sexta-feira, junho 29, 2007

Muito prazer, Otário!

Muito prazer, meu nome é Otário. Sou eu quem escolhe quem vai roubar meu dinheiro, sou eu quem elege quem vai levar meus quatro primeiros salários do ano. Sou eu quem esquece o que aconteceu no ano passado, sou eu quem não valoriza os ídolos do País. Sou eu quem fala mal do País e tem que idolatrar os falsos estadistas.
Sou eu quem puxa a carroça, enquanto os chefes de Estado sobem nela. Sou eu, o Otário, quem adora uma causa perdida, quem adora pedir Justiça, quando na verdade sabe que nada vai acontecer.
Sou eu quem aplaude os nobres colegas quando se reelegem nas eleições, mas esquece que eles não fizeram nada por mim durante quatro anos. Mas, de novo, muito prazer, sou eu o Otário.
O mesmo que sabe que tem direitos escritos na Constituição do País, mas que acha que tudo é assim mesmo e não faz nada para mudar. Este Otário que vos fala é o mesmo que dá mais valor para aquela que trabalha deitada e descansa em pé, como disse o Clodovil.
Sou eu, o Otário, que aceita a proposta da “ministra” Marta Suplici, relaxa e goza, quando uma viagem de avião leva mais tempo que uma viagem de carro. Que tem certeza que o presidente do Senado está mentindo, mas mesmo assim lhe dá o direito de sair ileso de bolso cheio de uma irregularidade.
Sou eu, o Otário de sempre, que pinta a cara e vai para as ruas protestar só porque viu na TV que todo mundo está fazendo a mesma coisa. Sou eu quem prefere ficar vendo Faustão, Gugu e outros programas do gênero ao invés de comprar um livro ou um jornal para ler.
Eu sou aquele Otário que, em tempos de Copa do Mundo, vibra, torce, compra camisa e bandeira só pra torcer pela seleção enquanto os nossos “representantes” aproveitam para aumentar salários, empregar parentes, desviar dinheiro público e viajar com o meu dinheiro pra ver em loco a mesma Copa do Mundo que eu vejo pela TV.
Como diz a música do Engenheiros do Hawaii, “se fosse fácil achar o caminho das pedras, tantas pedras no caminho não seria ruim”. Na verdade, é mais fácil fazer como todo mundo faz, o caminho mais curto é o produto que rende mais, um tiro certeiro é o modelo que vende mais.
Mas não tem nada não, esse Otário tem o horário eleitoral pra se divertir, tem o Big Brother pra votar e o Carnaval pra esquecer que no dia seguinte não terá comida, diversão e arte, além de emprego, saúde e educação.
Mas esse sou eu. Muito prazer! O Otário.

Sergio Eduardo de Oliveira - acadêmico de Jornalismo - Folha de Blumenau

quinta-feira, junho 28, 2007

A CAMINHO DA DITADURA CIVIL!!!

Escrevemos neste espaço, já por diversas vezes, que os políticos tradicionais ainda não entenderam o risco enfrentado. Pensam ingenuamente que lidam com outro partido semelhante, disposto a aceitar a rotatividade no poder. O PT não possui um projeto nacional de desenvolvimento, mas sim um projeto de poder. Mesmo antes de assumir o governo, eles possuíam o melhor serviço de inteligência do Brasil. Quem não se lembra da atuação dos petistas na oposição? Eram implacáveis. O denuncismo imperava. Os pedidos de impedimento também. Até procuradores, que ficaram famosos e agora desapareceram, vazavam para a imprensa informações confidenciais extraídas de investigações, inquéritos e bancos de dados bancários e financeiros.

Após o primeiro mandato de Lula, os adversários dos petistas foram sendo cooptados, através dos meios aéticos noticiados fartamente pela imprensa. O procurador-geral da República formalizou séria denúncia contra cerca de 40 indiciados. Ninguém está preso. Nem 10% dos envolvidos foram cassados. O plenário da Câmara absolveu agora vários deputados, com o pueril argumento de que tinham sido absolvidos pelo voto popular, isto em um sistema proporcional de eleição, onde poucos são eleitos sem o auxílio da legenda! Agora, querem cassar o deputado Clodovil por ter chamado de feia uma colega desconhecida, que o provocou até conseguir o desejado: um pretexto para início de um processo para eliminar o elemento estranho ao sistema. E, ainda mais, especialista em comunicação e sem papas na língua.

Não existe oposição de fato no país. Apenas, nos extremos, o DEM e o PSOL, sem vontade ou estrutura para aproveitar as fartas vulnerabilidades da atual administração. O PSDB é a outra face da mesma moeda. Lula foi eleito em 2002 com a cumplicidade de FHC. Como ele já havia implantado o perverso mecanismo da reeleição que o beneficiou diretamente, bem como a Lula, estão permitindo a manutenção do receituário neoliberal por 16 anos, no mínimo, com a progressiva deterioração da soberania nacional. E com sério risco de perda concreta do controle da Amazônia, já loteada por intermédio de proposta de iniciativa do poderoso ex-chefe da casa civil, agora cassado. Quase todos os grandes “negócios” realizados no país, em especial nas áreas de comunicação e aérea, possuem as digitais dele e de seus “cumpanheiros”.

Lula trabalha com várias opções para perpetuação no poder dos vetores exógenos que nos governam. De início, a mudança na Constituição, a exemplo de Chávez, e futuramente Correa e Morales, que permita a reeleição sem limites. Ou a aprovação do parlamentarismo, com ele como primeiro-ministro. Ou a prorrogação do mandato em um cenário de decretação do estado de emergência. Ou no limite, a eleição em 2010 de um clone, como Serra, Aécio ou outro qualquer, para o retorno triunfal em 2014. Afinal, o antigo Núcleo de Estudos Estratégicos traçou cenários, em 2002, “por coincidência”, para 2007 até 2022 (bicentenário da Independência).

Até o Papa Bento XVI já denunciou a onda de totalitarismo existente na América do Sul. Os meios de comunicação estão à mercê das verbas governamentais, do sistema financeiro e das empreiteiras. Os artistas sobrevivem das verbas das estatais, como PETROBRAS, CEF, BB e outras, recebendo milhões para produzir peças sem valor cultural e sem público, mas que falam aquilo que os detentores do poder desejam que a população escute. As Instituições que poderiam impedir a implantação de uma ditadura civil estão sendo erodidas progressivamente. O Congresso foi cooptado pela distribuição de verbas orçamentárias, pelas vagas abertas por quase 40 ministérios para nomeação de apaniguados e por outros meios não ortodoxos.

O Judiciário manietado pela criação do Conselho Nacional de Justiça, pelo fato concreto de já possuir mais da metade dos integrantes de sua mais alta Corte nomeada por FHC e por Lula e sob pressão permanente da imprensa, a reboque da existência de alguns magistrados envolvidos pela onda de corrupção que assola o país. As Forças Armadas em dramática situação de penúria, sem verbas para investimento ou sequer para as despesas de manutenção, acuadas por campanha permanente de descrédito promovida pelos inimigos da democracia e desviada de suas verdadeiras funções. A Igreja profundamente infiltrada pelos “socialistas autoritários”. A Família em crise permanente, exposta à contaminação empreendida por alguns meios de comunicação, propagadores de vícios, perversões e estimuladores da desagregação. O Itamaraty aceita as mais absurdas imposições do “cocalero”.

Um embrião da futura Gestapo, a Força Nacional de Segurança, começa a ser implantada, com o objetivo de atuar na Segurança Interna, além da Segurança Pública. A Globo será substituída em seu papel de órgão oficial de propaganda das sucessivas administrações federais pela TV pública. Também será descredenciada no futuro, a exemplo da RCTV na Venezuela. Este é o grande mal dos capitalistas selvagens. Só pensam no lucro fácil, não enxergando nem o médio prazo, enquanto os comunistas dão as migalhas, mas perseguem o longo prazo.

É chegada a hora de os verdadeiros democratas unirem-se para recuperar a pátria perdida, passando da palavra à ação.

Prof. Marcos Coimbra
Membro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (CEBRES), Professor aposentado de Economia na UERJ e Conselheiro da ESG.
Artigo publicado em 17.05.2007 no Monitor Mercantil.

Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br
Página eletrônica: www.brasilsoberano.com.br

A viúva, os órfãos e as vítimas

O protecionismo volta à carga. Sob o pretexto da valorização cambial e com a simpatia e o apoio da atual equipe econômica, algumas empresas, assumindo o papel de vitimadas, estão conseguindo reverter o processo de abertura comercial iniciado há 15 anos. As reais vítimas são outros.

Nos últimos meses têm-se assistido a um coro crescente de lamentações contra a valorização cambial. Pouco importa o fato de que a taxa de câmbio é flutuante, que as exportações continuam se expandindo de forma diversificada e que, apesar do tardio crescimento das importações, o superávit comercial deverá ficar ainda acima de US$ 44 bilhões. Além de previsões apocalípticas de que a indústria vai acabar, desprovidas de lógica ou evidência, afirma-se, entre outras coisas, que o país ficará condenado a produzir e exportar produtos de baixo conteúdo tecnológico. O objetivo é jogar uma cortina de fumaça no verdadeiro problema: a perda de competitividade estrutural de alguns segmentos da indústria, aliado à sempre presente busca de privilégios.

Graças à redução de impostos e tarifas de importação e ajudado pela valorização cambial, o consumo de computadores este ano será recorde. Estimam-se vendas de 10 milhões de unidades, talvez pela primeira vez ultrapassando a venda de televisores. Parte em função da disponibilidade de computadores a preços acessíveis, as exportações de serviços de informática talvez atinjam, este ano, US$ 1 bilhão, contra pouco mais de US$ 100 milhões há poucos anos. No entanto, esta boa notícia passa despercebida, abafada pelo choro da indústria. Ora, o que tem mais conteúdo tecnológico e mais ajuda a desenvolver a educação, a pesquisa e o desenvolvimento no país, a produção e exportação de serviços de informática ou a de têxteis e calçados? Reduzir o custo do investimento em máquinas e equipamentos, inclusive computadores, não favorece o desenvolvimento tecnológico do país? O câmbio que é ruim para uns não é bom para outros?

Culpa-se o câmbio, mas o problema é outro. Com a entrada da China e de outros países emergentes no mercado, o Brasil perde vantagem comparativa estrutural em diversos produtos industriais. Somente por preço não há como competir no segmento de manufaturados padronizados. Em produtos intensivos em trabalho, porque o custo da mão-de-obra na China é de R$ 1,50 por hora, para uma jornada de 60 horas por semana e em produtos intensivos em capital porque lá a poupança é 40% do PIB, o dobro da nossa. A concorrência, para ser efetiva, tem de se dar em outro nível (design, marketing, conteúdo tecnológico) ou em produtos intensivos em recursos naturais, onde temos clara vantagem.

Injustiça, concorrência predatória? De forma alguma. O mesmo argumento de "exploração da mão-de -obra" era e ainda é usado pelos países desenvolvidos contra nós. São diferenças em disponibilidade e custo de fatores de produção que impulsionam boa parte do comércio internacional. Se todo país quisesse "neutralizá-las" através de tarifas e subsídios, o mundo caminharia para a autarquia e não haveria progresso. Aparte os concorrentes domésticos, o fato de a China poder nos vender produtos a custo muito abaixo do nosso, liberando os recursos escassos do país para outras atividades mais produtivas, deveria ser motivo de satisfação e não de revolta.

Mas é o contrário que se vê. Semana passada, em mais uma investida protecionista, o governo aumentou as tarifas de importação para ferros de passar e ventiladores. A nova tarifa sobre os primeiros será de US$ 4,27 por unidade. De janeiro a maio deste ano o Brasil importou US$ 10,6 milhões em ferros de passar, a um preço médio FOB de US$ 3,74. O modelo mais simples fabricado no país sai entre R$ 40 e R$ 50 no varejo. O mais sofisticado (a vapor) pode sair por R$ 150. Ainda supondo que todos os importados fossem do modelo simples, vê-se que, à tarifa de importação anterior de 20% (já alta para padrões internacionais) e considerando a carga de impostos locais mais uma generosa margem de distribuição, o ferro importado sairia pela metade do preço do nacional. Explica-se, pois, o lobby, bem sucedido, para aumentar a tarifa para 114% do preço médio FOB. Só com esta proteção, mais os empréstimos subsidiados de praxe do BNDES e outros regalos fiscais, é que os fabricantes nacionais conseguem competir.

