sábado, setembro 29, 2007

McCarthy estava certo

Diogo Mainardi

A TV do Lula já tem um chefe: Tereza Cruvinel. Na quarta-feira, ela foi escolhida para presidir o canal estatal. Petistas e peemedebistas brigam para abocanhar cargos na Petrobras. Enquanto isso, o lobista Mainardi, com seu jeito sonso, conseguiu emplacar mais um nome de sua listinha para um posto de comando no governo.
A primeira listinha do lobista Mainardi foi publicada numa coluna de dezembro de 2005. Nela, relacionei uma série de jornalistas comprometidos com Lula. Mais do que simples torcedores ou correligionários do presidente, acusei-os de distorcer os fatos a fim de abafar as denúncias contra os mensaleiros. A certa altura, eu dizia:

O Globo tem Tereza Cruvinel. É lulista do PCdoB. Repete todos os dias que o mensalão ainda não foi provado. E que José Dirceu não deveria ter sido cassado. Ela aparelhou o jornal da mesma maneira que os lulistas aparelharam os órgãos públicos. Quando tira férias, seu cunhado, Ilimar Franco, assume sua coluna.

Minha listinha de colaboracionistas na imprensa incluía o nome do atual ministro Franklin Martins, que indicou Tereza Cruvinel para a TV do Lula. E o nome de Helena Chagas constava de uma listinha sucessiva em que tratei da quebra do sigilo do caseiro Francenildo. O que fará Helena Chagas? Ela dirigirá o departamento de jornalismo da TV estatal.

Fui muito atacado na época da primeira listinha. Me acusaram de ligeireza. Me diagnosticaram um extenso rol de neuroses. Quatro dos citados chegaram a me processar: Franklin Martins, Leonardo Attuch, Paulo Henrique Amorim e Mino Carta. Até aquele momento, os quinta-colunas da imprensa permaneciam incógnitos. Ninguém admitia que a afinidade partidária pudesse interferir no desempenho profissional dos jornalistas. E ninguém admitia que eles pudessem estar trabalhando para Lula clandestinamente. Agora que alguns deles de fato foram trabalhar para Lula, com carteira assinada e tudo, aguardo os pedidos de desculpas de meus detratores arrependidos, as odes em minha homenagem, os beijinhos e os cafunés.

No fim daquele primeiro artigo, anunciei o plano de delatar todos os lulistas da imprensa, formando o tribunal macarthista mainardiano. Como sempre acontece comigo, a piada se voltou contra mim. Por muito tempo, fui tachado como um macarthista que perseguia seus colegas por motivos puramente ideológicos. O fato é que Joseph McCarthy estava certo: o comunismo tinha um monte de agentes infiltrados no sistema americano. O fato é que eu também estava certo: o lulismo tinha um monte de agentes infiltrados na imprensa brasileira.

Dois anos depois do estouro do mensalão, já podemos fazer um retrospecto do caso. O STF delineou com clareza suas principais ramificações: o núcleo presidencial, o núcleo parlamentar, o núcleo bancário, o núcleo publicitário. O mensalinho tucano irá desmascarar o núcleo oposicionista. Quanto ao núcleo jornalístico, a ida de Tereza Cruvinel para a TV do Lula fechará o ciclo de uma vez por todas. Estou à espera dos beijinhos. Estou à espera dos cafunés.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Reação débil e tardia

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil,20 de setembro de 2007


Em 17 de setembro de 1998, no Jornal da Tarde de São Paulo, denunciei a propaganda comunista mentirosa e emburrecedora que, a pretexto de ensinar História, o governo do sr. Fernando Henrique Cardoso -- sim, o governo tucano -- espalhava pelas escolas brasileiras. Mencionei especialmente, entre outras obras usadas para esse fim, a Nova História Crítica, de Mário Schmidt (v. ).

Não me limitei a expor esse e inumeráveis fatos similares. Tanto em livros e conferências quanto em artigos, mostrei, com todo o rigor possível, que não se tratava de episódios isolados, mas de uma imensa articulação estratégica baseada "revolução cultural" de Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, da qual o então presidente da República se gabava de ser ainda melhor conhecedor e implementador do que seus amigos, concorrentes e depois sucessores petistas. Segundo essa proposta, o movimento revolucionário deveria conquistar o controle hegemônico da cultura, do imaginário social e dos debates públicos antes de se aventurar a introduzir mudanças radicais na política econômica ou na estrutura de poder.

Decorridos nove anos, O Globo finalmente conseguiu notar a existência do livro acima mencionado - como se fosse o único do mesmo teor -- e, ao comentá-lo na coluna de Ali Kamel, ainda se gaba de fazê-lo "sem incomodar o leitor com teorias sobre Gramsci, hegemonia etc."

Se até um jornalista competente como Ali Kamel leva quase uma década para notar o que está acontecendo, se o percebe somente por um ângulo isolado e se ao falar do assunto ainda se sente inibido de pedir ao leitor um pequeno esforço intelectual para apreender o conjunto de uma situação que nesse ínterim evoluiu do perigoso ao catastrófico, tão persistente letargia pode parecer estranha, mas não para mim. Sem medo de incomodar, informo aos interessados que hegemonia é precisamente isso: é dominar o fluxo das idéias ao ponto de controlar a velocidade de percepção do adversário, de modo que ele só note o perigo quando já não tenha mais tempo nem força para reagir.

De 1998 até agora, a ideologia comunista que entrou pelos livros de História se alastrou pelo sistema de ensino inteiro e infectou todas as disciplinas -- até matemática e educação física --, de modo que para as novas gerações de estudantes brasileiros tudo o que escape da cosmovisão marxista se tornou inexistente e impensável. Como previa Gramsci, o "senso comum modificado" é algo de mais profundo e arraigado do que a mera crença consciente.

Ao longo desses anos, as organizações Globo, em parte iludidas pelo mito da morte do comunismo, em parte manipuladas desde dentro por agentes esquerdistas, não fizeram outra coisa senão colaborar com o empreendimento gramsciano, cultuando os santos do panteão comunista e glamurizando tudo aquilo que Roberto Marinho detestava.

Não espanta que, agora, ao emergir pouco a pouco de um longo torpor mental, o grupo não consiga esboçar senão gestos de reação débeis e acovardados, dizendo mui polidamente umas palavrinhas pró-capitalistas pela boca do sr. Eduardo Gianetti da Fonseca ou fazendo na coluna de Ali Kamel um eco parcial, tímido e quase inaudível a minhas denúncias de uma década atrás.

