O raciocínio do presidente Lula é um atentado permanente a lógica pelo seu especial apreço a incoerência. Em uma entrevista em Berlim, Lula acusa o presidente americano George W. Bush de tentar fazer do G8, o grupo dos países que detém 63% do PIB mundial, um “clube de amigos.” Ora, o G8 é um clube de amigos desde que se reuniu pela primeira vez em 1975. Trata-se de um encontro anual onde líderes dos países mais ricos e Rússia discutem, informalmente, problemas transnacionais. Lula pressupõe a expectativa de Bush que os colegas digam amém às suas propostas. Vá, vá, Lula, lá. Mas na mesma entrevista, questionado sobre as novas revelações da Polícia Federal, envolvendo o seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, o presidente diz: "Eu não acho justo que depois de uma reunião como essa com cinco países importantes me peçam para falar algo que eu poderia falar na segunda-feira em São Paulo ou em Brasília." Em primeiro lugar, os jornalistas não perguntaram apenas sobre Vavá. Mas aqui cabe uma outra questão. O que Lula espera dos jornalistas? Um clube de amigos? Embora, haja os que optam pela simpatia em detrimento a informação, quem decide ser jornalista coloca-se em oposição a subserviência ao governo. Não se refere aqui, a imprensa oficial ou digamos, seus impostos leitor, travestidos de jornalistas.
Imagine o leitor se Jeb Bush, irmão do presidente americano, fosse acusado pelo FBI de pedir dinheiro para favorecer terceiros, como é o caso de Vavá. Os jornalistas americanos sabatinariam o presidente dos EUA onde e na circunstância que ele estivesse. No caso, a diferença entre Bush e Lula é que o americano teria interesse em explicar aos seus compatriotas na primeira hora. Atitude análoga teria Tony Blair, Nicolas Sarkozy, Ângela Merkel, Romano Prodi e outros.Ninguem coloca o gato debaixo do tapete nessas horas. Trata-se de um requisito básico das democracias: prestar contas.
Agora imagine o leitor se o presidente Bush decidisse fechar um canal de TV americano como a NBC, ABC, CBS ou CNN. O presidente Lula, em entrevista a Folha de São Paulo --- com prévio acerto para não tratar do assunto Vavá e do compadre --- justifica o fechamento da RCTV venezuelana pelo coronel Hugo Chavez. O presidente Lula avança como democrática a prática de não renovar concessões de TVs segundo a “visão” do presidente de cada país. Diz Lula: “Nos Estados Unidos, há concessões. Algumas são renovadas.” É um despautério. Não há na história americana uma só TV fechada porque discordou da “visão” do presidente ou por não pertencer ao clube de amigos. Seria uma agressão intolerável a Primeira Emenda da Constituição. Fazer apologia dos limites da liberdade de expressão, vá, vá, Lula, lá. Mas querer que todos se prestem a ignorância e subserviência é muito.
Antonio Ribeiro, de Paris
E-mail: aribeiro.deparis@gmail.com
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