É evidente que uma avestruz, que pesa de 90 a 150 kg, além de comer de tudo, aboca mais, muito mais, do que uma galinha, com seu 1,3 kg. O governo-avestruz do PT é o campeão absoluto da América Latina em número de ministérios: temos, já contando o novo Ministério da Bola de Cristal confiado ao ininteligível (nas idéias e no sotaque) professor Mangabeira, 37 pastas de primeiro escalão; a ilha do decrépito tirano Fidel ocupa a vice-liderança, com 28; e a Venezuela, do burlesco neoditador Chávez, aparece colada e cheia de inveja, em terceiro, com 27. É a combinação nefanda entre o patrimonialismo, que vê novos ministérios como solução - quando é problema - e a fragilidade institucional que leva, em nosso regime presidencialista sem partidos programáticos, os presidentes, no afã de obterem apoio político, a criarem pastas e mais pastas, para rateá-las entre companheiros e aliados.
O furor ministerial gera pencas de cargos de confiança que, no nível federal, abrangem desde o DAS 1, equivalente, hoje, a um salário de R$ 1.977, até os disputados DAS 5 e 6, que rendem, respectivamente, R$ 8.400 e R$ 10.488 por mês. Lula, que, quando candidato, jurou moralizar a administração pública, acaba de criar mais 626 cargos de confiança, para "atender à demanda gerada pela criação de mais ministérios para contemplar novos segmentos da sociedade" (é dose para avestruz). Na verdade, isto significa apenas aquinhoar os filiados ao PT e, em menor escala, os aliados de outros partidos que vendem apoio, pois os cargos comissionados são de livre provimento, sendo preenchidos por indicações políticas, sem qualquer vínculo com o serviço público e sem concurso. Aos amigos - tanto os fiéis como os de ocasião - tudo...
Em 1999, início do segundo mandato tucano, o total de cargos comissionados (DAS) já era extremamente elevado: 16.306; em 2003, começo do petelhato, havia 18.374 desses cargos e, atualmente, há 22.228. Eis para onde é destinada uma parte do nosso dinheiro, tomado à força pelo leão da Receita, certamente o animal mais eficiente, em sua insaciável voracidade, do zoológico estatal! E olhem que é uma bela parte: do início do período petista até hoje, os gastos anuais com esses cargos experimentaram um crescimento nominal de cerca de 116,3% e um aumento real (descontada a inflação) de 63%, saltando de R$ 4,3 bilhões para R$ 9,3 bilhões, valor que supera o carro-chefe da demagógica caravana dos barbudos, o Programa Bolsa Família, que suga R$ 8,7 bilhões anuais dos impostos que suamos para pagar. Se adicionarmos às sinecuras federais as estaduais e aquelas dos mais de 5.560 municípios, entenderemos a escassez de recursos nas áreas fundamentais da segurança, educação, saúde, justiça e infra-estrutura.
Se somarmos, ainda, as tais "agências reguladoras", que foram transformadas em cabides políticos pelo atual governo federal, bem como as estatais, ou infladas ou ressuscitadas pelo petismo, saberemos claramente por que a economia só cresce de forma sustentada na visão bufa e cínica do ministro da Fazenda, que, sem usar uma gota sequer de teoria econômica, enxergou nas multidões que padecem nos aeroportos um sinal de que a ordem e o progresso são incontestáveis.
Trabalhamos até o dia 26 de maio de cada ano para pagar tributos. Mas, se adicionarmos o que temos de gastar - em duplicidade - com educação, previdência e planos de saúde privados (porque, com justa razão, não confiamos nos serviços públicos), concluiremos com espanto, após ligeiros cálculos, que trabalhamos até meados de agosto para termos acesso digno a direitos nossos, pois nos são cobrados compulsoriamente. O governo, tão eficiente quando se trata de arrecadar, é de uma ineficiência aterradora na hora de gastar. Até quando vamos nos conformar em pagar essa conta? Nosso dinheiro suado não é capim para servir de refeição à avestruz estatal!
Ubiratan Iorio, economista
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