Também não espanta que, como prêmio de sua paternal solicitude para com os esquerdistas, a Globo agora receba deles toda sorte de insultos, acompanhados da ameaça de fazer com ela o que Hugo Chávez fez com a RCTV. Vocês não imaginam com que satisfação os comunistas atiram ao lixo um "companheiro de viagem" quando não precisam mais dele.

15 milhões de analfabetos!

Mesmo com queda no índice, país tem 15 mi de analfabetos

Na era da tecnologia da informação, 14,9 milhões eram analfabetos em 2006 no país, queda de 4,2% na comparação com 2005, segundo a Pnad.
A taxa de analfabetismo manteve a trajetória de queda -de 10,2% da população com mais de 10 anos em 2005 para 9,6% em 2006. O problema se amplifica, porém, quando olhado o enorme contingente de analfabetos funcionais, conceituados como aqueles com menos de quatro anos completos de estudo. Em 2006, havia 36,9 milhões de pessoas nessa condição. Representavam 23,6%, contra 24,9% em 2005.
De acordo com o IBGE, apesar da expansão do número de crianças matriculadas nas escolas, as taxas de analfabetismo e o número analfabetos funcionais se mantêm altos nas gerações mais velhas e no Norte e no Nordeste especialmente.
Em 2006, 97,6% das crianças de 7 a 14 anos freqüentavam o colégio -o percentual era de 97,3% em 2005 e cresce continuamente desde 1992, primeiro ano da pesquisa.
As diferenças regionais também são marcantes: o Nordeste tinha o maior número de pessoas que não sabiam ler e também a mais alta taxa de analfabetismo funcional -8,9% e 35,5%, respectivamente.
"O analfabetismo funcional reflete mais a parcela da população que não se escolarizou o suficiente e não tem condição ou interesse de voltar mais para o sistema educacional", disse Romualdo Portela, professor da faculdade de Educação da USP. Segundo ele, o índice não mede a qualidade do ensino. Ou seja, não significa necessariamente que os quatro anos foram suficientes ou não para completar a alfabetização e fazer da leitura e da escrita ferramenta de trabalho e melhoria das condições de vida.
Outro problema que persiste é a baixa escolarização -em média, 6,8 anos de estudo. Em uma tendência vista já há alguns anos, as mulheres continuam estudando mais: 7 anos. Os homens, 6,6.
Para Sônia Rocha, economista do Iets (Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade), a baixa escolaridade é uma das causas da exclusão dos jovens do mercado de trabalho.

Lula x FHC
Nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, o esforço de matricular o maior número possível de crianças resultou na queda do analfabetismo. O ritmo não foi muito diferente, com pequena vantagem para o tucano.
Na média anual, a taxa de analfabetismo caiu 3,78% no primeiro mandato FHC (1995-1998). No segundo, houve queda de 4,13%. Já sob Lula, a retração média ficou em 3,55%.
Excluída a área rural da região Norte (não pesquisada até 2004), a taxa de analfabetismo era 14,7% em 1995. Em 2002, último ano do governo PSDB, caiu para 10,9%. No primeiro ano de Lula, ficou em 10,6%. Em 2006, cedeu para 9,4%.
Folha

O que ensinam às nossas crianças

Não vou importunar o leitor com teorias sobre Gramsci, hegemonia, nada disso. Ao fim da leitura, tenho certeza de que todos vão entender o que se está fazendo com as nossas crianças e com que objetivo. O psicanalista Francisco Daudt me fez chegar às mãos o livro didático "Nova História Crítica, 8ª série" distribuído gratuitamente pelo MEC a 750 mil alunos da rede pública. O que ele leu ali é de dar medo. Apenas uma tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo, que só fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários. Impossível contar tudo o que há no livro. Por isso, cito apenas alguns trechos.

Sobre o que é hoje o capitalismo: "Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas são tomadas pela burguesia, que busca o lucro pessoal. Para ampliar as vendas no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado. O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários."

Sobre o ideal marxista: "Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade para agradar à (sic) toda a população. Não há mais ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democráticas para os trabalhadores."

Sobre Mao Tse-tung: "Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador."

Sobre Revolução Cultural Chinesa: "Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas. Velhos administradores foram substituídos por rapazes cheios de idéias novas. Em todos os cantos, se falava da luta contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes. (...) No início, o presidente Mao Tse-tung foi o grande incentivador da mobilização da juventude a favor da Revolução Cultural. (...) Milhões de jovens formavam a Guarda Vermelha, militantes totalmente dedicados à luta pelas mudanças. (...) Seus militantes invadiam fábricas, prefeituras e sedes do PC para prender dirigentes ‘politicamente esclerosados’. (...) A Guarda Vermelha obrigou os burocratas a desfilar pelas ruas das cidades com cartazes pregados nas costas com dizeres do tipo: ‘Fui um burocrata mais preocupado com o meu cargo do que com o bem-estar do povo’. As pessoas riam, jogavam objetos e até cuspiam. A Revolução Cultural entusiasmava e assustava ao mesmo tempo."

Sobre a Revolução Cubana e o paredão: "A reforma agrária, o confisco dos bens de empresas norte-americanas e o fuzilamento de torturadores do exército de Fulgêncio Batista tiveram inegável apoio popular."

Sobre as primeiras medidas de Fidel: "O governo decretou que os aluguéis deveriam ser reduzidos em 50%, os livros escolares e os remédios, em 25%." Essas medidas eram justificadas assim: "Ninguém possui o direito de enriquecer com as necessidades vitais do povo de ter moradia, educação e saúde."

Sobre o futuro de Cuba, após as dificuldades enfrentadas, segundo o livro, pela oposição implacável dos EUA e o fim da ajuda da URSS: "Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel Castro sair do governo e o país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA.(...) Mas existe (sic) também as possibilidades de Cuba voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como no tempo de Fulgêncio Batista. Quem pode saber?"

Sobre os motivos da derrocada da URSS: "É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (...) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas... Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência mundial não queria só melhores bens de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinha inveja da classe média em desenvolvimento dos países desenvolvidos (...) Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas, jóias. (...) Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (...) Fica então uma velha pergunta: e se a revolução tivesse estourado num país desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?"

Esses são apenas alguns poucos exemplos. Há muito mais. De que forma nossas crianças poderão saber que Mao foi um assassino frio de multidões? Que a Revolução Cultural foi uma das maiores insanidades que o mundo presenciou, levando à morte de milhões? Que Cuba é responsável pelos seus fracassos e que o paredão levou à morte, em julgamentos sumários, não torturadores, mas milhares de oponentes do novo regime? E que a URSS não desabou por sentimentos de inveja, mas porque o socialismo real, uma ditadura que esmaga o indivíduo, provou-se não um sonho, mas um pesadelo?

Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Senão for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém.

Artigo reproduzido do jornal O Globo de 18/9, página 7.

* Ali Kamel é jornalista

segunda-feira, setembro 17, 2007

O governo, o PT e a propriedade

"Fantasmas existem. Às vezes, atacam. Não basta afugentá-los com feitiçaria, pois possuem uma prodigiosa capacidade mutante, apresentando-se de múltiplas maneiras. Fica difícil, muitas vezes, localizá-los. Esforços, no entanto, devem ser feitos, pois deles dependem um sono e um futuro tranqüilos.

O PT deu mostras, em seu congresso, de coerência em relação às suas posições históricas, fazendo reviver os fantasmas de uma sociedade socialista, tendo a Cuba de Fidel Castro (e Che Guevara) e a Venezuela de Hugo Chávez como modelos. Quando alguns poderiam prever uma revisão de posições doutrinárias, que as adequassem à prática "neoliberal" conduzida pelo governo petista na área da política econômica, o movimento ideológico empreendido foi o contrário, condenando essa mesma prática e propugnando por uma relativização, crescente, da propriedade privada. É evidente que há uma contradição entre posições partidárias e certas práticas governamentais, que não esgotam, contudo, o problema, pois há algo muito mais importante em jogo. Não se trata de mera esquizofrenia, mas de um ensaio premeditado de insensatez, produto de devaneios ideológicos não superados.

O PT deu mostras de sintonia, e não somente de dissintonia, com seu governo. Se tanto insistiu no socialismo enquanto seu alvo próprio, é porque acredita que esse é o caminho a ser trilhado e, diria, já o está sendo. A pergunta que deveria ser colocada é, então, a seguinte: onde ela estaria ocorrendo e como conciliá-la com suas mesmas práticas "neoliberais". Deixemos a questão da conciliação para psicanalistas petistas, que, juntamente com o seu partido, estão no divã - e sem atendimento! O problema é outro. A chave encontra-se em declarações de líderes partidários e em documentos segundo os quais o partido deveria reaproximar-se dos movimentos sociais. Se fossem totalmente honestos, deveriam dizer que os movimentos sociais deveriam adentrar mais profundamente nos órgãos do Estado, tais como o Ministério do Desenvolvimento Agrário (Incra e Ouvidoria Agrária Nacional), a Funai e o Ministério do Meio Ambiente (Ibama).

Os movimentos sociais, juntamente com a maior parte das tendências petistas, estão empreendendo um forte processo de relativização da propriedade privada. Enquanto a atenção está centrada no mercado financeiro, eles se movem resolutamente em ações que visam a desrespeitar a propriedade e os contratos, fazendo valer as suas posições anticapitalistas, enfraquecendo as instituições representativas. São basicamente quatro as relativizações em curso da propriedade privada, que se apresentam - e se travestem - em suas funções sociais, raciais, indígenas e ambientais.

A função social da propriedade é a que se manifesta de forma mais clara, pelas ações violentas do MST, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do MLST e, agora, do incremento das ações do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul do Brasil (Fetraf-Sul)/CUT. O seu alvo é a destruição, várias vezes reiterada, do agronegócio e da propriedade no campo brasileiro. Não se trata, senão aparentemente, da luta contra o "latifúndio", mas da luta contra os princípios mesmos de uma economia de mercado e da democracia representativa. Che Guevara é o seu ícone. Ligeiramente abaixo, comparecem os ditadores Hugo Chávez e Fidel Castro. São os santos da Nova Igreja.

A função racial da propriedade se apresenta sob a forma de ações quilombolas. Sob o pretexto de regulamentar um justo artigo da Constituição de 1988, o que dispõe sobre os quilombos existentes até então, o que implica posse e continuidade de ocupação territorial, o atual presidente, respondendo aos projetos de seu partido e dos movimentos sociais, publicou um decreto que altera o sentido mesmo da palavra quilombo. Ela passa a significar qualquer comunidade cultural negra. O seu instrumento jurídico consiste nos dispositivos da "autoclassificação" da cor e da "auto-identificação" das terras rurais e urbanas. Sob esta ótica, "remanescente quilombola" significa "descendente de escravo negro". Alguns antropólogos e procuradores engajados na "causa" chamam tal operação de "translação semântica", num procedimento político capaz de fazer corar os mais impenitentes stalinistas. E isso que estes eram mestres na manipulação da linguagem. Órgãos de Estado como a Fundação Palmares e o Incra seguem por essa trilha, que se está tornando uma autopista.

A função indígena da propriedade se manifesta nesta proliferação inaudita de demarcações do território nacional que começa a fugir do controle da autoridade estatal. Já são mais de 100 milhões de hectares demarcados. Ante os agentes da Funai - e do Conselho Missionária Indigenista (Cimi) - e os "laudos" utilizados, qualquer título de propriedade desaparece, deixando os agricultores completamente indefesos. Uma causa justa de demarcação de territórios indígenas para a preservação de laços culturais está se tornando objeto de instrumentalização ideológica e partidária, com repercussões internacionais.

A função ambiental da propriedade é outra causa, justa, que está sendo desvirtuada. Aproveitando-se de uma consciência politicamente correta, vigente em amplos setores da juventude, grupos ecossocialistas têm sido hábeis em fazer passar a sua mensagem. Assim, criou-se, por exemplo, uma ficção, a do "deserto verde", ostentada pelo MST e pela Via Campesina, que é empregada para ações de destruição de propriedades.

O Brasil deve ter consciência de que para crescer, distribuir riquezas e preservar as liberdades é necessário impedir que esse processo de relativização da propriedade privada ganhe a figura de um fantasma que passe a orientar a vida de todos. E ele está se tornando perigosamente concreto!"

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS.

Lula e seus militantes amestrados

Eduardo Graeff para a Folha

Placebo ideológico aqui, verbinha acolá, empregos a rodo, barriga cheia, lá vai a militância petista fazer seu número. Pula! Late!

