domingo, agosto 30, 2009

Além da inocência

por Janio de Freitas
Antonio Palocci não emitiu nem uma só palavra em favor da verdade, no caso da quebra de sigilo do caseiro

A RECUSA de processo contra Antonio Palocci, decidida por um só voto de diferença no Supremo Tribunal Federal, fez mais do que livrar o ex-ministro de indícios óbvios de responsabilidade na quebra de sigilo e em acusação caluniosa e pública contra o caseiro Francenildo dos Santos Costa. Em plano mais amplo do que o pessoal, ficam relegadas apurações antes evitadas pelo inquérito policial, mas muito significativas para a moralidade administrativa.

Embora os esforços contrários, inclusive dos meios de comunicação encantados com o conservadorismo financeiro do então ministro da Fazenda, no escândalo centrado em Palocci ficou claro que a chamada "república de Ribeirão Preto" alugara uma casa discreta em Brasília para atividades além de encontros sensuais. Vários depoimentos deixaram registrada a frequência, ali, de reuniões sigilosas desse grupo envolvido em numerosos inquéritos de licitações fraudulentas, superfaturamento e desvios de verbas públicas, denunciados nas duas ocasiões em que Palocci foi prefeito de Ribeirão.

Um dos integrantes do grupo, quando viu exposta sua vida pessoal e a carga dirigida contra ele, chegou à franqueza indignada de apontar o desvio do escândalo jornalístico e das investigações, mais ou menos assim: "O importante para investigar não são os encontros com mulheres, são as reuniões feitas naquela casa". (A frase e seu alcance ficaram registrados na Folha, aqui mesmo).

Nem assim houve questionamento algum às reuniões sigilosas do grupo liderado pelo ministro e integrado, além de componentes do seu gabinete, por vários lobistas e intermediários de negócios. A omissão teve o propósito de salvar o ministro da Fazenda simbólico da adesão do governo Lula à política neoliberal do governo Fernando Henrique.

Já que não foi possível apagar tudo, da decisão do Supremo resulta jogar toda a responsabilidade, nos atos contra Francenildo Costa, em Jorge Mattoso, presidente da Caixa Econômica Federal que fez lá a verificação da conta do caseiro.

Quanto a Palocci, no dizer do relator Gilmar Mendes seguido por quatro ministros, no pedido de processo "há apenas ilações que não estão suficientemente concatenadas para se constituir em elementos de prova", só há "meras suposições que não legitimam por si sós a abertura de ação penal".

Houve a quebra de sigilo e, em seguida, a divulgação de que Francenildo Costa tinha em sua conta dois depósitos incompatíveis com o salário, tidos como evidência de que fora subornado para acusar a presença de Palocci na tal casa? Houve, reconhecidamente. Há certeza sobre a autoria da violação do sigilo e da divulgação? Não, há indícios e suspeitos. O que é próprio do Judiciário, até por constituir a razão de sua existência, em tais casos? Instaurar processo para apurar, até onde for possível, a autoria e as demais responsabilidades.

No 16 de março de 2006, em que Francenildo depõe na CPI dos Bingos e compromete Palocci, o então ministro chama Jorge Mattoso ao seu gabinete. De volta à Caixa, Mattoso pede um extrato da conta de Francenildo. Informado do encontro de dois depósitos anormais, cujos extratos recebe pouco depois, Palocci troca 42 ligações telefônicas com seu assessor de imprensa, Marcelo Netto, o qual, por sua vez, tem seis telefonemas com o filho que trabalha na revista "Época". Logo o site da revista e depois a própria divulgam a acusação de suborno do caseiro para acusar o inocente Antonio Palocci.

São esses fatos, como diz Gilmar Mendes, "apenas ilações não suficientemente concatenadas" para justificar um processo judicial que procure apurá-los plenamente e estabelecer as responsabilidades, para possíveis efeitos penais? Votaram contra a inocentação a priori de Palocci, e pela ação judicial, os vencidos ministros Cármen Lúcia Rocha, Carlos Ayres Britto, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello.

Há uma particularidade especialmente abjeta na difamação difundida contra Francenildo Costa. É que Antonio Palocci tinha plena consciência de ser verdadeira a afirmação do caseiro de que o vira na caverna brasiliense da "república de Ribeirão Preto". E depressa saberia, ainda, que os dois depósitos na conta de Francenildo Costa provinham de remessas feitas por seu pai. No primeiro caso, mentiu deslavadamente. No segundo, não emitiu nem uma só palavra em favor da verdade.