Para a classe média, R$ 30 a mais em um ferro de passar não fazem a menor diferença. Mas para o pobre faz. O governo dá a Bolsa Família com uma mão e com a outra retira de seu bolso, transferindo o dinheiro aos acionistas das empresas protegidas, no caso em questão, três grandes multinacionais. Que os produtores peçam proteção é compreensível. Mas qual a lógica do governo aceder e produzir esta transferência de renda perversa? Trata-se de um produto de segurança nacional? De elevado conteúdo tecnológico? Há algo no horizonte que indique que a indústria nacional será capaz de compensar esta enorme diferença de custo de produção? Tudo indica que esta proteção será permanente, o consumidor ficando condenado a pagar o dobro do que poderia por um ferro de passar.

Ao agir com tanta solicitude e presteza em têxteis, calçados, mobiliário e agora em ferros de passar e ventiladores, o governo está dando à indústria um sinal claro: podem chorar, pois além de um lenço e de um ombro amigo vocês serão atendidos. E, o que é pior, ao aumentar o nível de proteção o governo contribui para valorizar ainda mais o câmbio, prejudicando justamente os setores mais eficientes da economia, capazes de exportar. Desenvolvimento ocorre quando os produtivos são premiados e os improdutivos alijados do mercado. Retirar dos primeiros para dar aos últimos é a chave do atraso.

Assiste-se a uma opereta com três protagonistas. Os órfãos da abertura econômica, que se declaram vitimados pelo câmbio e pedem proteção, a Viúva que lhes acolhe e protege e o resto da sociedade que paga a conta. Este sim a verdadeira vítima.

Claudio Haddad é diretor-presidente do Ibmec São Paulo e presidente do Conselho da Veris Educacional S.A. e escreve quinzenalmente, às quintas-feiras
chaddad@isp.edu.br

quarta-feira, junho 27, 2007

FINGIMENTO NO RENANGATE

Em matéria datada de 27/06/2007, informa a Folha Online que o presidente do Senado, Renan Calheiros , afirmou nesta quarta-feira que não adianta o Conselho de Ética da Casa fingir que está cumprindo seu papel e ainda criticou os partidos que fazem seu julgamento sem considerar os fatos, apenas a questão política

Prossegue a matéria: Ao ser questionado o sobre o "fingimento" do conselho, o senador tentou explicar: "Não é fingir não. É tentar cumprir o papel e não cumprir. Na medida que um partido tenta formar posição a um julgamento que tem a ver com as provas, não é uma fato político, transforma isso em fato politico".

É a segunda tentativa inócua na qual se agarra o Senador Renan Calheiros para desviar o mérito da questão a ser analisada pelo Conselho de Ética, qual seja, a falta de decoro parlamentar.

Inicialmente, Renan Calheiros tentou passar de acusado a ofendido e alegou que o país estava “invadindo a sua privacidade” ao trazer para a vida pública o adultério por ele cometido em sua vida privada. A fragilidade do argumento, por si só, foi suficiente para transformar essa estratégia em fracasso.

Hoje, insatisfeito com a crise que tem protagonizado, mais uma vez Renan Calheiros, sem qualquer constrangimento, tenta passar-se por vítima, ignorando o real mérito que o país questiona (pagamento de despesas pessoais por uma empreiteira favorecida com emendas de sua autoria) tentando fazer crer que tudo não passa de “questão política”.

É lamentável não apenas a falta de criatividade do senhor Presidente do Senado como também a maneira como ele subestima a inteligência da sociedade brasileira.

Acusa o Conselho de Ética do Senado de FINGIR que está cumprindo o seu papel, de fazer seu julgamento sem considerar os FATOS, AS PROVAS, para transformar a “crise” em questão meramente política.

OS FATOS, justamente eles que constituem AS PROVAS, me autorizam inferir que o Senador Renan Calheiros encontra-se no “AUGE DE SEU DELÍRIO”, já que as PROVAS por ele apresentadas só fizeram desmentir, desautorizar a patética defesa por ele patrocinada em causa própria.

A Revista “VEJA”desta semana publicou um quadro onde, pedagogicamente elenca o que foi dito e o que foi escondido pelo Senador Calheiros e mais, o que não foi declarado à Receita Federal.

Até onde eu saiba, o senador Calheiros não processou a revista ou quaisquer outros órgãos da imprensa que veicularam os fatos comprobatórios das mentiras deslavadas com as quais pretende arquivar a denúncia junto ao Conselho de Ética do Senado.

A conclusão é inconteste: quem está FINGINDO é o Senador Renan Calheiros que, até o momento, invocou FATOS CONTROVERSOS e NÃO APRESENTOU NENHUMA PROVA passível de socorrê-lo. Limitou-se, ELE PRÓPRIO, a apelar para seus aliados políticos e, assim, provocar a crise política que se instaurou no Senado Federal.

Juçara Mazza Zaramella
jzaramella@adv.oabsp.org.br

terça-feira, junho 26, 2007

GREVE MILITAR

Ternuma Regional Brasília
Pelo Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva


Ouvi, estarrecido, no noticiário da TV GLOBO, que uma medida provisória, com a concessão de uma gratificação para controladores de vôo, estaria pronta. Mas só seria enviada ao Congresso, quando fossem resolvidos os problemas com o pessoal envolvido. Cessados os atrasos, retornando os sargentos ao chão de fábrica, digo, aos consoles de controle considera-se que está tudo bem e o governo lhes concede um abono. Em suma, poder-se-á dizer que a primeira greve militar foi bem sucedida e, por isso, deve-se esperar que outras venham a eclodir. Se, na gloriosa Força Aérea Brasileira, dá-se destaque a uma de suas especialidades, como agir quando outras também resolverem parar de executar suas missões em busca do mesmo aumento salarial? Lembro-me de que, nas manifestações das esposas de militares realizadas na Esplanada dos Ministérios, com vistas a reajustes de vencimentos, havia uma faixa que dizia mais ou menos assim: “Voar é fácil, fazer voar é que é difícil.” Parecia um recado aos senhores oficiais aviadores de seus mecânicos, por meio de suas esposas de orçamentos apertados. E se a coisa se alastra para os também gloriosos Exército Brasileiro e Marinha do Brasi? Assistiremos, então, à instalação da anarquia nas Forças Armadas Brasileiras. A quem interessa essa anarquia é trabalho para os órgãos de inteligência das três forças.

Se fizermos um retrospecto de fatos já consumados, evidencia-se que, desde o governo do marxista arrependido FHC, o desgaste imposto aos militares vem num crescendo indisfarçável a começar pela criação do Ministério da Defesa. Analisem-se os ministros nomeados e chega-se à conclusão de que nenhum deles teria condições mínimas para ocupar a pasta. Passou-se a falar, então, nas nefandas indenizações para notórios criminosos e maus patriotas, que tentaram implantar o regime comunista no Brasil. E, do falar, chegaram aos juristas esquerdinhas, aos caçadores de ossadas, aos interessados em patrocínio de causas milionárias, aos muitos milhares de perseguidos e aos bilhões de reais das indenizações. Houve até um humorista que disse que a comunada não queria fazer revolução, mas investimento, isso sim... Contra elas, ao que me lembre, nenhuma reação oficial das Forças Armadas. A exoneração de um Comandante da Força Aérea por ter dito que, se havia algo contra o Ministro da Defesa, devia ser feita a investigação, foi absorvida sem traumas por sua gente, embora todos soubessem que ele estava certo no que expressara. A absorção também foi tranqüila nas forças irmãs. Sucederam-se inúmeras outras demonstrações de desapreço dos governantes e de seus próximos. Inesquecível foi o bocejo da Sra. Ruth Cardoso, em uma parada de 7 de Setembro, como a retratar seu tédio por estar ali vendo aqueles “gorilas” passarem... Condecorações distribuídas, dentro da linha de “convivência dos contrários”, eram retribuídas como o não comparecimento para recebê-las. O discurso do Presidente da República chamando oficiais-generais de “bando” não causou estranheza a nenhum deles e nem se soube de reação no âmbito das forças. O episódio das falsas fotografias do Herzog, que resultou em determinação para um pedido público de desculpas por parte do Comandante do Exército, é tão deprimente que nem merece comentário longo. Contingenciamento de dotações orçamentárias e até mesmo de recursos descontados dos militares para seus fundos de saúde, causando transtornos à administração e constrangimento ao moral dos efetivos, foram e são constantes. Alimentação, peças de reposição, fardamento, armas e munições, um sem fim de carências. Pálidos discursos para ouvidos deliberadamente moucos... Aí, então, a esquerda canalha e revanchista encastelada no poder deduziu: “Esses caras não são de nada! Vamos em frente.” O primeiro teste foi contra um coronel reformado, heróico combatente de terroristas em São Paulo. Processado para que um tribunal o declare, oficialmente, como torturador, ele apelou para seu Comandante e a resposta é que nada podia ser feito porque a coisa estava na Justiça. Outras agressões e desfeitas, até chegar à suprema desfaçatez de glorificar o desertor assassino Carlos Lamarca. Nem adianta mais comentar, tantas foram as manifestações contrárias nos meios de comunicação e até no Congresso Nacional. Só não as vimos nas Forças Armadas.

Assim, de recuo em recuo, de baixar a cabeça, de aceitar o que vier, em nome de uma disciplina e de uma lealdade incompreendida por desleais, chegamos à indisciplina do motim. Ou alguém acha que os de menor patente não sentem que lhes falta comando. Ou alguém acha que um aspirante-a-oficial do Exército está contente, sabendo, pelas tabelas divulgadas pela Internet, que ganha menos do que um soldado (isso mesmo, um soldado) da Polícia Militar de Brasília. Diga-se de passagem, uma boa polícia e paga pelo Governo Federal, o mesmo que remunera o aspirante. Quando o Presidente da República mandou o Ministro do Planejamento e uma funcionária da Casa Civil negociar com controladores amotinados, o Comandante da FAB devia ter saído. Não o fez. Agora, agüente as conseqüências. Quando o Presidente da República exigiu, em curtíssimo prazo, que lhe apresentassem soluções para que não se repetissem os apagões e ninguém lhe deu bola, ele devia ter saído ou exonerado todos os que não obedeceram. Não o fez. Agora, agüente as conseqüências. E o povo? Como a maioria optou pelo desgoverno e pelos escândalos dos primeiros quatro anos petista, agora agüente as conseqüências.

Brasília, DF, 23 de junho de 2007.
Autorizada a reprodução e divulgação, desde que conservado nome do autor

A teoria do canalha

Arnaldo Jabor

'Eu não sou um canalha; eu sou o canalha. Tenho orgulho de minha cara-de-pau, de minha capacidade de sobrevivência, contra todas as intempéries. Enquanto houver 20 mil cargos de confiança no País, eu estarei vivo, enquanto houver autarquias dando empréstimos a fundo perdido, eu estarei firme e forte. Não adianta as CPI's querendo me punir. Eu saio sempre bem. Enquanto houver este bendito código de processo penal, eu sempre renascerei como um rabo de lagartixa, como um retrovírus, fugindo dos antibióticos. Eu sei chorar diante de uma investigação, ostentando arrependimento, usando meus filhos, pais, pátria, tudo para me livrar. Eu declaro com voz serena: 'Tudo isso é uma infâmia de meus inimigos políticos. Eu não me lembro se essa loura de coxas douradas foi minha secretária ou não. Eu explico o Brasil de hoje. Eu tenho 400 anos: avô ladrão, bisavô negreiro e tataravô degredado. Eu tenho raízes, tradição. E eu sou também pós-moderno, sou arte contemporânea: eu encarno a real-politik do crime, a frieza do Eu, a impávida lógica do egoísmo.'

'No imaginário brasileiro, eu tenho algo de heróico. São heranças da colônia, quando era belo roubar a Coroa. Só eu sei do delicioso arrepio de me saber olhado nos restaurantes e bordéis. Homens e mulheres vêem-me com gula: 'Olha, lá vai o canalha...!' - sussurram fascinados por meu cinismo sorridente, os maîtres se arremessando nas churrascarias de Brasília e eu flutuando entre picanhas e chuletas, orgulhoso de minha superioridade sobre o ridículo bom-mocismo dos corretos. Eu defendo a tradição endêmica da escrotidão verde e amarela. Sem mim, ninguém governa, sem uma ponta de sordidez, não há progresso.

'Eu criei o Sistema que, em troca, recria-me persistentemente: meus meneios, seus ademanes, meus galeios foram construindo um emaranhado de instituições que regem o processo do País. Eu sou necessário para mantê-las funcionando. O Brasil precisa de mim.

'Eu tenho um cinismo tão sólido, um rosto tão límpido que me emociono no espelho; chego a convencer a mim mesmo de minha honestidade, ah! ah!... Como é bom negar as obviedades mais sólidas e ver a cara de impotência de inquisidores. E amo a adrenalina que me o acende o sangue quando a mala preta voa em minha direção, cheia de dólares, eu vibro quando vejo os olhos covardes dos juízes me dando ganho de causa, ostentando honestidade, fingindo não perceber minha piscadela maligna e cúmplice na hora da emissão da liminar... Adoro a sensação de me sentir superior aos otários que me compram, aos empreiteiros que me corrompem, eles humilhados em vez de mim.

