segunda-feira, dezembro 22, 2008

"Jornalismo" à la Goebbels

por GUILHERME AFIF DOMINGOS e HÉLIO ZYLBERSTAJN
É muito estranho que, no Brasil, o jornalista pretenda identificar nossa proposta com ato antidemocrático de triste memória

PARA ALGUNS jornalistas é sempre assim. A notícia vale pela distorção que pode ser feita com ela. Foi o que ocorreu com a nossa proposta de utilizar a suspensão temporária do contrato de trabalho.
Esta Folha publicou em 18/12 um artigo de Ricardo Melo, com o título "AI-5 trabalhista", no qual o autor classifica nossa proposta como parte de uma "quartelada". Para fazer isso, cuidadosamente omite os elementos mais importantes. Vamos a eles.
A proposta cria a possibilidade de suspender o contrato de trabalho antes da demissão e da rescisão. Não suprime a rescisão nem elimina direitos trabalhistas. Nunca falamos em "flexibilizar" direitos. A idéia é "dar um tempo" antes de consumar o desligamento dos trabalhadores. Só isso.
Enquanto aguardasse a retomada das atividades, o trabalhador receberia o benefício do seguro-desemprego. Ao final do período de suspensão do contrato, a empresa poderia reativar o contrato (se o mercado estivesse favorável) ou poderia consumar a demissão, pagando todos os direitos aos demitidos.
O jornalista deixa de mencionar que a suspensão do contrato de trabalho só se efetivaria mediante negociação coletiva com o sindicato que representa a categoria. A proposta remete a questão para um dos institutos mais nobres da democracia, a negociação coletiva. Não poderia de forma alguma ser resultado de ato unilateral da empresa. Se os trabalhadores e o sindicato não desejassem a suspensão do contrato de trabalho, ela simplesmente não aconteceria.
Nossa proposta baliza a negociação da suspensão e determina que alguns itens devem obrigatoriamente fazer parte das discussões. Esses itens incluem o complemento do seguro-desemprego a ser pago pela empresa e o oferecimento de programas de treinamento e educação básica enquanto durar a suspensão do contrato. O mais importante é que os trabalhadores cujos contratos de trabalho fossem suspensos teriam prioridade na retomada das atividades da empresa.
Esses dispositivos reforçariam a posição dos trabalhadores na mesa de negociação, ensejando-lhes resultados mais favoráveis ao final. O jornalista sugere maldosamente que faríamos parte de conspiração com o objetivo de entregar os trabalhadores brasileiros à sanha exploradora de empresários inescrupulosos.
Nada disso. Pretendemos apenas contribuir para o debate e para a busca de soluções práticas para as dificuldades que de certo virão em 2009.
Pensamos que, diante da possibilidade concreta de demissões, os trabalhadores prefeririam manter seus vínculos com as empresas em que trabalham. Um adiamento da demissão, com a manutenção -mesmo que parcial- da renda e dos benefícios seria preferível ao desligamento.
Pensamos que as empresas também prefeririam manter seus trabalhadores em disponibilidade e prontos para serem reaproveitados, pois, assim, não perderiam capital humano e investimentos em treinamento. Chegamos até a calcular o volume de gastos adicionais com o seguro-desemprego decorrentes da implementação da nossa proposta e mostramos que os recursos existem e estão disponíveis nas reservas técnicas do patrimônio do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
O fato concreto é que, nos países onde a negociação coletiva é mais desenvolvida, a suspensão do contrato de trabalho é conhecida como "layoff" e faz parte da rotina das relações de trabalho. Está sendo adotada neste momento para enfrentar a crise no mercado de trabalho na Europa.
No Brasil, já ensaiamos soluções parecidas em períodos de dificuldades, mas ainda não as incorporamos à prática rotineira. Nossa proposta simplesmente preconiza que deveríamos oferecer uma base legal para que a suspensão temporária do contrato de trabalho seja acrescida ao repertório de soluções negociadas em períodos difíceis.
Não há registros de que empresas e sindicatos que negociam o "layoff" nos países desenvolvidos sejam acusados de práticas antidemocráticas.
Pelo contrário, nesses países reina a democracia plena, que tem na negociação coletiva um dos seus pilares.
É muito estranho que, no Brasil, o jornalista pretenda identificar nossa proposta com um ato antidemocrático de triste memória. Utilizando suposições maldosas e grosseiras, desinforma os leitores e pratica um jornalismo que nos faz lembrar o estilo manipulador e mentiroso de Goebbels, o ministro da Propaganda nazista de Hitler.