O PLEBISCITO sobre a privatização da Companhia Vale do Rio Doce não foi para valer, Lula esclareceu na coletiva de rádio dias depois de o PT anunciar sua adesão à iniciativa do MST e outros. A rigor, o "não tenho nada com isso" dele também não é para valer.
Às vésperas do plebiscito, enquanto o presidente da República negava que a reestatização da Vale estivesse ou pudesse vir a estar na agenda de seu governo, militantes de camiseta vermelha recolhiam assinaturas para o plebiscito comodamente instalados na portaria do Ministério do Planejamento ao som do hino da Internacional Comunista. O que vale mais: a palavra do presidente ou as centenas de milhões de reais com que ele irriga o MST, a CUT, a UNE etc.?
Uma coisa pela outra, eu diria. Falsa como uma nota de três reais é a razão formal que ele alegou para se dissociar da onda reestatizante: houve um "ato jurídico" que o governo deve respeitar. Se tivesse sombra de dúvida que o ato foi fraudulento, como gritam os "excluídos" chapa-branca, teria por obrigação mandar apurar e desfazer o malfeito.
Não fará nada, como não fez até hoje, porque não quer assustar o mercado nem ter que passar um atestado de idoneidade ao processo de privatização. Bom mesmo é deixar suspeitas no ar e faturar eleitoralmente, como fez com o boato de privatização do Banco do Brasil em 2006.
Melhor ainda juntar o proveito político do reflexo condicionado antiprivatização com o proveito econômico da Vale privatizada. Recorde de investimento: US$ 44,6 bilhões nos últimos seis anos contra US$ 24 bilhões nos 54 anos anteriores. Recorde de produção: 300 milhões de toneladas de minério neste ano contra média anual de 35 milhões da Vale estatal. Recorde de emprego: 56 mil empregos diretos hoje contra 11 mil há dez anos. Recorde de exportações: quase US$ 10 bilhões em 2006 contra US$ 3 bilhões em 1997, garantindo mais de um quarto do saldo da balança comercial "deste país".
A Vale não é exceção. Da Embraer à telefonia, passando pela siderurgia e petroquímica, o desempenho de quase todas as empresas privatizadas é uma história de sucesso em benefício de seus compradores e empregados e do país.
A isso o estatista contrapõe números que são, eles sim, fraude grosseira: a comparação dos US$ 3 bilhões pelos quais a União vendeu 42% de suas ações ordinárias da Vale em 1997 com os US$ 50 bilhões que a Vale inteira valeria hoje, depois de toda a expansão possibilitada pela privatização.
E quem foram os beneficiários desse "ato de lesa-pátria"? A quem pertence a Vale privatizada? Aos funcionários e aposentados do Banco do Brasil, principalmente, por intermédio de seu fundo de pensão. Com o BNDES, eles detêm dois terços do capital da Vale. O restante se distribui entre o Bradesco, a "trading" japonesa Mitsui e mais de 500 mil brasileiros que aplicaram parte do FGTS em ações da companhia.
O padrão de gestão da Vale é privado. A propriedade, como se vê, nem tanto. Depois de privatizada, a empresa recolheu aos cofres da União, em impostos e dividendos, algumas vezes mais do que fez ao longo de toda a sua existência como estatal.
Os obreiros do plebiscito e até, forçando a barra, os padres que ecoam essa gritaria inconseqüente dentro das igrejas podem pretextar ignorância. Lula e os dirigentes do PT, não. Esses usam deliberadamente o fantasma da privatização como uma distração para a sua militância -um osso de mentira que se dá a um cachorrinho para ele não roer a mobília.
Um placebo ideológico aqui, uma verbinha acolá, empregos a rodo, barriga cheia, lá vai a militância petista fazer seu número. Pula! Late! E Lula pisca o olho para as visitas: "É brincadeira, gente! Senta que o Lulu é manso".
Os empresários sorriem de volta, fingem que acreditam, mas pensam dez vezes antes de botar a mão no bolso. Para eles, pior do que a encenação dos militantes é a falta de vontade e/ ou capacidade do governo de estabelecer regras claras e um ambiente político confiável para os investimentos privados em infra-estrutura.
A conta das ambigüidades virá aí por 2010, prevêem os especialistas, quando o fantasma do racionamento de energia elétrica deve voltar a rondar, dessa vez não por falta de chuva, mas de investimento. Ou quem sabe em 2011. Já pensaram na ironia? Um novo governo às voltas com o apagão, a militância petista a todo vapor de volta à oposição e Lula na Guarapiranga, pescando suas tilápias...

EDUARDO GRAEFF, 57, é cientista político.

domingo, setembro 16, 2007

PT, Mercadante e Farc

Em 2005 o Senador petista Mercadante negou as ligações do PT com as FARC.
http://www.mercadante.com.br/pronunciamentos/pronunciamento_165.html

´PT vem de uma longa tradição democrática`
O SR. ALOIZIO MERCADANTE (PT - SP) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faço questão de vir à tribuna para responder, sobretudo, às duas últimas intervenções, a do Senador Álvaro Dias e a do Senador Demóstenes Torres.

Em primeiro lugar, gostaria de afirmar que o nosso Partido, o PT, vem de uma longa tradição democrática. É um Partido que, ainda na ditadura militar, optou pela democracia, lutou pela liberdade de expressão e de manifestação e buscou - exatamente por meio das lutas sociais e dos espaços institucionais em um processo de construção pela luta democrática do povo brasileiro - construir a sua presença na vida pública nacional. Somos, portanto, um Partido que optou pela democracia como valor fundamental, que reivindica o Estado de Direito, o controle do Estado pela sociedade civil, o pluralismo partidário, a alternância de poder e a liberdade de expressão.

Essa tradição de 25 anos do nosso Partido inspirou, inclusive, muitas forças políticas na América Latina. A Frente Sandinista, que chegou ao poder no passado por meio da luta guerrilheira, posteriormente, optou pelo caminho da democracia. Perdeu algumas eleições, ganhando outras e governa uma parte do país, tendo uma forte presença no parlamento com possibilidade de voltar a governar a Nicarágua. Eu diria que o nosso exemplo ajudou a opções como esta, não apenas na Nicarágua, como em toda a América Latina: a democracia como único caminho de transformação consistente, sustentável e duradoura de uma sociedade.

É exatamente por essa opção - que tem uma longa história - que nos sentimos muito confortáveis para responder ao tema apresentado da tribuna, pelo Senador Demóstenes Torres com certo cuidado e com certa cautela, pelo Senador Álvaro Dias, eu diria, S. Exª incorreu em informações precipitadas, que, tenho a certeza, S. Exª saberá reconsiderar após o debate da matéria.