'Eu sou muito mais complexo que o bom sujeito. O bom é reto, com princípio e fim; eu sou um caleidoscópio, uma constelação.

'Sou mais educativo. O homem de bem é um mistério solene, oculto sob sua gravidade, com cenho franzido, testa pura. O honesto é triste, anda de cabeça baixa, tem úlcera.

'Eu sou uma aula pública. Eu faço mais sucesso com as mulheres. Elas se perdem diante de meu mistério, elas não conseguem prender-me em teias de aranha, eu viro um desafio perpétuo, coisa que elas amam em vez do bondoso chato previsível. A mulher só ama o inconquistável. Eu conheço o deleite de vê-las me olhando como um James Bond do mal, excitadas, pensando nos colares de pérolas ou nos envelopes de euros. Eu desorganizo seu universo mental, muitas vezes elas se vingam de mim depois, me denunciando - claro -, mas só eu sei dos gritos de prazer que lhes proporcionei com as delícias do mal que elas adivinhavam. Eu fascino também os executivos de bem, porque, por mais que eles se esforcem, competentes, dedicados, sempre se sentirão injustiçados por algum patrão ingrato ou por salários insuficientes. Eu, não; eu não espero recompensas, eu me premio. Eu tenho o infinito prazer do plano de ataque, o orgasmo na falcatrua, a adrenalina na apropriação indébita. Eu tenho o orgulho de suportar a culpa, anestesiá-la - suprema inveja dos neuróticos. Eu sempre arranjo uma razão que me explica para mim mesmo. Eu sempre estou certo ou sou vítima de algum mal antigo: uma vingança pela humilhação infantil, pela mãe lavadeira ou prostituta que trabalhou duro para comprar meu diploma falso de advogado.

'Eu posso roubar verbas de cancerosos e chegar feliz em casa e ver meus filhos assistindo desenho na TV. Eu sou bom pai e penso muito no futuro de minha família, que, graças a Deus, está bem. Eu sou fiel a uma mulher só, que vai se consumindo em plásticas e murchando sob pilhas de botox, mas nunca a abandono, apesar das amantes nas lanchas, dos filhos bastardos.

'Eu não sou um malandro - não confundir. O malandro é romântico, boa-praça; eu sou minimalista, seco, mais para poesia concreta do que para o samba-canção. Eu tenho turbocarros, gargalho em Miami e entendo muito de vinho. Sei tudo. Ultimamente, apareceram os canalhas revolucionários, que roubam 'em nome do povo'. Mas eu não. Sou sério, não preciso de uma ideologia que me absolva e justifique. Não sou de esquerda nem de direita, nem porra nenhuma. Eu sou a pasta essencial de que tudo é feito, eu tenho a grandeza da vista curta, o encanto dos interesses mesquinhos, eu tenho a sabedoria dos roedores.

'Eu confio na Justiça cega do País, no manto negro dos desembargadores que sempre me acolherão. Eu sou mais que a verdade; eu sou a realidade. Eu acho a democracia uma delícia. Eu fico protegido por um emaranhado de leis malandras forjadas pelos meus avós. E esses babacas desses jornalistas pensam que adianta essa festa de arromba de grampos e escândalos. Esses shows periódicos dão ao povo apenas a impressão de transparência, têm a vantagem de desviar a atenção para longe das reformas essenciais e mantêm as oligarquias intactas. Este País foi criado na vala entre o público e o privado. Florescem ricos cogumelos na lama das maracutaias. A bosta não produz flores magníficas? Pois é. O que vocês chamam de corrupção, eu chamo de progresso. Eu sou antes de tudo um forte!'

sábado, junho 23, 2007

Pequenas cabeças grandes bobagens

Dora Kramer para Estadão

Ao contrário do que diz o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o mal do Brasil não é a prosperidade. É um governo que pensa pequeno, age pouco e fala muita bobagem.

Acredita na lenda da paz na economia sobre todas as coisas, apóia-se nos dotes artísticos do showman que ocupa a Presidência da República, aposta na gratidão subserviente dos desvalidos, manipula a falta de discernimento e o complexo de culpa dos intelectuais, patrocina a exploração dos financistas, alimenta a ambição dos fisiológicos e toca o baile enquanto o País se afunda em corrupção, insegurança pública, paralisia da infra-estrutura e ausência de gestão.

A crise do setor aéreo não é o problema central. É, antes, o sintoma mais atordoante da inépcia e da indiferença do presidente Luiz Inácio da Silva para com qualquer coisa que não diga respeito à preservação de seu poder político, conduta que contamina sua equipe e faz com que seus ministros e auxiliares em geral vivam imbuídos do mesmo espírito: nada tem importância, só o sucesso do chefe que lhes garante os empregos e lhes assegura o futuro próximo.

Se o presidente pode dizer impunemente, como o fez em seu último programa de rádio, que um país onde há nove meses o sistema aéreo está em pane vive seu melhor momento desde a proclamação da República, o ministro da Fazenda também pode conclamar os cidadãos a festejar seus infortúnios aeroviários como “o preço do sucesso” e da prosperidade. Pagam com humilhação e prejuízos pessoais, mas devem pagar felizes.

Se o ministro da Justiça, Tarso Genro, quando ainda estava nas funções de articulador político, avisava que o governo não teria “pressa neurótica” em resolver o problema da aviação, nada de novo há na previsão feita às margens do Sena pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, de que a crise ainda dura pelo menos mais um ano.

O ministro nem se preocupou em simular preocupação com a demora e aí demonstrou perfeita consonância com a posição da ministra do Turismo, Marta Suplicy, que, antes de ser instada por assessores a corrigir-se, aconselhou faceira os passageiros a relaxarem e aproveitarem o fato de estarem sendo violentados em seus direitos. De ir e vir, como cidadãos, e de garantias sobre serviços comprados, como consumidores.

O antecessor de Marta na pasta do Turismo - aquela responsável por um setor, na visão de Lula, prejudicado pela insistência dos brasileiros de não se comportarem como os povos desenvolvidos, mesmo sendo obrigados a conviver com padrões de submundo - já havia dado sua contribuição ao profícuo embate entre indigentes mentais.

Em março, uma semana antes do apagão total do dia 31, fruto de um acesso de insubordinação avalizado pelo presidente comandante-chefe das Forças Armadas, Walfrido Mares Guia - hoje articulador político - era todo tranqüilidade e desfaçatez. Falava sobre a falta de motivo para o Congresso se envolver no assunto instituindo comissões de inquérito.

“Não temos uma crise no setor aéreo, porque crise é quando você tem uma difícil solução. Nós temos problemas focados, cujas soluções estão em curso”, disse ele, atribuindo os infortúnios à “lei de Murphy” - aos acasos do azar, portanto - e manifestando a mesma convicção do ministro da Fazenda: “As empresas aéreas cresceram, as pessoas estão viajando mais de avião.”

Maravilha. O Brasil, além da jabuticaba, detém mais esta particularidade: a pujança que resulta em escassez. E sob os auspícios entusiasmados de nulidades detentoras de poder público.

Quanto à segurança dos vôos, o presidente da Infraero, José Carlos Pereira, resume o pensamento (?) vivo de nossas loquazes autoridades: “A melhor proteção para um avião não cair é não decolar.”

E quando se resolve tomar uma providência, prendem-se dois controladores de vôo por indisciplina verbal. Mais eficaz seria o confinamento dos oradores que nos falam em nome de um governo cujo atributo mais chamativo é a produção em série de péssimas piadas de salão.

A fada Sininho

Diogo Mainardi


"Quando a bomba dos piratas está para estourar no colo de Lula, aparece Elio Gaspari, batendo as asinhas. Ele carrega a bomba para longe e – bum! – estoura junto com ela, sempre pronto a se sacrificar pela Terra do Nunca"

Peter Pan tem a fada Sininho. Lula tem Elio Gaspari. Elio Gaspari é a fada Sininho de Lula. Quando a bomba dos piratas está para estourar no colo de Lula, providencialmente aparece Elio Gaspari, batendo as asinhas. Ele carrega a bomba para longe e – bum! – estoura junto com ela, sempre pronto a se sacrificar pela Terra do Nunca.

A última bomba que Elio Gaspari afastou de Lula foi Vavá. Num artigo recente, ele ficou vermelho de raiva, como a fada Sininho, e afirmou que Vavá estaria sendo "covardemente linchado porque é irmão do presidente da República". O artigo foi elogiado e reproduzido por todo o agitprop lulista, do site do PT ao blog de José Dirceu. Elio Gaspari argumentou que a meta dos linchadores de Vavá era atingir a jugular de Lula. Para isso, eles o teriam desqualificado como "lambari, deseducado e pé-de-chinelo". Eu entendi direito? Elio Gaspari está dizendo que, quando Lula chamou Vavá de lambari, ele pretendia atingir, na realidade, sua própria jugular? Lula queria dar um golpe nele mesmo?

Elio Gaspari, em seu artigo, garantiu que nenhum governante teve uma família que "veio de origem tão modesta e continuou a viver em padrões tão modestos" quanto Lula. Para que sua tese pudesse vingar, ele relegou marotamente a um mero parêntese o principal caso de sucesso familiar dos da Silva: "(Noves fora o Lulinha da Gamecorp)". De acordo com Elio Gaspari, Vavá é igual a Billy Carter, o caipira alcoólatra que virou lobista do governo líbio e foi usado para atingir seu irmão, Jimmy Carter, o presidente americano que "passará para a história como um exemplo de retidão". Presumo que, para Elio Gaspari, o governo Lula também seja um exemplo de retidão. Noves fora Waldomiro Diniz. Noves fora Delúbio Soares. Noves fora Marcos Valério. Noves fora Duda Mendonça. Noves fora Jorge Lorenzetti.

A imprensa está cheia de gente disposta a se imolar por Lula. Elio Gaspari é melhor do que os demais porque ninguém o associa a Lula, e sim a José Serra. Se ele livra a cara de Vavá, Vavá deve ser inocente, porque Elio Gaspari é serrista. Se ele livra a cara de Freud Godoy, Freud Godoy deve ser inocente, porque Elio Gaspari é serrista. Uma parte da esquerda, representada por Elio Gaspari, acredita que o melhor para o país é uma espécie de compromisso histórico entre PT e PSDB, como se os dois partidos saqueassem menos do que PMDB e DEM. Para que o compromisso histórico se realize, é necessário salvaguardar Lula.

Poucos dias depois de denunciar o linchamento de Vavá, Elio Gaspari apresentou mais uma teoria estapafúrdia. Ele defendeu que, "se a prisão de um compadre do presidente é recebida pela sociedade como um indicador de que a roubalheira aumentou, aumentará a roubalheira". Sim: Elio Gaspari está atribuindo a roubalheira a quem protesta contra Lula. O pior é que ele faz isso baseado no caso de Hong Kong. Em 1974, Hong Kong criou uma agência independente, com poderes draconianos, para perseguir a roubalheira estatal. Deu certo. Muitos corruptos foram descobertos. Muitos corruptos foram presos. É um modelo a ser imitado. Pena que a fada Sininho do lulismo esteja em outra. Ela só quer salvar Peter Pan. Bum!

quinta-feira, junho 21, 2007

BARÕES E LADRÕES

O presidente da República, sua cúpula governamental, os integrantes da mais alta hierarquia de seu partido, o PT, têm sempre um álibi quando a corrupção vem à tona envolvendo compadres e companheiros mais chegados: “Isto sempre existiu no Brasil”. E, esquecidos da promessa de que viriam para acabar com a devassidão pública por serem o único partido ético, justificam seus delitos invocando os do governo anterior, sejam eles falcatruas inventadas ou reais. No poder, finalmente, o PT conclui que, se todo mundo faz não tem importância fazer também, e que a hora é de aproveitar e ir à forra. Assim, a classe dominante foi ao paraíso, inclusive, aos paraísos fiscais, como ilustrou Duda Mendonça em pleno Congresso Nacional ao depor numa daquelas CPIs, as famosas Comissões que fazem muito barulho por nada.

É verdade que a corrupção é nossa antiga companheira. Faz parte de nosso tecido social desde os primórdios coloniais. E, conforme escrevi em um dos meus livros, América Latina – Em Busca do Paraíso Perdido, referindo-me à vinda da corte para cá, “em 1808, instalaram-se de uma vez por todas nestas plagas as características do Estado português, que em terra nova não perderia sua tradicional essência patrimonialista. Segundo Raymundo Faoro, em Os Donos do Poder: ‘Os reis portugueses governavam o reino como a própria casa, não distinguindo o tesouro pessoal do patrimônio público’. Era também um Estado corrupto na medida em que para tudo se dependia dele, do seu excessivo quadro de funcionários, da morosidade típica da burocracia, correndo soltas as propinas para aligeirar licenças, fornecimentos, processos, despachos, etc. Em toda parte das entranhas do desajeitado e ineficiente Leviatã conduzido por D. João VI, traficava-se influência, negociava-se a coisa pública em proveito próprio”.

