Como ativista político, Bono Vox é um grande cantor pop. E vem confirmar, nesta passagem pelo Brasil, o dilema cada vez mais desconfortável que ronda o show business: as causas sociais precisam das grandes estrelas, ou são as grandes estrelas que precisam das causas sociais?
Recentemente, o inglês Bob Geldof se superou. O ator-músico que se imortalizou no cinema vivendo o protagonista da ópera “Pink Floyd – The Wall” e depois virou militante profissional contra tudo de ruim que esse mundo tem, deu sua cartada de mestre. Conseguiu colocar a nata do pop no altar da solidariedade com um simples trocadilho. Seu famoso movimento Live Aid foi ressuscitado como Live 8 (rima rica) para fazer contraponto à reunião do G-8, o grupo dos países mais ricos. A mensagem era mais ou menos essa: eles estão falando lá dentro em defesa dos ricos, nós estamos cantando aqui fora em defesa dos pobres. Nunca foi tão fácil ser bonzinho.
Evidentemente, os pobres de verdade não escutam nem um acorde desse concerto emocionante. Dessa vez, nem arrecadação de dinheiro com venda de ingressos houve. Ficou tudo no terreno do simbólico, da sutileza. A mensagem vai se espalhar, os homens de boa vontade vão se comover, o apoio chegará aos institutos e ONGs de Geldof e seus amigos e toda essa bondade desaguará nas paupérrimas aldeias africanas. E os popstars internacionais, alguns sem agenda, outros sem disco, outros apenas decadentes, voltam para casa após o sacrifício de aparecer para o mundo inteiro em mais um show épico em defesa dos oprimidos.
Quem melhor assumiu a cara-de-pau desse tipo de iniciativa foi John Lennon, em 1969. Marketeiro, mas anarquista demais para manter a coerência, acabou praticamente admitindo que procurara um pretexto para o grande gesto rebelde de devolver a condecoração de Membro do Império Britânico. Na justificativa apresentada à Coroa e divulgada para a imprensa, o beatle informava que estava devolvendo a medalha por causa do papel nocivo de seu país nos conflitos em Biafra, na Nigéria e porque sua música nova, “Cold Turkey”, despencava violentamente nas paradas de sucesso.
Bono Vox chegou ao Brasil exaltando o papel do presidente Lula no combate à fome no país e no mundo. Em seguida, anunciou que doaria sua guitarra ao programa Fome Zero. Bono deve estar mesmo há muito tempo sem ler jornal. O que aconteceu com a cruzada mítica do governo popular do Brasil contra a pobreza já cansou de sair no “New York Times”, no “Guardian” e na “Economist”. Talvez o astro devesse ter sido levado diretamente ao município baiano de Teixeira de Freitas, aquele onde o Bolsa Família contemplava dono de botequim e filha de fazendeiro.
Até Lula já desistiu de ser esse símbolo que Bono quer que ele seja. O ex-operário já parou há muito tempo com essa brincadeira de encarnar o Padre Cícero. Pôs os pés no chão, livrou-se dos auxiliares que queriam transformar o governo em ante-sala do partido, identificou os setores da administração que estavam funcionando por baixo da mitomania, fixou-se nos resultados produzidos por eles e está a um passo da reeleição. Há quanto tempo não se ouve Lula falar de “Fome Zero”?
A bondade de Bono Vox é quase uma gafe. Ninguém em Davos, nem no Fórum Social chavista, ou em qualquer lugar do mundo fala mais em Lula como o salvador dos pobres. Descobriram que ele tinha muita vontade e pouco plano. Aí não vale. Nem contar os pobres o governo Lula mostrou saber. O ministro Ananias – outro sumido de cena – chegou a afirmar que não importava checar a freqüência escolar dos beneficiários do Bolsa Escola, que o importante era mandar o dinheiro logo para os necessitados. É a bondade em estado bruto. Sem falar no tempo que o professor Graziano levou para descobrir em que conta deveria depositar o cheque de Gisele Bundchen para o Fome Zero. Nesse ramo, uma dondoca da sociedade seria bem mais eficiente que os PhDs do PT.
Um popstar internacional em busca de uma causa é sempre algo um pouco constrangedor. Se está sem imaginação, é preferível ir no feijão com arroz: veste uma camisa da seleção brasileira, grita “Mengo” ou “Timão”, manda um beijo pro Jamelão da Mangueira e segue em frente. Ir beijar a mão de Lula no palácio, a esta altura dos acontecimentos, não fica muito bem para um justiceiro planetário. Terão falado sobre mensalão enquanto aguardavam os quitutes de Dona Marisa? “Bloody Sunday” é isso aí. Enquanto isso, o líder dos Stones ia conversar com os professores da escola do filho brasileiro. Enfim uma causa verdadeira. Mick dez, Bono zero.
Guilherme Fiuza
7 comentários:
Concordo com cada detalhe desse seu artigo. O esquerdinha BONO, está mesmo desatualizado, parece que foi elogiar o calango para a platéia e ouviu vaias fortes. Será que aprendeu alguma coisa com esta lição? Duvido. Na próxima viagem ao Brasil evitará a companhia do calango, apenas isso. Não aprendeu nada.
Mike + paizão = nota 10
Bono + firula = nota 0
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