quinta-feira, setembro 20, 2007

O que ensinam às nossas crianças

Não vou importunar o leitor com teorias sobre Gramsci, hegemonia, nada disso. Ao fim da leitura, tenho certeza de que todos vão entender o que se está fazendo com as nossas crianças e com que objetivo. O psicanalista Francisco Daudt me fez chegar às mãos o livro didático "Nova História Crítica, 8ª série" distribuído gratuitamente pelo MEC a 750 mil alunos da rede pública. O que ele leu ali é de dar medo. Apenas uma tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo, que só fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários. Impossível contar tudo o que há no livro. Por isso, cito apenas alguns trechos.

Sobre o que é hoje o capitalismo: "Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas são tomadas pela burguesia, que busca o lucro pessoal. Para ampliar as vendas no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado. O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários."

Sobre o ideal marxista: "Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade para agradar à (sic) toda a população. Não há mais ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democráticas para os trabalhadores."

Sobre Mao Tse-tung: "Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador."

Sobre Revolução Cultural Chinesa: "Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas. Velhos administradores foram substituídos por rapazes cheios de idéias novas. Em todos os cantos, se falava da luta contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes. (...) No início, o presidente Mao Tse-tung foi o grande incentivador da mobilização da juventude a favor da Revolução Cultural. (...) Milhões de jovens formavam a Guarda Vermelha, militantes totalmente dedicados à luta pelas mudanças. (...) Seus militantes invadiam fábricas, prefeituras e sedes do PC para prender dirigentes ‘politicamente esclerosados’. (...) A Guarda Vermelha obrigou os burocratas a desfilar pelas ruas das cidades com cartazes pregados nas costas com dizeres do tipo: ‘Fui um burocrata mais preocupado com o meu cargo do que com o bem-estar do povo’. As pessoas riam, jogavam objetos e até cuspiam. A Revolução Cultural entusiasmava e assustava ao mesmo tempo."

Sobre a Revolução Cubana e o paredão: "A reforma agrária, o confisco dos bens de empresas norte-americanas e o fuzilamento de torturadores do exército de Fulgêncio Batista tiveram inegável apoio popular."

Sobre as primeiras medidas de Fidel: "O governo decretou que os aluguéis deveriam ser reduzidos em 50%, os livros escolares e os remédios, em 25%." Essas medidas eram justificadas assim: "Ninguém possui o direito de enriquecer com as necessidades vitais do povo de ter moradia, educação e saúde."

Sobre o futuro de Cuba, após as dificuldades enfrentadas, segundo o livro, pela oposição implacável dos EUA e o fim da ajuda da URSS: "Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel Castro sair do governo e o país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA.(...) Mas existe (sic) também as possibilidades de Cuba voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como no tempo de Fulgêncio Batista. Quem pode saber?"

Sobre os motivos da derrocada da URSS: "É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (...) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas... Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência mundial não queria só melhores bens de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinha inveja da classe média em desenvolvimento dos países desenvolvidos (...) Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas, jóias. (...) Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (...) Fica então uma velha pergunta: e se a revolução tivesse estourado num país desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?"

Esses são apenas alguns poucos exemplos. Há muito mais. De que forma nossas crianças poderão saber que Mao foi um assassino frio de multidões? Que a Revolução Cultural foi uma das maiores insanidades que o mundo presenciou, levando à morte de milhões? Que Cuba é responsável pelos seus fracassos e que o paredão levou à morte, em julgamentos sumários, não torturadores, mas milhares de oponentes do novo regime? E que a URSS não desabou por sentimentos de inveja, mas porque o socialismo real, uma ditadura que esmaga o indivíduo, provou-se não um sonho, mas um pesadelo?

Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Senão for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém.

Artigo reproduzido do jornal O Globo de 18/9, página 7.

* Ali Kamel é jornalista

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho o artigo de opinião do Ali Kamel acerca sobre o que ensinam às nossas crianças na escola muito equivocado, assim como seu livro Não Somos Racista(mas isso já é outro assunto). Ele como sociólogo e jornalista não conseguiu se aprofundar ou não quis no significado do que é o socialismo, assim como fizeram os grandes ditadores, que usaram e usam uma forma de governo dita socialista que é totalmente contrária a idéia do socialismo de Karl Marx, transformando-se em um grande mal entendido para muitos. Também não tenho um grande aprofundamento, mas posso afirmar pelo pouco de conhecimento que tenho(porém estou pesquisando e estudando) que o socialismo não é o que fazem ou afirmam determinadas pessoas e países.
Admiro Karl Mark, na minha opinião ele foi um dos maiores intelectuais de todos os tempos, mas também o menos compreendido, pois é ser necessário anos de estudo para entendê-lo profundamente, pois alguns textos(originais) dele eram apenas manuscritos e alguns chegam a ter 800 páginas, além de muitos sem traduções, por isso também é um trabalho intelectual de pesquisa muio demorado . Entretanto, afirmar que alguns países(ditos socialistas) na sua essência é um enorme equivoco, também de alguns livros.
A Comuna de Paris(pesquisem) foi a única forma do que o socialismo realmente representa(porém só durou 3 meses, pois foi esmagada pela antiga ordem burguesa-aristocrática), o que foi a única tentativa do que poderia ser realmente um regime socialista. Também vou denunciar que tive acesso e conhecimento sobre socialismo e Karl Marx nos livros da 8ª série há 16 anos atrás, que me fizeram enxergar a sociedade e o mundo de forma mais reflexiva e crítica, e foi em alguns livros que me tornei uma "cidadã" mais politizada que trabalha consciente de sua exploração, porque precisa se diferenciar dos animais e trabalhar para sobreviver. Pena que descobri capitalismo só favorece os interesses da burguesia, e que a mesma é sustenda por mim proletáriada assalariada (como a maioria dos brasileiros). Enfim, acreditar que regime capitalista é bom,pois não gera uma enorme desigualdade social, e o governo que é a representação da mesma não beneficia a apenas a burguesia, e consegue dar muita mobilidade social para o povo é realmente constrangedor e vergonhoso, espero que Ali Kamel não seja um burguês. Pois posso acreditar que ele seja um assalariado(melhor remunerado)que teve acesso a "grande" mobilidade social no país para ter sucesso na vida ou por ter tido a sorte de ter nascido em uma tenha nascido em uma família muito abastarda.