Em artigo no Caderno Mais, da Folha de São Paulo, de 03/06/2007, a historiadora Isabel Lustosa mostra exemplo de grande corrupto na pessoa de Francisco Bento Maria Targini, visconde de São Lourenço, Tesoureiro-mor de D.João VI. A Targini foi dedicada a significativa quadrinha: “Quem furta pouco é ladrão/quem furta muito é barão/quem mais furta e mais esconde/passa de barão a visconde”. Isabel se refere também aos “pequenos corruptos, incultos e quase analfabetos, como o barbeiro Plácido”.

Do Império até os dias de hoje, “barões” e ladrões continuam a praticar a corrupção favorecidos pela impunidade, pelo Estado patrimonialista e excessivamente burocratizado, pela ausência de cultura cívica, pela plasticidade moral do brasileiro.

Entretanto, como gosta de dizer o presidente da República, “nunca, antes, nesse país”, se viu uma profusão tal de Targinis, de “barões”, de ladrões que se espalham por todos os Poderes Constituídos, que se esparramam pelas instituições, que usufruem da intimidade do “rei”. Quando se pensa que chegamos ao fundo, que neste governo começou a ser cavado por Waldomiro Diniz, os escândalos se multiplicam, assim como as inúteis CPIs e as espetaculares operações da Polícia Federal que expõem a podridão moral da coisa pública. Os casos escabrosos são tantos e tantos os personagens neles envolvidos, que a opinião pública vai sendo anestesiada e, numa inversão de valores, passa a conceber o que era errado como certo. Na esteira dos acontecimentos sobrepõe-se de tal modo os Targini, que vai se apagando da memória coletiva até as mais recentes personagens envolvidas na rapinagem. Diante da operação Xeque Mate, que comprometeu irmãos do presidente da República, vão caindo no esquecimento as “façanhas” de companheiros e compadres presidenciais como José Dirceu, Antonio Palocci, Luiz Gushiken, Delúbio Soares, José Genoino, Paulo Okamoto, Osvaldo Bargas. Jorge Lorenzetti, Freud Godoy e tantos outros. Até Zuleido e Renan Calheiros vão escapando pela fresta da amnésia popular. Aos brasileiros mais conscientes e atilados fica a impressão de que o governo ora em curso é uma mistura de máfia, circo e bordel.

É verdade que desde que o ex-deputado Roberto Jefferson tocou sua “trombeta de Jericó”, derrubando até o todo-poderoso José Dirceu, nunca, antes, nesse país tinham vindo à tona tantos “barões”. Mas, proporcionalmente, nunca houve tanta impunidade, pois os Targini continuam livres, leves e soltos. São muitas ações e poucas condenações. Muitas CPIs e raríssimas cassações de mandatos.

Em meio à sordidez reinante, sobrepõe-se emblematicamente, como o barbeiro redivivo do Império, o irmão dileto do presidente da República, Genival Inácio da Silva, vulgo Vavá, a quem Roberto Jefferson certamente chamaria de “petequeiro”, pois o bondoso mano oferece malandramente por pequenas quantias, até aos compadres do submundo do crime, seus serviços que não são entregues. Seria ele também ‘a cara do povo”? Pode ser. Afinal, não é o próprio povo que escolhe malandros, trambiqueiros e mafiosos para representá-lo? Portanto, não há do que se queixar. Nem mesmo do prejuízo anual de R$ 40 bi que a corrupção causa ao país.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br

domingo, junho 17, 2007

A vaca do Renan no Flor do Lavradio

- Eu quero a vaca do Renan!

Apolônio, o indignado, entrou berrando no Flor do Lavradio, para espanto do Seu Manuel que cortava uns limões no balcão, de Rosalvo, o despreocupado, que saboreava uns risoles de camarão da Otília, de Fefeu, o Filósofo, e de Harald Magnussen, Magu, o jornalista sueco que faz do botequim o seu escritório. Ninguem entendeu.

- Vem cá, Apolônio, você está se referindo à "gestante"? - perguntou Fefeu.

- Que "gestante" que nada, estou me referindo a gado mesmo. O Renan é um gênio da pecuária, ele vende gado em Alagoas por um preço muito acima do conseguido pelos pecuaristas paulistas e, além disso, inventou a vaca fria, todos os recibos de venda são gelados. É melhor que plataforma de petróleo! E como se não bastasse, 86% de suas vacas emprenharam e pariram 751 bezerros em um ano, uma façanha, um recorde não alcançado nem mesmo por ranchos do Texas, usando inseminação artificial e alta tecnologia...

- Ué, mas há alguns dias o administrador não disse aos jornalistas que o gado do Renan não cobria nem as despesas da fazenda? - lembrou Fefeu.

- Vai ver o Renan tem um monte de "gestantes", o homem é uma fera, não usa camisinha e por R$ 16 mil a cada "bezerro", haja vaca... Mais um chope aqui, Seu Manuel - emendou Rosalvo, com ar malicioso.

- Pois é, e o homem quer ser absolvido e arquivado sem qualquer exame das acusações, apesar de ter as suas despesas de pensão com a "gestante" pagas por um lobista da Mendes Júnior, de ter ligações com o cleptobudista Zuleido Veras e de ter fazendas em nome de laranjas, acusação que nega com a mesma cara-de-pau do Maluf quando diz que não tem contas no exterior. Os seus "juízes", Tumão, Sibá e Cafeteira, já deixaram claro que amam Renan de paixão e farão o impossível para evitar que a vaca dele vá pro brejo... - disse Apolônio.

- Tudo mui amigo... - brincou Rosalvo.

- Aliás, em matéria de amigo, esse pessoal do governo tem amigos, ah!, isso tem! Vejam o Paulo Okamoto, que pagou uma dívida de R$ 29 mil do presidente e nem pensou em cobrar; agora é o ex-governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares, acusado por Ricardo Murad, de morar num apartamento de padrão superior a seus rendimentos e que teria sido reformado por R$ 800 mil. Murad, o acusador, vem a ser cunhado da Roseana e irmão daquele outro que vendia casas na planta e exigia pagamento cash e sem recibo, juntando uma montanha de dinheiro em seu escritório, lembram? - continuou Apolônio.

- Sim... escândalo velho esse, mas o que tem a ver com amigos? - perguntou Fefeu.

- É que o Zé Reinaldo garante que o apartamento não é dele, é de um amigo de infância, Mauro Fecury, que mandou restaurar e mobiliar de forma luxuosa apenas para emprestá-lo ao amigo sem cobrar nada, aliás o próprio Luiz Inácio não morava, de graça, no apê de um compadre? - explicou e perguntou Apolônio.

- Puxa, que bonito, que despreendimento, estou quase às lágrimas, ninguém me arranja um amigo do peito assim - queixou-se Rosalvo, fazendo cara de choro.

- Aliás, não faltam "amigos dos amigos" nessa história toda - emendou Fefeu - uma mão lava a outra.

- E todos riem da gente, até quando? - perguntou Apolônio, zangado.

- Relaxa e goza, meurmão - gozou Rosalvo.

- E por que ninguém apela para a Justiça? - interveio Magu, que até ali estivera calado, com ar abobalhado e parecia não estar entendendo nada do que ouvia.

Nem o Seu Manuel conseguiu segurar a gargalhada estrondosa em que o botequim explodiu...

Fritz Utzeri - JB

Reage, Brasil!

por PEDRO SIMON

Não creio que as mudanças venham de dentro para fora. Daí a conclamação. Que o povo brasileiro ocupe as ruas e exija mudanças de atitude


EU TIVE o cuidado, nesses dias, de reler os meus pronunciamentos, nos últimos 15 anos, sobre corrupção e desvios de recursos públicos. Fiquei, primeiramente, impressionado com a quantidade. Mas o que mais me impressionou nessa minha volta a um passado não tão recente é a atualidade de todos os meus discursos. Eu poderia escolher, aleatoriamente, qualquer um deles e repeti-lo, hoje. Mudaria o nome da operação da Polícia Federal ou o da CPI. O dos atores envolvidos, nem sempre.
Imagine a implantação, como eu defendi, já em 1995, da chamada CPI dos Corruptores. Na verdade, ela se confundia com uma CPI das Empreiteiras, tão reclamada agora. A comissão morreu no nascedouro, pela falta de vontade dos partidos e dos líderes partidários de investigar os desvios que, já então, povoavam a imprensa.
Se ela se concretizasse, não haveria hoje, quem sabe, necessidade da Operação Navalha, nem da Xeque-Mate, nem das outras operações e CPIs anteriores, como a dos Sanguessugas, a das Ambulâncias, a do Mensalão, a dos Correios, a Furacão, a Gafanhoto, a Matusalém, a Anaconda e tantas outras, com suas respectivas e criativas nomenclaturas.
Não sei quantas operações ainda virão. Nem como se chamarão. Nem quantas CPIs ainda se instalarão. Nem como se comportarão. Espero que não se esgote a criatividade da PF. Nem as minhas esperanças.
Não tenho nenhuma expectativa de que as mudanças que a população tanto reclama, em termos de valores e referências, venha a ser concretizada de dentro para fora. As últimas pesquisas de opinião pública dão conta de que essa mesma população também não acredita mais nas suas instituições públicas. É que nunca, em nenhum momento da nossa história política, os três Poderes da República estiveram tão contaminados pela corrupção. Há um poder paralelo, que se entranha no Congresso, no Executivo e no Judiciário, que faz com que as instituições públicas percam a legitimidade diante da sociedade civil.
É por isso que, apesar das nossas melhores intenções, não há que esperar, a partir do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, pelo menos no curto prazo, as mudanças políticas, obviamente no espaço democrático, que a sociedade tanto reclama.
Ocorre que a realidade brasileira, hoje, tamanha a barbárie, não pode esperar mudanças além do curto prazo. E, aí, há que ter uma imensa mobilização de fora para dentro.
É preciso que o povo seja, de fato, senhor da história. Sujeito, e não objeto. É preciso que a sociedade brasileira volte a exercitar a força das ruas.
Um movimento, que poderia orientar-se sob o lema "Reage, Brasil". Ora, um país com tantas e tamanhas riquezas como o nosso não pode permanecer mergulhado na barbárie.
Não pode conviver com a corrupção, com a miséria e a pobreza, com a violência, com o analfabetismo e com tão precárias condições de vida.
Por isso, a conclamação. Que a população brasileira ocupe, de novo, de maneira pacífica e democrática, as ruas e exija mudanças de atitude dos gestores da coisa pública, em todos os níveis. Que reclame por uma reforma política que legitime, verdadeiramente, as suas instituições democráticas.
Que imponha o término da corrupção. Que obrigue o fim da impunidade, principalmente para quem se locupleta com o sagrado dinheiro público. Que reconstrua um Estado em novas bases, verdadeiramente voltado para a democracia, a soberania e a cidadania. E que as leis busquem, de fato, o interesse coletivo, e não a sanha perversa de alguns. E que todos sejam iguais perante a lei, como determina a nossa Constituição Federal.
Ainda está presente na nossa memória o movimento das Diretas-Já, que marcou um dos momentos mais sublimes da nossa história e deu suporte para a abertura política e o resgate das liberdades democráticas.
Quem não se lembra dos jovens caras-pintadas, movimento que também ocupou as ruas de todo o país na luta contra a corrupção? Quem não se lembra de tantos outros momentos em que a sociedade ditou, verdadeiramente, os melhores rumos para a construção da história do país?
É hora de a sociedade organizada reagir. A partir dos movimentos das igrejas, das escolas, das famílias, dos sindicatos, das organizações de classe. Reagir, em todos os sentidos da palavra e da ação: de demonstrar reação, de protestar, de se opor, de lutar, de resistir. De agir, de novo.
A decência vai aonde o povo está.

PEDRO SIMON , 77, advogado, é senador da República pelo PMDB-RS. Foi líder do governo no Senado Federal (governo Itamar Franco), governador do Rio Grande do Sul (1987-91) e ministro da Agricultura (governo Sarney).

sábado, junho 16, 2007

A mão que afaga é a mesma que apedreja!

por Graça Salgueiro em 14 de junho de 2007

Resumo: As operações espetaculares movidas pelo governo que atingem empresários e políticos não se repetem quando se trata de combater a presença e atuação de organizações criminosas internacionais no Brasil, como as FARC.
© 2007 MidiaSemMascara.org


O Departamento de Polícia Federal vem realizando um trabalho extraordinário de desbaratar quadrilhas, sonegadores de impostos, contrabandistas e mafiosos de todos os tipos. Segundo o site oficial do PT, em matéria veiculada em 25 de maio p.p., a PF prendeu 5 mil pessoas desde 2003, sendo mil funcionários públicos.

