"Da bolada toda, Lulinha deve ficar com uns 2 milhões de reais no bolso. Enriqueceu. Aos 31 anos, está perto de acumular seu primeiro milhão de dólares"
No Carnaval do poder, a cena é a seguinte: Fábio Luís da Silva, o filho do presidente Lula, desfila empoleirado no ponto mais alto de um carro alegórico de suspeitas e a arquibancada é convidada a olhar para o outro lado.
Fábio Luís da Silva, o filho do presidente Lula, enriqueceu no governo de seu pai. Sua empresa de games já recebeu uma bolada de 10 milhões de reais da Telemar, a maior telefônica do país, e receberá mais 5 milhões neste ano. Dá um total de 15 milhões, desembolsados em operações um tanto tortuosas. Da bolada toda, Lulinha deve ficar com uns 2 milhões de reais no bolso. Enriqueceu. Aos 31 anos, está perto de acumular seu primeiro milhão de dólares. Um sucesso. O nervo exposto é que o filho do presidente enriqueceu recebendo dinheiro à farta de uma concessionária de serviço público e que, além disso, ainda tem dinheiro público em sua composição. Motivo de suspeita e crise em qualquer quadrante do universo civilizado. Aqui quer se tapar o sol com a peneira em nome de não irritar o presidente.
Pode acontecer nas melhores famílias, mas, assim que soube que seu filho recebera os primeiros 5 milhões de reais da Telemar, o presidente Lula poderia ter pedido ao filho que tomasse a cândida providência de desfazer o feito. É duro censurar um filho. É mais duro ainda fazê-lo em público, pelo eco da humilhação. Mas Lula fez o oposto. "Filho de presidente está proibido de fazer negócios?", indagou na enésima demonstração de sua capacidade de tornar superficial o que é complexo. Se o filho do presidente quisesse fazer qualquer negócio lícito, da venda de jujuba na esquina à exploração científica do cosmo, poderia associar-se com quem quisesse, dentro ou fora do Brasil. Só não poderia fazer o que fez, esbaldando-se no cofre de uma concessionária de serviço público e que, nessa condição, tem óbvios e enormes interesses junto ao governo.
Lula não viu a uva. Ou fez que não viu. Ou viu e diz que não viu. O fato é que, além de patrocinar o indefensável, o presidente ainda fez questão de avisar aos deputados e senadores, especialmente os envolvidos nas CPIs, que encararia como uma torpeza intolerável se a guerra política degenerasse em ataques à sua família. De lá para cá, ficou mais ou menos decretado que qualquer movimento envolvendo membros da família presidencial significa torpeza e degeneração. Ficou mais ou menos entendido que filho do presidente não pode ser investigado. Está mais ou menos implícito que as suspeitas em torno de seu enriquecimento não podem ser esclarecidas. Na Inglaterra, a Scotland Yard estuda convocar o príncipe William para prestar explicações sobre suas constantes visitas a um pub suspeito de ser um ponto-de-venda de drogas. Em Israel, Omri Sharon, filho do primeiro-ministro Ariel Sharon, acaba de ser condenado a nove meses de prisão por uso de caixa dois na campanha eleitoral do pai. No único privilégio que recebeu, Omri Sharon foi autorizado a começar a cumprir a pena em agosto próximo, pois seu pai está inconsciente num hospital depois de sofrer um derrame no início do ano.
No Brasil do filhotismo, as coisas são diferentes. Mas o que fazer agora diante da notícia (veja reportagem) de que, enquanto o filho enriquecia com a Telemar, o pai trabalhava para mudar uma lei que atrapalhava os planos da mesma Telemar?
Com a palavra, os policiais, os promotores, os parlamentares.
André Petry
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