terça-feira, março 03, 2009

Quem É O Inimigo?

por Ricardo Setyon

Gosto muito de questionar tradições.
De deflagrar debates.
Adoro a troca de idéias e idéias.
O intercâmbio de filosofias e visões, me faz bem.
E na área dos jornalistas, valha-me D’us...não falta oportunidade para o meu deleite!
Não tem dia, não passa noite, sem que oportunidades sem fim apareçam, para satisfazer esse meu “vício”.
Ano Novo e chances novas de mudar, de falar diferente, de ver de outro jeito.
De quebrar tradições.
De questionar o simbólico.
De não aceitar, “só porque dizem”.
Aí, me vem à memória o tal do artigo que passei ao “De Olho na Mídia”, há algumas semanas.

Era sobre o modo com o que muitos pulam e dançam sobre os telhados, enquanto o mundo explode.
Era sobre a alegria de muita gente no Oriente Médio e adjacências, enquanto a morte despedaçava corpos e desmembrava famílias, em ataques terroristas.
Pelo mundo!
Todinho!
Alô Mumbai! Hindus, Budistas, Católicos, Judeus...todos mortos.
Todos massacrados.
Sem pena. Sem pensar duas vezes. Sem compaixão, e sem duvidas ou incertezas.
Só mais um ataque terrorista, para a lista deste Ocidente sem graça, sem nexo, sem jeito.
E aí o que?

Jerusalém, New York, Londres, Mumbai, Madrid, Roma, Washington, Viena, Buenos Aires…o Mapa Mundi do terror…
De homem-bomba, de gente armada com metralhadoras, de gente que seqüestra avião, de gente que joga avião sobre gente, de bomba em bolsa no trem, de explosão em pizzaria, de navio bomba, de bomba feita pela internet, de mulher bomba, de burrinho-bomba,...caramba: o menu parece não quere acabar!

Aí, eu pergunto meu caro leitor ocidental, cabeça boa, cabeça aberta, liberal, humanista, pacífico, do bem: quem é seu inimigo ?
Ah, entendi: você não tem inimigos. VOCÊ não tem nada contra ninguém.
Só não sabe explicar porque matam mães e crianças de uma vez só, e mais e mais você não consegue levar mais que 100 mililitros de água ou creme no avião?

Quem é seu inimigo? Quem quer te matar? Quem é terrorista? Quem assassina sem perguntar?
Ainda não sabe? Pera aí...

É aquele medico, formado em Oxford, que jogou um carro com explosivos sobre a entrada do aeroporto de Glasgow na Escócia?
Ou, então, o americano, de família classe-média, que revoltado, coloca uma quantidade de dinamite plástica suficiente para matar centenas durante um vôo ?
Então é o Hezbollah do Líbano, o Hamas, da Palestina, o Lashkar E- Taiba wque massacrou mais de 150 pessoas, indiscriminadamente em Mumbai?
Quem é? Insisto!

É o iraniano que detonou o prédio da Comunidade Judaica em Buenos Aires,e sequer foi preso? O Taliban, o ex-general serbio que fez limpeza étnica? O religioso israelita, que perde a cabeça e atira a esmo, matando palestinos, ou o prefeito da cidade boliviana que instiga seu povo para a violência contra os povos “collas” ?
É o dirigente islâmico que quer matar o escritor Salman Rushdie ?
É o Chávez? É o Fidel? É quem?

Ninguém sabe de onde virá a próxima idéia de justiça pelas próprias mãos.

Iraque em chamas, sapatos voam, ganhando mais destaque e espaço na mídia, que dezenas de mortos em explosões e conflitos, nos mesmos dias...estranhos estes ocidentais...
Quem é o inimigo então?
Estão no Afeganistão, nas cavernas da Al Qaeda, onde os Estados Unidos acabaram de decidir mandar mais dezenas de milhares de soldados ?

Idéias simples. Idéias para que não sejamos tão bobinhos. Para que não se acredite somente em historinhas, notícias tendenciosas e símbolos.
Todos indiscutíveis, mas que deveriam, ao contrario, ser completamente comprovadas como mentiras.