De fato, temos visto as espetaculosas batidas e apreensões do respeitado órgão, sobretudo a realizada na elegante loja Daslu, com direito a helicópteros, holofotes, ação e uma muito ciosa de seu dever de informar, Rede Globo de Televisão, dando ampla cobertura ao evento. Vimos também as operações Navalha, Furacão, Vampiro, Anaconda, Sanguessuga, Themis e finalmente a Xeque-Mate que envolve até o irmão do presidente Lula, o Vavá. Todas muito bem realizadas e edificantes para o país, afinal, lugar de bandido é na cadeia.

Segundo esta mesma matéria do site do PT, “Desde 2003, a PF prendeu cerca de mil servidores e ex-servidores públicos suspeitos de corrupção: parlamentares, magistrados, procuradores e funcionários do Executivo federal, estadual e municipal, incluindo prefeitos e governadores, entre outros. Ao todo, 350 operações resultaram na prisão de mais de 5 mil pessoas, segundo dados da PF”.

“No período em questão, 2006 foi o ano com o maior número de operações: 167, que levaram cerca de 2,5 mil pessoas para a cadeia – mais de dez vezes mais que em 2003, quando 223 suspeitos foram detidos em 16 ações. Nos quase cinco meses de 2007, já houve 61 operações e cerca de 880 prisões (incluindo a Navalha)”. Fantástico! Entretanto, o site não informa que os “presos” em tantas operações esquentam os bancos das delegacias e penitenciárias por não mais que 72 horas, sobretudo os parlamentares, que continuam exibindo-se lépidos e fagueiros, rindo da cara do povo, conforme todo o país presencia através dos noticiários de televisão. A Polícia prende e a Justiça solta.

No dia 28 de maio, com informações da Agência Brasil, leio que a PF inicia uma nova operação denominada “Operação Ouro Negro” (que apesar do nome não tem nada a ver com o petróleo) cujas investigações começaram em outubro de 2005, tendo como alvo uma quadrilha de contrabandistas que atuava na fronteira com o Paraguai. Na operação foram apreendidos R$ 2,3 milhões em mercadorias que eram escondidas em fundos falsos de bolsas e transportadas através de barcos e balsas até o porto brasileiro. A nota não diz que tipo de mercadoria foi apreendida mas presumo que não foram armas, senão teriam citado textualmente. Nesta operação já foram presas 22 pessoas, segundo informa a PF.

É necessário que a sociedade veja que este governo trabalha em prol da ética, da moralidade e do combate à sonegação e à corrupção desenfreada que assolam o país, e a PF tem contribuído de forma nunca dantes vista ou imaginada pelo cidadão brasileiro. Mas eu não quero me ater a essas conhecidas operações porque toda a mídia nacional e internacional está dando ampla cobertura e seria repetitivo reportar-me a elas também.

Quero falar de “outras” operações que são interrompidas e graciosamente silenciadas porque, enquanto o povão se entretém (há quem se divirta esperando a próxima fofoca ou golpe) com a podridão diária despejada nas telas da tv, criminosos terroristas das FARC passeiam livres em nosso solo pátrio com o conhecimento desta mesma PF, dos órgãos de Inteligência e do Governo Federal que apedrejam sonegadores, estelionatários, bicheiros, bingueiros etc., enquanto afagam e dão asilo político a criminosos de alta periculosidade como são os integrantes das FARC.

As histórias são antigas. No dia 30 de outubro de 2005, o jornal Correio Braziliense publicou uma longa matéria sobre a atuação das FARC em território brasileiro que foi posteriormente divulgada no site do Ministério das Relações Exteriores[¹]. A matéria dá conta de que este bando narco-terrorista dá cursos de treinamento de guerrilha urbana e rural a elementos do MST e que “Relatórios sigilosos em poder de autoridades brasileiras e paraguaias registram a ocorrência de pelo menos três cursos sobre técnicas de guerrilhas destinados a brasileiros, realizados este ano – em maio, julho e agosto – na região de Pindoty Porã, departamento de Canindeyú, no Paraguai, cidade fronteira com o Mato Grosso do Sul e o Paraná”. Mais adiante diz a matéria: “Os relatórios trocados entre Brasil e Paraguai garantem existir grande interesse das FARC em brasileiros, que nos últimos anos têm sido parceiros da guerrilha em atividades ilícitas como o tráfico de drogas e de armas. Eles confirmam também que os cursos ministrados pelas FARC são destinados a entidades civis organizadas e citam nominalmente o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Nos documentos existem fartas informações sobre os instrutores dos treinamentos, que se escondem sob o manto de codinomes” (Grifos meus). Entretanto, o Governo do Sr. Lula confraterniza, recebe em Palácio, inclusive usando o boné, continua passando a mão pela cabeça e oferecendo quantias milionárias a uma entidade que, por esperteza ou má fé calculada, não existe juridicamente e por isso não é punida por seus incontáveis crimes, inclusive de morte.

No dia 25 de julho de 2006, novamente o Correio Braziliense[²] publica uma matéria sobre as FARC e suas atividades ilícitas no Brasil, inclusive com provas documentais da presença do “novo” chanceler, considerando que naquela ocasião o então porta-voz para o Cone Sul, Francisco Cadena Collazos, conhecido como “padre” Oliverio Medina encontrava-se preso na Superintendência da Polícia Federal em Brasília.

Orlay Jurado Palomino, conhecido como Comandante Hermes, passou a ser o chanceler preenchendo as vagas deixadas pelo pseudo-padre Oliverio Medina e por Rodrigo Granda, detido em 2004 na Venezuela e extraditado para a Colômbia. Segundo um agente colombiano, Hermes era “o braço direito de Granda”. Hermes vive em São Paulo e se movimenta livremente entre Brasil, Paraguai, Venezuela e Argentina e foi acusado de participar do seqüestro e assassinato de Cecília Cubas em março de 2005, depois de 6 meses de cativeiro, filha do ex-presidente do Paraguai, Raúl Cubas.

Oliverio Medina recebeu do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), órgão pertencente ao Ministério da Justiça, o status de refugiado político, mesmo não satisfazendo uma cláusula constante do Art. 3º da Lei 9.474 de julho de 1997, que diz: “Não se beneficiarão da condição de refugiado os indivíduos que tenham cometido crime contra a paz, crime de guerra, crime contra a humanidade, crime hediondo, participado de atos terroristas ou tráfico de drogas”. Medina é acusado em seu país (Colômbia) de ter comandado ataque a uma unidade do Exército em 1991, ocasião em que dois militares foram mortos e outros 17 seqüestrados, por terrorismo, assassinato, seqüestro e extorsão, portanto, não poderia ter recebido o status, conforme prevê o Estatuto do próprio órgão que o concedeu, o CONARE.

Muito esperto, Oliverio Medina escreve uma carta ao CONARE[³] prometendo romper suas relações com as FARC. Em carta de próprio punho, entregue em sigilo ao CONARE, Oliverio Medina garantiu que não fará mais contato com a guerrilha e se manterá afastado de qualquer questão envolvendo o conflito armado em seu país, afirmando que, a partir de agora, “seu único desejo seria lutar pela família”, uma vez que é casado com uma brasileira com quem tem uma filha de 3 anos. O “gesto” comoveu os membros do CONARE que concederam o refúgio no dia 14 de julho de 2006, por seis votos contra um e em 21 de março de 2007, foi finalmente liberado da prisão. Vale salientar que, historicamente, todos os guerrilheiros (ou agentes de serviços secretos comunistas – vejam o caso do ex-agente da KGB assassinado ano passado em Londres) que tentaram abandonar a guerrilha por vontade própria foram “justiçados”, ou seja, assassinados, para que mais adiante não revelassem segredos da organização, como ocorreu com os guerrilheiros do Araguaia e com Marcio Leite Toledo, da ALN.

Entretanto, no computador de Oliverio Medina os agentes da PF encontraram mensagens endereçadas por ele aos Comandantes Hermes, Raúl Reyes e Rodrigo Granda, cappos das FARC, em que Medina relata em 24 de março de 2004 o encontro que tivera com líderes do partido Pátria Libre (PL) do Paraguai que ele chama de “cuenta chistes” (contador de piadas), em Brasília, para traçar os planos do seqüestro e assassinato de Cecília Cubas.

No fac-símile do jornal pode-se ler a mensagem que reproduzo (traduzida):

“Camaradas Raúl, Ricardo e Hermes, saudação comunista para todos.

Tive uma reunião com o “cuenta chistes” em Brasília. Consultados sobre as condições no Paraguai para a estadia de um camarada nosso, (que sabemos será o Camarada Hermes) me disseram que iam estudá-las cuidadosamente”.






Trechos de e-mail trocados entre Hermes, Rodrigo Granda (que aparece como Ricardo) e Raúl Reys, e outro do Oliverio Medina.

Medina anexa uma carta às FARC assinada por Juan Arrom (secretário-geral do PL), Anuncio Martí e Victor Colman, que estão vivendo sob asilo político no Brasil desde 2003. Em 12 de julho Granda avisou a Raúl Reyes que o planejamento do seqüestro de Cecilia Cubas estava pronto, acrescentando que Hermes faria a inspeção do cativeiro e daria dicas sobre “a melhor maneira de negociar e cobrar” e que depois “poderia voltar ao Brasil”. Quer dizer, um seqüestro (com extorsão de US$ 800 mil que foi pago pela família), seguido de morte e ocultamento de cadáver foi planejado em território nacional brasileiro, com o apoio e conivência de Oliverio Medina que primeiro recebe o indulto como “refugiado político” e depois a liberdade total, com o apoio da CNBB, do PT, do PSB, do PcdoB e a conivência até do Supremo Tribunal Federal e tudo isto com o conhecimento da PF!



Cópia da carteira de identidade falsa equatoriana usada pelo Comandante Hermes e apreendida pela PF.
Como se não bastasse, segundo informa o Correio Braziliense, a Polícia Federal segue os passos do Comandante Hermes desde abril de 2006, sabe que ele vive em São Paulo, tem cópia de sua carteira de identidade falsa, como equatoriano (ver foto) mas: aonde está este guerrilheiro hoje? Atrás das grades? Foi deportado para a Colômbia? Por que a PF ainda não divulgou para a imprensa a captura e prisão deste guerrilheiro assassino? Por que estas informações não são dadas ao povo brasileiro mas apenas as que envolvem compras de votos e consciências, casos de adultério de parlamentares, corrupção banal? A ABIN tem conhecimento disto, o Ministério das Relações Exteriores tem conhecimento disto, o Departamento de Polícia Federal tem conhecimento disto e, por extensão, o Ministério da Justiça tem conhecimento disto, o Exército Brasileiro também tem conhecimento disto, como provam os links onde tais matérias foram reproduzidas, mas, por que o povo brasileiro não sabe nem pode saber destes crimes que são cometidos dentro do seu próprio país e contra ele próprio, e porquê nada se faz contra estes criminosos?

Porque o presidente Lula e seu partido são amigos e parceiros das FARC através do Foro de São Paulo do qual são membros e porque o PT do sr. Lula comprometeu-se com o Foro de São Paulo, assinando uma resolução, a considerar como “terrorismo de Estado” não os crimes praticados pelas FARC, mas todo aquele (povo ou Governo) que se opuser às suas ações criminosas. Querem a prova disto? Na reeleição do sr. Lula, Raúl Reyes, um dos cappos das FARC, enviou uma saudação da qual destacamos alguns trechos: “(...) Laços históricos nos unem ao povo brasileiro”. (...) “Aproveitando este momento singular e histórico que estão vivendo o Governo e o Povo do Brasil, manifestamos-lhe a disposição de nos mantermos abraçados em nossa Política de Fronteiras...” (...) “Para o qual queremos contar com o apoio do Governo e do Povo do Brasil...” ( http://www.farcep.org/?node=2,2428,1).

Querem a prova de que as FARC são membros fundadores do Foro de São Paulo e continuam pertencentes até hoje? No XII Encontro do Foro de São Paulo, ocorrido em 16 de janeiro deste ano em El Salvador, Raúl Reyes envia uma carta de saudação e reafirma sua pertinência até a presente data. Alguns trechos da carta: “(...) Companheiros e companheiras delegados e delegadas do XII Foro, recebam nossa carinhosa e bolivariana saudação, muitos êxitos em suas deliberações”. “(...) Por não podermos estar presentes em tão importante evento entregamos a vocês este documento com nossos pontos de vista, e agradecemos de antemão tê-lo em conta nas deliberações”. “(...) Cremos oportuno manifestar nossa inquietação e desagrado pela posição de alguns companheiros que de forma e sob responsabilidade pessoal, dizem publicamente que as FARC não podem participar do Foro por ser uma organização alçada em armas”. (...) “Aos companheiros que pensam que não podemos participar, fraternalmente os convidamos a que nos acompanhem...” ( http://www.farcep.org/?node=2,2513,1).

