por Rubens Harry Born
É de grande apreensão a noticia de que a ministra Dilma Rousseff exigiu revisão da proposta apresentada pelo Ministério do Meio Ambiente para que o país seja menos ambicioso no esforço de limitar as emissões de gases de efeito estufa, a fim de permitir maiores taxas de crescimento econômico do Brasil. Também é preocupante o fato de que os governantes considerem que somente a redução de 80% do desmatamento e o fomento aos agrobiocombustíveis são respostas suficientes aos desafios de fazer o país transitar para uma sociedade de baixo carbono.
Posturas como a defendida pela ministra Dilma Rousseff revelam concepções ultrapassadas de desenvolvimento, em que o “crescimento econômico” por si seria a forma de prover dignidade e qualidade de vida, e que tal crescimento necessariamente implica em desconsiderar questões de segurança e integridade ambiental.
A premissa implícita nesta posição é de que seguiremos usando modelos de desenvolvimento e tecnologias que estão intimamente vinculados às causas antrópicas do aquecimento global: forte dependência da exploração e uso de combustíveis fósseis; geração de energia elétrica a partir de grandes usinas hidroelétricas, termoelétricas e nucleares; sistema de transporte rodoviário para cargas e pessoas; uso inadequado e ocupação descontrolada do território para atividades altamente impactantes, nas cidades ou no meio rural.
É certo que precisamos de investimentos em infraestrutura, tais como escolas, postos de saúde, geração de energia com base em fontes renováveis, transporte público limpo e eficiente, e que todas atividades humanas geram emissões de gases de efeito estufa. Mas é no mínimo falta de visão achar que o Brasil não pode trilhar para uma trajetória de sustentabilidade que concilie o bem-estar de sua população com maior zelo ambiental e responsabilidade internacional.
Faltam menos de 50 dias para a 15aConferência das Partes (CoP-15) da Convenção Quadro da ONU sobre Mudança de Clima, na qual se espera sejam tomadas decisões políticas que reorientem as atividades econômicas e sociais a fim de buscar reverter o aquecimento global. O Brasil pode e deve ter um papel de liderança para a adoção de políticas globais e nacionais condizentes com o enfrentamento da crise climática. E esse enfrentamento pode gerar inúmeras oportunidades de empregos “verdes”, em atividades social, econômica e ambientalmente sustentáveis, e portanto servir de resposta para a “outra” crise — a financeira — cujos elementos vinculamse também à noção de crescimento ilimitado e a qualquer custo. Mudar hábitos de consumo ou sistemas e tecnologias de produção pode significar tanto melhor saúde, qualidade de vida, diminuição de custos, e simultaneamente, promoção da qualidade ambiental, mitigação do aquecimento global e geração de empregos.
RUBENS HARRY BORN é coordenadoradjunto da organização não governamental Vitae Civilis. O Globo
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