A "república" e seu chefe ainda têm processos no Judiciário paulista, mas os remanescentes do grupo já podem juntar-se a Lula e ao PT para dar a Antonio Palocci outro cargo no governo ou tentar elegê-lo para o governo de São Paulo, onde há muitas casas discretas.

sexta-feira, agosto 21, 2009

Enfim, eles conseguiram o cadáver que buscavam

Enquanto este artigo é elaborado, na manhã de 21 de agosto, o noticiário traz, pela TV, rádio e Internet, notícias ainda esparsas e desencontradas sobre a morte de um homem de 40 anos, membro das fileiras do MST, durante a operação de desocupação da Fazenda Southall pela Brigada Militar. O coronel Lauro Binsfeld, subcomandante geral da BM, homem íntegro que já foi comandante regional para a Fronteira Oeste, declarou que o cidadão que veio a falecer na Santa Casa de Caridade, teve um mal súbito durante a desocupação. Não tenho motivos para duvidar disso. Mas ainda que um médico ateste que isso ocorreu, e que não tenha sido resultado de confronto, o MST conquistou finalmente o objetivo que persegue em São Gabriel desde 2002: a conquista de um cadáver.
. Desde o ato irresponsável do Presidente Lula naquele já longínquo ano, ao decretar de forma ilegal a desapropriação desta fazenda, ato rejeitado não somente pela classe rural, mas por toda a sociedade gabrielense que se mobilizou, o MST e seus aliados passaram a enxergar São Gabriel como uma “questão de honra”. E isso não é uma expressão nossa, são palavras do próprio ex-superintendente do Incra gaúcho, o desmoralizado Mozar Dietrich, muito feroz para disparar sua fúria verbal contra produtores rurais honestos e quites com seus impostos, mas leniente até a servidão com agiotas que exploravam produtores nas áreas do MST, tendo sido afastado por isso.
. Agora, a cobertura jornalística irá se encarregar de caracterizar a operação da Brigada Militar como “violenta”. Nenhuma palavra será dita sobre a violência da invasão, cujo simples ato já é uma afronta não somente aos atingidos, mas à Lei e ao Estado de Direito.
. Restam, até onde nos chega a informação, três policiais militares feridos. Não tenho dúvida que, a partir de agora, São Gabriel será freqüentada por Ongs de direitos humanos (meros aparelhos da esquerda) para “denunciar” o “assassinato de um trabalhador rural”, mas e quanto à integridade física dos trabalhadores da lei? Será que alguma ONG se oferecerá para prestar assistência aos policiais militares feridos? Conhecendo a “humanidade seletiva” desses grupos, duvido muito. Celebram até hoje Chico Mendes e Dorothy Stang, mas preferem ignorar o PM Valdeci, degolado na Praça da Matriz em 1986, governo Simon.
. Ainda sem saber se esta pessoa foi ou não atingida por um disparo, afirmo com clareza: quem comete crimes se expõe à ação repressora do Estado. Em qualquer democracia do mundo, a polícia existe para resguardar a lei e usar de sua força repressora para garantir a ordem pública. Chamar isso de violência é inverter uma equação, e ignorar o uso de força por parte do MST para entrar nesta área.
. Quanto à morte deste cidadão, é evidente que se deve lamentar. Especialmente porque acreditou em um discurso ilusório semeado por líderes que, nem de longe, se expõem aos mesmos riscos da militância, tratada como massa de manobra e bucha de canhão. É de espantar a perversidade dos líderes do MST que, a exemplo dos líderes da Jihad Islâmica, usam seus “homens-bomba” para o sacrifício voluntário na esperança de amanhãs sorridentes. Para este homem, o amanhã não virá...por culpa exclusiva do MST.

TARSO TEIXEIRA
Presidente do Sindicato Rural de São Gabriel
Vice Presidente da Farsul

OS TRAPALHÕES

por Carlos Chagas

Anos atrás os trapalhões eram quatro: Dedé, Didi, Muçum e Zacarias, os dois últimos de saudosa memória. Hoje, são muitos mais. Acima de fazer rir, fazem chorar, lamentar e ranger os dentes. Jamais se viu na crônica do Senado comportamento tão indigno de boa parte de seus integrantes.
Trapalhões foram Paulo Duque, conduzindo o Conselho de Ética como a Mãe Joana conduzia o seu estabelecimento. Aloísio Mercadante, girando mais do que biruta de aeroporto, desagradando o PT inteiro e servindo de chacota para os demais partidos. Wellington Salgado, fazendo as vezes de Sansão às avessas, pois quanto mais crescem seus abomináveis cabelos, mais se credencia a demonstrar fraqueza e indigência. Almeida Lima, um Rolando Lero mais eficiente do que o original, na escolinha de horror do Senado. Ideli Salvatti, a perfeita bruxa da Branca de Neve que em vez de oferecer maçãs envenenadas, engoliu todas de uma vez. Romero Jucá, líder dos dois mundos, pensando em imitar Taillerand mas representando o papel Luís XVI a caminho da guilhotina. E quantos mais, envolvidos na mais execrável das pantomimas parlamentares, dirigida dos porões do palácio do Planalto?
Indaga-se quando e como o Senado poderá pensar em recuperar sua imagem, depois do espetáculo desta semana. Parece que nunca, porque não se tratou apenas de salvar José Sarney de acusações que ele poderia ter respondido com segurança e altivez. No caso, os trapalhões transformaram a atividade parlamentar num circo. No qual tocaram fogo.

Presidente Lula, o senhor tem vergonha?

A história de um homem que veio de camadas sociais inferiores, orgulha-se de sua pouca cultura, de ser filho de mãe analfabeta e, com essa biografia, ter se tornado líder sindical no estado mais rico do país, fundado um partido político, chegado a Presidente da República do Brasil e, como Presidente, ter sido chamado de “O Cara” pelo Presidente da República do país mais influente do mundo, sem dúvida é maravilhosa, causa admiração em milhões de pessoas e não ocorre com facilidade.

