quinta-feira, setembro 13, 2007

Quem são esses outros 40?

Num admirável julgamento promovido em agosto, o Supremo Tribunal Federal resolveu processar os 40 do mensalão. A decisão pode ter anunciado o começo do fim da Era da Impunidade. Menos de um mês depois, os 40 de Renan avisaram que o crime engravatado pretende resistir.

Os ministros do STF ressuscitaram a esperança. Os comparsas do senador alagoano tentaram assassiná-la. Podem ter ferido de morte a instituição em frangalhos. Todos os responsáveis pela absolvição absurda agora dividem com um morto-vivo a mesma cova rasa.

Serão logo exumados: dois processos tramitam no Conselho de Ética. E é provável que, antes do fim da legislatura, o chefão e os parceiros se juntem num jazigo para o descanso definitivo. Uns por falta de vergonha, outros por favores recebidos, alguns por temerem que Renan conte tudo o que sabe sobre todos, 40 senadores desferiram a ultrajante bofetada no rosto da nação.

Contaram com a cumplicidade de seis colegas que abstiveram. Acham-se muito espertos. São apenas pusilânimes. Nenhum deles cravou a coluna do meio por duvidar da culpa do acusado: qualquer brasileiro com dois neurônios sabe que o prontuário de Renan lhe garante uma vaga na primeira divisão dos pecadores.

Se tivesse o mandato cassado e perdesse os direitos políticos, já estaria no lucro. Os hesitantes de araque só subiram no muro para poderem murmurar ao acusado que não o condenaram e, simultaneamente, contar aos netos que não o absolveram. Não poderia faltar um bloco dos covardes na missa negra celebrada ontem no Senado.

Os truques, cuidados e cautelas concebidos para garantir que a tropa a serviço de Renan manobrasse nas sombras foram de causar espanto a um monarca do jogo-do-bicho no Rio. Os ritos seguidos pelos pais-da-pátria reduziram a coisa de amadores até reuniões convocadas para resolver conflitos de fronteiras ou decretar penas de morte. Nesses encontros também sigilosos, os chefões têm direito a acompanhantes. A votação é aberta. Ninguém se abstém. Uns poucos seguranças são escalados para alertar os patrões sobre a eventual aproximação da polícia.

Muito mais agressivo, bem mais beligerante foi o aparato de segurança montado para impedir a presença de testemunhas no conclave sob o controle de um clube dos cafajestes. Armários humanos escolhidos pelo critério da corpulência atacaram até deputados autorizados pelo STF a entrarem no esconderijo.

Para quê? Para nada. Logo se saberá, por exclusão, quem integra o novo bando dos 40 e a filial dos seis dubitativos. Os 35 que votaram pela condenação mostrarão a face com justificado orgulho. Os outros 46 pecaram por ação ou omissão. Todos traíram o Brasil.
Augusto Nunes

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