domingo, dezembro 02, 2007

Chávez? Nada disso. É tosco demais.

Segundo pesquisa do Datafolha, 65% dos brasileiros são contra o terceiro mandato para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pressupõe-se por lógica: eles são contra a extensão para qualquer outro presidente no futuro. Notícia, aparentemente, alvissareira se não for levado em conta outros 31% dos entrevistados. Eles ainda não estão convencidos de uma evidência brutal. O prolongamento excessivo do mandato presidencial, a perenidade do governante no poder é prejudicial. Há certa implicância quando se evoca o exemplo de Hugo Chávez para demonstrar o prejuízo causado pelo despautério. Quem aponta para Venezuela tenta facilitar a compreensão. Embora com sociedade estruturalmente diferente, o país está ali, fronteiriço com o Brasil. Mas o outro lado crê tratar-se de divergência ideológica da... qual é nome do bicho papão? Ah, a nova direita. Está bem. Admitamos uma inverdade: Chávez é um democrata conduzindo seu país para o melhor dos mundos. No embalo, vamos esquecer o referendo da Venezuela, apostar na existência da nova direita que é... qual é o adjetivo? Golpista? O problema da retórica é a impossibilidade de transpor outras referências mundo afora. A mais poderosa delas encontra o presidente russo Vladimir Vladimirovitch Putin, 54 anos.

Reparem. A nova direita está no poder na Rússia. Sai das eleições legislativas russas, um parlamento (Duma) amplamente favorável a Putin. Haverá pequena representatividade do Partido Comunista. Ora, a Rússia nunca esteve tão próxima do modelo sonhado para o Brasil por alguns áulicos do presidente Lula. Dito de outro modo: o DEM, PSDB, PMDB apóiam incondicionalmente Lula. Uma minoria, o PT e partidos de esquerda radicais ficam ali para não deixar o presidente sair do rumo. Um país com uma oposição aparente não seria uma beleza? Esqueçam o Chávez. Os meios do coronel venezuelano são toscos. A figura do caudilho sul-americano está rançosa, provoca repelência em corações e mentes. Algo semelhante à astúcia do futuro czar Putin é o caminho mais sutil para o terceiro mandado de Lula. Putin recusou reforma constitucional que lhe permitia disputar um terceiro mandado presidencial em março de 2008. Em contrapartida, candidatou-se a deputado por um partido cuja pesquisas revelam eleição fácil. No regime parlamentarista russo, significa que Putin, eleito deputado, pode se tornar primeiro-ministro. A partir daí, governa pela Duma concentrando poder com um presidente fraco. O que diz o Lula? O presidente brasileiro afirma e reafirma: “Quem me conhece sabe que eu não brinco com a democracia.” Quem se lembra do “Fora FHC” sabe. Lula brinca sim, senhor. Mas há uma acepção muito conveniente, internacional e nacional, Lula não é Chávez. São recorrentes as confusões que Lula semeia entre o regime presidencialista e parlamentar para falar da longevidade no poder.

Faz-se aqui uma aposta. A tentativa do terceiro mandado de Lula não passará pelo exemplo arcaico, desgastado de Hugo Chávez. A sociedade brasileira amadureceu politicamente. Tentar forçá-la a aceitar, engolir a força algo que rejeita é contraproducente. Lula sabe. No entanto, ele deseja sim, permanecer onde está por mais tempo possível. A questão agora é escolher qual o meio mais palatável.

Antonio Ribeiro, de Paris
E-mail: aribeiro.deparis@gmail.com

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