Admira-me que, com essa trajetória, Lula não tenha se dado conta de que a mesma ficará na história do país e consequentemente da humanidade, o que deveria colocá-lo em uma posição de extremo cuidado com essa biografia, para não maculá-la depois de tanto sacrifício para atingir sua atual posição.

Como brasileiro que sempre foi anti-PT , fico à vontade para dizer que me surpreende que este mesmo homem de sucesso, com essa história de luta, permita em seu governo tantos escândalos como “nunca antes na história deste país” foram vistos, como o enriquecimento ilícito de membros do governo e até de sua família, os desmandos cometidos pelos petistas guerrilheiros Zé Dirceu e Zé Genoíno, pelo Marcos Valério e o mensalão, os dólares em cuecas, os atos secretos, as passagens aéreas, os apartamentos funcionais e tantos outros.

Agora a nação brasileira vê, escandalizada, o vergonhoso abraço do PT com o PMDB em torno da absolvição de Sarney, com a única finalidade de salvar a candidatura de Dilma Rousseff nas eleições do ano que vem.

Vê o Senador Paulo Duque, do PMDB do RJ, presidente do Conselho de Ética do Senado, dizer que não deveríamos nos escandalizar, pois “existem países bem piores, como o Irã, que nem Congresso tem”.

Quem poderia imaginar ver o Lula elogiando o Collor e sendo veementemente defendido por este?

E o “Conselho de Ética” engavetar todos os processos que apontavam as falcatruas de Sarney e de sua família, com o total apoio da bancada do PT?

É tanta porcaria que até a senadora Marina Silva, militante do PT há trinta anos, deixou o partido. O Senador Flávio Arns, do PT-PR, pediu desculpas a seu eleitorado pelas atitudes do partido e também saiu.

E o Sarney, que não pode ser julgado como uma pessoa comum, pois como diz o presidente Lula, “tem uma história” e assim sendo deve ser respeitado?

E a sua história presidente? Vai jogá-la pelos ares? Vai morrer na praia?

Presidente Lula, TENHA VERGONHA e continue sua trajetória de sucesso para que seus netos não se envergonhem da vergonha que o senhor não teve.

João Bosco Leal
Brasileiro, Produtor Rural
Campo Grande – MS http://www.mnp.org.br/adm/09.
mnp@mnp.org.br

A UNE e o projeto de perpetuação no poder de Lula

por Carlos Vereza

"Não há em toda a Dinamarca um só canalha que não seja... um patife consumado". Hamlet

Essa "nova" UNE (União Nacional dos Estudantes), raquítica de ideais, não pode ser descartada de um projeto maior, megalômano, não só de perpetuação no poder do senhor Luiz Inácio, mas de um ultrapassado antiamericanismo, compactuado por países como Bolívia, Equador, Paraguai e Venezuela - com o psicopata Chávez implantando, ante a simpatia de Lula, um regime ditatorial, anulando, inclusive pela violência, a liberdade de órgãos de comunicação que não se submetem a seu despotismo.

Cabe à "nova" UNE minimizar a natural tendência dos jovens estudantes à contestação, própria de sua faixa etária; às centrais sindicais, aparelhar não apenas os sindicatos, como também a máquina governamental.

Os intelectuais e artistas - com as devidas ressalvas - permanecem silenciosos, ávidos por um patrocínio, ou quiçá por uma bolsa de "aperfeiçoamento" no exterior. Como se não bastasse, o Brasil pratica a pior política externa de todos os tempos: uma verdadeira teia de "solidariedade" estende-se ao Irã do lunático Ahmadinejad, à Coreia do Norte do moralmente minúsculo Kim Jong-Il, sem esquecer, é claro, a indisfarçável leniência para com os narcotraficantes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Lula, "orientado" pelos teóricos do PT, segue de ouvido as formulações do defasado pensador italiano Antonio Gramsci (o príncipe moderno...), servindo-se da democracia para posteriormente destruíla.

A bolsa-anestesia exclui a população mais necessitada de qualquer possibilidade de acesso à cidadania, transformando-a, para utilizar um jargão "esquerdista", em verdadeira massa de manobras.

A desmoralização do Legislativo, do Judiciário, o desmonte das Forças Armadas, os bandoleiros do MST são dados que formatam uma estratégia que poderá nos levar a uma "democracia" plebiscitária, e a uma oposição figurativa.

E a "nova" UNE cumpre, talvez, a mais insidiosa dessas tarefas: a de manter apática e colonizada culturalmente o que poderia ser a parcela da população com potencial para rever uma prática política cruel e apodrecida.

* Carlos Vereza é ator.

Democracia totalitária

por Denis Rosenfield

Hugo Chávez persegue opositores, fecha canais de televisão e estações de rádio, legisla por decretos, vende armas às Farc, não respeita a soberania da Colômbia, submete o Poder Judiciário, obriga seus militares a jurarem “pátria, socialismo ou morte”, relativiza e mesmo abole o direito de propriedade e nada, entretanto, ocorre com ele. Nenhuma manifestação da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Assembleia das Nações Unidas, da diplomacia brasileira, etc. É como se não houvesse nenhum atentado à democracia. Ao contrário, sustentam que a democracia está sendo seguida naquele país. Nenhum país pede que seus embaixadores se retirem nem há corte de ajuda e/ou relações bilaterais. O déspota Chávez torna-se um “democrata”.

