terça-feira, junho 26, 2007

GREVE MILITAR

Ternuma Regional Brasília
Pelo Gen Div Murillo Neves Tavares da Silva


Ouvi, estarrecido, no noticiário da TV GLOBO, que uma medida provisória, com a concessão de uma gratificação para controladores de vôo, estaria pronta. Mas só seria enviada ao Congresso, quando fossem resolvidos os problemas com o pessoal envolvido. Cessados os atrasos, retornando os sargentos ao chão de fábrica, digo, aos consoles de controle considera-se que está tudo bem e o governo lhes concede um abono. Em suma, poder-se-á dizer que a primeira greve militar foi bem sucedida e, por isso, deve-se esperar que outras venham a eclodir. Se, na gloriosa Força Aérea Brasileira, dá-se destaque a uma de suas especialidades, como agir quando outras também resolverem parar de executar suas missões em busca do mesmo aumento salarial? Lembro-me de que, nas manifestações das esposas de militares realizadas na Esplanada dos Ministérios, com vistas a reajustes de vencimentos, havia uma faixa que dizia mais ou menos assim: “Voar é fácil, fazer voar é que é difícil.” Parecia um recado aos senhores oficiais aviadores de seus mecânicos, por meio de suas esposas de orçamentos apertados. E se a coisa se alastra para os também gloriosos Exército Brasileiro e Marinha do Brasi? Assistiremos, então, à instalação da anarquia nas Forças Armadas Brasileiras. A quem interessa essa anarquia é trabalho para os órgãos de inteligência das três forças.

Se fizermos um retrospecto de fatos já consumados, evidencia-se que, desde o governo do marxista arrependido FHC, o desgaste imposto aos militares vem num crescendo indisfarçável a começar pela criação do Ministério da Defesa. Analisem-se os ministros nomeados e chega-se à conclusão de que nenhum deles teria condições mínimas para ocupar a pasta. Passou-se a falar, então, nas nefandas indenizações para notórios criminosos e maus patriotas, que tentaram implantar o regime comunista no Brasil. E, do falar, chegaram aos juristas esquerdinhas, aos caçadores de ossadas, aos interessados em patrocínio de causas milionárias, aos muitos milhares de perseguidos e aos bilhões de reais das indenizações. Houve até um humorista que disse que a comunada não queria fazer revolução, mas investimento, isso sim... Contra elas, ao que me lembre, nenhuma reação oficial das Forças Armadas. A exoneração de um Comandante da Força Aérea por ter dito que, se havia algo contra o Ministro da Defesa, devia ser feita a investigação, foi absorvida sem traumas por sua gente, embora todos soubessem que ele estava certo no que expressara. A absorção também foi tranqüila nas forças irmãs. Sucederam-se inúmeras outras demonstrações de desapreço dos governantes e de seus próximos. Inesquecível foi o bocejo da Sra. Ruth Cardoso, em uma parada de 7 de Setembro, como a retratar seu tédio por estar ali vendo aqueles “gorilas” passarem... Condecorações distribuídas, dentro da linha de “convivência dos contrários”, eram retribuídas como o não comparecimento para recebê-las. O discurso do Presidente da República chamando oficiais-generais de “bando” não causou estranheza a nenhum deles e nem se soube de reação no âmbito das forças. O episódio das falsas fotografias do Herzog, que resultou em determinação para um pedido público de desculpas por parte do Comandante do Exército, é tão deprimente que nem merece comentário longo. Contingenciamento de dotações orçamentárias e até mesmo de recursos descontados dos militares para seus fundos de saúde, causando transtornos à administração e constrangimento ao moral dos efetivos, foram e são constantes. Alimentação, peças de reposição, fardamento, armas e munições, um sem fim de carências. Pálidos discursos para ouvidos deliberadamente moucos... Aí, então, a esquerda canalha e revanchista encastelada no poder deduziu: “Esses caras não são de nada! Vamos em frente.” O primeiro teste foi contra um coronel reformado, heróico combatente de terroristas em São Paulo. Processado para que um tribunal o declare, oficialmente, como torturador, ele apelou para seu Comandante e a resposta é que nada podia ser feito porque a coisa estava na Justiça. Outras agressões e desfeitas, até chegar à suprema desfaçatez de glorificar o desertor assassino Carlos Lamarca. Nem adianta mais comentar, tantas foram as manifestações contrárias nos meios de comunicação e até no Congresso Nacional. Só não as vimos nas Forças Armadas.

Assim, de recuo em recuo, de baixar a cabeça, de aceitar o que vier, em nome de uma disciplina e de uma lealdade incompreendida por desleais, chegamos à indisciplina do motim. Ou alguém acha que os de menor patente não sentem que lhes falta comando. Ou alguém acha que um aspirante-a-oficial do Exército está contente, sabendo, pelas tabelas divulgadas pela Internet, que ganha menos do que um soldado (isso mesmo, um soldado) da Polícia Militar de Brasília. Diga-se de passagem, uma boa polícia e paga pelo Governo Federal, o mesmo que remunera o aspirante. Quando o Presidente da República mandou o Ministro do Planejamento e uma funcionária da Casa Civil negociar com controladores amotinados, o Comandante da FAB devia ter saído. Não o fez. Agora, agüente as conseqüências. Quando o Presidente da República exigiu, em curtíssimo prazo, que lhe apresentassem soluções para que não se repetissem os apagões e ninguém lhe deu bola, ele devia ter saído ou exonerado todos os que não obedeceram. Não o fez. Agora, agüente as conseqüências. E o povo? Como a maioria optou pelo desgoverno e pelos escândalos dos primeiros quatro anos petista, agora agüente as conseqüências.

Brasília, DF, 23 de junho de 2007.
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