quarta-feira, setembro 05, 2007

A kriptonita do superpresidente

por Augusto Nunes

A vaia está para Lula como a kriptonita para o Super-Homem. Exposto ao toque da pedra verde, o herói invencível, vindo de lonjuras cósmicas para garantir a vitória do Bem, perde os superpoderes, e assume a expressão abobalhada de um pugilista no segundo seguinte ao nocaute. Exposto ao som de apupos, o presidente incomparável, enviado pela Divina Providência para salvar o Brasil, perde a pose e o prumo.

Pode perder a voz, como ocorreu no Maracanã. Pela primeira vez na história dos Jogos Pan-Americanos, o discurso de abertura não foi feito pelo presidente do país anfitrião. Pode perder o siso, informou semanas mais tarde a vaia sofrida em Campos. Desta vez, Lula não afundou na mudez. Talvez estimulado pelo pito dado nos estudantes hostis pelo governador Sérgio Cabral, decidiu revidar com um improviso. Mas não falou coisa com coisa.

"Você não deve ficar bravo, Sérgio", começou, no tom de voz do avô benevolente com netos malcriados. Olhando para o governador do Rio, mirou na testa dos rebelados. "Jovens são assim mesmo", condescendeu. "Eles ainda não têm consciência política". O que restara do juízo implodido sugeriu-lhe mudar prontamente de rumo: essa linha de raciocínio poderia conduzir o orador à desqualificação de uma faixa etária historicamente simpática ao PT e a seu pastor.

Com a cabeça em tumulto, Lula saiu da estrada pelo primeiro atalho que vislumbrou, sinalizado pelos narizes vermelhos usados pelos manifestantes. Desembocou num picadeiro de circo. "Vocês deveriam tratar com mais respeito os palhaços", mudou de rota o presidente. "Eles fazem a felicidade das crianças". O delirante discurso improvisado em Campos adverte: a vaia é a kriptonita do superpresidente.

Afastado da pedra, o Super-Homem costuma demonstrar que se recuperou do transe com incursões por paragens siderais. Afastado da vaia, Lula gosta de anunciar que teve alta com sobrevôos na estratosfera. O herói americano faz acrobacias aéreas tranqüilizadoras: ele está pronto para voltar a Metrópolis. O herói pernambucano faz piruetas retóricas perturbadoras: ele parece disposto a ficar por lá. Distante do país que governa.

O discurso na convenção do PT mostrou um presidente a muitos anos-luz do Brasil real. "Nenhum partido tem mais autoridade moral, ética e política que o PT", bradou para a platéia atulhada de mensaleiros, gatunos, comerciantes eleitorais. "Nenhum petista deve ter vergonha de usar a estrela no peito", ensinou aos 900 participantes do encontro. Devem é defender todos os companheiros, sobretudo os fora-da-lei.

A histórica decisão do Supremo Tribunal Federal, que transformou em réus os integrantes da quadrilha denunciada pelo procurador-geral, não afetou o olhar misericordioso do presidente. "Ninguém foi condenado", repetiu. "E somente esses companheiros, nem eu e nem vocês, sabemos o que aconteceu". Sabemos, disse Lula. Habituadas a defender o idioma das agressões presidenciais, as redações deduziram que o verbo na primeira pessoa do plural fora apenas mais um pontapé na gramática. Pode ter sido um lapso revelador. Faz de conta que o dono do time bandalho nunca soube de nada. Agora sabe de tudo. Banca o cego por esperteza.

"Quando Lula fala, o mundo inteiro se ilumina", jura a filósofa petista Marilena Chauí. Pelo menos o país que pensa escurece. Milhões de brasileiros ficam pálidos de espanto. Outros tantos, vermelhos de vergonha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá,
Gostei muito de seu artigo. Sou proprietário de um jornal em Santa Catarina e gostaria de saber se poderia publicá-lo na sessão "artigos".
Meu e-mail: juninhodeluca@hotmail.com
Obrigado.

João Paulo De Luca Jr