Acontece, que o mundo já nem fala mais, mas ali na Índia, nessa cidade tão gigante, tão ou maior que São Paulo, Mumbai, estremeceu de medo, e enterrou os seus mortos e os mortos dos outros.
E, de onde vieram os assassinos, todos por sinal, bem vestidos, a tal ponto, que entraram no lobby do mais luxuoso hotel da cidade?

P-A-Q-U-I-S-T-Ã-O.

O esporte nacional, o cricket, parece ser mais importante para muitos. O Paquistão está em chamas, e perdeu seus lideres, despedaçados em explosões.
E ainda, tem gente que acha que tudo está normal, festejemos o acordo para salvar as montadoras de automóveis dos EUA, e falemos da “marolinha” que a crise, segundo o presidente do Brasil, trouxe ao nosso país.

Paquistão. Onde muita gente acha que só há fundamentalistas islâmicos, mas o berço de Ajmal Amir Kassab, de somente 21 anos, que foi o único sobrevivente dentre os terroristas de que espalharam sangue em Mumbai.
Onde Asif Zardari, presidente hoje do país, sobreviveu o ataque a bomba que viu sua esposa, a famosa Benazir Butho, assassinada em Dezembro de 2007, tenta mostrar que há um fio de esperança.
O terrorista Ajmal Kassab, que nada tem a ver com o prefeito de São Paulo, teve parte no atentado que matou cerca de 200 pessoas. Sobreviveu, e confessou que a idéia era matar “pelo menos 500 pessoas”. Indiscriminadamente: sejam americanos, indianos, brasileiros...
Aliás, 28 estrangeiros foram assassinados, dentre os quais o maior contingente era de israelenses; 9 deles morreram. Três judeus também. A mais famosa modelo local, em Mumbai, é brasileira. Mora lá. Mas , nada sofreu, felizmente. Poderia, pois freqüenta o Taj Mahal Hotel, centro dos ataques...
Ajmal Kassab, disse que a meta era matar 500 pessoas. Mas o total de munição e armamentos que os terroristas levavam, segundo os Black Cats, órgão de elite da policia indiana, era suficiente para tirar a vida de ao menos 5.000 seres humanos.
Ajmal Kassab treinou no Paquistão. Ali, onde o serviço secreto ISI, parece ser mais a favor dos talibãs do que do próprio governo, a situação parece ser muito mais fácil para o treinamento de terroristas do que parece.
Mais e mais fica evidente que a fatia radical dentre os muçulmanos, cresce. E com países disponíveis a fornecer para o crescimento desses que acreditam no paraíso se matarem outras pessoas.
Matam cristão, hindus, budistas, judeus, e, segundo os seus líderes, até mesmo outros árabes e muçulmanos.

O interessante, é que eles aparecem em todos os países, curtindo a liberdade que o Ocidente oferece. Eles matam fora das fronteiras islâmicas.
Eles treinam no Afeganistão, no Irã, no Líbano, e no Paquistão.
Mas matam na Europa, assassinam onde o turismo ocidental passeia...na Índia, e qualquer lugar onde queiram.
E agem, com seus atos terroristas, utilizando os mais modernos métodos, inventados por ocidentais.
Em Mumbai, foram usados aparelhos de GPS. Mapas do Google Earth eram examinados detalhadamente. Celulares via satélite. Internet, chips de telefonia móvel trocados constantemente e armas modernas.
Tudo a disposição desses assassinos, que não perguntam, seu sobrenome nem sua posição política, antes de matar, explodir, aterrorizar.
A qualquer um.
Sem discriminação.
O dinheiro, também parece ser algo que não falta. E de onde vem? Ninguém sabe. Ou sabem? De doações de muitos personagens próximos aos terroristas islâmicos, residentes na Europa, Estados Unidos, America Latina...
Dinheiro que é pago para compra de armas de máfias no mundo inteiro, e para pagar as famílias dos suicidas assassinos.
Como ocorreu com a família de Ajaml Kassab, o terrorista que sobreviveu. Em Faridkot, na província de Punjab,onde moram seus pais e irmãos, um deposito foi feito, de uma quantia que pode assustar muitos de nós, ocidentais: 1.250 dolares americanos.
Algo em torno de 2.500 Reais, para matar dezenas de pessoas inocentes...