Em primeiro lugar, por ser matéria de responsabilidade do Congresso Nacional, proponho a convocação imediata da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, presidida pelo Senador Cristovam Buarque, para que seja discutida essa matéria. O General Jorge Armando Félix apresentou requerimento solicitando a convocação da referida Comissão, para discutir esse assunto, e tenho certeza de que o Presidente o fará o mais brevemente possível. Espero que, no máximo, nas próximas 48 horas essa Comissão possa se reunir.

Por que é fundamental a reunião dessa Comissão? Porque compete a ela controlar as atividades de inteligência e esclarecer esse episódio, sobretudo aquilo que se afirma ser a participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nesse caso.

Anteciparei as informações que recebi do Ministro-Chefe da Secretaria de Assuntos Institucionais. Segundo S. Exª, parte da documentação lida pelo Senador Álvaro Dias - inclusive apresentada por um Parlamentar no Jornal Nacional - não pertence à Abin. Pelas imagens da televisão, apenas, eles identificaram, de forma cabal, que aquele documento nunca foi produzido pela Agência Brasileira de Inteligência.

Mais do que ninguém, temos o maior interesse que essa investigação seja aprofundada e que se chegue à origem da informação, lançada dessa forma neste momento da história do País. É muito grave o que foi feito. É muito grave por nossa tradição...

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (PT - SP) - Peço à Presidência, dada a relevância da matéria...

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. PT - MT) - V. Exª ainda dispõe de três minutos.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (PT - SP) - Não, eu pediria que tivesse o tempo necessário para responder à matéria de tamanha importância para o País e tendo em vista o tempo concedido aos outros interlocutores.

Pediria a tolerância da Mesa, dispondo-me a conceder o meu tempo, em outros momentos e outras sessões, para compensar, se for possível. Ou, então, que o Senador Alberto Silva possa me conceder o tempo de S. Exª, se for necessário, e eu, depois, poderei retribuir a gentileza a S. Exª.

Peço esse tempo porque pretendo ler a nota do Partido dos Trabalhadores e, depois, reafirmar o que dissemos.

Lembro que essas informações foram produzidas em torno de março e abril de 2002, ainda no Governo Fernando Henrique Cardoso. Também naquela ocasião, o jornal O Estado de S.Paulo publicou a seguinte manchete, com grande destaque: "PT organiza Comitê Pró-Farc."

Naquele mesmo momento, eu fiz o seguinte pronunciamento:

O Deputado Aloizio Mercadante (SP), Secretário de Relações Internacionais do PT, reagiu, ontem, às informações de que seu Partido vai inaugurar um comitê de apoio às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), em Ribeirão Preto [Na verdade, era Campinas, mas o jornalista se confundiu], no interior paulista, no dia 20.

Embora o Prefeito da cidade, Antônio Palocci Filho, pertença aos quadros do PT, a iniciativa - segundo ele - partiu do Secretário Municipal de Esportes, Leopoldo Paulino, que pertence ao PSB [Na realidade, ele era ex-Secretário Municipal de Esportes].

O que eu disse naquela ocasião:

"O êxito político do PT inspirou várias organizações políticas latino-americanas a optarem pela democracia, que, para nós, é um princípio fundamental", disse Mercadante. A posição do PT com relação à Colômbia é pela retomada do diálogo, a favor da paz e do desarmamento. Ele revelou que o Partido havia enviado, na semana passada, uma carta aos dirigentes da guerrilha colombiana, pedindo a imediata libertação da Senadora e candidata à Presidência Martha Catalina Daniels, seqüestrada e depois assassinada pelas Farc.

"Sobre esse comitê, vocês devem perguntar ao Governador Anthony Garotinho", sugeriu Mercadante.

A SRª PRESIDENTE (Serys Slhessarenko. PT - MT) - Senador Aloizio Mercadante, um instante.

Gostaria de consultar o Plenário sobre a solicitação do Líder do Governo, Senador Aloizio Mercadante, que pede um tempo de dez minutos, prazo idêntico ao de inscrição, tendo em vista a relevância dos esclarecimentos que S. Exª pretende prestar. (Pausa.)

Não havendo objeção, S. Exª dispõe de dez minutos.

O SR. ALOIZIO MERCADANTE (PT - SP) - Portanto, o nosso Partido, já naquela ocasião, não patrocinou nenhuma iniciativa de montagem de comitês pró-Farc. Qualquer iniciativa dessa natureza não teve apoio do Partido dos Trabalhadores. Sobretudo as informações dos seqüestros, particularmente do seqüestro da candidata à Presidência da República, Ingrid Betancourt, do Partido Verde, no então processo eleitoral que a Colômbia passava, significou, sob o nosso ponto de vista, uma atitude em relação a qual o nosso Partido não poderia tomar outra decisão. Não cabia qualquer tipo de solidariedade ou manifestação de comitês pró-Farc patrocinada pela Partido dos Trabalhadores.

Nós tínhamos uma posição clara, nítida, uma carta de protesto e de repúdio ao seqüestro, deixando claro que o Partido, como instituição, não patrocinaria e não participaria de qualquer atividade dessa natureza.

Não apenas isso... o Presidente Lula respeitou a vontade do povo, a soberania de um país vizinho, a autodeterminação de um povo e estabeleceu com o Presidente eleito, Álvaro Uribe, relações bilaterais de alto nível. Recentemente, com o conflito entre Colômbia e Venezuela, o Brasil foi colocado como mediador e nos dispusemos a mediar os problemas relacionados à disputa militar que existia desde que a ONU solicitasse, como iniciativa de um organismo multilateral, a quem cabe, sim, buscar soluções pacíficas. E houve um momento de diálogo e de tentativa de desarmamento e de busca de uma saída negociada na Colômbia, como se aconteceu em outros países de forma exitosa na América Latina.

Essa era a nossa atitude, esse era o nosso comportamento.

Por tudo isso, a matéria contém, eu diria, afirmações precárias sobre o envolvimento do Partido dos Trabalhadores, que absolutamente não condizem com a nossa história, com o nosso comportamento, com as nossas atitudes.

Quero ler a nota que o Partido dos Trabalhadores publicou, esclarecendo a posição do partido em relação à matéria:

Nota Oficial

1) O Partido dos Trabalhadores vem a público declarar seu repúdio à matéria de capa publicada pela revista Veja desta semana, intitulada "Tentáculos das FARC no Brasil". A referida reportagem, ao arrepio da verdade, trata de estabelecer os supostos vínculos financeiros entre petistas e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Essa intenção inescrupulosa está registrada sob título "Espiões da Abin gravaram o representante da narcoguerrilha colombiana anunciando doação de US$5 milhões para candidatos petistas na campanha de 2002".

