De um endereço na internet (quotation@logosquotes.org) recebo diariamente uma citação. Na terça-feira veio uma de Bismarck (1815-1898), muito adequada ao Brasil do momento. Disse ele: 'Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante a guerra e depois da caça.'
Hoje, felizmente, as eleições se tornaram mais comuns e a caça é muito menos praticada que naquela época. Caçadores perderam espaço para pescadores como mentirosos contumazes na descrição exagerada de seus feitos. Coisas do tipo: 'Pesquei um surubim tão grande que foi necessário um cavalo para arrastá-lo.'
Infelizmente, as guerras continuam, ainda que em escala contida desde a 2ª Guerra Mundial. Já as mentiras eleitoreiras proliferaram com a ética escassa e com a ajuda do enorme desenvolvimento dos meios de comunicação. Mas não se comparam às dos pescadores. São maiores e enganam mais, pois levadas sobretudo àqueles sem condições de discernir entre a versão e o fato. Com essas características, tampouco fazem sorrir; são mais para lamentar.
Numa eleição para escolher a maior enganação eleitoreira deste ano, meu voto iria para a insistência do presidente-candidato Lula em afirmar que a economia vai bem. No estilo 'neste país', essa afirmação vem também na versão de que nunca o Brasil cresceu tanto no passado, ficando o alcance deste limitado conforme as conveniências e o embalo do momento em que a história é repetida. No recente debate com Alckmin na Rede Bandeirantes, conforme transcrição da Folha de S.Paulo, Lula afirmou: 'Nós fizemos o país crescer como em nenhum momento de sua história nos últimos 20 anos.' Não se sabe como e onde ele pescou isso, e o próprio jornal desmentiu com dados a afirmação.
Ainda em setembro, ele concedeu uma entrevista ao jornalista Heródoto Barbeiro, da Rádio CBN, quando, voltando a cinco séculos atrás, aumentou o tamanho do peixe e afirmou que 'o momento é o mais positivo na história econômica do Brasil'. Ao contrário, nosso país mostra hoje um dos piores desempenhos do período coberto por dados do seu produto interno bruto (PIB). Tenho à minha frente um gráfico com esses dados desde 1916, e o que se vê é uma série em média móvel de dez anos com uma tendência que no seu início tem taxas próximas de 2,5% ao ano, e alcança cerca de 9% no final dos anos 70. Na década seguinte despenca para as medíocres taxas perto de 2% que marcam a história do País desde então, mediocridade essa que o nosso presidente insiste em refutar com suas bravatas.
Além disso, na sua peculiar forma de dirigir o País, mais parece um motorista que, em lugar de olhar à frente, se fixa no espelho retrovisor, tamanha a sua obsessão em comparar-se a seu antecessor, FHC. Nisso recorre até à primeira-dama, Marisa Letícia, que ontem este jornal mostrava em campanha de rua a distribuir um cartaz intitulado 'Lula fez mais em 4 anos de governo do que os tucanos em 8'. Ao seu lado, a vice-primeira-dama, Mariza Gomes, levava outro cartaz que dizia 'Lula vence o debate na Band'. Sou suspeito para dizer o contrário, mas na melhor (para ele) das hipóteses o debate terminou empatado, segundo a pesquisa Datafolha divulgada ontem, com 43% x 41% pró-Alckmin, com a conclusão de empate alcançada só no limite da margem de erro (2%).
Voltando à equação 'em 4 mais que em 8', e vendo o exercício da Presidência no seu uso de recursos, o trabalho é o de arrecadar tributos e gastar dinheiro nas várias atividades do governo, como pagar a servidores, realizar investimentos em infra-estrutura e prover serviços como os de educação, saúde, segurança, previdência e assistência social.
Nessas condições, nem os recursos nem os gastos cresceram tanto nos últimos quatro anos a ponto de esse placar ser sustentável. Mas o que faz o candidato em sua campanha? Seleciona alguns resultados de sua conveniência, como a expansão do Bolsa-Família, e apresenta tudo como sua obra exclusiva, esquecendo-se, por exemplo, de que esse programa foi iniciado com outro nome e já havia avançado bastante na gestão anterior.
É claro que Lula fez suas próprias escolhas entre gastar mais aqui ou ali, mas isso implicou gastar relativamente menos acolá. Neste caso, um aspecto que se destaca na gestão Lula, e que prejudicou o crescimento da economia, é a ausência de prioridade também para os investimentos em obras públicas, para ampliar a capacidade produtiva do País e permitir que crescesse a taxas, de fato, meritórias. Contemplando outro gráfico, vejo que desde 1970 e como proporção do PIB nunca 'neste país' os investimentos da administração pública foram tão baixos como no ano passado, muito embora outro gráfico diga que desde o início desse período a carga tributária cresceu 56%.
No debate sobre distribuição de renda no Brasil, a discussão gira em torno de crescer a economia e/ou distribuir melhor o que produz. Diante daquela conversa antiga de que era preciso primeiro crescer o bolo econômico para depois distribuí-lo também aos mais pobres, Lula partiu para fazer essa distribuição rapidamente, com o equívoco de exagerar nessa direção, ao extenuar a economia com mais impostos e sacrificar investimentos públicos de que ela tanto carece.
Também defendo a distribuição de renda, sem adiá-la para depois de o bolo crescer, mas com um equilíbrio entre uma coisa e outra, que Lula não buscou. Assim, além de dirigir o País olhando pelo retrovisor, segue um rumo equivocado e permanece sem condições de dar maior velocidade à economia.
No trajeto, o bolo que distribui não assou normalmente, mas, sim, permanece solado ou abatumado pela falta de investimentos e do fermento econômico que os acompanha.
Roberto Macedo
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