por Jarbas Passarinho
A reportagem sobre o encontro do presidente Lula com mais de 3 mil e 500 prefeitos municipais e suas esposas, na semana passada, o ofendeu ao vinculá-lo à emissão de um “pacote de bondades”. Ademais, atribuiu o evento, inédito nos seis anos que preside o Brasil, quando as proveitosas viagens ao exterior permitem, à antecipação ilegal da campanha eleitoral da ministra Dilma Roussef. Um encontro sério — afirma o governo — para derrotar o pessimismo dos novos gestores municipais, que estão fazendo cortes orçamentários descabidos, nos quais a economia com infraestrutura atingiu papel higiênico para 15 mil pessoas. A mídia, ao descrever a reunião como destinada a cooptar os prefeitos para as eleições de 2010, aumentou-lhe a azia.
Pois não é que a irritação do presidente me pareceu justificada? Os prefeitos sistematicamente devem ao INSS. Acham que os antecessores são responsáveis, conquanto seja dívida acumulada em várias gestões sucessivas. Não pagaram, mesmo podendo parcelar em 60 vezes, ou seja, em cinco anos. Que fez o presidente? Condoeu-se e passou o parcelamento para 240 vezes, ou seja 20 anos. A mídia, porém, diz que é bondade de quem espera agradecimento em 2010, e que não passa de barretada com o chapéu da Previdência, cuja receita provém muito pouco da União e essencialmente de empregados e empregadores que sofrerão com o rombo no orçamento da instituição, que o presidente pode administrar como se sua fazenda fosse. Nada mais justo, como faz com a Petrobras.
Ao dirigir a palavra à plateia, ocorreu-lhe louvar a superioridade das mulheres, “que têm mais sensibilidade e ousadia que os homens”. Um elogio justo, que a mídia, infelizmente, vê como sutil recomendação da sua candidata Dilma Roussef. Ora, o presidente nada tem de sutil. É claro que louvava as mulheres que chegaram à presidência do Chile e da Argentina. De resto, foi um carão na insensibilidade administrativa dos homens, pouco afeitos a sacrifícios de seus interesses pessoais. Deu logo o exemplo, o “do batom da ministra Dilma, cortado para economizar o dinheiro público e de ousadia administradora sem igual”. Ao fim do encontro, como lembrança de horas tão aprazíveis, um presente a todos: um santinho com o retrato de Lula e da ministra Dilma. A mídia aproveita, maliciosa, para lembrar que tais santinhos são clássicos nas campanhas eleitorais. Mera coincidência, acredito.
No discurso, ao estilo que empolga os ouvintes, aproveita para censurar descaso imperdoável do estado de São Paulo à educação, presente o prefeito paulistano: “Você, Kassab, vai cair da cadeira. Não sabe e eu não sabia (como sempre), mas, no estado de São Paulo, o mais rico do país, ainda há 10% de analfabetos”. O dado é falso, protesta no dia seguinte o líder tucano na Câmara dos Deputados. “É de 1991. O mais recente, de 2007, não passa de 4,6%.” Ora, todo mundo se engana, mas logo se afirma que foi proposital, para ser usado nos debates com o possível opositor a dona Dilma, o governador Serra.
Na defesa de seu indiscutível amor à verdade, jamais usaria ou faria usar uma falsidade num debate. Tomara sete anos e não 15, como a Unesco, para a estatística do analfabetismo. Seguramente terá enviado 3 mil e 500 telegramas, retificando o erro, aos prefeitos que já estão em seus municípios. Sua foto, inteiramente informal, sentado entre as mulheres que estiveram no encontro, dá-nos a impressão de um deslumbrante populista em plena tietagem. Mas fica, para cada uma das senhoras, a recordação de um presidente da República que se sentou informalmente para homenagear as inspiradoras dos políticos no início de suas carreiras na democracia representativa. Isso nunca será esquecido, pertençam eles ao partido a que pertencerem.
“Não é porque a imprensa me ajudou que fui eleito, mas porque suei para enfrentar o preconceito e o ódio dos de cima para com os de baixo”, desabafou. Não está fazendo mais que trocar em miúdos a teoria de Marx: “Toda a história é a história da luta de classes”. Medularmente líder sindical, não pode livrar-se do ranço persistente das leituras marxistas. Iguala-se à mulher do líder comunista francês Maurice Thorez, na Assembleia Nacional da França. A um deputado, que estranhava tanto ódio ao ouvi-la, retrucou: “Não se pode amar o povo sem odiar seus opressores”.
Incapaz de perder a serenidade, vinga-se proporcionando aos banqueiros, nata da classe perversa que o combateu, os maiores lucros “jamais alcançados nesse país”. Decerto suou muito nos duros “tempos de chumbo”, em que a imprensa livre criou o slogan Lula, o metalúrgico, quase o glorificando. Chegou a ser hóspede da “terrível” prisão do delegado Romeu Tuma, sabidamente igual à de La Cabaña, em Cuba, com as simulações de fuzilamento e a tortura sistemática. É justo, pois, que se lembre, nos momentos de angústia, do suor do passado, e lhe moleste a azia do presente. Merece a indenização que recebeu por seus suores e a aposentadoria de fazer inveja aos antigos companheiros.
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