2) A matéria tem como única fonte um lote de supostos documentos da Abin. e volto a afirmar que queremos a reunião da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência para demonstrar que aquilo que foi apresentado como documento da Abin não são documentos da Abin, e serão tecnicamente desmascarados no momento oportuno], eventualmente elaborados por agente infiltrado em uma festa, na qual o padre Olivério Medina, apresentado como 'embaixador' das Farc em território brasileiro, teria declarado sua intenção de apoiar financeiramente candidatos petistas nas últimas eleições gerais. Não há, no entanto, reprodução de algum destes documentos: a revista alega, segundo consta do próprio texto, que foi esta a precondição para que tivesse acesso às presumidas 'informações secretas'.

É interessante notar que a revista não publicou os documentos, mas os documentos circulam nas mãos de Parlamentares da Oposição. Entretanto, poderemos discutir isso, porque, pelas imagens da televisão, sabemos quais são os documentos e vamos demonstrar que eles não são da Abin.

Continuando sobre a nota:

Tampouco qualquer das testemunhas presentes à festa citada e das diversas pessoas ouvidas pela revista Veja, corrobora o fato narrado pela revista, sequer apelando para o sigilo de uma declaração in off.

Não bastasse a irresponsabilidade no levantamento dos fatos, que são levados ao leitor sem evidências ou provas sustentáveis, a reportagem fica definitivamente desmascarada quando revela, com todas as letras, que a revista 'não encontrou indícios suficientemente sólidos de que os 5 milhões de dólares tenham realmente saído das Farc e chegado aos cofres do PT'.

A matéria parte de documentos que são tidos como documentos da Abin, mas que não são da Abin - e vamos demonstrar que não é da Abin aquilo que foi mencionado por dois Parlamentares; um, inclusive, que está nesta tribuna. A própria revista afirma - vou reler: "não encontrou indícios suficientemente sólidos de que os 5 milhões de dólares tenham realmente saído das Farc e chegado aos cofres do PT".

Continua ainda a nota:

Logo a seguir, o artigo assinado por Policarpo Jr. [por sinal, um excelente jornalista, e lamento que a edição tenha sido feita dessa forma] esclarece o que entende por 'suficientemente sólidos', ao deixar claro que 'a investigação de Veja não avançou um milímetro' na comprovação desta suposta movimentação financeira. Mesmo assim, os editores da publicação não hesitaram em estampar, na capa da revista, como um fato averiguado, que o representante das Farc anunciou a doação milionária para os petistas'.

Vale lembrar que a exploração deste tema, as relações da guerrilha colombiana com o PT, não é uma novidade. Nas eleições presidenciais de 2002, o então candidato do PSDB, José Serra, também foi por este caminho em seu programa de televisão. O Tribunal Superior Eleitoral considerou denúncia vazia, a sua desesperada tentativa eleitoreira, concedendo imediato direito de resposta ao nosso partido. Também não se deve esquecer que os supostos documentos que teriam inspirado a revista Veja foram datados em 25 de abril de 2002, quando era Presidente da República, o Sr. Fernando Henrique Cardoso, além de muitos arapongas que andavam como serpentes pelo País, em busca de alguma situação que pudesse impedir a livre vontade do povo brasileiro em votar por mudanças.

Por fim, em respeito à opinião pública, reiteramos que o Partido dos Trabalhadores não tem e jamais teve relações financeiras com as Farc. Tampouco apóia, no país vizinho, qualquer saída para a longa situação de beligerância vivida pelos colombianos que não esteja baseada em um acordo democrático, pacífico e constitucional. O PT tem posição histórica contra o terrorismo de Estado ou de grupos armados. No mais, são inumeráveis as provas de que a política do PT é marcada pelo respeito à autodeterminação dos povos e à soberania das nações, a partir de uma política de não ingerência nos assuntos internos de cada país. Em nenhuma hipótese aceitaríamos, portanto, que nossa vida política sofresse a interferência de governos ou grupos estrangeiros de qualquer origem.

Consideramos a reportagem da revista Veja, pelos motivos apresentados, uma agressão à verdade dos fatos, à honra do Partido dos Trabalhadores e à ética jornalística. Aventuras deste naipe prejudicam a vida democrática de nosso País.

Portanto, volto a solicitar desta tribuna a convocação imediata da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência.

Quero aqui saudar a iniciativa do Senador Demóstenes, que, antes de se precipitar em acusação, ofereceu um requerimento, pedindo que fosse apurado.

Adianto que o Ministro-Chefe da Secretaria de Assuntos Institucionais nos informou sobre os documentos apresentados que não pertencem à Abin, e eles vão demonstrar isso, de forma cabal, nessa audiência.

Quero lembrar que essa suposta investigação da Abin é de abril de 2002, realizada ainda no Governo anterior. Quero lembrar também que, ainda no Governo anterior, esse Padre Olivério foi preso pela Polícia Federal. E há uma reportagem da própria revista Veja nesse sentido, chamada: "Caça às Bruxas". O então Governo Fernando Henrique Cardoso saudou a liberação desse senhor, que havia sido preso pela Polícia Federal naquela ocasião.

É verdade que era um momento em que havia um esforço de negociação e de paz na Colômbia. Não sei se foi solicitada a extradição, mas a polícia prendeu e soltou o mencionado Padre Olivério Medina - que não é propriamente o nome desse senhor.

Por tudo isso, queremos debater esse assunto e queremos que isso seja definitivamente esclarecido.

Ressalto que é só olhar para história de 25 anos do nosso Partido, de compromisso com a transparência, com a ética, com a luta democrática, com a busca da solução negociada e pacífica de todos os conflitos internacionais, de não ingerência em assuntos de outras nações; respeito, autodeterminação à soberania dos povos. Sempre buscamos uma saída negociada e pacífica para esse conflito e para todo e qualquer conflito dessa natureza.

O Partido não patrocinou qualquer montagem de comitê de solidariedade porque não nos associaremos a organizações que praticam seqüestros como esses que ocorreram na Colômbia. Manifestamo-nos publicamente contrários ao seqüestro, particularmente da então candidata - a presidente Ingrid. Desautorizamos toda e qualquer iniciativa de montagem de comitê dessa natureza.

A própria revista reconhece que não está comprovado e não há indícios que comprovem que haja sido feita essa transferência de recursos. Não creio que isso tenha acontecido. Mas não temos qualquer restrição a que isso seja investigado com todo o rigor.