Em 26 de março de 2007, as FARC dizem que “esperam de Lula e de Chávez o reconhecimento e ajuda na organização guerrilheira”. “... esses dois ilustres presidentes não só podem nos ajudar, podem fazer muito mais que isso. São governos que, de maneira soberana, podem reconhecer em um dado momento que em um determinado país surgiu uma nova realidade política” ( http://www.eldiarioexterior.com/noticia.asp?idarticulo=13643).

E, finalmente, em 30 de abril de 2007, Raúl Reyes escreve uma “Carta Aberta” endereçada ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), à Comissão Brasileira de Justiça e Paz, aos ilustres Ministros do Supremo Tribunal Federal e à Procuradoria Geral da República para agradecer pela liberação de Oliverio Medina. Diz ele: “Com alegria recebemos e aplaudimos a liberação do padre Oliverio Medina no passado 21 de março, quando na magna Audiência o Ilustríssimo Supremo Tribunal declarou extinto o processo de Extradição que havia contra ele, em uma histórica votação de nove a um”. (...) “Em tal Audiência brilharam o decoro e o respeito com que são acatados os Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário; a soberania na tomada de decisões; o sentido de justiça em defesa da vida,...” ( http://www.farcep.org/?node=2,2852,1).

Ficou claro porquê nosso maior problema, que envolve a gravíssima questão do narcotráfico que tem levado à morte 50 mil brasileiros por ano é encoberto do público, quando não jogado para baixo do tapete? Ficou claro porque a PF não pode agir com independência e corretamente para acabar com a criminalidade que envolve traficantes dos bandos PCC, CV, MST e assemelhados? Há profissionais competentes e que honram seus distintivos na PF e na ABIN mas há também muitos a serviço do Partido-Estado e não da Nação, além de a maioria estar de mãos atadas porque, em última instância, obedecem ordens diretas do ministro da Justiça, antes o sr. Márcio Tomás Bastos e agora o sr. Tarso Genro, o primeiro simpático aos comunistas e o segundo trotskista membro do PT, portanto, também signatário das deliberações do Foro de São Paulo.

Não me interessam as falcatruas de políticos com empreiteiras, ou filhos adúlteros de parlamentares mas sim, quando a Polícia Federal vai prender os terroristas das FARC comodamente instalados em nosso país. Este sim, é o nosso maior e mais grave problema e o povo brasileiro não pode mais continuar na ignorância, sendo ludibriado com cortinas de fumaça enquanto o crime prospera impune debaixo do seu nariz.

NOTAS:

1. Matéria do Correio Braziliense só disponível para assinantes, reproduzida pelo site do Ministério das Relações Exteriores http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=176513

2. O link que levava ao jornal Correio Braziliense só está acessível para assinantes, porém a matéria foi reproduzida no site do Ministério das Relações Exteriores http://www.mre.gov.br/portugues/noticiario/nacional/selecao_detalhe.asp?ID_RESENHA=247097 e também no site do Exército Brasileiro http://www.exercito.gov.br/resenha/resenha%20anterior%20word/julho/resenha%2025%20Jul%2006.doc .

3. A matéria relativa a esta declaração pode ser lida no site do Departamento de Polícia Federal, Divisão de Comunicação Social do DPF http://www.dpf.gov.br/DCS/clipping/2006/Julho/27-07-2006NAC.htm e também no site do EB http://www.exercito.gov.br/resenha/resenha%20anterior%20word/julho/resenha%2027%20Jul%2006.doc , uma vez que pelo site do Correio Braziliense só está acessível a assinantes do mesmo.
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Graça Salgueiro é jornalista independente, estudiosa do Foro de São Paulo e do regime castro-comunista e de seus avanços na América Latina, especialmente em Cuba, Venezuela, Argentina e Brasil. É articulista do Mídia Sem Máscara, onde também colabora como tradutora e revisora, correspondente brasileira do site La Historia Paralela da Argentina, articulista do jornal "Inconfidência" de Belo Horizonte e proprietária do blog Notalatina.

O espelho trincou

O senador Renan Calheiros já tem quase três décadas de vida pública. Em 1978, venceu sua primeira eleição para deputado estadual em Alagoas. É um político hábil. Já foi líder de governo, já foi ministro e hoje preside o Senado. No escândalo de suas relações promíscuas com um lobista de empreiteira, ele tem dado mostras evidentes de seu talento político: o Senado, não todo, mas quase todo, está francamente a seu favor. É bem verdade que boa parte desses senadores age assim por medo. Medo de Renan Calheiros porque ele já foi ministro da Justiça e, como tal, mandava na Polícia Federal. Os senadores, por alguma razão inexplicável, costumam ter medo da Polícia Federal. Não todos, mas quase todos da tropa de choque de Renan.
Também é verdade que esses senadores protegem Renan por um verdadeiro sentimento de solidariedade. Coisa real, autêntica. De irmão para irmão. A melhor definição para essa irmandade foi dada por um senador, nordestino e veterano em política, que infelizmente pede para não ser identificado. Ele diz: "O problema é que quase todos os senadores têm sua Mônica e seu Zuleido". Mas, ignoremos as amantes e os empreiteiros e reconheçamos que o comportamento bovinamente indecente da maioria dos senadores resulta do brilho, do talento, da habilidade política de Renan.

Pois não é que, com três décadas de vida pública, Renan está caindo numa armadilha criada por ele mesmo? Desde o início do Renangate, o senador adotou a tática do espelho, que consiste em usar a imagem refletida, que é sempre o inverso do real. Então, tudo o que o senador aparenta, tudo o que diz, tudo o que alega, é na verdade o seu exato oposto. Primeiro, tentou vender a idéia de que a imprensa invadiu sua vida privada, mas era o próprio senador que, ao expor sua vida pessoal para nela escudar-se, invadiu a vida pública. Depois, seguindo na tática do espelho, tentou dizer que as denúncias que o fazem sangrar são um ataque ao Senado, mas era o contrário: o senador é que, sangrando na cadeira de presidente, era, ele mesmo, um ataque à instituição.

Com suas atitudes espelhadas, Renan está tentando escapar da guilhotina. Tem todo o direito de fazê-lo. Se colar, colou. A maioria dos senadores reza para que cole. O único problema é que o espelho começou a trincar. VEJA mostrou que suas contas não fecham. O Jornal Nacional mostrou que suas vendas de boi não batem. Cada explicação do senador precisa de outra explicação, que logo requer uma terceira, formando um incessante conjunto de explicações sobre coisas que só podem ser inexplicáveis.

Para os senadores, para aqueles que têm Mônica, Zuleido e medo, não haveria incômodo em deixar Renan se explicando pela eternidade. O problema é que, ao confundir o público com o privado, ao confundir sua figura pessoal com a imagem do Senado, Renan, com seu naufrágio, está afundando o próprio Senado. É coisa séria. Não é o mandato de um senador que entra em jogo, mas o papel de uma instituição. Diante disso, Renan, com seu brilho, seu talento, sua habilidade política, deveria pedir licença do Senado. Entregaria a presidência ao sucessor, teria todo o tempo do mundo para preparar uma explicação – uma só – e evitaria que o Senado perdesse o que ainda lhe resta de credibilidade e respeito. Vamos lá, Renan, salve o Senado!

André Petry

Mainard e Gil

Para o Gil, aquele abraço

"Gilberto Gil me considera o Vavá da imprensa.
Ele declarou à Playboy que me acha 'bonito, mesmo dizendo essas coisas todas'. Para
Gilberto, sou inimputável como Vavá. Só para terminar: o que eu mais aprecio em Gilberto Gil também é seu aspecto físico
"

Gilberto Gil me considera o Vavá da imprensa. Ele declarou à Playboy que me assiste todo domingo no Manhattan Connection, porque me acha "bonito (risos), mesmo dizendo essas coisas todas". Para Gilberto Gil, sou inimputável como Vavá. Ninguém pode me responsabilizar pelo que eu digo. Sou apenas, como já cantou o ministro, um "moreno com os olhinhos brilhando", um "bezerrinho", um "homem de Neandertal" de "porte esperto, delgado".

– Empresta dois milhão para mim?

Se Vavá é o Mainardi do lobismo lulista, se ele é o "bocadinho de amor" dos bingueiros de Campo Grande, se sua falta de cultura é usada como um salvo-conduto para livrá-lo da cadeia, suspeito que o fino intelectual do bando seja o compadre de Lula, Dario Morelli Filho. Ele deu uma amostra de sua sagacidade argumentativa num telefonema grampeado para o bingueiro Nilton Servo:

– Quando começa a morrer juiz, todo mundo fica preocupado. Mas não tem uns que têm que morrer mesmo?

Sei perfeitamente que, com meu "corpo eterno e nobre de um rei nagô", eu poderia parar de me importunar com assuntos desse tipo, mas sempre me espanto com as estratégias de acobertamento da imprensa lulista. VEJA noticiou que Vavá levou um empresário ao Palácio do Planalto em 19 de outubro de 2005. Três semanas depois, a IstoÉ Dinheiro fez uma reportagem de capa sobre "O drama da família Lula da Silva", em que os parentes do presidente atribuíam a parada cardíaca de Vavá às denúncias contra ele. Na reportagem, Frei Chico defendia o irmão lobista da seguinte maneira:

– O Vavá sempre foi uma espécie de assistente social não remunerado. Ele procurou ajudar as pessoas. Está na cara que ele nunca levou vantagem desses empresários.

Frei Chico usa o codinome Roberto em seus telefonemas para Vavá. Vavá fala sobre máquinas de terraplanagem com o presidente da República. E o "filho do homem" é uma figura recorrente nas conversas dos bingueiros. Trata-se daquele filho? Trata-se daquele homem? Nilton Servo foi grampeado dizendo:

– O Dario está vindo para cá, entendeu? Para Campo Grande. Está vindo ele e está vindo o filho do homem.

E acrescentou:

– Nem o Vavá sabe disso.

Vavá é para ser usado. Vavá é um lambari. Vavá é um ingênuo. Tanto que o filho do homem conseguiu passar-lhe a perna, aliando-se ao compadre de Lula para roubar-lhe o cliente bingueiro. O mesmo cliente bingueiro que, referindo-se a um empréstimo milionário do BNDES para uma fábrica de papel higiênico, serviu-se de uma elegante onomatopéia:

– Pá, pá, pá. Pum!

Eu, "a coisa mais linda que existe", me pergunto quem é o filho do homem e se a PF rastreou os telefonemas de Dario Morelli nos dias que antecederam a tal viagem a Campo Grande. Eu, "motocross das estradas da ilusão", me pergunto também se o homem da mala no caso do dossiê, Hamilton Lacerda, ex-secretário de Zeca do PT em Mato Grosso do Sul, teve algum contato com esses bingueiros em setembro de 2006.

Só para terminar: o que eu mais aprecio em Gilberto Gil também é seu aspecto físico.
Diogo Mainard

quarta-feira, junho 13, 2007

Vá, vá, Lula, lá

O raciocínio do presidente Lula é um atentado permanente a lógica pelo seu especial apreço a incoerência. Em uma entrevista em Berlim, Lula acusa o presidente americano George W. Bush de tentar fazer do G8, o grupo dos países que detém 63% do PIB mundial, um “clube de amigos.” Ora, o G8 é um clube de amigos desde que se reuniu pela primeira vez em 1975. Trata-se de um encontro anual onde líderes dos países mais ricos e Rússia discutem, informalmente, problemas transnacionais. Lula pressupõe a expectativa de Bush que os colegas digam amém às suas propostas. Vá, vá, Lula, lá. Mas na mesma entrevista, questionado sobre as novas revelações da Polícia Federal, envolvendo o seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, o presidente diz: "Eu não acho justo que depois de uma reunião como essa com cinco países importantes me peçam para falar algo que eu poderia falar na segunda-feira em São Paulo ou em Brasília." Em primeiro lugar, os jornalistas não perguntaram apenas sobre Vavá. Mas aqui cabe uma outra questão. O que Lula espera dos jornalistas? Um clube de amigos? Embora, haja os que optam pela simpatia em detrimento a informação, quem decide ser jornalista coloca-se em oposição a subserviência ao governo. Não se refere aqui, a imprensa oficial ou digamos, seus impostos leitor, travestidos de jornalistas.