Enquanto isso, em Honduras, as instituições do país, por intermédio do Supremo Tribunal, do Congresso, das Forças Armadas, com apoio explícito da Igreja Católica, dos meios de comunicação e da sociedade civil em geral, destituíram um presidente que seguia o caminho de Chávez. Colocou-se como um projeto de déspota ao tentar quebrar cláusulas pétreas da Constituição hondurenha, como a da reeleição de presidente da República, e por isso mesmo foi deposto. É como se o céu tivesse caído na cabeça do país. Protestos de todos os lados. Assembleia das Nações Unidas, OEA, Estados Unidos, União Europeia, diplomacia brasileira e, é claro, os castro-bolivarianos: os irmãos Castro, Chávez, Daniel Ortega, Rafael Correa e Evo Morales. Neste último caso, os liberticidas se põem como os defensores da liberdade e da democracia.

Um pequeno país resiste bravamente a uma reação dessa magnitude, em nome de suas instituições, em nome da democracia. No entanto, os seus atores são tratados como “golpistas”, enquanto os déspotas bolivarianos são tidos por “democratas”. O que está em questão neste jogo com a palavra democracia?

Há duas acepções da democracia em questão, a da democracia totalitária e a da democracia representativa ou constitucional. A democracia totalitária volta-se contra o espaço de liberdade próprio da sociedade, de suas regras, leis e instituições, o que é precisamente assegurado pela democracia representativa. Esta se baseia no exercício da liberdade em todos os seus níveis, da liberdade de imprensa, de expressão, de organização política, econômica até o respeito à divisão dos Poderes republicanos, passando pela consideração do adversário como alguém que compartilha os mesmos princípios. Disputas partidárias, por exemplo, são regradas e não desembocam no questionamento das próprias instituições, vale dizer, da Constituição. Nesse sentido, processos eleitorais se inscrevem neste marco mais geral, não podendo, portanto, ter a autonomia de subverter os princípios constitucionais, o ordenamento das instituições. Processos desse tipo são necessariamente limitados.

Nas democracias totalitárias temos um processo de outro tipo, em que o voto passa a ser utilizado de forma ilimitada, como se ele fosse por si mesmo, graças à manipulação de um líder carismático e de seu partido, o princípio do ordenamento institucional. Eis por que tal tipo de regime político tenta funcionar por meio de assembleias constituintes e referendos sistemáticos, num constante questionamento de todas as instituições, tidas por “burguesas” e expressão das “elites”. A democracia totalitária não admite nenhuma limitação, nenhuma instância que a regre. Tende a considerar tudo o que se interpõe no seu caminho como não-democrático, ganhando o epíteto de “direita”, “conservador” e “neoliberal”.

Pode-se dizer que a democracia totalitária se caracteriza por essa forma de ilimitação política, tendo como “inimigo” a limitação própria das instituições sociais, das instâncias representativas. Ela terá como alvo a ser destruído todo espaço que se configure como independente, em particular aquele espaço que torna possíveis as liberdades individuais e o processo de livre escolha. Não pode suportar um Estado de Direito, baseado precisamente nessas liberdades. Ou seja, a democracia totalitária não pode suportar a democracia liberal, também dita representativa ou constitucional, pelo fato de assegurar a existência de leis, de Poderes e de instituições, que não se podem adequar a tal processo de mobilização totalitária.

Eis por que as democracias totalitárias partem para questionar toda forma de existência democrática, social, que não se estabeleça conforme os seus desígnios. Os meios de comunicação que não aceitem ser instrumentalizados passam a ser considerados inimigos que devem ser abatidos, seja por diminuição de verbas publicitárias, seja por processos judiciais, seja por mecanismos de controle ou de banimento dos mais diferentes tipos. O contestador deve ser silenciado, pois não obedece aos ditames do “povo”, de tal “maioria” politicamente constituída. As esferas que asseguram a livre iniciativa individual são progressivamente circunscritas e limitadas, de modo que as pessoas sintam medo e passem a agir de forma não autônoma, como se assim houvesse uma conformidade ao que é “popular”. O Estado de Direito, por sua vez, é cada vez mais menosprezado, seja por não-obediência à legalidade existente, seja pela modificação incessante de leis e normas constitucionais, seja por atentados cometidos contra os princípios mesmos de uma sociedade livre.

A democracia totalitária volta-se contra os direitos individuais, contra os direitos das pessoas de não se dedicarem aos assuntos políticos, de se contentarem com seus afazeres próprios. Ela se volta contra as instituições por estas interporem um limite ao seu desregramento. Ela se volta contra a propriedade privada tanto no sentido material, de bens, quanto imaterial, de liberdade de escolha. Ela se volta contra todo aquele que reclame pela liberdade. Eis a questão com que nos defrontamos na América Latina. A clareza dos conceitos é uma condição da verdadeira democracia.

