Palestra de Fernando Henrique Cardoso para os líderes do PSDB deu-lhes a dica esperta de adotar a corrupção governamental como grande tema da campanha eleitoral. O juiz Cloves Barbosa de Siqueira foi presto e firme: no mesmo dia condenou a penas de sete a 11 anos, por desvio de crédito e outras gravidades, a diretoria do Banco do Brasil no governo Fernando Henrique.
O caso é mais do que anedótico. Quando as vinganças do acaso me meteram no jornalismo, logo me vi atrapalhado com a cobertura parcial de um novo escândalo na carteira de comércio exterior do Banco do Brasil. Suei muitas horas seguindo depoimentos, e muito mais padeci para entender e fazer notícia daquela confusão de cabala financeira e truques da ladroagem. Veio desse escândalo o meu primeiro pasmo com a impunidade. Nada aconteceu de grave aos responsáveis. Como nada aconteceria aos responsáveis por tantos escândalos semelhantes desde então. A lição preparatória para o jornalismo brasileiro estava lá: falcatrua com dinheiro grosso não tem punição.
A sentença do juiz substituto Cloves Siqueira fez mais do que acertar um telhado de vidro. Apesar de sujeita a recurso dos condenados, abriu um rombo histórico em uma fortaleza de impunidade. De quebra, deu complemento à longa presença que tiveram no noticiário, por motivos, digamos, polêmicos, Paulo César Ximenes e Ricardo Sérgio de Oliveira. Este, portador da distinção de ter sido o interlocutor de Fernando Henrique Cardoso no telefonema (gravado) para manipulação da venda da Vale do Rio Doce.
Um dos mais resistentes telhados de vidro do Congresso foi enfim quebrado pelo Conselho de Ética da Câmara. Há muito tempo o deputado Pedro Corrêa se salvava, por habilidades que não se limitavam ao âmbito da Câmara, de suspeitas pesadas, como a de dever parte do seu grande enriquecimento ao contrabando de cigarros.
A perda do mandato, caso o plenário da Câmara confirme a conclusão do Conselho de Ética, terá para Pedro Corrêa efeito provavelmente pior que para os demais cassados ou cassáveis, dada a conseqüente perda da imunidade parlamentar. Ainda há investigações que podem envolvê-lo.
O telhado de Paulo Okamotto, autodeclarado protetor financeiro de Lula, ficou protegido e, por isso, desconhecido, por decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal contra curiosidades da CPI dos Correios. Mas o caso, além de não encerrado, lançou sobre o telhado do ministro Nelson Jobim uma nova carga de pedras, como uma confirmação clara: se houve algum integrante do STF mais desapreciado do que Nelson Jobim, foi há muito tempo e disso não consta registro.
E, assim destelhado, Jobim ainda se pretenderia, ou se pretende, candidato à Presidência, talvez a vice. Mas, se confirmada tal disposição, cabe recurso ao eleitorado.
Janio de Freitas na FSP
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