Imagine o leitor se Jeb Bush, irmão do presidente americano, fosse acusado pelo FBI de pedir dinheiro para favorecer terceiros, como é o caso de Vavá. Os jornalistas americanos sabatinariam o presidente dos EUA onde e na circunstância que ele estivesse. No caso, a diferença entre Bush e Lula é que o americano teria interesse em explicar aos seus compatriotas na primeira hora. Atitude análoga teria Tony Blair, Nicolas Sarkozy, Ângela Merkel, Romano Prodi e outros.Ninguem coloca o gato debaixo do tapete nessas horas. Trata-se de um requisito básico das democracias: prestar contas.

Agora imagine o leitor se o presidente Bush decidisse fechar um canal de TV americano como a NBC, ABC, CBS ou CNN. O presidente Lula, em entrevista a Folha de São Paulo --- com prévio acerto para não tratar do assunto Vavá e do compadre --- justifica o fechamento da RCTV venezuelana pelo coronel Hugo Chavez. O presidente Lula avança como democrática a prática de não renovar concessões de TVs segundo a “visão” do presidente de cada país. Diz Lula: “Nos Estados Unidos, há concessões. Algumas são renovadas.” É um despautério. Não há na história americana uma só TV fechada porque discordou da “visão” do presidente ou por não pertencer ao clube de amigos. Seria uma agressão intolerável a Primeira Emenda da Constituição. Fazer apologia dos limites da liberdade de expressão, vá, vá, Lula, lá. Mas querer que todos se prestem a ignorância e subserviência é muito.

Antonio Ribeiro, de Paris
E-mail: aribeiro.deparis@gmail.com

Em favor da reforma política

No Brasil, a OAB pratica o voto em lista desde a sua instituição. Nela, vota-se em chapas batidas, conforme a maior ou menor identificação do advogado com as propostas de cada uma, ou com os membros que integram cada uma delas. Não há como considerar ser essa prática antidemocrática, ou que suprima qualquer direito fundamental dos eleitores. Mínima dúvida houvesse nesse sentido, por se tratar da classe de defensores institucionais da cidadania, o STF já teria sido convocado para dirimir a polêmica.

Espanha, Portugal, Israel, a África do Sul redemocratizada e quase toda a Escandinávia adotam o sistema de listas. Jamais se ouviu em nenhum desses locais que “a vontade do eleitor” foi desrespeitada ou que minorias se viram mal representadas.

A Alemanha elege deputados por sistema misto, parte distrital e parte proporcional. O voto proporcional lá é por lista fechada. Alguém dirá que o sistema alemão é menos democrático por conta disso?

O novo sistema proposto é perfeito? Claro que não. Mas a tentativa de sua adoção não pode ser combatida mediante objeções pueris, como o fato de que democracia pressuporia, como “cláusula pétrea”, o direito do eleitor de votar em pessoas. Ou que ele instituiria “oligarquias vitalícias”.

Primeiro, essa garantia de representatividade pelo voto individual é ilusória. Pela mecânica de coligações, alguém que vote no candidato A pode em verdade ajudar a eleger o candidato B, a quem não conhece e que pode até ter posições e valores políticos totalmente distintos do candidato votado. Não me lembro de ninguém que tenha protestado contra essa aberração. Aliás, vale indagar: se o voto individual é tão sagrado, como explicar que nosso sistema eleitoral aceite o voto de legenda há decênios, na verdade desde o Código Eleitoral de 1932? Como admitir essa inominável “traição” ao direito de o eleitor “eleger pessoas”? E há mais. Dois meses depois de uma eleição, o que é confirmado pelas pesquisas (as mais importantes são as de Alberto Almeida, da IPSOS), os eleitores já não se lembram em quem votaram. Que “representatividade” é essa?

Curiosamente, ninguém lembrou também que mensaleiros, sanguessugas, gafanhotos e navalheiros existem em boa parte porque nosso sistema é de voto individual. E continuarão a existir enquanto isso não mudar, pois bicheiros, traficantes e empresários corruptores sempre garantirão a recondução de desqualificados que lhes convenham. Já num sistema de lista fechada, qualquer partido pensaria duas vezes antes de incluir na sua lista ladrões públicos ou “figurinhas carimbadas” da corrupção e da falta de decoro. O motivo? Enfiar no seu cesto uma ou mais maçãs podres representaria suicídio político. Eliminado, o mal não seria. Mas já diminuiria bastante. E tornaria as coisas bem mais transparentes.

A lista fechada pode criar feudos partidários? Sim, pode – mas não mais do que já existe hoje. E isso se resolveria de maneira fácil. Basta que a atividade política deixe de ser feita em gabinetes e passe a ser (o que jamais foi entre nós) efetivamente partidária. A lista fechada obrigaria todo o universo partidário nacional a se tornar real. Ou o partido se assume, ganha identidade e adquire seiva interna, no município, no Estado e em plano nacional, ou desaparece. Com a continuidade do voto individual, isso é totalmente irrealizável. Um último lembrete: ninguém tem a pretensão, na reforma política, de ser onisciente ou dono da verdade. A idéia é implantar o novo sistema, testa-lo em 2008, 2010 e 2012, após o que ele será avaliado pelo povo num referendo em 2013. Vale investir nessa aposta.

Ronaldo Caiado é deputado federal (DEM-GO)

MOVIMENTO ESTUDANTIL - ONTEM E HOJE

Por Carlos Alberto Brilhante Ustra

Tem razão o repórter Carlos Marchi quando escreve no Estado de São Paulo que a invasão da Reitoria da USP, em 3 de maio, foi uma ação planejada por partidos de extrema esquerda - o PCO, o PSTU e o PSOL, além do Sindicato dos trabalhadores da USP (Sintusp) e a central Conlutas . Segundo ele, os estudantes foram instruídos por Claudionor Brandão, ex-diretor do Sintusp e que os líderes do Sintusp comandam as ações diretas, fornecendo logística para a ocupação, além de orientação política. Ainda, segundo o repórter, “dentro da reitoria ocupada a operação é conduzida por um grupo de 30 líderes estudantis que controlam centros acadêmicos, a maioria da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Praticamente todos são dissidentes do PT; muitos militam nos três partidos e alguns integram também o primeiro grupo”. (...)

Essa invasão é manipulada. O Movimento Estudantil começa assim, estudantes sendo usados por “líderes estudantis”, que são filiados a partidos de extrema-esquerda e que estão a serviço de organizações bem mais fortes e experientes do que estudantes. Sempre foi assim. O jovem, inocente útil, é usado como bucha de canhão. Sua ousadia, sua esperança de reformar o mundo e seu idealismo sempre são explorados.

O recrutamento é feito, normalmente, em reuniões sociais, bares, shows, colégios e faculdades. Depois, os que mais se destacam são reunidos para discussões em torno de fatos políticos da vida nacional. Aos poucos vão surgindo os líderes entre o grupo e esses são cooptados. O experiente coordenador, militante profissional, esquerdista radical, os leva para atitudes extremadas.

Qualquer crise, insatisfação ou reivindicação popular sempre foram, são e serão “ganchos” para iniciar protestos, muitas vezes, violentos.

Foi assim, antes de 1964, ainda no governo institucional de João Goulart. A desculpa é a mesma - queriam democracia -, quando na realidade, tentavam implantar um regime totalitário, tendo Cuba como modelo .

O governador de São Paulo, acuado com a invasão da Reitoria que já dura 39 dias, ameaça usar uma tropa de choque.

Pimenta nos olhos dos outros é refresco. Serra não se lembra que, em 1963, eleito presidente da UNE, com o aval da organização subversivo-terrorista a que pertencia, a Ação Popular - AP, que, desde 1960, controlava 65% dos diretórios acadêmicos, do Partido Operário Revolucionário Trotskista - PORT e do Partido Comunista Brasileiro - PCB, comandou muitas invasões e passeatas de estudantes até a Contra-Revolução colocar ordem na baderna. E isso, apesar de estarmos em pleno regime democrático no governo Jango.

Deposto Goulart, as manifestações se intensificaram. A finalidade, a mesma de sempre - implantar uma ditadura do proletariado no País. Iludindo o povo e os jovens, alegavam que lutavam pela liberdade, pela democracia e para derrubar o Regime Militar.

As manifestações se tornaram freqüentes. Primeiro pacificamente, depois, o movimento foi recrudescendo, até haver a repressão policial para que a ordem fosse mantida. As manifestações estudantis foram, cada vez mais ,sendo dominadas por subversivos que atuavam, infiltrados no movimento. Uma greve geral paralisou as universidades brasileiras. Ocorreram passeatas onde os estudantes, em várias capitais depredavam bancos, lojas e incendieavam carros

O ano de 1968 foi um ano crítico. Vejamos alguns fatos:

Em 19 de junho - Comandados por Vladimir Palmeira, da Dissidência Comunista da Guanabara, e presidente da União Metropolitana de Estudantes Secundaristas (UMES), 800 agitadores tentaram, sem sucesso, tomar o Ministério da Educação e Cultura (MEC);

20 de junho - 1.500 participantes, entre estudantes e populares, ocuparam a Reitoria da Universidade Federal do Rio Janeiro, submetendo os professores as maiores humilhações;

- 21 de junho - O centro da cidade do Rio de Janeiro tornou-se um campo de batalha. A violência foi tão brutal que esse dia ficou conhecido na história do movimento estudantil como “Sexta-Feira Sangrenta”. Aproximadamente dez mil pessoas, entre estudantes, populares e muitos agitadores , infiltrados, incendiaram carros, agrediram motoristas, saquearam lojas e atacaram a tiros a Embaixada Americana e as tropas da Polícia Militar. Saldo da batalha campal: centenas de feridos e quatro mortos, dentre os quais o sargento da Polícia Militar Nelson de Barros e os civis Fernando da Silva Lembo, Manoel Rodrigues Ferreira e Maria Ângela Ribeiro;

- 22 de junho - Dezenas de manifestantes tentaram ocupar, sem sucesso, a Universidade de Brasília (UnB);

- 24 de junho - Cerca de 1.500 manifestantes realizaram uma passeata no centro de São Paulo e depredaram a farmácia do Exército, o City Bank e a sede do jornal O Estado de S. Paulo;

- 3 de julho - Dezenas de agitadores, portando metralhadoras, fuzis, revólveres e coquetéis “molotov”, ocuparam as Faculdades de Direito, Filosofia e Economia da Universidade de São Paulo (USP), fazendo ameaças de colocação de bombas. Aloysio Nunes Ferreira – “Beto” ou “ Mateus”, militante da ALN, motorista de Carlos Marighela, como presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, São Paulo, participou da ocupação da Faculdade, ameaçando incendiá-la caso fosse invadida pela polícia. Contava para isso com mais de 100 coquetéis molotov;

- 4 de julho - No centro do Rio de Janeiro, nova manifestação, a “Passeata dos cinqüenta mil”, foi o ponto culminante da radicalização ideológica. No final da manifestação, postados em frente à Central do Brasil, provocavam os soldados que faziam guarda ao prédio do Ministério do Exército gritando: “só o povo armado derruba a ditadura”;

- 23 de julho - Realizados em São Paulo comícios relâmpagos com a participação de operários de Osasco. Os líderes comunistas tinham conseguido aglutinar vários setores e partiam para a terceira tentativa de tomada do poder;

- Em 29 de agosto, tumultos agitaram o interior da UnB, com depredações de salas de aula e disparos de armas de fogo, ocasião em que foi preso o militante da AP, estudante Honestino Guimarães, presidente da Federação de Estudantes Universitários de Brasília (FEUB).

Aulas inaugurais foram interrompidas e professores submetidos a humilhações. Nas passeatas carros da polícia eram incendiados. A baderna era generalizada.

Nos dias atuais, não se sabe o desfecho da invasão da USP. A UNE já está ameaçando com novas invasões. O presidente da mesma, Petta ou Pettinha, como o presidente Lula o chamou, já esteve no Palácio do Planalto fazendo ameaças de novas invasões.

Os líderes do movimento se negam a desocupar a reitoria. Parece que preferem o confronto com a tropa de choque, o que vem sendo ameaçado pelo governador José Serra e seu Secretário da casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira.

Nada pior que estar em um cargo público e sentir as pedras em seu telhado.

.Aloysio Nunes Ferreira, apesar de ter participado de atos semelhantes e outros muito piores, como o assalto a um trem pagador, diz “estar convencido de que, por trás da crise nas universidades paulistas, com estudantes ocupando a reitoria da USP há quase um mês, há uma mistura explosiva de desinformação, corporativismo e “ estudantes rebeldes sem causa “, que depredaram não só as instalações da reitoria, mas a ordem jurídica.”

“A decisão de que os estudantes devem deixar a reitoria é da justiça. Espero que os estudantes saiam pacificamente. O governador foi líder estudantil, lutou pela democracia e pelo estado de direito. Essas pessoas estão afrontando o Estado de direito.”

