Estava disposto a escrever sobre os problemas que os passageiros de vôos internacionais voltaram a enfrentar, após o desmantelamento pelo serviço secreto britânico de um suposto plano terrorista do Al Qaeda que previa a explosão de dez aviões da rota Londres/Estados Unidos. Em consequência, os passageiros não podem mais carregar uma série de itens considerados “perigosos”, tais como soluções para lentes de contato e colírios, cremes, qualquer tipo de bebida, inclusive refrigerantes e água, creme dental, maquiagem líquida, perfume, desodorante, gel para cabelos, xampu, bronzeador e sprays para cabelos.
A continuar neste ritmo, daqui a pouco os passageiros vão ter de viajar nus, porque qualquer item adicional pode ser classificado como potencialmente perigoso. Além do mais, precisam passar por uma rigorosa revista na qual tudo é escrutinado de maneira detalhada. E as pessoas já estão se acostumando, nem mais reclamam de ter de se submeter a esta revista, porque sabem que, no fundo, isto é para o bem de todos.
Enfim, mesmo sem ter conseguido atingir o objetivo principal – causar uma comoção mundial -, os terroristas detonaram um clima de neurose coletiva que coloca em estado de alerta autoridades de segurança do mundo inteiro, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa.
Nosso país, que está fora da rota internacional do terrorismo, tem sua rede terrorista própria, “made in Brazil”. O PCC (Primeiro Comando da Capital), que vem promovendo uma série de atentados em várias cidades do país, com ênfase na capital paulista, desta vez extrapolou. O grupo seqüestrou o repórter da TV Globo, Gilberto Portanova, e o auxiliar técnico Alexandre Lacerda Calado, numa tática para que a emissora divulgasse um comunicado denunciando as más condições carcerárias das prisões brasileiras, sob risco de executar os jornalistas.
A emissora cedeu à pressão e divulgou o comunicado, gravado no melhor estilo Al Qaeda, com homens encapuzados e mensagens com um tom de guerrilha. Ou seja, cada vez mais, o PCC deixa de ser uma organização meramente criminosa – o que, por si só, seria muito grave – para se transformar num poderoso grupo paramilitar, com objetivos escusos.
Entre as várias autoridades ouvidas, um coronel do Exército aposentado criticou o descaso das autoridades brasileiras para com o setor de segurança e espionagem, após a chegada ao poder de Fernando Collor de Mello. Com o intuito de apagar da memória dos brasileiros os momentos nefastos da ditadura militar – simbolizado pelo Doi-Codi (que se encarregava de deter esquerdistas) -, desarticulou-se o sistema de inteligência do país. Assim, a polícia e as forças armadas não conseguem detectar os focos de articulação para agir com rapidez e neutralizar as ações dos marginais.
Some-se a isto a falta de integração entre os vários órgãos policiais – Polícia Federal, Polícia Civil e Polícia Militar. Uma ação efetiva de órgãos de inteligência conseguiria desmantelar a estrutura de uma organização do porte do PCC, identificando a hierarquia do grupo e agindo antes deles. Como o próprio coronel exemplificou, “muitas vezes um contador, que pouco aparece, é muito mais importante para o grupo do que as lideranças, porque é ele o encarregado da lavagem de dinheiro, entre outras coisas”.
São Paulo não está muito distante de Bagdá e Beirute. A Colômbia teve que pedir ajuda externa e vem conseguindo, com sucesso, neutralizar as ações dos narcotraficantes que já haviam tomado conta do país. Tomara que o Brasil não precise disso.
Antonio Tozzi
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