(O Estado de S. Paulo - 03/08/2009)

quinta-feira, agosto 20, 2009

Um conto de duas subversivas

por Demétrio Magnoli - O Globo

Dilma Rousseff e Lina Vieira são subversivas, mas em tempos diferentes. Dilma rebelou-se contra a ordem no passado, usando a mentira factual para combater a verdade de um poder ilegítimo. Lina insurge-se contra a ordem no presente, usando a verdade factual para desmascarar a mentira de um poder legítimo, mas abusado.

Ano passado, o senador Agripino Maia sugeriu que as mentiras contadas pela jovem Dilma nos porões indicariam uma propensão da ministra a mentir ao Senado sobre o dossiê elaborado na Casa Civil contra Ruth Cardoso. A resposta da ministra cortou o ar como a espada de um samurai: "Diante da tortura, quem tem dignidade fala mentira. Aguentar tortura é dificílimo. Me orgulho de ter mentido porque salvei companheiros da mesma tortura e da morte."

Agripino Maia iniciou sua carreira política na Arena, o partido situacionista na ditadura militar. A sua pergunta infeliz à ministra evidenciou a persistência de um desvio de princípio. Nas democracias, diante das autoridades policiais e judiciárias, um acusado tem o direito de calar para não se incriminar. Desse direito decorre o direito sagrado à mentira diante dos torturadores. Ele devia saber disso.

A resposta da ministra não foi submetida ao crivo da crítica, em virtude de sua carga emotiva. Mas ela estava errada ao justificar a mentira por meio da sua finalidade útil. A jovem Dilma pertenceu à VAR-Palmares, uma organização que se enxergava como vanguarda do proletariado e ferramenta de uma história em rota rumo ao porto do socialismo. A mentira nos porões servia não só para salvar companheiros, mas sobretudo para preservar a organização revolucionária. Mas essa justificativa política e moral da mentira só funciona no universo lógico do militante que pensa possuir a chave mágica de um futuro redentor.

A lógica da militante está presente na resposta da ministra. Ela podia ter dito que mentiu porque os que a interrogavam não tinham nenhum direito de fazê-lo. Mas preferiu dizer o que disse — e sua escolha tem significado. Justificar a mentira pela sua utilidade política é abrir uma senda perigosa, que desconhece a fronteira entre a ditadura e a democracia. Sob a lógica utilitária, Lula poderá um dia dizer que alegou nada saber a respeito do mensalão a fim de preservar um governo devotado a salvar o povo da "elite que manda no Brasil há 500 anos". No mesmo diapasão, Antonio Palocci pode confessar, no futuro, que determinou a quebra do sigilo bancário de uma testemunha com a finalidade de conservar a racionalidade de uma política econômica contestada no núcleo do PT. E, como cada um elege valores segundo critérios de consciência individual, José Sarney fica moralmente autorizado a esclarecer, amanhã, que mentiu sem parar sobre os atos secretos do Senado para proteger os interesses de seus filhos, primos, sobrinhos, afilhados e netos...

Lina converteu-se em perigosa subversiva ao assumir o cargo de secretária da Receita Federal. O seu gesto de insurgência consistiu em cumprir a lei — ou seja, conferir tratamento igual a todos os contribuintes. A adesão à lei representa uma corajosa ruptura com a norma, num tempo em que o princípio da impessoalidade na administração pública experimenta uma baixa sem precedentes.

No Brasil de Lula, elaboram-se teorias sobre as virtudes da distinção. As universidades, em nome da justiça social, selecionam candidatos segundo a cor da pele (na prática, muitas vezes segundo o alinhamento ideológico a ONGs do movimento negro). O governo, em nome da projeção externa de uma empresa nacional, muda a lei de telecomunicações de modo a favorecer os empresários que financiaram a fundo perdido os negócios do filho do presidente. O próprio Lula declara que o ex-presidente no comando do Senado, hoje seu aliado político, não deve ser escrutinado como uma pessoa comum. Sobre essa tela de fundo, o gesto de Lina equivale a uma conclamação revolucionária.

Conheço uma professora universitária que se esqueceu de lançar no imposto de renda uma receita simbólica, de umas centenas de reais, pela participação eventual numa banca de doutorado. Anos depois, a falha valeu-lhe uma cobrança da Receita que, acrescida de multa e juros, importava em milhares de reais. Quando Lina resolveu que grandes empresas privadas (leia-se: generosos financiadores de campanhas eleitorais) mereciam abordagem similar, chegaram à imprensa rumores de que a secretária havia se cercado de "sindicalistas", aparelhando o órgão.

No passo seguinte, Lina impugnou uma manobra contábil da Petrobras que "economiza" o pagamento de bilhões em impostos. A ousadia de mexer com a estatal intocável, um ícone da pátria no panteão do nacionalismo de araque, selou-lhe a sorte. A máquina de difamação disseminou um diagnóstico de incompetência da secretária, que seria a responsável pela inevitável queda na arrecadação no curso do ciclo recessivo. Por ordem do Planalto, a subversiva foi demitida.