GUILHERME AFIF DOMINGOS , 65, é secretário do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo.
HÉLIO ZYLBERSTAJN é professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP e presidente do Ibret (Instituto Brasileiro de Relações de Emprego e Trabalho).

Viagem à Amazônia

Denis Lerrer Rosenfield

Visitei, no início de dezembro, a região a convite do Comando Militar da Amazônia. A viagem fez-se dentro do Programa Calha Norte, voltado para a manutenção da soberania nacional e da integridade territorial da Região Amazônica e para a promoção do desenvolvimento regional. As observações a seguir são de minha inteira responsabilidade e não envolvem nenhuma das autoridades militares que fizeram parte dessa missão.

O objetivo da missão era visitar os Pelotões Especiais de Fronteira (PEFs), postos avançados do Exército nas fronteiras da Amazônia, brigadas do Exército, o VII Comar (Manaus) e o Distrito Naval de Manaus, abrangendo, portanto, as três Forças. Os locais visitados foram Manaus, Barcelos, São Gabriel da Cachoeira, Maturacá, Sucurucu e Boa Vista.

A visão aérea da região, sobretudo na viagem à fronteira norte em direção à Venezuela e à Guiana, é de completo despovoamento, com floresta amazônica cerrada. Os Pelotões Especiais de Fronteira, no caso das visitas a Sucurucu e a Maturacá, situam-se, podemos dizer, "in the middle of nowhere". Se não fossem eles, teríamos uma região totalmente desprotegida, que apenas poderíamos dizer que se trata de terra brasileira. A soberania não é somente uma questão abstrata de demarcação territorial, mas de efetiva presença brasileira. Sem o Exército e as Forças Armadas em geral, as portas estariam abertas para que essa região pudesse tornar-se de outras nações, o que, no vocabulário atual, significa "patrimônio da humanidade". Não nos deixemos seduzir por esse jogo ideológico das palavras.

A presença militar nessa região de fronteira é constituída por em torno de 26 unidades militares, claramente insuficientes para as reais necessidades do País. Hoje se fala muito, a partir de um decreto assinado pelos ministros da Justiça e da Defesa, de ampliação para mais 28 PEFs, assegurando a soberania nacional nessas terras indígenas. Há, porém, um componente demagógico nessa discussão, pois os pelotões existentes têm muitas carências. Não há, atualmente, recursos para a construção desses novos PEFs. O que houve foi um ato de desviar a atenção do julgamento da Raposa-Serra do Sol, com o intuito de favorecer a demarcação contínua.

O Estado brasileiro nessas regiões é completamente ausente. Ou melhor, a sua presença se faz unicamente graças às Forças Armadas. Toda a região de fronteira amazônica se caracteriza pelos mais diferentes tipos de ilícitos, do tráfico de drogas ao desmatamento, passando por contrabando de armas e garimpo. Trata-se, literalmente, da lei da selva. As fronteiras são extremamente permeáveis, pois, por exemplo, a distância entre um pelotão e outro varia de 150 a 300 quilômetros.

O Cimi e a Funai têm propagado a idéia de que o Exército não é necessário, pois os índios defendem a fronteira. Nada de mais falso. Os índios não têm nenhum sentido inato de pátria. Os ianomâmis, por exemplo, vivem em pequenas aldeias, com pouco contato com os civilizados, brancos e caboclos, alimentando-se basicamente de farinha e de pouca caça. Circulam entre fronteiras e são tutelados pela Funai e por missões religiosas que lhes inculcam ainda mais o sentido do isolamento, da separação e, mais recentemente, a idéia de nação, distinta da brasileira. Quem defende a fronteira é o Exército.

