Pega ladrão! (A chantagem eleitoral de Lula)
Imaginando que o jogo tinha acabado, Lula e o PT resolveram tripudiar e realizar uma intervenção criminosa na eleição
SURPREENDIDO, o ladrão antecipa-se ao alarme e grita: "Ladrão!Pega ladrão!".
Mistura-se aos seus próprios perseguidores e se livra da polícia. (Ou então, numa variável da cena, usada como cortina cômica dos picadeiros de circo de antigamente, o ator que faz o papel do descuidista ou do sedutor apanhado em flagrante de adultério grita "Fogo! Fogo!", e aproveita a confusão pra fugir.)
As cenas do repertório da velha malandragem, antes que a violência e o narcotráfico lhes retirassem qualquer possibilidade de riso, estão sendo revividas grotescamente na atual campanha eleitoral. Especialmente no caso da chantagem montada pelo PT contra Alckmin e Serra, a quem Lula, com a maior cara-de-pau, hipotecou solidariedade de crocodilo.
É espantoso ver na TV Lula e o PT gritando, indignados: "Baixaria! Baixaria!", quando estão mergulhados até a cabeça no golpe. Assim como foi em outros escândalos: mensaleiros, vampiros, sanguessugas, valerioduto, operação tapa-buracos, "bingueiros", pagamentos do marqueteiro Duda com dólares sem declaração de origem e cartilhas eleitorais de R$ 11 milhões pagas com dinheiro público e distribuídas pelo PT, e tantos outros casos que já perderam o benefício de serem considerados denúncias para se transformarem em inquéritos apurados e votados por comissões parlamentares e pelo TCU.
Tal como aconteceu no último fim de semana, quando Lula apareceu protestando inocência e declarando repulsa à tentativa de chantagem envolvendo a considerável quantia de R$ 1,7 milhão contra Alckmin e Serra.
O grave é que a PF já sabia, àquela hora, que a trama era conduzida pelo Palácio do Planalto, por um assessor especial da Secretaria Particular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Tal como Waldomiro Diniz -que traficava com bicheiros e era subchefe da Casa Civil, do ex-ministro José Dirceu, e gerou a CPI dos Correios e a revelação dos mensaleiros-, Freud Godoy, personagem-chave do novo episódio da compra de um dossiê contra Geraldo Alckmin e o ex-ministro José Serra, trabalha com o também notório Gilberto Carvalho, secretário particular de Lula.
Gilberto é personagem do escabroso episódio do assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André. Criou-se uma situação sem saída para Lula, pois o próprio Freud Godoy, acusado pelo operador da chantagem, apanhado com o dinheiro, confessou implicitamente ao anunciar que estava pedindo demissão do seu cargo no Palácio do Planalto e, como Waldomiro, será exonerado "a pedido" -com agradecimentos pelos bons serviços, como Lula faz com todos os corruptos que é obrigado a demitir.
O cinismo da impunidade ganha requintes nas mãos de marqueteiros inescrupulosos. Mas, como todo golpe, há o momento em que a mentira se confronta diretamente com a verdade e, aí, a impostura se desfaz. Tudo indica que houve uma precipitação. Deram um passo em falso. Imaginando que o jogo tinha acabado -na minha opinião, não acabou, pois haverá segundo turno, e, aí, a questão "corrupção de Lula" versus "ética de Alckmin" será julgada-, Lula e o PT resolveram tripudiar e realizar uma intervenção criminosa na eleição.
O crime perfeito consistia em desestabilizar Serra e, ao mesmo tempo, dar oportunidade a Lula para fazer declarações de repúdio àquela chantagem, como efetivamente fez. Com isso, teria o pretexto para protestar contra o uso de acusações -para ele, "baixarias"-, relembrando os casos de corrupção no seu governo, único perigo temido por seus marqueteiros.
Ao se jactarem de "com o limão fizemos uma limonada", ou seja, com os protestos da oposição pela chantagem, ainda conseguiriam que Lula ampliasse sua própria blindagem contra ataques. Os petistas achavam que a questão estaria liquidada. Gritavam, mais que as vítimas: "Pega ladrão!" (no caso, Lula declarou, indignado: "Fora as baixarias contra candidatos!"), e, além de criarem um clima para que os chantagistas se safassem, ainda melhoravam a posição na campanha eleitoral.
Dito isso, encenada a farsa da inocência compungida, continuariam com o realejo da impostura das falsas obras sociais, fazendo esquecer a tunda que a Petrobras está levando de Chávez e Evo Morales, banqueteando-se com banqueiros uma vez por semana e batendo recordes de presença de mensaleiros e sanguessugas em seus comícios.
O azar é que a PF botou tudo a perder. Prendeu os chantagistas, e um deles confessou seu ninho: a Secretaria Particular do próprio Lula. Não deu para chegar impune a 1º de outubro.
JORGE BORNHAUSEN, 68, senador pelo PFL-SC, é o presidente nacional do partido.
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