A imprensa apurou que, na trajetória da insurreição, os caminhos de Dilma e de Lina se cruzaram. A ministra teria solicitado uma reunião sigilosa com a secretária, na qual pediu o célere encerramento de uma investigação fiscal da família Sarney. Lina confirmou a história, oferecendo sua palavra como garantia. Dilma negou a existência da própria reunião.

Mais uma vez, tudo gira em torno da verdade factual. A ministra podia ter dito que sim, se reuniu a sós com Lina, porém não pediu que tratasse Sarney como um homem incomum. Mas escolheu um caminho que faz da existência da reunião uma comprovação lógica de que existiu também o pedido. Agora, surgiu uma testemunha ocular do agendamento da reunião: chama-se Iraneth Weiler e (ainda) ocupa a chefia de gabinete do secretário da Receita. É uma prova de crime e caberia a Dilma refutá-la factualmente. A não ser que ela pense mesmo que o valor da verdade se mede pela sua utilidade.

DEMÉTRIO MAGNOLI é sociólogo e doutor em geografia humana pela USP.

sábado, agosto 15, 2009

O dízimo do tráfico!

por Diogo Mainard

“Carlos Magno de Miranda era um dos líderes da Igreja Universal. Ele relatou os detalhes de sua ida a Medellín, para receber dinheiro dos narcotraficantes colombianos. Um mensageiro entregou-lhes 450 000 dólares. As mulheres dos pastores esconderam o dinheiro nas calcinhas”

O pastor Carlos Magno de Miranda, em 1991, acusou a Igreja Universal de ter comprado a Rede Record com dinheiro de narcotraficantes colombianos. Agora, com duas décadas de atraso, o episódio finalmente poderá ser esclarecido. Os mesmos promotores que, na semana passada, denunciaram criminalmente Edir Macedo e outros integrantes da Igreja Universal indagam também a suspeita de que a segunda parcela da compra da Rede Record possa ter sido saldada com recursos do Cartel de Cali. Carlos Magno de Miranda é uma das testemunhas arroladas pelo Ministério Público, e os promotores cogitam pedir a abertura de mais um processo contra os donos da Rede Record.

Carlos Magno de Miranda era um dos líderes da Igreja Universal. Em 1990, ele se desentendeu com Edir Macedo e passou a atacá-lo publicamente. Num dos documentos obtidos pelo Ministério Público, ele relatou os detalhes de sua ida a Medellín, para receber o dinheiro dos narcotraficantes colombianos. Ele teria viajado com os pastores Honorilton Gonçalves e Ricardo Cis, todos acompanhados de suas mulheres. Permaneceram dois dias na cidade. No primeiro dia, aguardaram no hotel. No segundo dia, um mensageiro entregou-lhes uma pasta contendo 450 000 dólares. As mulheres dos pastores esconderam o dinheiro nas calcinhas e, de madrugada, retornaram ao Rio de Janeiro num jato fretado. Segundo Carlos Magno de Miranda, os fatos teriam ocorrido entre 12 e 14 de dezembro de 1989. Os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) analisaram os registros aeroportuários da Polícia Federal e – epa! – documentaram que, naqueles dias, os pastores da Igreja Universal realmente foram a Medellín, com escala em Manaus.

O Ministério Público, além disso, entrou em contato com autoridades americanas para poder interrogar o narcotraficante colombiano Víctor Patiño, que foi preso em 2002 e extraditado para os Estados Unidos. Seu nome foi associado ao da Igreja Universal em 2005, quando a polícia colombiana descobriu que uma de suas propriedades em Bogotá – uma cobertura de 600 metros quadrados – era ocupada por Maria Hernández Ospina, que alegou ser representante de Edir Macedo. Uma das dificuldades dos promotores do Gaeco é que Edir Macedo tem cidadania americana, dado confirmado oficialmente pelo consulado. O Ministério Público já encaminhou todos os documentos do processo contra Edir Macedo aos Estados Unidos, para que os americanos possam abrir um inquérito próprio.

A Igreja Universal, nos últimos dias, atrelou sua imagem à de Lula. É a mesma estratégia empregada por José Sarney. Um apoia o outro. Um defende o outro. Edir Macedo está com Lula e com Dilma Rousseff. Agora e em 2010. Se a Igreja Universal tem um Diploma do Dizimista, assinado pelo senhor Jesus Cristo, Dilma Rousseff tem um Diploma de Mestrado da Unicamp, supostamente assinado pelo senhor Espírito Santo. O senhor Edir Macedo e o senhor Lula se entendem. Eles sabem capitalizar a fé.

Por Diogo Mainardi

quinta-feira, agosto 06, 2009

A terrível verdade sobre Walter Cronkite!

No Midia@Mais
por Cliff Kincaid em 25 de julho de 2009 Opinião - EUA e Geopolítica

Cronkite: a serviço da agenda esquerdista internacional

É errado falar mal dos mortos. Por outro lado, é um insulto à inteligência do povo americano fingir que Walter Cronkite era a “voz de Deus” e “universalmente acreditável”, tal como o definiu Mara Liasson no programa Fox News Sunday. A terrível verdade é que Walter Cronkite simbolizou a tendenciosidade da mídia liberal [i.e., esquerdista, nos EUA, num sentido praticamente oposto àquele que o termo tem no Brasil ou na Europa quando designa posição política] e usou esse viés tendencioso com consequências desastrosas para a nossa nação e para o mundo. Sua última causa era o governo mundial e a destruição da soberania americana.