O que, sim, existe são brasileiros índios. São índios que se tornaram brasileiros, o que significa, nas regiões visitadas, que se tornaram brasileiros graças à sua incorporação ao Exército. Nem teriam, não fosse isso, o domínio de nossa língua. Não faz o menor sentido falar de defesa do território nacional, de nossa soberania, sem as Forças Armadas. Quem o faz, na verdade, está fazendo um jogo contra o próprio País. No dizer de um membro da comitiva, são "brasileiros índios", e não "índios brasileiros". Os índios incorporam-se voluntariamente ao Exército, que se torna um meio de sua integração ao Brasil. Ganham, em suas próprias tribos, prestígio e melhoram a sua condição de vida. Guardam também as suas tradições, voltando às suas aldeias, no interior desse processo de aculturação que os faz brasileiros. É isso que suscita a reação da Funai e do Cimi, que têm como objetivo segregá-los e isolá-los, dentro de um outro projeto político.

Em São Gabriel da Cachoeira há um batalhão completamente indígena, de diferentes etnias. Em Maturacá, o pelotão é constituído por indígenas de 22 etnias. Todos uniformizados e bem treinados para a guerra na selva. Segundo os comandantes militares, trata-se dos melhores "guerreiros da selva". Presenciei uma cerimônia militar altamente impactante. É difícil não ser sensível a ela. O local foi, em São Gabriel da Cachoeira, uma colina que dá para o Rio Negro. Lá, a tropa estava perfilada, para uma formatura, com a presença do comandante militar da Amazônia, o general Heleno. Fazia parte do ritual cantar o Hino Nacional. Naquele ermo do mundo, os soldados indígenas cantavam o hino a plenos pulmões, numa adesão pouca vezes vista. É como se sua alma falasse através desse canto, dessas palavras, numa irmandade que conferia a todos os presentes uma mesma união, uma união nacional.

Os brasileiros indígenas são índios aculturados, que se sentem brasileiros. Terminam se identificando com os caboclos, que são o resultado da miscigenação de brancos com índios. O caboclo é o nativo da região e termina servindo, para o indígena, como modelo de integração ao mundo não-indígena. É um equívoco conceitual opor índios aos brancos, dentro de uma região que já é o produto de um processo de aculturação e, sobretudo, de miscigenação racial, com casais constituídos de diferentes raças e etnias. O caboclo é fruto de todo o processo histórico brasileiro. Os que se opõem à aculturação e propugnam pelo isolamento visam, na verdade, a se opor a todo o processo histórico que resultou na Nação brasileira.

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS.
E-mail: denisrosenfield@terra.com.br

