Era exatamente aquilo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria dizer quando lembrou a 50 reitores de universidades federais (até parece país de primeira) que, em 2007, não estaria mais no Palácio do Planalto. Faltou um convincente advérbio de modo para relativizar interpretações absolutas. Os impacientes por vê-lo pelas costas se adiantaram logo em conclusões sem verossimilhança.
Lula falava a reitores, mas se dirigia com prioridade a ele próprio. Quis deixar claro que, mesmo quando não estivesse mais ali, a educação continuava na ordem do dia e merecia o respeito que nem ele lhe deu. A prioridade foi para a reeleição. O presidente não estava dando adeus à oportunidade de reeleger-se. Nem abanando a oposição sem rumo, que está mais para boiada a ponto de estourar. Numa hora dessas, é deplorável o espetáculo da falta de governo e de oposição. Quando o governo é bom e a oposição tem tutano, faz-se alguma coisa. Na situação oposta, compete à oposição zelar pela legalidade, mesmo com algum farisaísmo. O Brasil não tem conseguido levar adiante, com regularidade, o curso superior de democracia por baixa freqüência às aulas e pouco aproveitamento em História. Em plena era eletrônica os políticos ainda se comunicam mediante pancadas de borduna no chão e, do outro lado, o interlocutor encosta o ouvido na terra para captar a mensagem. Governo e oposição não se entendem mais no dialeto da fumaça, que é de lacrimejar.
Explicação sobre a frase ( ''em 2007 não estarei mais aqui''), só com o autor. Lula carece de bons analistas, sofás fofos e de tempo para preparar o que diz, sem corretor oral. É chegada a hora de cuidar das versões, já que dos fatos se encarregarão os que, na moita, espreitam resultados menos dignos da democracia. A crise do mensalão não revelou sequer um orador. O Brasil tem déficit de oratória maior do que a dívida interna. Ver objetivos golpistas em CPIs, como faz Lula, é passar recibo sem receber a mercadoria. Derrubada de governos tinha, a critério do tempo, razões próprias, hoje impróprias. Lula já viu o suficiente.
Atos falhos do presidente se atenuam com fatos igualmente falhos, pois o presidente tem sido grande produtor da matéria-prima freudiana. Governo mesmo, só o trivial. Ele já está voltando com intenções de votos enquanto a oposição se prepara para a batalha da candidatura doméstica com faca de mesa. Lula tentou, em legítima defesa, pôr-se à sombra de Getúlio Vargas e JK. Viu apenas os louros da CLT sobre a cabeça de Vargas e a imagem de JK, na moldura da indústria automobilística nacional, acenando de dentro do primeiro fusca brasileiro. Morreu de inveja. Os dois ex-presidentes viveram a história fervente da República, segundo a qual quanto mais quente a oposição, melhor para a democracia. Lula se queixa de barriga cheia (a crer nas fotos presidenciais). Nenhum dos dois teve tratamento vip por parte da imprensa, que os tratava com casca e tudo.
Vargas e JK, na versão petista, são artigos de exportação. Chegaram, governaram e saíram debaixo de tempestade institucional. A verdade é que não podiam ser candidatos, e foram. Não podiam vencer, e venceram. Não podiam tomar posse, e tomaram. Não podiam governar, e governaram.Vargas disse que só morto deixaria o Catete, e cumpriu as palavra. JK saiu candidato, mas ficou sem eleição seguinte com os votos na mão. E Lula, a que veio mesmo? Venceu a mais tranqüila eleição da história republicana e deixou a oposição à mingua. Para arrematar o ócio, inaugura hoje uma sub-estação de força no Espírito Santo. Fica devendo inaugurar meio-fio.
Wilson Figueiredo para o JB.
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