segunda-feira, setembro 22, 2008

Lição em discurso inédito

Rubem Azevedo Lima para Correio Brasiliense

A 14 meses da sucessão, Lula diz que “escolherá e elegerá a mulher que o substituirá na Presidência", talvez a ministra Rousseff. É a volta à república velha ou aos tempos do regime militar, cujo último presidente, general João Figueiredo, com os poderes que tinha, elegeria quem quisesse, mas não o fez e até se negou a apoiar o candidato partidário. Uma lição para Lula, como a de Sarney, cuja sucessão também correria livre.

Ministro de Figueiredo, o general Danilo Venturini ganhou dele o discurso não-feito, no que seria a posse de Tancredo Neves, então hospitalizado. Para os juristas palacianos e o chefe da Casa Civil, Leitão de Abreu, devia-se empossar Ulysses Guimarães, presidente da Câmara.

“Só por isso — diz Venturini — Figueiredo não pôs a faixa em Sarney."

Em belo trabalho do ministro sobre esse tempo, lido pelo repórter, Figueiredo, nas 500 palavras do discurso a Tancredo, se diz de “consciência tranqüila e ânimo sereno de quem cumpriu o dever e saldou compromissos assumidos consigo mesmo e com a nação".

Mas ele alude a sugestões recebidas para subverter a legalidade institucional: “Empenhei todas as energias, físicas e intelectuais, no desempenho do cargo que ocupei. Em todas as circunstâncias, só me guiei pelo interesse público... Não dei ouvidos aos que me apontavam caminhos incompatíveis com as imposições do bem coletivo".

“Não me seduziu a demagogia dos que procuram o favor da opinião pública, àquilo que, no meu íntimo, considerava só o interesse nacional."

“Restaurar a democracia na plenitude era o primeiro dever, ponto fundamental do meu programa... Ela promove a concórdia, respeita as opiniões e repele o fanatismo. E, contrariamente ao que sustentam seus críticos, é plenamente governável... Cumpri a palavra empenhada."

“Senhor Tancredo Neves: com satisfação, passo-lhe às mãos a Presidência. Está V. Exª altamente credenciado para o cargo, por suas qualidades intelectuais e morais, equilíbrio e espírito público. Conta V. Exª com o beneplácito popular. Minha simpatia o acompanha, com votos de êxito na missão que o Brasil lhe confiou. Presidente Tancredo Neves, confio em sua vontade de servir. Que Deus o ajude."

Sem imposições, Figueiredo consagrou o candidato que o povo queria.

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