quarta-feira, dezembro 17, 2008

HISTÓRIA SECRETA DA INVASÃO MILITAR DE RORAIMA

depoimento de uma testemunha ocular

No momento em que tanto se fala da cobiça internacional sobre a
Amazônia, da ação de ONGs de todos os tipos agindo livremente na região
Norte, de estrangeiros vendendo pedaços da nossa floresta, da encrenca
que está sendo a homologação da Raposa/Serra do Sol, de índios contra
índios, de índios contra não-índios, das ações ou omissões da Funai,
do descontentamento das Forças Armadas com referência os rumos
políticos que estão sendo dados para esta quase despovoada mas
importantíssima parte das fronteiras da nação, é mais do que preciso falar quem sabe,quem conhece, quem vivencia ou quem tenha alguma informação de importância.
Assim sendo, para ficar registrado e muito bem entendido, vou contar
um acontecimento de magna importância, especialmente para Roraima, e
do qual sou testemunha ocular da História.
Corria o ano de 1993 - portanto, já fazem 15 anos.
Era governo de Itamar Franco e as pressões de alguns setores nacionais e
vários internacionais, para a homologação da Raposa/Serra do Sol, eram
fortes e estavam no auge. Tinha-se como certíssimo de que Itamar
assinaria a homologação.
Nessa época, eu era piloto da empresa BOLSA DE DIAMANTES, que
quinzenalmente enviava compradores de pedras preciosas para Uiramutã,
Água Fria, Mutum e vizinhanças. No dia 8 de setembro de 1993, aí pelas
17:00, chegamos em Uiramutã, e encontramos a população numa agitação
incomum, literalmente aterrorizada. Dizia-se por toda parte, que
Uiramutã ia ser invadida, que havia muitos soldados "americanos", já
vindo em direção à localidade. A comoção das pessoas, a agitação, o
sufoco eram tão grandes que me contaminou, e fui imediatamente falar
com o sargento PM que comandava o pequeníssimo destacamento de apenas
quatro militares, para saber se ele tinha conhecimento dos boatos que
circulavam, e respondeu-me que sabia do falatório. Contou-me então que
o piloto DONÉ (apelido de Dionízio Coelho de Araújo), tinha passado
por Uiramutã com seu avião Cessna PT-BMR, vindo da cachoeira de
ORINDUIKE, no lado brasileiro, (que os brasileiros erradamente chamam
de Orinduque), contando para várias pessoas, que havia um acampamento
enorme, com muitos soldados na esplanada no lado da Guiana, na margem
do rio Maú, nossa fronteira com aquele país. Aventei a necessidade de
que o sargento, autoridade policial local, fosse ver o que havia de
fato e falei com o dono da empresa, que aceitou, relutante e receioso,
emprestar o avião para o sargento.Como, entretanto, o sol já declinava
no horizonte, combinamos o vôo para a manhã seguinte. Muito cedo, o
piloto Doné e seus passageiros, que tinha ido pernoitar na maloca do
SOCÓ, pousaram em Uiramutã. Eu o conheci nessa ocasião, e pude ouvir
dele um relato. Resumindo bastante, contou que na Guiana havia um
grande acampamento militar e que um avião de tropas estava trazendo
mais soldados para ali. Estávamos na porta da Delegacia, quando chegou
uma Toyota do Exército,com um capitão, um sargento e praças,vindos do
BV 8. Ele ia escolher e demarcar um local para a construção do quartel
de destacamento militar ali naquela quase deserta fronteira com a
Guiana. BV 8 é antigo marco de fronteira do Brasil com a Venezuela,
onde há um destacamento do Exército, na cidade de Pacaraima. Muito
interessado e intrigado com o fato, resolveu ir conosco nesse vôo. O
capitão trazia uma boa máquina fotográfica e emprestei a minha para o
sargento. O vôo foi curto, apenas seis minutos. Demos
tanta sorte,que encontramos um avião para transporte de tropas,
despejando uma nova leva de soldados, no lado guianense. Voando prá lá
e prá cá,só no lado brasileiro, os militares fotografavam tudo, e o
capitão calculou pelo número de barracas, uns 600 homens, até aquele
momento.
Fiz diversas idas e vindas e, numa delas vi o transporte de tropas decolando e virando para a esquerda. Exclamei para o capitão: eles vem pra cima de nós! Como é que você sabe? Perguntou.
Viraram para a esquerda, que é o lado do Brasil e, não da Guiana,
respondi. Girei imediatamente a proa para Uiramutã e, ao nivelar o
avião, o capitão me disse muito sério: estamos na linha de tiro deles!
Foi então que olhando para a direita, vi à curta distância e, na porta
lateral do transporte, um soldado branco, com um fuzil na mão.
