sábado, dezembro 10, 2005

Observatório da imprensa (2)

Diogo Mainardi
Observatório da imprensa (2)

"Dines é pago para pontificar a respeito
da imprensa. Ele acusa a imprensa de estar
tomada por jornalistas da Opus Dei, mas não
tem coragem de identificá-los. É por isso que
tenho 'horror às esquerdas'. Porque elas
mentem. Porque elas enganam. Todas elas"


Dedurei um punhado de jornalistas lulistas na coluna da semana passada. Um dos citados foi Alberto Dines. Ele respondeu o seguinte:

"O pitoresco caçador de bruxas [eu] tem horror às esquerdas. Mas já que pretende denunciar o comprometimento político dos jornalistas conviria que não perdesse de vista o avanço da Opus Dei na imprensa. Inclusive onde ele próprio atua."

Mandei uma mensagem a Dines. Pedi-lhe uma lista com o nome de todos os jornalistas ligados à Opus Dei. Prometi publicá-la integralmente em minha coluna. Ele me aconselhou a ler seus artigos sobre o tema. Eu li. Num deles, Dines comete a ousadia de associar a Opus Dei ao símbolo da loja Daslu. Mas não cita o nome de nenhum jornalista. Insatisfeito, mandei-lhe outra mensagem, reiterando o pedido de uma lista com nomes. Dines desapareceu. Ele é pago para pontificar a respeito da imprensa na televisão pública, na rádio pública, na internet, nas universidades. Ele acusa a imprensa de estar tomada por jornalistas da Opus Dei, mas não tem coragem de identificá-los. Eu apontei o nome de uns pelegos lulistas na imprensa, e fui considerado um espertalhão leviano em busca de reconhecimento.

É por isso que tenho "horror às esquerdas". Porque elas mentem. Porque elas enganam. Todas elas. Do stalinismo quercista de Fernando Morais ao onguismo endinheirado de Gilberto Dimenstein, do comunismo de batina de Marcelo Beraba ao populismo futebolístico de Juca Kfouri, do desbunde teatral de Nelson de Sá ao lobismo piantellano de Mario Rosa. O lulismo roubou muito mais do que o collorismo. Cláudio Humberto, assessor de imprensa de Collor, até hoje é perseguido por seus colegas. Os jornalistas que se subordinaram a Lula devem receber o mesmo tratamento: André Singer, Ricardo Kotscho, Eugenio Bucci.

Dines se atribuiu o papel de autoridade em matéria de jornalismo, mas usa um critério rasteiro para julgar meu trabalho: o número de cartinhas que recebo semanalmente dos leitores. Como se eu fosse um galã de telenovela. Quando recebo muitas cartinhas, ele me acusa de sensacionalismo. Quando recebo poucas cartinhas, ele comemora, garantindo que minha carreira está acabada. O principal argumento de Dines é que, se eu continuar a falar mal do Lula, cairei no esquecimento. É um jeito malandro de me aconselhar a mudar de assunto. O recado intimidatório não vale só para mim, mas para todo o resto da imprensa. Dines quer demonstrar aos jornalistas que o público não agüenta mais seguir a cobertura do mensalão, ou da propina da Leão & Leão, ou do assassinato de Celso Daniel, ou do pagamento à Coteminas. Claro que é mentira. Claro que é uma manobra desonesta para abafar a crise. O que o público não agüenta mais é o próprio Lula. Os leitores não estão enjoados do noticiário político – estão enojados. Pouco tempo atrás, um artigo de um fanfarrão como eu podia bastar para eles. Já não basta mais. Eles querem os lulistas no tribunal. Eles querem os lulistas na cadeia.