sábado, abril 15, 2006

Derrubar Lula?

Diogo Mainardi tenta derrubar Lula. O coluna polemista da Veja não sossega. Mas não dá mais tempo. A campanha para a Presidência já começou. E em ano de Copa não se derruba presidente no Brasil. Nem síndico. Talvez a oposição consiga derrubá-lo no segundo mandato. Se rolar o segundo mandato.

Há indícios contra Lula. Seu ciclo de amigos íntimos e parceiros esquematizou o projeto PT Longa Vida, que azedou e vira coalhada. Desde a campanha, os meios pareciam feder. Lula dispensara a militância. Subia em palanques com Zezé de Camargo e Luciano (cachê de R$ 150 mil por comício), imaginando que o ideal socialista era tão irresistível que seduzira de Duda Mendonça a duplas sertanejas? Observava o material de campanha e achava que era tudo limpo, doação do empresariado disposto a acabar com a mais-valia (te peguei, você nem lembrava mais deste símbolo marxista)? Lula nunca se perguntou de onde saiu a grana dos 13 trios elétricos na Avenida Paulista na festa de quando a esperança de Paloma venceu o medo de Regina? Tá, talvez não soubesse. As maritacas que papagueiam em volta o preservaram do balanço contábil. Então, ele é um alienado.

Em outros tempos, haveria passeatas e comícios pedindo o impeachment, mas algo bem esquisito acontece no Brasil: a sociedade civil perdeu o rumo. Ou está sectária demais. Ou se vendeu.

Quem liderará a campanha pelo impedimento, Rodrigo Maia, ACM e PFL? Sarney, Itamar? Collor?! Maluf?! Quércia, Garotinho, Alckmin? A Febraban com seu lucro recorde? A Fiesp? A agroindústria? O MST e a Vila Campesina? A OAB, digo, a nova OAB, sectária como nunca? A UNE e a liderança estudantil, sentados na fortuna que gera a indústria das carteirinhas? O Supremo e o ministro Nelson Jobim, que acha normal o contribuinte pagar seus gastos de viagem? Que músicos, numa passeata liderada por MV Bill, aquele da Daslu, conseguiriam segurar a faixa do impeachment? Quem inspiraria o povo a lutar contra um regime apodrecido pela corrupção, Fidel ou Bush, Bruninha Surfistinha ou Maria do Corner, argentinos ou venezuelanos, o cocaleiro boliviano, com a chave do nosso oleoduto na mão? O astronauta Pontes? Ou seria cosmonauta? Os advogados de Suzane von Richthofen? O PCC ou o CV? Qual música animaria tal comício, Sorte Grande, com Ivete ("sigilo, sigilo, levantou o sigilo..."), ou Atoladinha, com Tati? O figurino seria da Daslu ou Daspu? O Exército, liderado pelo general que não admite overbook, daria segurança? Funcionários da Varig, Vasp e Transbrasil organizariam o serviço de palanque? O mercado apoiaria? O Judiciário? O PSOL e o PSTU levariam bandeiras? O Ronaldo Fenômeno ou o Adriano? O Luxa ou o Leão? Quem discursaria, o ACM Neto? O Aécio? Do pessoal de 68, sobrou quem? E que atores? Algum BBB? Sim, Pedro Bial com Sabrina Sato? João Kleber?!

Nem todo mundo é a favor do impeachment. Mas se provas aparecerem, quem conseguirá convocar as massas para uma manifestação, a Galisteu e a Gimenez, com a Hebe? A TV Globo? O Silvio? O Faustão e o Gugu? A Veja? Ou a Carta Capital? Quem sabe a Caros Amigos? A Caras?! A TRIP e a TPM? A MTV, representando a juventude, com aquelas gêmeas Kênya e Keyla saídas do eletrochoque, do Disk MTV, ou aqueles moleques que acham legal só falar palavrão, do Chapa Coco? Eu? Quem, minha mãe?! O frei Beto? O padre Pinto, de Salvador? Os Cassetas? Alguém se habilita? Será que existe ainda liderança da chamada sociedade civil, ou estamos sem fôlego?

A aprovação ao presidente Lula continua alta (53,6% segundo CNT/Sensus). É o maior índice de aprovação desde setembro de 2005. Não é o povo que está surdo, é a razão que está muda.

Talvez a oposição tenha razão: o PT não sabe governar. Incontestável é que era o maior núcleo de arregimentação. Sua traição não foi apenas contra seu programa e ideais. Foi contra a política nas ruas. Nem esperança, nem medo. O que rola é uma desmoralização generalizada. E desânimo.


Segundo o jornal Carta Forense deste mês, a maioria dos escritórios de advocacia não registra seus funcionários. Todo mundo do meio sabe. Ninguém faz nada. Advogados jovens (com diploma fresco) trabalham 15 horas por dia, inclusive sábados e domingos, não têm férias, 13º, nem licença maternidade. Qual advogado processaria patrões exemplares? Qual fiscal do Ministério do Trabalho multaria um escritório desses? Por que a OAB não defende os interesses de seus associados?

E sabe aquele movimento Da Indignação à Ação, que defende o resgate de valores éticos, ameaça o pedido de impeachment contra Lula e deu uma recepção heróica ao caseiro Nildo? É liderado pelo jurista Miguel Reale Jr. Sim, ex-ministro de FHC. Com que moral? Por que a sociedade civil se dividiu? Miguel Reale, como Thomaz Bastos, não deveria nunca ter participado de um governo. Sua indignação é justa, mas ganha outra tradução: "Ah, não vale, ele é tucano."


Impresso da Coelho da Fonseca Empreendimentos que recebi numa esquina de São Paulo, anunciando o edifício Via Jardins do Parque, construção em um dos bairros da elite paulistana: "O melhor do Ibirapuera sob diferentes perspectivas, principalmente, a perspectiva do privilégio." Sem meias-palavras.


Os relatos de FHC e Bruninha Surfistinha disputam o primeiro lugar na lista dos mais vendidos. Povo gosta mesmo de ler sacanagem. Brincadeirinha, presidente...
MARCELO RUBENS PAIVA