Confesso que foi um grande susto! O coração parecia-me bater duas e
falhar uma. Quem conhece a região, sabe que ali naquela parte, o Maú é
um rio muito sinuoso. Enfiei o avião fazendo zig-zag nesses meandros,
esperando conseguir chegar em Uiramutã. Se atiraram, não ficamos
sabendo, mas após o pouso, havia muita gente na pista, que fica
juntinho das casas. Agitadas, contaram que aquele avião tinha girado
duas vezes sobre nós e a cidade, tomando rumo de Lethen, na Guiana,
onde há uma pista asfaltada, defronte de Bomfim, cidade brasileira na
fronteira. Com esse fato, angustiou-se mais ainda a população, na
certeza de que a invasão era iminente. O capitão determinou ao
sargento e a mim, que fizessemos imediatamente um relatório minucioso,
para ser enviado ao comando da PM, em Boa Vista e partiu acelerado de
volta ao pelotão de fronteira no BV 8.
Na delegacia, o sargento retirou o filme da minha máquina
fotográfica, para enviar ao seu comando e eu datilografei um completo
relatório que ele colocou em código e transmitiu via rádio para Boa
Vista. Naquela época, o chefe da S2 da PM ( Seção de Inteligência) ,
era o major Bornéo.
Uns quatro dias depois que cheguei desse giro das compras de
diamantes, tocou a campainha da minha casa, um major do Exército.
Apresentou-se e pediu-me para ler um papel, que não era outro, senão
aquele mesmo que eu datilografara em Uiramutã , e do qual o comando da
PM enviara cópia para o comando do Exército em Boa Vista. Após ler e
confirmar que era aquilo mesmo, pediu-me para assinar, o que fiz.
Compreendi que tinha sido testemunha de algo grande, maior do que eu
poderia imaginar,e pedi então ao major, para dizer o que estava
acontecendo, uma vez que parte daquilo eu já sabia. Concordou em
contar, desde que eu entendesse bem que aquilo era absolutamente
confidencial e informação de segurança nacional.Concordei.Disse o
major, que a embaixada brasileira em Georgetown tinha informado ao Itamarati, que dois vasos de guerra, um inglês e outro, americano, haviam fundeado longe do porto, e que grandes helicópteros de transporte de tropas,
estavam voando continuamente para o continente, sem que tivesse sido
possível determinar o local para onde iam e o motivo.
Caboclos guianenses (índios aculturados) tinham contado para caboclos
brasileiros em Bomfim, cidade de Roraima na fronteira, terem os
americanos montado uma base militar logo atrás da grande serra
Cuano-Cuano, que por ser muito alta e próxima, vê-se perfeitamente da
cidade. O Exército brasileiro agiu com presteza, e infiltrou dois
majores através da fronteira, e do alto daquela serra, durante dois
dias, filmaram e fotografaram tudo. Agora, com os fatos ocorridos em
Orinduike, próximo de Uiramutã, nossa fronteira Norte,
fechava-se o entendimento do que estava acontecendo.
E o que estava acontecendo? As pressões internacionais
para a demarcação da Raposa / Serra do Sol apertavam, na certeza de
que o Presidente Itamar Franco assinaria o decreto. Em seguida, a ONU,
atendendo aos "insistentes pedidos dos povos indígenas de
Roraima", determinaria a criação de um enclave indígena sob a sua
tutela, e aí nasceria a primeira nação indígena do mundo. Aquelas
tropas americanas e as inglesas, eram para garantir militarmente a
tomada de posse da área e a "nova nação".Até a capital já estava
escolhida: seria a maloca da Raposa, estrategicamente localizada na
margem da rodovia que corta toda a região de Este para Oeste, e divide
geográfica e perfeitamente a região das serras daquela dos lavrados
roraimenses - que são os campos naturais e cerrados.
Itamar Franco - suponho - deve ter sido alertado para o
tamanho da encrenca militar que viria, e o fato é que, nunca assinou a
demarcação.Nessa mesma ocasião (para relembrar: era começo de setembro
de 1993),estava em final de preparativos, o exercício periódico e
conjunto das Forças Armadas nacionais, na cidade de Ourinhos, margem
do rio Paranapanema, próxima de Sta. Cruz do Rio Pardo e Assis, em São
Paulo, e Cambará e Jacarezinho, no Paraná. Com as alarmantes notícias
vindas de Roraima, o Alto Comando das Forças Armadas mudou o
planejamento, que passou a
chamar-se "OPERAÇÃO SURUMU" e, como já estava tudo
engrenado, enviou as tropas para Roraima. Foi assim que à partir da
madrugada de 27 de setembro de 1993, dois aviões da VARIG, durante
