quarta-feira, dezembro 17, 2008

HISTÓRIA SECRETA DA INVASÃO MILITAR DE RORAIMA

depoimento de uma testemunha ocular

No momento em que tanto se fala da cobiça internacional sobre a
Amazônia, da ação de ONGs de todos os tipos agindo livremente na região
Norte, de estrangeiros vendendo pedaços da nossa floresta, da encrenca
que está sendo a homologação da Raposa/Serra do Sol, de índios contra
índios, de índios contra não-índios, das ações ou omissões da Funai,
do descontentamento das Forças Armadas com referência os rumos
políticos que estão sendo dados para esta quase despovoada mas
importantíssima parte das fronteiras da nação, é mais do que preciso falar quem sabe,quem conhece, quem vivencia ou quem tenha alguma informação de importância.
Assim sendo, para ficar registrado e muito bem entendido, vou contar
um acontecimento de magna importância, especialmente para Roraima, e
do qual sou testemunha ocular da História.
Corria o ano de 1993 - portanto, já fazem 15 anos.
Era governo de Itamar Franco e as pressões de alguns setores nacionais e
vários internacionais, para a homologação da Raposa/Serra do Sol, eram
fortes e estavam no auge. Tinha-se como certíssimo de que Itamar
assinaria a homologação.
Nessa época, eu era piloto da empresa BOLSA DE DIAMANTES, que
quinzenalmente enviava compradores de pedras preciosas para Uiramutã,
Água Fria, Mutum e vizinhanças. No dia 8 de setembro de 1993, aí pelas
17:00, chegamos em Uiramutã, e encontramos a população numa agitação
incomum, literalmente aterrorizada. Dizia-se por toda parte, que
Uiramutã ia ser invadida, que havia muitos soldados "americanos", já
vindo em direção à localidade. A comoção das pessoas, a agitação, o
sufoco eram tão grandes que me contaminou, e fui imediatamente falar
com o sargento PM que comandava o pequeníssimo destacamento de apenas
quatro militares, para saber se ele tinha conhecimento dos boatos que
circulavam, e respondeu-me que sabia do falatório. Contou-me então que
o piloto DONÉ (apelido de Dionízio Coelho de Araújo), tinha passado
por Uiramutã com seu avião Cessna PT-BMR, vindo da cachoeira de
ORINDUIKE, no lado brasileiro, (que os brasileiros erradamente chamam
de Orinduque), contando para várias pessoas, que havia um acampamento
enorme, com muitos soldados na esplanada no lado da Guiana, na margem
do rio Maú, nossa fronteira com aquele país. Aventei a necessidade de
que o sargento, autoridade policial local, fosse ver o que havia de
fato e falei com o dono da empresa, que aceitou, relutante e receioso,
emprestar o avião para o sargento.Como, entretanto, o sol já declinava
no horizonte, combinamos o vôo para a manhã seguinte. Muito cedo, o
piloto Doné e seus passageiros, que tinha ido pernoitar na maloca do
SOCÓ, pousaram em Uiramutã. Eu o conheci nessa ocasião, e pude ouvir
dele um relato. Resumindo bastante, contou que na Guiana havia um
grande acampamento militar e que um avião de tropas estava trazendo
mais soldados para ali. Estávamos na porta da Delegacia, quando chegou
uma Toyota do Exército,com um capitão, um sargento e praças,vindos do
BV 8. Ele ia escolher e demarcar um local para a construção do quartel
de destacamento militar ali naquela quase deserta fronteira com a
Guiana. BV 8 é antigo marco de fronteira do Brasil com a Venezuela,
onde há um destacamento do Exército, na cidade de Pacaraima. Muito
interessado e intrigado com o fato, resolveu ir conosco nesse vôo. O
capitão trazia uma boa máquina fotográfica e emprestei a minha para o
sargento. O vôo foi curto, apenas seis minutos. Demos
tanta sorte,que encontramos um avião para transporte de tropas,
despejando uma nova leva de soldados, no lado guianense. Voando prá lá
e prá cá,só no lado brasileiro, os militares fotografavam tudo, e o
capitão calculou pelo número de barracas, uns 600 homens, até aquele
momento.
Fiz diversas idas e vindas e, numa delas vi o transporte de tropas decolando e virando para a esquerda. Exclamei para o capitão: eles vem pra cima de nós! Como é que você sabe? Perguntou.
Viraram para a esquerda, que é o lado do Brasil e, não da Guiana,
respondi. Girei imediatamente a proa para Uiramutã e, ao nivelar o
avião, o capitão me disse muito sério: estamos na linha de tiro deles!
Foi então que olhando para a direita, vi à curta distância e, na porta
lateral do transporte, um soldado branco, com um fuzil na mão.
