O ano de 2005 vai terminar pobre, melancólico, quase moribundo. Mais uma vez o Brasil perdeu oportunidades saradas. O crescimento econômico foi medíocre e refletiu o exaurimento de um modelo insustentável. O cenário político não está nada bom. A implosão moral do PT imobilizou o processo legislativo e a limpeza ética ficou a desejar. Pelo menos restou o conforto da esperança de que Lula não é capaz de acabar com o país. As instituições estão de pé e o ritmo da economia só é declinante por incompetência do próprio PT.
Alguém poderia dizer que o Brasil é maior do que a crise e assim o passivo seria naturalmente assimilado. É difícil repor o tempo perdido para uma nação cujo desafio é recuperar-se do atraso. Observe que estamos deixando escapar energia e desperdiçando esforços quando era preciso avançar. A política social do governo Lula é um exemplo. Resume-se ao Programa Bolsa-Família, que contempla a caridade estatal sem nenhum efeito prático de redução da pobreza. É uma política de altíssimo custo que, ao final, tapa buraco, mas não emancipa.
O ano começou com o governo Lula eufórico com as Parcerias Público Privadas (PPP). Vai acabar mais esburacado. A PPP era uma panacéia capaz de curar todos os males da infra-estrutura no Brasil. À época, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou um documento que desabonava a saliência governamental. Em vez dos 26 projetos elegidos, os empresários pediram calma e cobraram confiança. O certo seria escolher, no máximo, três bons empreendimentos para testar a iniciativa.
Nada saiu do papel e cada vez mais está evidente a iminência de um apagão logístico. O que não parece comover o ministro do Planejamento. No começo do ano, durante a realização do 2005 Brazil Summit, para convencer os empresários norte-americanos das vantagens de investir no país, Paulo Bernardo declarou a determinação do governo Lula de “prover as condições para que o Brasil venha a se tornar uma sociedade de consumo de massas, democratizando o acesso às riquezas geradas pela atividade econômica nacional, com efeitos sensíveis sobre o bem estar social e o exercício da cidadania.” Foi lindo, mas não para acreditar.
Por aqui, com o fim de espantar a responsabilidade, o presidente Lula decidiu culpar os governadores pela precariedade da malha rodoviária federal. A era Lula via ser marcada pelos mais baixos investimentos estatais da história republicana. E o problema não é somente a falta de recursos. Há inépcia gerencial para financiar as obras que interessam ao desenvolvimento do Brasil. Austeridade fiscal significa fazer gasto de qualidade e não asfixiar o país.
Não existe garantia de que 2006 vai ser melhor só por que a mãe Dinah revelou ao ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, que no ano que vem a gasolina não vai subir de preço. O otimismo faz bem à saúde, desde que não seja o argumento do engodo. Ano de disputa eleitoral deixa a economia mais vulnerável. No início do governo, Lula vivia falando que o crescimento era inevitável por que sua fé era infinita. Para ficar barato, o presidente perdeu o direito de dar palpites depois que nos furtou 2005.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (PFL-GO)
demostenes.torres@senador.gov.br
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