vários dias,Búfalos, Hércules e Bandeirantes despejaram tropas em
Roraima. Não cabendo todas as aeronaves militares dentro da Base
Aérea, o pátio civil do aeroporto ficou coalhado de aviões militares.
Chegaram também os caças e muitos Tucano. Veio artilharia anti-aérea,
localizada nas cercanias de Surumu, e foi inclusive expedido um aviso
para todos os piloto civis,sobre áreas nas quais estava proibido o
sobrevôo, sob risco de abate.Tendo como Chefe do Comando Militar da
Amazônia (CMA), o general de Exército José Sampaio Maia -
ex-comandante do CIGS em Manaus, e como árbitro da Operação Surumu, o
general de Brigada Luíz Alberto Fragoso Peret Antunes (general Peret),
os rios Maú, Uailã e Urariquera enxamearam de "voadeiras" cheias de
soldados. Aviões de caça fizeram dezenas de vôos razantes nas
fronteiras > do Norte. O Exército também participou com a sua aviação
de helicópteros, que contou com 350 homens do 1º, 2º e 3º esquadrões,
trazendo 15 Pantera (HM-1) e 4 Esquilos, que fizeram um total de 750
horas de vôo.Vieram ta mbém cerca de 150 páraquedistas militares e
gente treinada em guerra na selva. A Marinha e a Força Aérea
contribuíram com um número não declarado de homens, navios e
aeronaves.
Dessa maneira, não tendo Itamar Franco assinado o decreto de
demarcação da Raposa / Serra do Sol e, vindo essas forças militares
para demonstrar que a entrada de soldados americanos e ingleses em
Roraima, não seria feita sem grande baixas, "melou"
e arrefeceu a intenção internacional de apossar-se desta parte da
Amazônia, mas não desistiram.Decepcionando muito, embora sendo outro o
contexto político internacional, Lula fez a homologação dessa área
indígena,contestada documentalmente no Supremo Tribunal e, ainda
tentou à revelia de uma decisão judicial, retirar "na marra", os
fazendeiros e rizicultores ("arrozeiros" ) dessa área, que como muita
gente sabe -inclusive os contrários - tem dentro dela
propriedades documentadas com mais de 100 anos de escritura pública e
registro, no tempo em que Roraima nem existia, e as terras eram do
Amazonas. Agora,entretanto, os interesses difusos e estranhos de
muitas ONGs, dizem na internet, que esses proprietários são
"invasores", quando > até o antigo órgão anterior ao INCRA, demarcou e
titulou áreas nessa região, e que a FUNAI, chamada a manifestar-se,
disse por escrito, que não tinha interesse nas terras e que nelas, até
aquela ocasião, não havia índios.As ONGs continuam a fazer pressão, e
convém não descuidar, porque nada indica que vão desistir de conseguir
essas terras "para os índios", e de graça, levarem além de 1 milhão e
700 mil hectares - quase o tamanho de Sergipe - tudo o mais que elas
tem: ouro, imensas jazidas de diamantes, coríndon, safira de azul
intenso, turmalina preta, topázio, rutilo, nióbio, urânio, manganês,
calcáreo, petróleo, afora a vastidão das terras planas, propícias
à lavoura, área quase do mesmo tamanho onde Mato Grosso planta soja
que fez a sua riqueza.
Isso, é o que já sabemos, porque uma parte disso foi
divulgada numa pesquisa da CPRM - Cia. de Pesquisa de Recursos
Minerais, em agosto de 1988 (iniciada em 1983), chamada de Projeto
Maú, que qualifica essa parte da Raposa/Serra do Sol, como uma das
mais ricas em diamantes no Brasil, sendo o mais extenso depósito aluvional de Roraima, muito superior ao Quinô, Suapi, Cotingo, Uailã e Cabo Sobral.
Essa pesquisa foi inicialmente conduzida pelo geólogo João Orestes
Schneider Santos e, posteriormente, pelo também geólogo, Raimundo de
Jesus Gato D´Antona, que foi até o final do projeto, constatando a
possibilidade da existência de até mais de 3 milhões de quilates de
diamantes e 600 Kg de ouro. Basta conferir a cotação do ouro e
diamantes, para saber o que valem aquelas barrancas do rio Mau, só num
pequeno trecho. A "desgraça" de Roraima é ser conhecida
internacionalmente na geologia, como a maior Província Mineral já
descoberta no planeta. Nada menos que isso!
E o que ainda não sabemos? Essa pesquisa, feita em pouco mais de 100
quilômetros de barranca do rio, cubou e atestou a imensa riqueza
diamantífera da área. Entretanto, o Estado de Roraima ainda tem
coríndon, manganês, calcáreo e urânio, afora mais de 2 milhões e 100
mil hectares de terras planas agricultáveis, melhores
que aquelas onde plantam soja no Mato Grosso.