“ Serra também criticou a forma como o protesto está sendo realizado, e lembrou seus tempos de líder estudantil, quando foi presidente da UNE. Fazíamos agitação , baseados em posições políticas, em teses que podiam ser discutíveis , mas eram verdadeiras.” ( O Globo)

Veja o que escreveu Élio Gaspari em 28/05/2000 - O Globo

(...) ) O ministro José Serra era presidente da UNE em 1964. A escumalha que ele representava fazia coisa pior, muito pior. Cinqüentões, todos esses baderneiros lembram-se com ternura de suas malfeitorias ( cometidas num regime democrático )... O ministro Aloysio Nunes Ferreira chama de bandidos, canalhas, facistas e porras-loucas extremistas os baderneiros de hoje. É forte. (...)

É preocupante a situação que se apresenta agora para esses senhores, com as responsabilidades de cargos públicos e com a experiência de seus passados de agitadores.

É preciso muita prudência!... É preciso agir com cautela!... O governador José Serra, que se refugiou no Consulado da Bolívia , logo que a Contra–Revolução foi deflagrada, fugindo depois para o exterior , e seu auxiliar que fugiu para a França, devem saber bem, como essas coisas fogem ao controle no ato do enfrentamento. Eles hão de se lembrar, apesar de estarem bem longe das escaramuças da guerrilha urbana, o que aconteceu no dia 13 de maio de 1968, quando 500 estudantes de uma passeata organizada pela Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas - AMES, do Rio de Janeiro, reivindicando melhoria no Restaurante do Calabouço, manipulados por Elinor Mendes de Brito, presidente da Frente Unida de Estudantes do Calabouço – ( FUEC) , e militante do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário - PCBR, entraram em choque com a polícia. Uma bala perdida, infelizmente, matou o estudante Edson Luiz de Lima Souto, natural de Belém do Pará. Eram muitos os mortos desde que o movimento fora iniciado, mas agora, havia um mártir no meio estudantil , resultado do confronto com a polícia!

Um novo Edson Luis será muito prejudicial para sua carreira política e poderá deflagrar uma crise muito séria no país. É assim que começa.E isso, tenho certeza, não será bom para o governador José Serra!...

Fontes: Orvil e A Verdade Sufocada

Desencontros factuais

Houve um tempo - não faz muito tempo - em que inquietava o País saber se o presidente Luiz Inácio da Silva conhecia ou não as malfeitorias do PT em geral e de gente muito próxima a ele em particular.

Essa fase foi superada, a desconfiança consolidada, mas a consciência presumida dos fatos devidamente relegada ao plano das irrelevâncias.

Como ficou combinado que o consenso geral sobre a impossibilidade de o presidente desconhecer o que se passava à sua volta não guardava relação com a exigência da maioria sobre atributos indispensáveis ao exercício da Presidência da República, muito provavelmente as novas andanças da família Silva não renderão maiores aborrecimentos ao integrante mais poderoso do clã.

Ainda que os desdobramentos da Operação Xeque-Mate não deixem mais nenhuma dúvida a respeito do pleno conhecimento de Lula a respeito das peripécias do irmão Genival, ora pedindo dinheiro a um, ora prometendo traficar influência a outro.

O presidente Lula não cometeu nenhum crime quando, na Índia, horas depois da operação de busca e apreensão na casa de Vavá pela Polícia Federal - numa ação que levaria à cadeia um compadre seu envolvido “até o pescoço” com a jogatina ilegal -, atestou a inocência do irmão, um homem de “bom coração”, incapaz de fazer mal a ninguém e, além do mais, cultural e mentalmente incapacitado para as atividades de que estava sendo acusado.

“Vavá não tem cabeça para fazer lobby”, consta ter comentado o presidente em conversas com auxiliares.

Abstraindo-se a ausência de nexo no argumento porque para pedir “dois paus pra eu” a bingueiros não é necessário ser PhD em ciência política - título igualmente inexistente nos currículos de outros dois já notórios e reles pedintes, Waldomiro Diniz e Maurício Marinho (Correios) -, o presidente tomou a providência de sempre: fez-se de morto.

A simulação, porém, teve vida breve. O telefonema do irmão mais velho, Frei Chico, para avisar o parente de que havia umas “broncas” contra ele em Brasília e, por isso, o presidente pretendia lhe passar uma reprimenda, atesta que não só o presidente sabia perfeitamente bem que Vavá estava metido em complicações com a lei, como dera conhecimento disso a outros integrantes de família.

Saúda-se a não interferência do presidente junto à PF no sentido de barrar as investidas sobre o irmão como se o gesto fosse uma anomalia (do bem) e não a única atitude aceitável. Lula não foi além do seu alcance e manteve a habilidosa distância regulamentar de sempre.

Nem por isso deixou de pôr em xeque o sigilo da ação da Polícia Federal. Quando falou com Vavá no dia 20 de maio, Frei Chico sabia que o telefone estava grampeado.

Identificou-se como “Roberto”, personagem a quem identificou como “um primo em segundo, terceiro grau, casado com uma prima em segundo grau”. Confrontado, admitiu a possibilidade de ser o autor do telefonema divulgado na sexta-feira com a reprodução da conversa em que Vavá era alertado para a existência da “bronca”.

A família Silva não tem sabido se explicar a contento sobre as peripécias de Genival. Soma dois mais dois, mas como resultado exibe cinco, soa incongruente. Primeiro, o presidente não sabia de nada até horas depois da operação da PF, o que teria provocado “irritação” em relação ao ministro da Justiça, suposto responsável pelo atraso.

Depois, não houve demora; a discussão passou a ser se Lula havia sido avisado com duas horas de antecedência ou no momento em que ocorria a busca.

Quando se manifestou, o presidente duvidou do envolvimento do irmão, mas em seguida fica-se sabendo que o mesmo autor do atestado de inocência estava disposto a lhe passar uma reprimenda em regra e fica a dúvida: repreendê-lo por qual motivo, se é um homem de bom coração e conduta ilibada?

As incongruências continuam na explicação sobre o telefonema de alerta. A versão inicial era de que a conversa era sobre um tratamento de saúde que o levaria a Brasília, não exatamente um centro de excelência para quem mora em São Paulo; depois Frei Chico disse que, no telefonema, orientou Vavá a não ir à capital porque “Lula desde o começo não deixou nenhum parente se meter”. Em quê?

Em alguma confusão cujos detalhes permanecem obscuros, mas que muita gente sabia que estava prestes a explodir. Vavá sabia, Frei Chico sabia, o presidente Lula sabia, o delegado de Mato Grosso do Sul que comentou sobre a ação da PF contra os bingos no barbeiro sabia, os fugitivos sabiam.

Só quem continua sem saber de quase nada é o cidadão, de quem agora se busca cassar o direito de saber mediante a limitação dos grampos legais nas investigações policiais.

Dora Kramer

terça-feira, junho 12, 2007

Os mil "Sombras" do PT

Lembra-se do primeiro escândalo envolvendo o lulo-petismo?
Foi a morte do coordenador do programa de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à eleição de 2002, o prefeito de Santo André, Celso Daniel. O até agora principal suspeito, Sérgio Gomes da Silva, não por acaso o "Sombra", passou da condição de segurança do prefeito a empresário em um espaço de tempo que revela ou notável criatividade ou notável malandragem.
Lembremos ainda que a família de Daniel insiste até hoje, passados cinco anos, que a morte do prefeito está ligada às denúncias de cobrança de propina de empresários do setor de transportes em Santo André. O prefeito teria tentado impedir o funcionamento do esquema.

O que há de similar nesse episódio e nos muitos que envolveram lulo-petistas daí em diante ou mais fortemente a partir da chegada ao poder federal? É a quantidade de "Sombras" que trabalham com ou para o PT e que exibem sinais exteriores de riqueza e/ou poder incompatíveis com o passado
.

Esse tipo de personagens aparece no "mensalão", nos sanguessugas, no episódio Gautama e agora, na "Operação Xeque-Mate", esta envolvendo em diálogos comprometedores até o irmão do presidente da República. Fica evidente que a emergência do PT, em vez de ser a ascensão ao poder da classe operária, ao contrário do que indicaria o nome do partido, permitiu a ascensão de uma classe empresarial cujos negócios são feitos à sombra do poder, em conluio com funcionários públicos ou com gente que tem ou diz ter (caso Vavá) as chaves para abrir portas (ou cofres) no governo.
É cinismo os dirigentes do partido alegarem ignorância sobre cada um e todos os escândalos. Nos governos passados, sentiam mau cheiro até onde, às vezes, nem havia. Agora, têm narizes, olhos e ouvidos tapados. Por conivência ou por omissão, são tão culpados quanto os "Sombras".
Clóvis Rossi - crossi@uol.com.br

domingo, junho 10, 2007

Orgulho nacional!

por Olavo de Carvalho

Enquanto o público não tira os olhos da Venezuela, o totalitarismo esquerdista avança em outros pontos da América Latina sem ser notado, usando meios menos espalhafatosos mas nem por isto menos cínicos e brutais que os de Hugo Chávez.

No Equador, o deputado Luís Fernando Torres divulgou um vídeo que mostrava o ministro da Economia, Eduardo Patiño, tramando com investidores uma negociata para lucrar com os juros da dívida externa. Que aconteceu ao ministro? Nada. Mas Torres teve seu mandato cassado por "crime de sedição" junto com outros 56 deputados que o apoiavam. Se isso não é um golpe de Estado, não sei o que é. O próprio Chávez não teve peito para destruir a oposição com um ataque tão direto e mortífero. No dia seguinte, o presidente Correa, para impedir que o deputado recorresse a tribunais internacionais, solicitou que a Justiça o proibisse de sair do país. Enquanto os juízes, envergonhados, protelavam a decisão, Torres veio a Washington, sem dinheiro nem para o hotel, pedir socorro à Comissão de Direitos Humanos da OEA. Vã esperança. A OEA é uma sólida fortaleza do comuno-chavismo. O Equador foi jogado aos cães, e ninguém está nem ligando.

Porém o único esquema esquerdista que tem métodos infalíveis para se assegurar do poder total é o brasileiro. Ele não precisa temer protestos populares, porque tem o monopólio absoluto das agitações de rua. Nem os políticos de oposição, porque antes mesmo de chegar ao governo já havia destruído a maioria deles pela técnica do denuncismo e emasculado ideologicamente os restantes. Não precisa temer a Igreja, porque, seguindo a receita de Antonio Gramsci, já se apossou dela como um íncubo, sugando-lhe a alma e transformando-a num megafone da propaganda comunista. Não precisa temer o empresariado, cuja única expectativa de sobreviver ao assédio do fisco é beijar as mãos do Partido-Estado. Não precisa temer a mídia, já que ela se sujou tanto para ajudá-lo a ocultar a trama do Foro de São Paulo por 16 anos, que perdeu todo vestígio de autoridade moral e hoje o máximo que se permite é a obediência incompleta, a subserviência camuflada sob surtos esporádicos de ranhetice pro forma. Não precisa temer as pressões de fora, porque a fidelidade canina ao esquema globalista da ONU lhe garante as afeições do establishment europeu e americano. Não precisa temer as Forças Armadas, porque já dissolveu numa bem dosada poção de calúnias e seduções a antiga fibra anticomunista dos militares e porque tem o domínio estratégico do território através das organizações de massa, articuladas com as gangues de criminosos locais e com as Farc.

Nem as denúncias de corrupção, mil vezes mais volumosas e graves do que aquelas que atingiram os governos passados, o abalam no mais mínimo que seja. Só servem para demonstrar a impotência das leis, de novo e de novo, até desmoralizá-las por completo. Mesmo na hipótese remota de o atual presidente ser um dia submetido a impeachment, a esquerda continuará no comando, pela simples razão de que não tem nenhum concorrente, exceto - cum grano salis - os tucanos, os quais já facilitaram ao máximo a esquerdização do país quando estavam no governo e o farão novamente se para lá voltarem. A social-democracia, afinal, nunca teve outra razão de existir senão usurpar o lugar da direita e legitimar a ascensão da esquerda revolucionária mediante um arremedo de resistência, esvaziado, profilaticamente, de todo sentido ideológico.

Os poucos hiatos restantes no sistema de controle totalitário vão sendo preenchidos por meios indiretos, suaves, insensíveis, sob pretextos os mais variados e insuspeitos em aparência, ludibriando magistralmente a opinião pública que a tudo se submete por incapacidade de perceber o esquema como um todo.

Comparados à esquerda brasileira, astuta, racional, paciente, fria, segura de si, Chávez, Correa ou Morales são apenas amadores. De uma coisa o nosso país pode se orgulhar: de ser governado pelos mais hábeis vigaristas políticos do continente.