Nós descobrimos que depois de sua aposentadoria, Cronkite não era apenas um liberal, coisa evidente em suas transmissões pela televisão, mas sim um adepto de uma ordem mundial única. Em aparições diante da World Federalist Association, entidade que é a favor de um governo mundial financiado por impostos globais, ele pedia que os Estados Unidos renunciassem a “uma parte de sua soberania” e aprovassem uma série de tratados da ONU – muitos dos quais estão agora em tramitação no Senado, por iniciativa do Presidente Barack Obama. Cronkite clamava por um “Liberty Bell internacional”. [1]

Ele exigia que o Senado americano ratificasse: o Tratado Contra as Minas Terrestres, a Lei do Tratado dos Mares, o Tratado do Banimento de Testes Nucleares, a Convenção para Eliminar Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, e a Convenção sobre os Direitos da Criança. O mais importante, dizia ele, seria assinarmos e ratificarmos o Tratado para uma Corte Criminal Internacional Permanente, a qual violaria os direitos constitucionais americanos ao permitir que juízes estrangeiros processassem cidadãos americanos e os mandassem para prisões no exterior. Cronkite estava determinado a usar a ONU e seus tratados para inibir a habilidade dos Estados Unidos nas ações em defesa de seus interesses de segurança nacional.

Uma das aparições de Cronkite, quando ele aceitou um prêmio de “Governança Global”, está disponível em vídeo, num evento onde se destacam a mulher do então Secretário Geral da ONU, Kofi Annan e a então primeira-dama americana Hillary Clinton. O mesmo prêmio de “Governança Global” havia também sido conferido ao ex-colunista da revista Time, Strobe Talbott, que posteriormente foi um dos principais membros do Departamento de Estado na administração Clinton e subsequentemente chamado de “um contato especial” do serviço de inteligência russo, nas palavras de um espião russo. Talbott atualmente dirige o think tank de esquerda Brookings Institution.

Em 1988, sete anos após a sua aposentadoria, quando deixou de ser o âncora do CBS Evening News, Cronkite discursou numa conferência da organização de esquerda People for the American Way e denunciou o Presidente Reagan pelas ações militares “unilaterais” em Granada, quando os Estados Unidos expulsaram uma gangue comunista, e na Líbia, quando Reagan ordenou um ataque militar em retaliação a atos terroristas contra americanos.[2] Cronkite criticava as políticas de paz-através-da-força de Reagan, e dizia que o presidente mais sagaz que ele havia conhecido era Jimmy Carter.

Anos mais tarde, Cronkite denunciou a invasão ao Iraque e atacou a administração Bush por sua “arrogância”.

Seu papel na derrota na Guerra do Vietnã está sendo retratado como se fosse um ponto alto de sua carreira. No entanto, a sua reportagem equivocada ajudou a criar as condições para uma prematura retirada militar americana, que tornou em vão a perda de 58.000 vidas americanas, sem esquecer os milhões de mortos pelos comunistas no Vietnã e Camboja após a retirada. O veredicto público de Cronkite sobre a Ofensiva do Tet em 1968, classificando-a de “derrota” para os Estados Unidos é vista largamente como o ponto de virada do apoio popular americano à guerra. Cronkite afirmou, falsamente, que os vietcongs tiveram o controle da embaixada americana em Saigon por seis horas e que a ofensiva “continuou por dois meses”. Os fatos mostram que a Ofensiva do Tet foi, na verdade, uma enorme derrota para o inimigo comunista.

Reed Irvine, fundador do Accuracy in Media e há longo tempo editor do AIM Report, ressaltou que Cronkite “em muito contribuiu para a nossa derrota no Vietnã”.

Além do Vietnã, Cronkite entendeu tudo errado em mais uma grande questão: liberdade versus comunismo soviético. Em seu livro de 1974, TV and National Defense, o Dr. Ernest Lefever examinou como, durante dois anos, os programas da CBS News tinham feito a cobertura de assuntos de segurança nacional e concluiu que a CBS News foi “uma defensora ativa de diversas posições que frequentemente eram críticas à política dos Estados Unidos, e normalmente de uma perspectiva que implicava ou demandava um compromisso militar menor e gastos de defesa menores”.

Em 1972, por exemplo, o CBS Evening News levou ao ar 1.400 segmentos em apoio à visão de acomodação pacifista. Posições contrárias, ou de confronto, foram ao ar apenas 79 vezes.

Perguntado sobre essas críticas, Cronkite demonstrou o viés que guiou o seu programa de notícias, dizendo: “Em Washington sempre há grupos externando visões alarmistas sobre as condições de nossa defesa. Nós não levamos ao ar essas histórias. A história é que há aqueles que querem cortes nos gastos de defesa”. O “homem mais confiável da América” não merecia a nossa confiança.

