiado auto-exilado Fernando Henrique Cardoso. Apesar dessa aliança eleitoral, o governo constituiu-se, em parte, de antigos insurgentes e aprovou lei de indenização 'aos perseguidos pela ditadura'. Isso resultou numa avalanche de pagamentos até milionários, aos vencidos. Milhares deles. Há pouco, José Genoíno, que foi preso por acaso na guerrilha do Araguaia, foi indenizado com cem mil reais. Que significa essa indenização, senão uma forma de recompensá-lo da derrota da causa comunista perdida? O mesmo Exército que antes o prendeu condecorou-o com a Medalha do Pacificador. Eu passei a admirar-lhe a evolução, que mostrava na vida parlamentar. Já não era o comunista dos tempos da guerrilha do PC do B. Trocara Marx por Antônio Gramsci, na tática de conquista do poder. Mas democratizou-se e elegeu o socialismo democrático como opção final. Pacificador não foi, mas convertido sim e presidente do PT no período do mensalão e do dólar na cueca. O menino de 17 anos, João Pereira, que levou a patrulha do Exército ao encontro do esconderijo dos comunistas na floresta, foi, depois, preso em casa pelos companheiros de Genoíno. Na frente da mãe e do pai, foi cortado lentamente a facão, a começar pelas orelhas, os braços e finalmente apunhalado. Deixaram-no mutilado e morto, para servir de escarmento para quem auxiliasse, de qualquer modo, os militares combatentes. (E é essa gente que, indignada, denuncia torturas, hipocrisia, pois defendiam países comunistas que sempre torturaram). A família do adolescente nunca recebeu indenização dos governantes, nem do ciclo militar, e muito menos dos que nos presidem desde 1985. Respeito os que ofereceram a vida pelo ideal equivocado que os fez guerrilheiros, mas respeito igualmente os que eles mataram por defenderem as instituições, cumprindo o juramento militar de fazê-lo com o risco da própria vida. Esses, os governantes pós-84, entenderam que não tinham pai, nem mãe, nem esposa e filhos, logo, não mereceram indenização. À família do soldado Mário Kosel Filho, cujo corpo foi estraçalhado pela bomba de covardes terroristas, homem do povo, simples sentinela em seu posto no quartel de São Paulo, foi prometida uma pensão de 300 reais/mês, não paga até hoje. Faltou-lhe o mérito que os governantes enxergaram nos êmulos de Fidel Castro e Stalin, indenizados com valores milionários e vultosa pensão mensal, isentos de Imposto de Renda, porque perderam a luta que pretendeu fazer do Brasil uma imensa Cuba e não um 'imenso Portugal', como cantou um rico e talentoso compositor, admirador de Fidel Castro.
O comunismo não é mais 'o espectro que assombra a Europa', como escreveu Marx, em 1848. Não assombra. Persiste na Coréia do Norte, no Vietnam, muito modificado na China e moribundo em Cuba. Mas nesta América do Sul há estranhas variantes que ameaçam a democracia. Caudilho arma seu país, gastando seus petrodólares como preparativo para uma guerra imaginada. O país é rico e o povo permanece pobre. Uma Constituinte convocada escreveu uma Constituição que dá ao caudilho poderes excepcionais. Na Argentina, uma lei delega, ao ex-montonero presidente Kirchner, amplos poderes. O antibrasileiro Evo convocou Constituinte e vai 'refundar' a Bolívia, às custas da Petrobrás. Seguindo o bom caminho, o presidente Lula também quer a sua Constituinte. Lula, cordato, porém, não tem pressa. Espera pela reeleição...
Jarbas Passarinho
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