Proponho a convocação imediata da comissão para ouvirmos a Abin, que é a fonte dessa denúncia, e veremos, nessa audiência, que a Abin vai demonstrar, de forma cabal, técnica e consistente, que esses documentos não pertencem à Agência Brasileira de Inteligência. Inclusive, o General Félix conversou com o General Cardoso sobre esse assunto e reafirmando a análise apresentada pelo Ministro, que era o então Ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Institucionais, o responsável pela Abin no Governo anterior. O General Félix reafirmou que, de fato, os fatos são esses.

Portanto, peço a convocação da reunião, para que possamos discutir essa matéria.

Vitória da mediocracia

Gaudêncio Torquato

A História das nações é um continuum de grandezas e vilezas, civismo e apatia, vigílias e sonhos, energias e fumaças, primaveras e outonos. Quando a pátria, que simboliza o sincronismo de espíritos e a comunhão de esperanças, adormece dentro do país - neste caso, uma simples expressão geográfica - fenecem os ideais, a crença nas instituições, as utopias, a força de vontade para mudar o rumo das coisas. Nesse momento, a democracia deixa de ser o sopro para alimento das grandes virtudes para se transformar em fermento da decadência moral dos governantes. É quando dá lugar ao conceito de mediocracia, cuja definição transparece no pensamento de Platão quando diz que "a democracia é o pior dos governos, mas o melhor entre os maus". Em todos os tempos da História se registram ciclos em que os malefícios da democracia suplantaram os benefícios. E isso ocorre nas ocasiões em que os entes políticos declinam de sua identidade, submetendo-se ao império da servidão.

O jogo democrático, lembre-se, não é imune às ignomínias e artimanhas dos jogadores que disputam a loteria do poder. Sob esse prisma, ao dizer que sua absolvição pelo Senado "é uma vitória da democracia", o senador Renan Calheiros não está errado. Esquece, apenas, que a vitória se deve ao demérito, e não ao mérito dos praticantes da democracia e ocorre em pleno outono da política. A batalha ganha pelo presidente do Senado é o atestado da derrota do conceito de pátria enquanto aspiração à grandeza e, ainda, a confirmação do Brasil como espaço a ser conquistado, lembrando a conquista do Eldorado, os primórdios da colonização e a disputa pelas riquezas. Venceram os medíocres, os bárbaros, os confabuladores da velha política, a lei do mais forte e, claro, o PT, que o presidente Lula considera o partido mais ético do País. Já a Câmara Alta (designação esdrúxula), que alguns consideram ter assinado o seu atestado de morte, continuará "vivinha da silva". Poderá passar um tempo na UTI da "avacalhação", como alguém a definiu, certamente pensando nas vacas do senador Calheiros, mas resistirá e continuará a cometer desatinos. Primeiro, porque parcela significativa de seus membros acredita que a banalização da imoralidade acaba insensibilizando os cidadãos e estes esquecerão os fatos ao longo do tempo. Confia-se na hipótese de que a memória do brasileiro é curta e a crônica da criminalidade política, de tão densa, acabará substituindo o affaire anterior pelo mais recente.

Há alguma verdade nisso. Basta ver como a quadrilha dos mensaleiros, que parece coisa vencida, só agora começa a ser esquadrinhada pelo Supremo Tribunal Federal. Há um fenômeno, porém, que tende a ser importante eixo de mobilização social, a partir de setores organizados. Trata-se de uma opinião pública virtual, em processo de intensa expansão, e que deriva do boom crítico-informativo da internet. A massa discursiva que se veicula, diariamente, na malha eletrônica ganha força e poder de influência, arregimentando setores, relembrando fatos e circunstâncias, nomeando agentes políticos, enquadrando figurantes nas histórias. Há, portanto, ao lado de uma opinião pública global - cujos limites e impacto encontram dificuldades para um mapeamento eficaz, em função do campo de abstração aberto por alguns de seus componentes -, uma esfera de formação de pensamento mais palpável, até porque se expressa, diariamente, por meio de redes sociais e blogs, que funcionam como porta-vozes de uma coletividade menos dispersa e mais homogênea. Trata-se de uma formidável bateria de esquentamento do material jornalístico veiculado na mídia massiva. Esta é a nova força a ser considerada no observatório da cena social e política do País. Para quem despreza a teoria dos círculos concêntricos - irradiação de ondas críticas do meio para as margens sociais -, vale conferir: essa locomotiva começa a puxar um novo trem na linha do pensamento.

A absolvição de Renan macula a imagem dos representantes em todas as esferas (contribui para consolidar a imagem de que todos os políticos são iguais), amplia a distância entre a comunidade e o sistema político e corrobora as experiências de democracia direta, que se expandem na esteira das organizações sociais. A lógica para a hipótese se assenta na idéia de que, se os políticos se afundam no poço da decadência moral, resta, ainda, um lugar que abriga virtudes: os núcleos de referências de grupos, como clubes, movimentos, sindicatos, associações profissionais, igrejas e credos. O vácuo entre a política tradicional e a sociedade é, portanto, preenchido por cadeias organizadas. Tal fato indica a tendência para se buscar nova modelagem política, comprometida com valores do que podemos chamar de "democracia da vizinhança". Há, ainda, um ator que tira proveito das coisas ruins que ocorrem ao seu redor: Luiz Inácio. Quanto pior a política, melhor para o presidente. O homem nasceu, mesmo, com a estrela petista virada para a Lua. Enquanto sobra sopapo para deputados nos corredores do Senado, estupidez que desmoraliza a classe política, Lula desfila em carruagem pela Dinamarca. E burila a imagem: distante das coisas ruins, milagreiro, bolso aberto para os pobres, recebido com pompa e circunstância por reis e rainhas. Reina sobre os destroços do Congresso.

Não se pense, porém, que Renan tenha entrado no céu. Tem ainda dois processos a enfrentar. Resistirá à obstrução da oposição e renunciará à presidência da Casa? É bem possível que ceda os anéis para não perder os dedos. Depois da absolvição, foi rezar na Igreja de São Judas Tadeu. Renan Filho, prefeito de Murici (AL), em Juazeiro, na Bahia, pagou promessa ao padre Cícero. Nossos políticos, submetidos ao fogo das denúncias, têm a mania de arrumar parceria com os santos. Não se conhece um milagre sequer que tenha salvado político. Até porque os santos fazem ouvidos moucos às baixezas da política.

True Lies II - a face oculta do governo mundial

True Lies II - a face oculta do governo mundial
por Heitor De Paola em 26 de fevereiro de 2004

Resumo: Heitor de Paola revela detalhes sobre onde a UNESCO, durante a administração de Robert Muller, procurou inspiração para seus programas educacionais.