Izidro Simões

segunda-feira, dezembro 08, 2008

OPOSIÇÃO REAGE A PT

Os presidentes do DEM, PSDB e PPS reagiram às declarações do grupo que controla o PT com a divulgação de nota à imprensa nesta segunda-feira, 8 de dezembro. Segue, abaixo, a íntegra da nota assinada por Rodrigo Maia (DEM-RJ), Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Roberto Freire (PPS-PE).

NOTA Á IMPRENSA

"O PT esgotou seu prazo de carência para atribuir ao passado a culpa pelos efeitos da crise econômica. Depois de seis anos do Governo Lula, a legenda do oficialismo surpreende o País com uma dupla incongruência: se o Presidente oficializou a versão, evidentemente falsa, de que o Brasil não sofre os efeitos da crise econômica, como atribuir a onda de desemprego e de forte recesso das atividades produtivas ao "governo anterior"? Como governistas no poder podem culpar o "passado" por uma "realidade" que o seu Presidente nega peremptoriamente?



As manifestações petistas refletem o pânico que vivem em função das reações da população, por eles mesmos expostas detalhadamente na reunião de São Roque (SP).



Reconhecem a crescente incapacidade do Governo para enfrentar a crise e indicam que escolheram um perigoso e débil álibi: queixam-se de um passado remoto - o qual denominam "governo anterior" - a que já tiveram tempo suficiente não apenas para superar, mas para revogar e denunciar seus atos, o que jamais fizeram.



Após seis anos de juros altos, de populismo cambial, de permissividade nos gastos públicos, de escândalos financeiros e corrupção disseminada e acobertada, o PT e o Governo Lula não apenas têm todas as culpas como, em vez de procurar bodes expiratórios remotos, mostram-se incapazes de apresentar à Nação um programa efetivo e transparente de ações do Estado brasileiro para enfrentar os reflexos do quadro de evidente calamidade para o qual caminha a economia mundial e que se agrava a cada dia.



Em vez de convocar as forças vivas da Nação, independentemente e acima das divisões partidárias, para a indispensável mobilização da sociedade, os petistas partem para provocações mesquinhas e facilmente desmoralizadas.



O Governo Lula já representa o próprio passado de que reclamam os petistas, que, portanto, atingem a si mesmos.



Brasília, 8 de dezembro de 2008



Rodrigo Maia (DEM-RJ)

Sérgio Guerra (PSDB-PE)

e Roberto Freire (PPS-PE)

LULA DA SILVA E DERCY GONÇALVES

por Maria Lucia Victor Barbosa

Dercy Gonçalves era uma atriz popular que fazia da esculhambação fator de seu sucesso. Lula da Silva é o presidente da República que buscando o sucesso esculhamba para ser popular. O que os faz semelhantes? O uso de palavrões, pois não sei se Dercy era alcoólatra. O que os faz diferentes? Dercy, a debochada, não estava investida da autoridade do mais alto cargo da República. Lula da Silva está.

Pode ser que tenha se tornado politicamente correto usar palavrões. Que seja interpretado como preconceito criticar o presidente por ele esbanjar palavras de baixo calão que passam pelos tradicionais "p...m", "p...rra" e mais recentemente o "sifu". Lembre-se ainda do "ponto G" que o presidente brasileiro agraciou o companheiro Bush ou outros gracejos e gracinhas, ditos no auge do entusiasmo que ocorre nos palanques de onde ele só desce para viajar ao exterior.

