domingo, dezembro 04, 2005

O Bêbado e os Equilibristas

O Bêbado e os Equilibristas


Ternuma Regional Brasília
pelo Gen Div Murillo Tavares da Silva

No deprimente espetáculo das oitivas nas comissões parlamentares de inquérito, em que estão sendo desnudados os mais variados tipos de corrupção praticados por deputados, assessores, dirigentes partidários, empresários, publicitários, servidores públicos e outras figuras, quem acompanha os depoimentos não se cansa de ouvir novas desculpas, novas esquivas, novas respostas criativas. Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém encontrou ninguém. Por ali já passaram esposa, ex-esposa, secretária, diretora financeira, cafetina ou promotora de eventos (conforme a interpretação mais ou menos benevolente de uns ou de outros), carecas, cabeludos, gordos e magros, convictos e inconvictos, preparados e despreparados, os frios e os chorões. E nós pensávamos já ter visto todos os tipos possíveis...

Eis que, de repente, aparece alguém com mais uma excelente novidade, ímpar entre tantas mentiras e negaças, mais do que suficiente para inocentar qualquer um de qualquer crime: “ - Eu estava bêbado”. Sim, meus quase enlouquecidos espectadores das audiências, depois de contar a um repórter uma mirabolante viagem de caixas de bebidas, um ex-assessor do Sr Ministro da Fazenda vai à frente de seus interrogadores e disse que a entrevista foi feita quando ele estava embriagado. Apareceu, então, o mais inusitado dos tipos: o pinguço!!! Estaria completa a excêntrica galeria ou seria lícito esperar, ainda, os que têm olho na testa, os que desmaiam em contacto com a criptonita, os que se dirão primos do Harry Potter (daí as mágicas para fazer surgir ou desaparecer milhões de reais e de dólares) ou, mesmo, o que se identificar como Gepetto, imortal criador do Pinóquio ? Desses depoentes das CPI pode-se esperar tudo, até mesmo a incoerência de nos tentar impingir a incrível estória de que entregaram bebidas à guarda de um beberrão confesso.
Não é possível que alguém medianamente inteligente acredite que os outros também medianos vão aceitar que se monte uma operação de logística complicada, com meios de transporte multifários, somente para fazer chegar às mãos de alguém duas caixas de uísque e uma de rum. O custo de um jatinho e mais o de um automóvel blindado usados na operação daria para comprar uma adega inteira, claro que sem aquele vinho de seis mil reais a garrafa de que nosso Presidente da República é devotado apreciador. Não sei se desde os tempos de sindicalista ou só de 2003 para cá...

Enquanto surgem as versões, as mentiras, os habeas corpus, as chicanas, os recursos e os pedidos de vista, a célebre tática de fazer o tempo correr, para que as pessoas se esqueçam dos detalhes criminosos das maranhas, continua sendo aplicada. E, com isso, preservam-se os equilibristas, sem que se saiba por quanto tempo ainda eles sobreviverão. Do Delúbio e do Valério, em relatório parcial, agora pediram o indiciamento e todos sabemos o quanto separa o indiciamento de uma eventual condenação na nossa justiça brasileira. Do José Dirceu, sempre escorado em medidas judiciais, que não ouso comentar porque não sou experto em legislação, já li até que está sendo disputado por universidades norte-americanas para estagiar ou não sei o quê (quando contarem isso para Fidel Castro, ele vai dizer como aquele comediante: ”Tira o tubo ! O meu Zé nos Estados Unidos ? Voluntariamente e ainda ganhando dinheiro ? Não é possível!!!”). Do ex-assessor Poletto, soube que pediram ao Ministério Público providências para seu indiciamento e sua prisão preventiva, porque mentiu diante dos parlamentares inquisidores (e me lembro daquele macaco do programa humorístico que perguntava : “ E os outros ?”). Do Palocci, apesar de seu nome ter sido mencionado tantas vezes, ouço dizer que está exigindo um pronunciamento público do Sr. Lula a seu favor, porque se seus ex-assessores são traíras, como se diz na gíria futebolística, isso não o afeta, mas entestar a D. Dilma Roussef, que já encarou paradas mais arriscadas, não está nos planos dele. Os outros, de menor expressão, como João Paulo, Mentor, Borba, Duda Mendonça, Professor Luizinho, Valdemar Costa Neto, Severino Cavalcanti, o dos restaurantes, o da cueca, o das malas, etc já não interessam à mídia e isso é bom para eles, que se mantêm submersos. Submersos e procurando equilibrar-se...

O que não devemos esquecer, por sua importância em tudo o que estamos vivendo, é o equilibrista-chefe. Ele agora se afasta da tática de alegar ignorância de todos os episódios sórdidos promovidos por seu partido – o PT. Sua nova postura é a da incredulidade. Se antes não sabia, agora ele não acredita. Importante considerar que ele nunca diz que tal coisa não ocorreu; porque, se disser, parece que ele tem conhecimento de outras que podem ter ocorrido. Pouco se lhe dá que seus companheiros de partido venham a afundar, desde que ele mantenha seu equilíbrio instável entre a ameaça de levar uma surra de um senador e o de fazer churrasco para o mais poderoso homem do mundo. Há, pelo menos no meu círculo de amigos, uma inquietação sobre até quando a corda que o sustenta vai suportar o peso de sua incompetência, de sua inapetência para o trabalho, de sua inabalável vontade de afastar-se da curul governamental, para suas viagens de lazer por países amigos ou pelo interior brasileiro. A inquietação é pela vontade de vê-la arrebentada logo. Ao ler, em jornal daqui de Brasília, que o vice José Alencar foi dormir, logo após o primeiro bloco da entrevista recente que o Sr Lula deu ao programa Roda Viva, passei a considerar que ele também não bota fé na corda. Nem vai segurar aquela rede de proteção!

Brasília-DF, 11 de novembro de 2005.

2 comentários:

Anônimo disse...

Keep up the good work »

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