Confesso que foi um grande susto! O coração parecia-me bater duas e
falhar uma. Quem conhece a região, sabe que ali naquela parte, o Maú é
um rio muito sinuoso. Enfiei o avião fazendo zig-zag nesses meandros,
esperando conseguir chegar em Uiramutã. Se atiraram, não ficamos
sabendo, mas após o pouso, havia muita gente na pista, que fica
juntinho das casas. Agitadas, contaram que aquele avião tinha girado
duas vezes sobre nós e a cidade, tomando rumo de Lethen, na Guiana,
onde há uma pista asfaltada, defronte de Bomfim, cidade brasileira na
fronteira. Com esse fato, angustiou-se mais ainda a população, na
certeza de que a invasão era iminente. O capitão determinou ao
sargento e a mim, que fizessemos imediatamente um relatório minucioso,
para ser enviado ao comando da PM, em Boa Vista e partiu acelerado de
volta ao pelotão de fronteira no BV 8.
Na delegacia, o sargento retirou o filme da minha máquina
fotográfica, para enviar ao seu comando e eu datilografei um completo
relatório que ele colocou em código e transmitiu via rádio para Boa
Vista. Naquela época, o chefe da S2 da PM ( Seção de Inteligência) ,
era o major Bornéo.
Uns quatro dias depois que cheguei desse giro das compras de
diamantes, tocou a campainha da minha casa, um major do Exército.
Apresentou-se e pediu-me para ler um papel, que não era outro, senão
aquele mesmo que eu datilografara em Uiramutã , e do qual o comando da
PM enviara cópia para o comando do Exército em Boa Vista. Após ler e
confirmar que era aquilo mesmo, pediu-me para assinar, o que fiz.
Compreendi que tinha sido testemunha de algo grande, maior do que eu
poderia imaginar,e pedi então ao major, para dizer o que estava
acontecendo, uma vez que parte daquilo eu já sabia. Concordou em
contar, desde que eu entendesse bem que aquilo era absolutamente
confidencial e informação de segurança nacional.Concordei.Disse o
major, que a embaixada brasileira em Georgetown tinha informado ao Itamarati, que dois vasos de guerra, um inglês e outro, americano, haviam fundeado longe do porto, e que grandes helicópteros de transporte de tropas,
estavam voando continuamente para o continente, sem que tivesse sido
possível determinar o local para onde iam e o motivo.
Caboclos guianenses (índios aculturados) tinham contado para caboclos
brasileiros em Bomfim, cidade de Roraima na fronteira, terem os
americanos montado uma base militar logo atrás da grande serra
Cuano-Cuano, que por ser muito alta e próxima, vê-se perfeitamente da
cidade. O Exército brasileiro agiu com presteza, e infiltrou dois
majores através da fronteira, e do alto daquela serra, durante dois
dias, filmaram e fotografaram tudo. Agora, com os fatos ocorridos em
Orinduike, próximo de Uiramutã, nossa fronteira Norte,
fechava-se o entendimento do que estava acontecendo.
E o que estava acontecendo? As pressões internacionais
para a demarcação da Raposa / Serra do Sol apertavam, na certeza de
que o Presidente Itamar Franco assinaria o decreto. Em seguida, a ONU,
atendendo aos "insistentes pedidos dos povos indígenas de
Roraima", determinaria a criação de um enclave indígena sob a sua
tutela, e aí nasceria a primeira nação indígena do mundo. Aquelas
tropas americanas e as inglesas, eram para garantir militarmente a
tomada de posse da área e a "nova nação".Até a capital já estava
escolhida: seria a maloca da Raposa, estrategicamente localizada na
margem da rodovia que corta toda a região de Este para Oeste, e divide
geográfica e perfeitamente a região das serras daquela dos lavrados
roraimenses - que são os campos naturais e cerrados.
Itamar Franco - suponho - deve ter sido alertado para o
tamanho da encrenca militar que viria, e o fato é que, nunca assinou a
demarcação.Nessa mesma ocasião (para relembrar: era começo de setembro
de 1993),estava em final de preparativos, o exercício periódico e
conjunto das Forças Armadas nacionais, na cidade de Ourinhos, margem
do rio Paranapanema, próxima de Sta. Cruz do Rio Pardo e Assis, em São
Paulo, e Cambará e Jacarezinho, no Paraná. Com as alarmantes notícias
vindas de Roraima, o Alto Comando das Forças Armadas mudou o
planejamento, que passou a
chamar-se "OPERAÇÃO SURUMU" e, como já estava tudo
engrenado, enviou as tropas para Roraima. Foi assim que à partir da
madrugada de 27 de setembro de 1993, dois aviões da VARIG, durante
