domingo, julho 08, 2007

Horizonte perdido

Se existe um partido que não pode reclamar, muito menos estranhar, a boa sorte do presidente Luiz Inácio da Silva - confirmada nas duas pesquisas de opinião divulgadas na semana passada, registrando popularidade intocada -, este partido é justamente aquele com veleidades a capitalizar o apoio dos outros 50% que não se encantam com o desempenho pessoal do presidente nem consideram seu governo ótimo e bom.

Falar sobre a dubiedade, a fragilidade, a ausência de identidade e a inércia do PSDB equivale a chover no molhado. Notícia antiga, constatação superada de uma realidade consolidada.

Digno de registro para análise a respeito do cenário ou mero raciocínio que venha a nos ajudar a entender o quadro eleitoral quando esse futuro próximo se apresentar, é o fato de o maior - e auto-proclamado melhor - partido de oposição do País não perceber o quanto se desgasta em praça pública atraindo a desconfiança e alimentando a desesperança de seu eleitorado real e potencial.

Dias atrás, um grupo de 70 simpatizantes típicos do PSDB, paulistas de classe média alta, fortemente críticos do governo federal e fartamente informados sobre o mundo da política, trocava idéias num centro de estudos e debates, em São Paulo, quando alguém abordou o assunto desempenho da oposição como um todo e comportamento do tucanato em particular.

Estabeleceu-se sem contestação a unanimidade sobre a incapacidade do PSDB de se firmar como um contraponto à aliança entre PT e PMDB. Aquele grupo, talvez majoritariamente eleitor de José Serra na eleição para o governo do Estado, não enxergava no PSDB uma alternativa, um partido diferenciado da desqualificação genericamente atribuída à classe política ou uma possibilidade para adesão entusiasmada na próxima eleição presidencial.

Aos fatos que sustentam tal avaliação: recuo na crise do mensalão por causa da descoberta de que o senador Eduardo Azeredo (naquela época presidente nacional do PSDB) tivera acesso ao caixa 2 de Marcos Valério de Souza; participação fundamental na eleição do PT para a presidência da Câmara em função de acertos conduzidos pelos governadores José Serra e Aécio Neves; titubeio prolongado no caso Renan Calheiros, por conta das relações de amizade da bancada tucana com o presidente do Senado e da aliança política de Calheiros com o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho, também ex-presidente do PSDB.

Juntem-se esses três episódios e teremos um denominador comum entre eles: a submissão do partido à defesa de interesses localizados que não rendem um só benefício e produzem todo o malefício resultante do abandono de uma política de atuação partidária referida em idéias, princípios, projetos, valores, pensamentos, ações conjuntas bem definidas e, de preferência, um projeto com começo, meio e fim.

Caso não surja nenhuma novidade no cenário da sucessão de Lula nem prosperem idéias sobre um terceiro mandato, o quadro caminha para se ter em 2010 a disputa entre um partido (PT) sem candidato e dois candidatos (Serra e Aécio) sem partido, brigando entre si.
Dora Kramer

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