Em 1979, ele concedeu uma entrevista à revista soviética Literary Gazette, e contou ao jornalista Vitaly Kobysh que a “ameaça soviética” era “muito provavelmente... um mito”. De acordo com a revista, Cronkite prosseguiu, dizendo: “Eu nunca vou acreditar na ‘ameaça soviética’ ”.

Pouco depois da publicação da entrevista, os soviéticos invadiram o Afeganistão. Cronkite se aposentou como âncora do CBS Evening News em 1981.

Cronkite disse ao fundador e editor do AIM, Reed Irvine, que Kobysh o havia citado erroneamente, e que tinha uma fita gravada da entrevista para provar isso. A fita nunca se materializou. Durante uma conferência internacional de mídia, Irvine acabou se encontrando com Kobysh e o jornalista soviético disse que a entrevista fora inteiramente correta.

Depois que Ronald Reagan assumiu a presidência e começou a reforçar a capacidade de defesa dos Estados Unidos, na esteira dos anos desastrosos de Jimmy Carter na presidência, a CBS News agiu para frear o esforço de Reagan. Eles levaram ao ar um programa em cinco partes, "The Defense of the United States”, no qual Cronkite aparecia para nos dizer que a relação com a União Soviética estava dominada pelos “mesmos e velhos temores e dúvidas” porque não tínhamos um diálogo genuíno com os comunistas soviéticos.

Na época em que esse programa foi ao ar, Irvine observou que a CBS nos passava “a visão do Kremlin, isto é, de que não é a União Soviética, mas sim os Estados Unidos que estão buscando uma superioridade militar impossível, enquanto criam fantasias a respeito da agressão soviética”.

Todavia, Irvine observou que Reagan “não foi intimidado” pelo ataque da CBS News, mas que seu ímpeto e autoridade para reconstruir a defesa dos Estados Unidos, que vinha desde sua eleição, foram um tanto quanto “enfraquecidos” pela constante repetição de que ele estaria gastando demais com a segurança nacional. Os cúmplices de Cronkite nessa cruzada incluíam Dan Rather, seu sucessor, e Bill Moyers, então na CBS e atualmente na TV pública.

Por muitos anos Irvine chamou a atenção para o “persistente viés anti-defesa da CBS News”, e informava: “É preciso perguntar por que o viés anti-defesa é tão forte e persistente na CBS. Minha percepção é de que é um reflexo dos pontos de vista enunciados por Walter Cronkite, os quais mostram um quadro benigno da União Soviética”.

Em 1989, ao expressar a esperança de que os arquivos soviéticos fossem um dia abertos para demonstrar como o Kremlin manipulou jornalistas americanos, tais como Walter Duranty, do New York Times, que havia mentido e ajudado Stalin a encobrir seus crimes monstruosos que resultaram na morte de 7 a 10 milhões de ucranianos, Irvine acrescentou: “Seria fascinante ver o que eles dizem a respeito de Walter Cronkite, que passou dois anos em Moscou depois da II Guerra Mundial como correspondente da UPI e que foi notavelmente contido em suas críticas a aquele país desde então”.

Isto pode soar rude, mas o fato é que Cronkite esteve consistentemente errado a respeito das intenções soviéticas, e sua atitude dominou a cobertura que a CBS News fez da velha União Soviética.

Depois do colapso soviético, Irvine escreveu o 1990 AIM Report sobre aquelas personalidades que tinham adotado “uma posição benigna ou adulatória diante do comunismo e da União Soviética desde o coup d'etat bolchevique em 1917”. Cronkite estava na lista dos “conciliatórios”, que também incluía "Hanoi Jane" Fonda.

Está certo reconhecer Cronkite por sua longa vida e pelos muitos anos como âncora do CBS Evening News. Ele figurou como a imagem de momentos importantes e alcançou milhões de telespectadores. Mas não finja que ele foi um jornalista objetivo.

O jornalismo de Cronkite custou vidas e poderia ter custado muitas mais, não fosse por um presidente chamado Reagan, que teve a coragem de ignorar a grande mídia e se dirigir diretamente ao povo americano com a verdade sobre as nossa defesas enfraquecidas, numa época em que os Estados Unidos estavam cada vez mais vulneráveis.

Num tributo a Cronkite, Chris Wallace, apresentador do Fox News Sunday, disse “O país teve muita sorte em tê-lo naquele assento”, como âncora. Não. Os Estados Unidos tiveram de sorte de escapar de sua influência perniciosa. Agora temos de tentar escapar do destino de um governo mundial, que Cronkite transformou em sua maior causa mais tarde em sua vida, causa que foi adotada pelo presidente Barack Obama e pelo Papa
Tradução: Henrique Dmyterko

Publicado originalmente no www.aim.org em 20/07/2009

Traduzido e publicado no Mídia@Mais com a autorização expressa do autor.

Cliff Kincaid é editor do AIM Report e pode ser contatado pelo email: cliff.kincaid@aim.org Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

[1] NT: O Liberty Bell, [sino da liberdade] é um dos símbolos da luta pela independência americana.

[2] NT: O autor refere-se ao atentado de Lockerbie, Escócia, em 1988, onde morreram 243 passageiros e 16 tripulantes do vôo 103 da PanAm, em decorrência da explosão de uma bomba a bordo. Morreram também 11 moradores de Lockerbie.