terça-feira, dezembro 27, 2005

Exemplos de burrice

por José Nivaldo Cordeiro em 26 de dezembro de 2005

Resumo: O único antídoto eficaz contra a corrupção é a redução do Estado.

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A condição sine qua non para que os homens possam interferir eficazmente na realidade, em qualquer plano, sobretudo no político, é ter uma correta compreensão da mesma. Muitos são os instrumentos para que essa correta compreensão possa acontecer, desde a observação direta, o bom senso, a História e as ciências de um modo geral. Evidente que não ter esse discernimento correto equivale a um vôo cego em noite escura, em meio à tempestade: só pode terminar em catástrofe. Decisões fundadas em falsas análises são o caminho para o inferno.


Em suma, é arrematada burrice uma incompreensão voluntária da realidade, sobretudo quando os instrumentos para sua correta percepção estão à disposição. E é esse o nosso grande problema enquanto Nação, que aderimos a uma espécie de burrice voluntária, que insiste em negar o que os olhos vêem, os ouvidos ouvem e o tato sente. O cheiro imundo do ogro Estatal não é percebido pelas narinas mais refinadas, daquelas pessoas que comandam o Estado e as grandes corporações empresariais. O gosto amargo de seu excremento fétido, servido à moda de caviar nos salões de nossa elite econômica, é saboreado como um manjar dos deuses.


A burrice induzida pelo soporífero poderoso do discurso da esquerda tomou conta dos homens que conduzem os nossos destinos, da mídia, da universidade, das igrejas, de todas as instâncias críticas relevantes que se poderiam levantar contra esse devaneio teratológico, a fim de corrigir a realidade sem maiores traumas. Quero aqui me referir a dois exemplos bastante didáticos desse fenômeno, que saltam aos olhos. O primeiro é a entrevista dada por Paulo Skaf, presidente da Fiesp, à Folha de São Paulo na edição de hoje (25/12). O segundo a reportagem trazida na edição de Veja que chegou às bancas listando os supostos sete pecados capitais que fazem prosperar a corrupção, na visão de especialistas.


Skaf destila ressentimento contra a política monetária partindo do falso pressuposto de que um afrouxamento na sua condução colocaria o Brasil no rumo do desenvolvimento e que não haveria nenhuma seqüela nessa aparentemente simples mudança. Teríamos o retorno rápido da inflação e uma crise incontornável no balanço de pagamentos internacionais. Para Skaf há uma conspiração dos “monetaristas”, que destruíram o monstro inflacionário, mas que ficaram no poder e só pensam em inflação. Skaf quer porque quer uma redução rápida e arbitrária na taxa de juros, como se isso fosse possível.


É bom recordar que os juros encontram-se nesse nível única e exclusivamente em virtude do tamanho da dívida pública, que foi gerada ao longo dos anos pela irresponsabilidade de governantes gastadores, que jamais tiveram a preocupação de avaliar o impacto de suas decisões para as gerações futuras. Eles, os juros, são conseqüência, e não causa, do que acontece na economia. Só há uma causa para os juros altos, assim como para a tributação extorsiva, assunto que o presidente da Fiesp cuidadosamente evita tocar: o tamanho do monstro Estatal. Querer reduzir seriamente a taxa de juros, para trazê-la aos patamares internacionais, é lutar pela redução do Estado, da sua dívida pública, de seu viés distributivista. Em suma, lutar contra o politicamente correto em matéria econômica, lutar pela implantação das idéias liberais. Redução do Estado e separação entre a coisa pública e a privada: é essa a receita para o paraíso econômico que populistas como Skaf jamais pensariam em fazer. Eles querem que o Estado continue a ser o cartório que é, conspirando contra os consumidores e contra pagadores de impostos para manter os interesses estabelecidos. Paulo Skaf não é propriamente um mentiroso, é um arauto das idéias aleijadas da nossa elite, que viraram lugares-comuns, elite econômica assim como a pensante, que domina a mídia e a universidade.


A reportagem, de Veja vai no mesmo sentido. Os sete pecados capitais listados: 1- Impunidade; 2- Distribuição política de cargos; 3- Sucateamento do Estado; 4- Conivência da sociedade; 5- Caixa 2 nas campanhas; 6- Excesso de burocracia; 7- Ausência de políticas anticorrupção. A corrupção, como qualquer pessoa letrada sabe, tem apenas duas causa: 1- a condição humana e 2: o tamanho do Estado.


O único antídoto eficaz contra a corrupção é a redução do Estado, vez que a condição humana, o mal metafísico que nos acompanha desde a origem, esse nem Deus quis abolir. É um dado da realidade. Os “especialistas” esqueceram-se apenas do que é relevante.


Se olharmos as causas listadas por Veja veremos que nas entrelinhas os “especialistas” propõem mesmo é a ampliação do ogro estatal. Por sucateamento do Estado devemos entender que o mesmo não é ainda suficientemente grande, invertendo a relação ente causa e efeito. Por ausência de política anticorrupção – uma falsa avaliação da realidade, visto que o Código Penal, a grande e consolidada política anticorrupção, está em vigor, faltando aos agentes apenas terem o comando político para pegar os culpados – entenda-se um aumento ainda maior da ingerência estatal na vida das pessoas. Esse é outro exemplo de como a burrice voluntária cega e leva os burros a clamarem exatamente pelo oposto do que seria eficaz na sua ação no mundo.


Não falta nenhuma lei para que Marcos Valério,.Delúbio Soares, José Genoino, José Dirceu e tutti quanti estivessem respondendo na Justiça pelo malfeito que praticaram e mesmo já atrás das grades. Mas quando o presidente do próprio STF porta-se como advogado de um réu confesso como José Dirceu, a inversão de todos os valores foi consumada e o Código Penal virou letra morta. Falta-nos mesmo é vergonha na cara para varrer esses imundos dos postos de poder. No ano que vem haverá eleições e quero acreditar que os eleitores repetirão a gostosa experiência que vivemos por ocasião do Referendo: vão mandar essa malta mentirosa e burra para o esgoto. A superação da nossa burrice coletiva terá que acontecer de baixo para cima, a partir dos homens simples, que não precisam de lupas desfocadas para enxergar o óbvio. Vamos esperar o grande momento.