Hitler começou sua maléfica trajetória política, no Partido dos Trabalhadores Alemães, registrado como o sétimo membro do comitê. Dos 25 pontos do programa do partido, cabiam-lhe dois, um dos quais afirmava que "as massas não necessitam de idéias, mas de símbolos que conquistam a fé e atos de violência e terror que, se bem-sucedidos, atraem adeptos". Depois de muitas discussões a analisar propostas, decidiu-se por uma bandeira que tivesse suas raízes no passado distante. A que correspondeu a esse paradigma foi a bandeira que ainda drapejava nos escombros de Pompéia, após sua destruição. Rendeu-se Hitler a optar por um fundo vermelho - que não era da sua preferência -, cujo centro exibia um dístico branco no qual se estampava a suástica preta, cruz gamada, signo existente desde 4 mil anos antes de Cristo.
O PT seria um partido novel, porque todos os da oposição eram "farinha do mesmo saco", sem um ideário subordinado à ética na conduta partidária. Escolheu seu símbolo não na Antiguidade, que lembrasse Pompéia, lugar de recreio que as lavas do Vesúvio soterraram. Deveria ser algo que revivesse a vitória, como a estrela vermelha que identificava o exército com que os bolcheviques, principalmente Trotski, venceram a guerra civil contra "os brancos" de Kolchack, a aliança da contra-revolução que pretendia entregar a Rússia de volta à monarquia depravada e aos mujiques miseravelmente explorados, como Gogol descreveria no romance Almas Mortas. Adotado o símbolo que "conquista a fé", caberia cumprir a missão da "violência e do terror que atraem". Não, igualmente, no estilo das SA e suas tropas de choque no início do nazismo. Começaram as arruaças pela intimidação. Apareceu o "apitaço", no fim dos anos 1980. No Parlamento, deformou o sentido democrático. Era de ver srs. deputados petistas soprando seus apitos, de sorte que o adversário não fosse ouvido ou se exasperasse. A mesma tática foi usada nos comícios. Quando Rachel de Queiroz assistiu pela primeira vez a um ato desses, dirigido pelos comunistas, denominou-os "fascistas vermelhos". Tinha razão, porque essa fora a maneira pela qual os fascistas preferiram a violência ao debate, o que não é de todo diferente da violência que Hitler defendia. Ele acreditava que um bom político só inflamaria as massas se fosse igualmente um bom orador. Por isso suas brigadas de choque desfaziam reuniões ou comícios. Preso por três meses, porque desfez chefiando pessoalmente o grupo de choque que atacou o comício em que falava o respeitado orador bávaro federalista Ballerstedt e o esmurrou, passou só um mês na cadeia. Ao sair, provocou os policiais: "Mas Ballerstedt não falou." Impossível deixar de fazer a analogia com os apitaços.
O que me fez lembrar a similitude foi, inicialmente, Stédile, em constantes elogios aos atos de violência do MST. Mas foi o assalto ao Parlamento na semana passada que me fez ver a semelhança com o nazismo e a frase feliz de Rachel de Queiroz. O assalto, planejou-o um petista do comitê central do partido, "companheiro" várias vezes recebido por Lula em encontros fraternos (de cujo governo recebeu R$ 5,7 milhões) e que também teve a solidariedade e as bênçãos de dom Tomás Balduíno, da Pastoral da Terra. Os que depredaram a Câmara dos Deputados seguiram um planejamento cuidadoso, reconheceram por vários dias os acessos a ela, armaram-se com grandes tacões de pedra, pedaços de madeira e até mesmo de algo suficientemente contundente para quebrar computadores e desfigurar um automóvel, posto de pernas para o ar. O líder, de uma família de donos de usineiros abastados do Nordeste, não tem uma suástica no braço musculoso para identificá-lo, mas é como se a tivesse na cabeça proeminente e no gesto desafiador dirigido aos policiais. Disse não ser responsável pelo estouro da boiada, como se não fosse o bucéfalo que o inspirou. A súcia (mulheres inclusive) não foi à Câmara para impedir nossos licurgos de falar, como usavam fazer os recrutas das SA. Alguns - não surpreende - devem fazer parte da "organização criminosa dos 40" que o bravo procurador-geral da República teve o destemor de denunciar. Baderneiros, nada tinham com reivindicação, tantas são elas numa sociedade injusta, mas para provar que os trogloditas reviveram. No rico Bruno o PT encontrou, afinal, o seu Pancho Villa.
O presidente da Câmara, que se honra de pertencer há 30 anos ao Partido Comunista, incomoda Stalin, no cadáver às margens do Kremlin, quando louva a democracia, a Casa do Povo e desanca a violência. Para não parecer que aderiu à direita, obrigada a defender-se de agressão, preferiu expor a vida dos poucos seguranças (que os assaltantes, no planejamento feito, já sabiam serem poucos) ante a fúria dos baderneiros a solicitar a presença da Polícia Militar, que, ao menos poderia impor, pelo respeito à farda, comedimentos dos brutos herdeiros camisas-marrons das SA do início do nazismo. O "estouro da boiada", a violência de seus comandados estava implícita nas lições de capacitação política. A pedra que perfurou o crânio do servidor levado aos cuidados de UTI prova que o amor à liberdade obriga, a quem dela se serve, a defendê-la, sem medo de ser confundido com o passado de quem Kruchev fez o retrato nefando de um tirano. Como afirmou Fareed Zakaria, as liberdades cresceram e o Estado, antes monopolista das armas, diminuiu e com ele veio o enfraquecimento da democracia.
Lyautey, biografado por André Maurois, disse: "A ordem e a segurança não são, decerto, direitos, mas se tornaram necessidades humanas." Goethe foi mais longe. Embora vitorioso, diante das injustiças no cerco de Mayence disse: "Amo melhor a injustiça que a desordem." Por aqui, neste Brasil, ama-se mais a desordem que a injustiça.
Jarbas Passarinho,ex-presidente da Fundação Milton Campos, foi senador e ministro de Estado
Um comentário:
Cool blog, interesting information... Keep it UP » » »
Postar um comentário