Pobreza, religião, racismo, falta de educação.
Uma mistura, para os muçulmanos, terrível.
No Paquistão, já pode-se ver, que o problema não é só de seus inimigos indianos: o problema é de todos. No mundo inteiro.
Menos para o Brasil.
Sim, porque o Brasil,consegue, em menos de semanas, durante o tempo de luto que o mundo passa, após os atentados dos terroristas do Paquistão que plantaram morte em Mumbai, tomar duas posições bastante distantes daquilo que aqui debatemos até agora.

Primeiro um belo encontro com o manda-chuva do país mais preocupante no cenário mundial nuclear, o Irã.
Depois, na ânsia de tornar-se uma “grande” nação, continua a fazer besteira no campo internacional.

Enquanto Santa Catarina ainda tenta se recuperar dos danos terríveis das chuvas, e os hospitais do Rio de Janeiro seguem sem ter condições mínimas de atender a população, o dinheiro do BNDES parece ter outras finalidades, mais “nobres”...
Cerca de 100 milhões de dólares, nos informam, vindos diretamente do Banco Nacional de Desenvolvimento serão oferecidos para financiar a compra de meia dúzia de mísseis teleguiados.
Mísseis, financiados, com dinheiro publico, para uma indústria militar nacional, para ser instrumentos de morte nesses conflitos, em países instáveis e repletos de campos de terroristas, como o Paquistão.
Como diz um amigo, narrador de futebol...: “Que Boniiiiitooo”.
Se me contassem, eu não acreditava.
Como sei e vi, não só acredito como questiono.
E enquanto não sabermos mais, fizermos mais, só seremos vítimas. Em qualquer canto do mundo.

Vitimas destes que não querem nosso estilo de vida, mas usam o que podem, para tirar proveito e beneficiar-se ao Maximo, e quando decidem matar e explodir, o ódio é tão grande, a raiva é tão gigante, o desdenho pela vida tão impressionante, que fronteiras, crenças ou cor da pele,idade e idéias, não interessam: eles matam a todos!

Ricardo Setyon é jornalista, tendo coberto recentemente as Olímpiadas na China, como correspondente da Jovem Pan e do site Terra. Sua primeira experiência profissional foi na Revista O Hebreu. Morou 12 anos em Israel, se formou na Universidade de Haifa em Ciências Políticas e Estudos de Psicologia ( dois diplomas separados). Foi repórter na Guerra do Líbano I. Cobriu também a Intifada I, Guerra na Cróacia, Bósnia, Iraque I, Iraque II e Guerra do Líbano 2006. Foi jornalista do Maariv e da TV Israel por vários anos, e correspondente do primeiro no Brasil. Cobriu todos os mundiais desde 1986 e todas as Olímpiadas desde 1988. Único repórter a ter tido acesso a pista no dia da morte de Ayrton Senna. Porta-voz da CBF e único brasileiro a ter sido contratado diretamente pela FIFA. Foi chefe da imprensa, coordenador e porta-voz para assuntos relacionados ao Brasil durante anos. Duas Copas (1998 e 2002) e diretor de comunicação do Primeiro Mundial da Fifa em 2000. Trabalha como correspondente de vários meios do mundo no Brasil, além de ser correspondente do Maariv, BBC WORLD, CNN Online, e de midias do Japão, Noruega, e Inglaterra. Por fim, é palestrante em universidades paulistas sobre jornalismo, coordenador do Almanque da FIFA de Futebol Mundial para a América Central e do Sul. Atualmente é diretor de Relações Internacionais e Comunicações da Brunoro Sports Business.
Escrito por: Ricardo Setyon, colunista do De Olho Na Mídia

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