vários dias,Búfalos, Hércules e Bandeirantes despejaram tropas em
Roraima. Não cabendo todas as aeronaves militares dentro da Base
Aérea, o pátio civil do aeroporto ficou coalhado de aviões militares.
Chegaram também os caças e muitos Tucano. Veio artilharia anti-aérea,
localizada nas cercanias de Surumu, e foi inclusive expedido um aviso
para todos os piloto civis,sobre áreas nas quais estava proibido o
sobrevôo, sob risco de abate.Tendo como Chefe do Comando Militar da
Amazônia (CMA), o general de Exército José Sampaio Maia -
ex-comandante do CIGS em Manaus, e como árbitro da Operação Surumu, o
general de Brigada Luíz Alberto Fragoso Peret Antunes (general Peret),
os rios Maú, Uailã e Urariquera enxamearam de "voadeiras" cheias de
soldados. Aviões de caça fizeram dezenas de vôos razantes nas
fronteiras > do Norte. O Exército também participou com a sua aviação
de helicópteros, que contou com 350 homens do 1º, 2º e 3º esquadrões,
trazendo 15 Pantera (HM-1) e 4 Esquilos, que fizeram um total de 750
horas de vôo.Vieram ta mbém cerca de 150 páraquedistas militares e
gente treinada em guerra na selva. A Marinha e a Força Aérea
contribuíram com um número não declarado de homens, navios e
aeronaves.
Dessa maneira, não tendo Itamar Franco assinado o decreto de
demarcação da Raposa / Serra do Sol e, vindo essas forças militares
para demonstrar que a entrada de soldados americanos e ingleses em
Roraima, não seria feita sem grande baixas, "melou"
e arrefeceu a intenção internacional de apossar-se desta parte da
Amazônia, mas não desistiram.Decepcionando muito, embora sendo outro o
contexto político internacional, Lula fez a homologação dessa área
indígena,contestada documentalmente no Supremo Tribunal e, ainda
tentou à revelia de uma decisão judicial, retirar "na marra", os
fazendeiros e rizicultores ("arrozeiros" ) dessa área, que como muita
gente sabe -inclusive os contrários - tem dentro dela
propriedades documentadas com mais de 100 anos de escritura pública e
registro, no tempo em que Roraima nem existia, e as terras eram do
Amazonas. Agora,entretanto, os interesses difusos e estranhos de
muitas ONGs, dizem na internet, que esses proprietários são
"invasores", quando > até o antigo órgão anterior ao INCRA, demarcou e
titulou áreas nessa região, e que a FUNAI, chamada a manifestar-se,
disse por escrito, que não tinha interesse nas terras e que nelas, até
aquela ocasião, não havia índios.As ONGs continuam a fazer pressão, e
convém não descuidar, porque nada indica que vão desistir de conseguir
essas terras "para os índios", e de graça, levarem além de 1 milhão e
700 mil hectares - quase o tamanho de Sergipe - tudo o mais que elas
tem: ouro, imensas jazidas de diamantes, coríndon, safira de azul
intenso, turmalina preta, topázio, rutilo, nióbio, urânio, manganês,
calcáreo, petróleo, afora a vastidão das terras planas, propícias
à lavoura, área quase do mesmo tamanho onde Mato Grosso planta soja
que fez a sua riqueza.
Isso, é o que já sabemos, porque uma parte disso foi
divulgada numa pesquisa da CPRM - Cia. de Pesquisa de Recursos
Minerais, em agosto de 1988 (iniciada em 1983), chamada de Projeto
Maú, que qualifica essa parte da Raposa/Serra do Sol, como uma das
mais ricas em diamantes no Brasil, sendo o mais extenso depósito aluvional de Roraima, muito superior ao Quinô, Suapi, Cotingo, Uailã e Cabo Sobral.
Essa pesquisa foi inicialmente conduzida pelo geólogo João Orestes
Schneider Santos e, posteriormente, pelo também geólogo, Raimundo de
Jesus Gato D´Antona, que foi até o final do projeto, constatando a
possibilidade da existência de até mais de 3 milhões de quilates de
diamantes e 600 Kg de ouro. Basta conferir a cotação do ouro e
diamantes, para saber o que valem aquelas barrancas do rio Mau, só num
pequeno trecho. A "desgraça" de Roraima é ser conhecida
internacionalmente na geologia, como a maior Província Mineral já
descoberta no planeta. Nada menos que isso!
E o que ainda não sabemos? Essa pesquisa, feita em pouco mais de 100
quilômetros de barranca do rio, cubou e atestou a imensa riqueza
diamantífera da área. Entretanto, o Estado de Roraima ainda tem
coríndon, manganês, calcáreo e urânio, afora mais de 2 milhões e 100
mil hectares de terras planas agricultáveis, melhores
que aquelas onde plantam soja no Mato Grosso.

Izidro Simões

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