DAVOS - Pobre América Latina. Anda, anda, experimenta tudo a que tem direito e até aquilo a que não deveria ter direito, mas não sai do lugar. Tem sido didático, embora triste, nos 15 anos que acompanho os encontros do Fórum Econômico Mundial, ver os (des)caminhos do subcontinente, Brasil incluído.
Houve de tudo, desde a entronização do mercado como resposta para todos os problemas da região até, neste ano, a volta a papai Estado depois que se descobriu (tardiamente) o óbvio: tudo o que a adoração cega do mercado produziu foi o olvido da América Latina, atropelada por China e Índia.
Sintomático que, ontem, Ernesto Zedillo Ponce de León, o presidente mexicano que adorou o mercado durante seu período de governo, tenha redescoberto o Estado ao fazer uma avaliação dos motivos que levaram a América Latina ao ostracismo.
Primeiro, claro, Zedillo reclamou que a América Latina ainda "não abraçou mais decididamente a economia de mercado". Mas logo emendou: "Não haverá economia de mercado sem um Estado mais forte".
O "Estado mais forte" de Zedillo deve ser capaz, ao contrário do passado, em que era "autoritário, mas não forte", de desempenhar suas "funções básicas", entre as quais citou assegurar o respeito às regras da lei, a segurança pública e os direitos de propriedade, mas também "os bens públicos que não podem ser fornecidos pelo setor privado, até por definição".
Na boca de um ultraliberal como Zedillo, é um tremendo avanço (ou tremendo retrocesso, dependendo do seu gosto, leitor). Mas é também o reconhecimento de qual é hoje o "talk of the town", no caso Davos: "Antes, globalização era a palavra. Hoje é política, é o papel do Estado", resume José Miguel Insulza, socialista chileno, ministro de Ricardo Lagos (queridinho do povo de Davos) e, hoje, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos.
Clovis Rossi
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