Os "adornos" lingüísticos com os quais Lula da Silva entremeia suas falas por sinal muito aplaudidas, talvez possam ser explicados por conta de sua origem sindical e petista. Como ele nunca sabe de nada, certamente ainda não percebeu que deve ser comportar como presidente da República e não como líder de metalúrgicos. Nesse caso, falta alguém do cerimonial ou de sua intimidade palaciana que ouse lhe dizer que não fica bem um presidente tão sem educação, tão sem compostura, tão grosseiro. Enfim, que ele não é Dercy Gonçalves nem animador de auditório e que porta de fábrica é realidade diferente de Palácio do Planalto.

Mas se algum corajoso advertir Lula da Silva sobre a impropriedade de seu comportamento, sobre a necessidade de controlar seus rompantes, provavelmente etílicos, sobre os limites entre o humor e boçalidade, poderá em troca receber um ou mais palavrões com "argumentações" mais ou menos assim: "sou um sucesso, sou a cara do povo e como o povo fala palavrão, o que me identifica com meu eleitorado, vou continuar e ninguém tem nada com isso".

Mas será que o povo brasileiro fala tanto palavrão? Depende do lugar, como um estádio de futebol, na hora em que o juiz rouba para o time adversário. Em algum momento da intimidade familiar ou de amigos. Diante de certos transtornos do cotidiano como exclamação de contrariedade. Mas não é comum nas conversas diárias soltar o "verbo diarréico". Também dele não costumam fazer uso, profissionais em geral ao se dirigir aos seus clientes ou pacientes, autoridades em cerimônias públicas. Com exceção, é claro, do governador do Paraná, Roberto Requião, que prima pela linguagem desabrida e pelo estilo truculento

Naturalmente, alguns membros do governo Lula da Silva são seguidores do chefe. É o caso de Marco Aurélio Garcia, celebrizado por gestos obscenos. E de madame Favre ou Suplicy com seu imortal "relaxa e goza". Como a primeira-dama parece ter sido agraciada com o silêncio obsequioso, não se sabe se também segue o estilo Dercy Gonçalves, mas se pode imaginar o que é ouvido nas reuniões do PT, quando cadeiradas são desferidas democraticamente No mais, os ministros de Lula da Silva têm caído às pencas por corrupção, mas não costumam falar palavrões, pelo menos em público. Alguns até podem ter pensado em algum "sifu", como José Dirceu ou Palocci, mas, se pensaram, engoliram em seco.

Em todo caso, digamos que a imensa popularidade de Lula da Silva transforme seu linguajar chulo em moda. Você diria a uma pessoa: "bom dia". E ela responderia: "vá à m...". E assim por diante. Tudo muito natural. Tudo politicamente correto. E coitado daquele que se queixasse de quem o insultou. O preconceituoso seria preso por crime hediondo e inafiançável.

Aliás, na era Lula da Silva o correto, o certo, o elegante é quebrar escolas e bater nos professores. Invadir propriedades produtivas e destruir o patrimônio alheio. Exacerbar a violência, inclusive nas torcidas de futebol. E chic mesmo hoje em dia é ser assaltado. Morrer à espera de atendimento do SUS, de dengue ou de bala perdida, de preferência gritando um palavrão no derradeiro momento, seguido do brado "viva Lula", esse grande inaugurador de um Brasil feito de mentira, de propaganda enganosa, medíocre e vulgar.

Consola saber que ainda existem, brasileiros dignos. A tragédia que se abateu sobre Santa Catarina mostrou comoventes exemplos de solidariedade e de coragem da população, dos bombeiros, dos militares, de todo o país que se mobilizou para ajudar as vítimas. E se a dor dos catarinenses que perderam parentes, casas, pertences, permanece insepulta, o Estado já se levanta, reorganiza o caos, retoma o trabalho e a produção.

Enquanto isso Lula da Silva, cujo governo não agiu preventivamente em Santa Catarina para impedir a catástrofe, prossegue apenas discursando, gracejando, proferindo impropérios para o gáudio da platéia de bajuladores. Perto dele Dercy Gonçalves é santa.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br