quinta-feira, setembro 28, 2006

Queremos a verdade!

Restou, única e solitária, a questão essencial: quem forneceu o dinheiro para a operação suja do dossiê? É o que a PF deve à nação

NA 25ª HORA , só há espaço para a verdade. É o fim do tempo, o limiar da revelação, a hora da decisão.
No terreno político e das evidências, expirou o prazo para a acusação. A defesa também já se manifestou. O próprio está nas ruas, nas rádios, na TV, esbravejando, acusando seus companheiros de "aloprados" em atos de confissão explícita de culpa. A oposição também está usando todos os espaços. Houve réplicas e tréplicas. Restou, única e solitária, a questão essencial: quem, precisamente, no governo e no PT, forneceu o dinheiro para a operação suja do dossiê?
Pois é isso o que a Polícia Federal deve à nação e o que a sociedade civil exige. Queremos a verdade! Só a verdade evitará condenações injustas, mas também impedirá que culpados passem por vítimas. Só a verdade impedirá fantasias e metáforas -ninguém é Cristo nem diabo-, e só a verdade impedirá que marqueteiros inescrupulosos tentem, como começaram a experimentar, fazer de "um limão uma limonada". Só a verdade impedirá que o resultado das eleições -a mais democrática e livre da história deste país- se transforme numa querela judicial sem fim que comprometerá, inevitavelmente, a rotina das instituições.
Só a verdade inteira, completa, sem restrições mentais, dirá se o presidente da República tem culpa, como o acusamos, ou se foi traído, como ele se defende. Traído? Esse é um esclarecimento decisivo.
O eleitor vai decidir se aceita manter no Planalto, reelegendo-o, um presidente cego e surdo. Caso contrário, como Lula explicará o fato de ter sido enganado por seu guarda-costas mais próximo, por seu churrasqueiro preferido, pelo presidente do seu partido e coordenador da campanha, pelo marido da sua secretária particular, por ministros de Estado e diretores de bancos estatais, seus companheiros mais afins, que montavam uma operação criminosa no seu palácio, no dia-a-dia do expediente?
Como pregam os moralistas religiosos, só a verdade salva. Ou condena, não esqueçamos a alternativa, já que é por temer a condenação que o governo e o PT estão evitando a todo custo a apresentação dos resultados das investigações da Polícia Federal.
A verdade, porém, não é segredo de conveniência. Não se pode guardá-la por oportunismo ou escamoteá-la por tática. Escondê-la, pela lei penal, é crime, compromete quem a sonega da Justiça e não beneficia quem se aproveita dessa sonegação.
A celeridade com que o Coaf acusou inocentes -como foi vítima o caseiro Francenildo, façanha petista e do governo Lula, rastreando uma conta de menos de 30 mil reais- precisa ser usada para rastrear o R$ 1,7 milhão, principalmente quando há notas seriadas e pacotes de dinheiro com cintas bancárias.
Até o início de setembro, a cavalgada mentirosa da campanha de Lula se encaminhava para um "landslade" -avalanche, em inglês-, expressão usada pelos jornais em 7 de novembro de 1972 para qualificar a vitória esmagadora da reeleição de Nixon, que derrotou o democrata McGovern em todos os Estados, com exceção de um.
Muitos acreditavam, pelas pesquisas, que Lula poderia repetir o fenômeno no Brasil a 1º de outubro. O próprio Lula estava certo disso. Ele sabia que nunca um candidato falseou tanto a verdade, atribuindo a si mesmo avanços sociais que não promoveu, mas copiou do antecessor. Nunca um governo foi mais corrupto: nenhum partido político brasileiro aparelhou a máquina estatal tão abusivamente nem administrou com mais escândalos de corrupção.
Mas, tal como aconteceu nos EUA com Nixon, o comitê da reeleição de Lula deixou um rastro de lama. Lá, apenas depois de um ano o crime seria apurado, provocando o impeachment. Aqui, porém, se descobriu quando ainda há tempo para uma solução menos traumática. Os criminosos, operadores das operações sujas, tiveram menos cuidado, se expuseram se mais e se revelaram mais precocemente, três semanas antes das eleições. Não precisaremos de impeachment: o povo decidirá no voto.
No caso de Nixon, a verdade foi descoberta pelo rastreamento do dinheiro da sabotagem de Watergate. Aqui, não será diferente. A verdade será alcançada quando se encontrar a origem do dinheiro do dossiêgate. Queremos a verdade, só a verdade, nada mais que a verdade.
JORGE BORNHAUSEN

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