Paulo Guedes - Época
“Não se perde a liberdade de uma só vez”, alerta-nos o filósofo inglês David Hume. Os sintomas da gradual asfixia da democracia venezuelana são claros, e seu diagnóstico é conhecido.
Sintoma número 1
O presidente Hugo Chávez brada diante das câmeras de TV: “Foi uma vitória de m...!”. Referia-se à vitória da oposição no plebiscito que rejeitou sua proposta de reforma constitucional.
Diagnóstico: “Na mais visual de todas as formas, o fascismo se apresenta por imagens vívidas de um demagogo discursando bombasticamente para uma multidão em êxtase. Tendo chegado ao poder na legalidade, líderes fascistas podiam exercê-lo apenas nos termos da Constituição. Seu poder era limitado. O golpe dos fascistas foi transformar um cargo constitucional em autoridade pessoal ilimitada, controlando por completo o Estado. Os Parlamentos perderam o poder, e as eleições foram substituídas por plebiscitos do tipo ‘sim ou não’” (Robert Paxton, A Anatomia do Fascismo, 2005).
Sintoma número 2
Os chefes das Forças Armadas venezuelanas reafirmam seu apoio a Chávez aos gritos de “Pátria, socialismo ou morte!”.
Diagnóstico: “A conciliação do socialismo com os métodos democráticos pertence ao mundo das utopias. O socialismo não é o caminho para a liberdade, e sim para ditaduras a favor e contra. Um caminho para a guerra civil da mais feroz espécie. A ascensão do nazismo e do fascismo não foi apenas uma reação às tendências socialistas do período precedente, e sim uma conseqüência dessas tendências. A transição do socialismo ao nacional-socialismo ou ao fascismo foi inevitável. Representando pólos aparentemente opostos no espectro político, eram apenas as duas faces das mesmas tendências totalitárias” (Friedrich A. Hayek, O Caminho da Servidão, 1944).
Sintoma número 3
O fechamento da RCTV e a ameaça de abertura de processo contra a rede de TV CNN por “incentivar seu assassinato”.
Diagnóstico: “As palavras de ordem e as manifestações de massa foram comuns aos nazistas e fascistas, bem como a gradual interdição da imprensa por um conjunto de leis e decretos, sempre assegurando a legalidade do sistema” (Louis Dupeux, História Cultural da Alemanha, 1989).
Sintoma número 4
A demonização do capitalismo internacional e particularmente da liderança econômica americana.
Diagnóstico: “Os primeiros movimentos fascistas atacaram o capitalismo financeiro internacional com veemência. Prometeram expropriar terras em favor de camponeses. Atraíram as vítimas da globalização e os perdedores da modernização usando as técnicas de propaganda mais modernas” (Paxton).
Sintoma número 5
Líder, povo, identidade, poder e Constituição “bolivarianos”.
Diagnóstico: “Política de massas, o fascismo tentava apelar sobretudo às emoções pelo uso de retórica intensamente carregada. O fascismo ajuda um povo a realizar seu destino. Repousa na união mística do líder com o destino histórico de seu povo, agora consciente de sua identidade e de seu poder” (Paxton).
Sintoma número 6
Militantes chavistas espancando universitários e opositores.
Diagnóstico: “Um artifício usado pelos totalitaristas eram as estruturas paralelas, tanto na ascensão quanto no exercício do poder. O Estado oficial e essas estruturas conferiam ao regime sua bizarra mistura de legalidade e violência arbitrária” (Paxton).
Se “nos tornamos mais sábios quando reconhecemos que muito do que já fizemos foi insensato”, como afirma Hayek, a tentativa de reengenharia de um socialismo “bolivariano” no século XXI revela a completa ausência de sabedoria. Uma insensatez “bolivariana”.
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