quarta-feira, abril 05, 2006

Ao Thomaz Bastos!

De SeabraFagundes@edu para ThomazBastos@gov.br

Estimado ministro Márcio Thomaz Bastos,
Estou aqui com o Raymundo Faoro e o Sobral Pinto (eles ficaram amicíssimos). Os dois insistiram para que lhe escrevesse. Acreditam que poderei ter sua atenção porque já estive na cadeira em que o senhor está e fui-me embora no instante em que meu nervo de advogado passou a doer sempre que eu entrava no palácio. Em fevereiro de 1955, quando dei minha demissão ao presidente Café Filho, o senhor tinha 20 anos e ainda não fizera seu primeiro júri. Deve ter ouvido falar de mim depois. Pelo menos viu o meu retrato na galeria dos presidentes da OAB, onde está o seu.
O propósito desta mensagem é curto: vá embora, rápido. Não acredite na proposição de que é melhor esperar a crise esfriar. Muito menos na assertiva de que o governo lhe tem "integral confiança".
Daqui posso contar coisas que vivi. Não falo do que vejo hoje, mas o Faoro adora contar os casos que presencia. Até bem pouco tempo, até o Sobral Pinto acreditava que deixei o ministério porque o Café permitiu a divulgação de um veto branco dos ministros militares à candidatura do Juscelino. Saí por causa disso e mais alguma coisa.
Pouco antes, o Café tivera uma conversa canhestra comigo. Uma daquelas falas indecifráveis, das quais só nos apercebemos depois. Felizmente, apercebi na hora: tramava-se um golpe. Veja o seu caso, em exemplo inteiramente diverso: o senhor ouviu o deputado João Paulo Cunha dizer que, se abrissem o sigilo do Rogério Buratti, o ministro Antonio Palocci caía. O Faoro estava no almoço em que o senhor ouviu isso, mas ninguém o percebeu. Afinal, ninguém nos vê. Ele se aboletara no ombro do ministro José Dirceu, como aquele mico da propaganda da televisão.
Não queiramos fazer paralelos impertinentes entre a crise de 1955 e a de hoje, muito menos comparar os papéis que nelas desempenhamos. A semelhança está nos papéis que os poderosos esperam que desempenhemos. É disso que o Faoro e o Sobral pedem que lhe fale.
Comparemos duas situações vividas direta e indiretamente pelo senhor. Em outubro de 1998, Lula pediu-lhe que examinasse um papelório de denúncias contra autoridades do PSDB. O criminalista sagaz apontou a fraude. Graças a isso, o dossiê Cayman não entrou para a biografia desenfreada do atual presidente da República. O senhor foi o advogado certo, para o cliente certo, na hora certa.
Agora veja a situação do seu chefe de gabinete, Claudio Alencar, e do titular da sua Secretaria de Direito Econômico, Daniel Goldberg, que pelo título não se perca. Estavam na casa do ministro Antonio Palocci na alta noite de 16 de março. Eles e mais o assessor de imprensa do ministro, Marcelo Netto. Isso tudo na hora em que chegou o presidente da Caixa Econômica com um envelope. Era o mensageiro do ilícito. Admitamos que ninguém soubesse o que havia naquele envelope. Estavam todos na casa da pessoa errada (um hierarca à beira de um ataque de delinqüência) na hora errada (a chegada do extrato do crime).
Palocci queria uma investigação em cima do caseiro. Obteve-a. Se foi improdutiva, o caso é outro. Outro dia, o Gregório Fortunato queixou-se comigo de que poderia ter contratado o táxi do atentado contra o Lacerda em Copacabana, mas foi usar logo um carro do ponto em frente ao Catete.
O senhor teve toda razão ao insistir com "nosso guia" na necessidade de se demitir "o grande irmão" . Teve razão até ao exaltar-se noutra conversa. Só nós sabemos quanto o senhor sabe. Sabe demais. Pensando bem (sempre sem comparar minha crise com a sua), eu fui embora quando soube.
Respeitosamente,
Miguel Seabra Fagundes
(1910-1993)

Elio Gaspari

3 comentários:

Anônimo disse...

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