As tantas voltas dadas, sobretudo ontem, em torno do vai-não-vai do ministro Palocci à CPI dos Bingos terminaram por esclarecer, involuntariamente, as esquisitas alegações que condicionavam o horário do seu depoimento a um dia e hora convenientes à Bolsa.
A recusa de qualquer terça-feira argumentava que, assim no começo da semana, a inquirição poderia refletir-se "no mercado" por dias seguidos. Tidas as quartas-feiras (e olhe lá) como dia de sessão deliberativa na Câmara, o ministro a saltava para chegar ao mais conveniente: quinta-feira, e com início só ao fim da tarde, depois que o cassino da Bolsa encerrasse suas atividade e não se expusesse a reflexos da inquirição.
Argumentação, já à primeira vista, muito suspeita. Implicava o reconhecimento, pelo próprio Palocci, de que, ao responder sobre negócios à sua volta, quando prefeito de Ribeirão Preto e talvez no seu gabinete atual, corria o risco de abalar a Bolsa. Quem sabe de Palocci é Palocci, embora alguns dos seus assessores de antes e de agora também possam saber dele, mas declarar-se homem-bomba não combina com sua esperteza maneirosa.
Deu-se que os ACMs ficaram ontem aflitos com a sobreposição, hoje, do interrogatório de Palocci e o aniversário do neto ACM, esperado logo mais para apagar as velinhas em Salvador, na festança comandada pelo avô ACM. Foram necessárias reuniões senatoriais, discussões pefelistas e entendimentos com a Fazenda, para concluir se era possível adiar o depoimento do ministro.
Em vez de adiada, a sessão foi antecipada. A vê-la transferida para terça-feira, Palocci preferiu-a às 10h de hoje. E os seus cuidados com a Bolsa? O depoimento matinal coincide em cheio com a abertura e a continuação das transações do "mercado financeiro".
Ora, a Bolsa. As razões e desrazões deste ou daquele dia são outras, e esclareceram-se. A terça-feira não convinha a Palocci porque é dia de complementação das chegadas de parlamentares a Brasília, dia de casa cheia no Congresso, boa parte espicaçada nas bases para mostrar-se ativa. A quinta-feira preferida por Palocci já é dia de Congresso apagado, com a revoada que começa de manhã. No final da tarde, então, ou "depois de encerrada a Bolsa", o Congresso caberia em uma sala de dentista. E o horário seria péssimo para os vigilantes de televisão. Não pôde ser à tarde, que o avô ACM vai estar na Bahia, de manhã também já encontra a maioria a caminho do aeroporto.
Que Bolsa, que nada. Mas, com ou sem ela, o homem-bomba está tranqüilizado pelas promessas de simpatia feitas por senadores da oposição. Eles não querem arriscar, neste ano eleitoral, as doações de banqueiros e outros que têm milhões e bilhões de motivos para ser gratos a Palocci.
Jânio de Freitas para a FSP
Um comentário:
Pois então, estou preocupado com a saúde do Duda Mendonça, Gusta.
Acompanhe meu raciocínio: O Palocci com tudo é um homem frio, tem nervos de aço e nenhum compromisso além dos seus interesses. O Duda Mendonça, não, quer manter a imagem de empresário sério. Pode?
O Merketeiro, e também um expatriador de divisas nacionais, tem emoção exacerbada e nervos fracos, acredita que deve manter imagem de bom moço para os filhos, familiares, classe de marketeiros e colegas da propaganda, acredita ele, desconfio eu, que precisa e pode manter imagem de bom moço.
A CPI dos Correios pode abalar seus nervos novamente e trazer conseqüências irreparáveis a situação do "ilustre" presidente da república (com letras minúsculas, bem minúsculas).
Nesse andor, em Ribeirão já se contam sete defuntos, que foram repentinamente tornados defuntos para evitar as mesmas conseqüências.
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