© 2004 MidiaSemMascara.org

“Dentro da ONU está o germe e a semente de um

grande grupo internacional de meditação e reflexão –

um grupo de pensadores bem informados, em cujas mãos está o

destino da Humanidade. Eles estão sob o controle de muitos

discípulos do ‘quarto raio’ [...] e seu foco é o plano de intuição

Búdica – o plano que comanda toda atividade hierárquica”

Alice B. Bailey [1]

Discipleship in the New Age

Alice Bailey é a inspiradora espiritual de um dos personagens mais sinistros da segunda metade do século passado, Robert Muller.(foto) Muller foi Secretário Assistente durante os mandatos de três Secretários Gerais da ONU: Dag Hammarskjöeld (1953-1961), U Thant (1961-1971) e Kurt Waldheim (1972-1981). Foi o idealizador de um método novo de ensino, o World Core Curriculum [2] (*) e fundador da primeira Escola Robert Muller, em Arlington, Texas.

A base deste novo método era constituída de crenças ligadas à New Age, como o holismo, a Espiritualidade Global, o ensino centrado na Mãe-Terra (Gaia) como o centro de toda as crenças religiosas. Os três princípios fundamentais são: Unidade com o Planeta, Unidade com o Povo e Harmonia do Self. Introduzia-se o ‘Pensamento Crítico’ que não significa o que parece - ensinar a criança a pensar por si mesma - mas ‘a aprender como subverter os valores tradicionais de nossa Sociedade. Você não está ‘pensando criticamente’ se aceita os valores transmitidos pelos pais. Isto não é ‘crítico’. Há um viés nitidamente anticristão e antijudaico com a preponderância de práticas mágicas indígenas, panteístas e politeístas, além da mudança da ênfase do ensino para os ‘relacionamentos’ entre indivíduos e entre eles e o planeta [3]. Em 1989 a UNESCO concedeu a Muller o Prêmio de Educação para a Paz e se iniciaram os estudos para que a UNESCO recomendasse que todas as escolas e universidades do mundo se tornassem, lá pelo ano 2000, ‘escolas para a paz e a não-violência’, através do mesmo Curriculum, de ‘modo a preencher a função cósmica inata em cada um de nós’ [op.cit., p. 45]. Muller dirige e depois passa a ser o principal assessor da UNESCO para a educação.

De onde vinha a inspiração para tais ensinamentos? Da já mencionada Alice Bailey. Bem, não exatamente dela, mas de seu ‘guia espiritual’, o Mestre Tibetano Djwhal Khul (gravura), que teria vivido há milhares de anos e falaria através de Alice. Seus primeiros ‘contatos’ se deram aos 15 anos. Em suas próprias palavras: ‘eu estava sentada no escritório, escrevendo. A porta se abriu e entrou um homem alto vestido com roupas ocidentais mas usando um alto turbante. Ele me disse que havia trabalhos já planejados para que eu executasse, mas que eu tinha que mudar muito minha disposição’. Anos depois, ela veio a tomar contato com as ‘Doutrinas Secretas’ dos Teosofistas e reconheceu que ‘aquele homem era o Mestre Koot Hoomi’[4]. Para sabermos a origem dessas idéias é preciso recuar no tempo, até o final do século XIX.

* * *

Estas ‘Doutrinas Secretas’ eram obra de uma das maiores escroques e vigaristas que já existiram, a fugitiva e renegada russa Yelena Pietrovna Blavatsky que apareceu misteriosamente nos EEUU em finais do século XIX. Falida e percebendo a insatisfação dos americanos e ocidentais em geral com o progresso científico e material e o interesse crescente despertado pelo orientalismo e o espiritualismo, passou a se valer disto ensinando que o homem nem era criação divina nem descendente dos macacos como Darwin dizia (sic) mas sim de ‘seres espirituais’. Espertamente alegou que os cientistas haviam estreitado demasiadamente o conceito de ciência, que deveria envolver também conhecimentos ocultos. Logo atraiu um sem número de seguidores. Posteriormente se associou com outros escroques como Annie Besant, Cel Henry Olcott, Georgy Ivanovitich Gurdijeff, Charles Webster Leadbeater. A seita logo se espalhou pelo mundo como uma ‘ciência espiritual que ensina técnicas destinadas a promover a iluminação: estudo dos mestres, preces e meditação’ [5].

Como diziam que as origens estavam na Índia (aonde mais?) sem nunca terem estado lá, estabeleceram sede em Adyar. Leadbeater um conhecido pederasta pedófilo encantou-se por um menino indiano pobre, Jiddu Krishnamurti, filho de um dos seguidores da seita, de quem obteve a posse do mesmo. Leadbeader havia lançado o estudo sobre vidas passadas e logo estudou as vidas de Krishnamurti que publicou em livro “As vidas de Alcyone” [6]. Muito convenientemente encontrou-se que Leadbeader tinha sido casado com Annie Besant 40.000 anos AC e deste casamento havia nascido Krishnamurti, que logo tornou-se o novo Messias.

Foi através de Leadbeader que Alice Bailey tomou contato com as idéias deste grupo. Em 1922 fundou a Lucis (originalmente Lúcifer, aquele que traz a luz) Trust Publishing e a Escola dos Arcanos. Entre 1919 e 1949 publicou 22 livros, 19 dos quais supostamente ‘escritos’ pelo Mestre Djwhal Khul, inclusive os que influenciaram Muller e até hoje a UNESCO e resultaram em outras sociedades como a ‘Igreja Universal e Triunfante’ e o ‘Centro Tara’. Sua ‘mensagem’ é a paz mundial, a unidade de todas as religiões e a dedicação à Humanidade (**). É considerada a mãe da forma atual do movimento da New Age, a ‘nova espiritualidade’, da qual um dos principais sponsors é Al Gore [7]. Comparando com a ‘Revolução Cultural’ de Gramsci, Olavo de Carvalho diz que ‘[ambas] têm algo em comum: ambas pretendem introduzir no espírito humano modificações vastas, profundas e irreversíveis. Ambas convocam à ruptura com o passado, e propõem à humanidade um novo céu e uma nova terra [8].’

Os adeptos da Nova Era chegaram à conclusão que o principal guia espiritual deste ‘acordar’ foi o padre jesuíta e antropólogo francês Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955). O indefectível Muller escreveu: ‘Teilhard sempre viu as Nações Unidas como a concretização institucional de sua filosofia monista e evolucionária aplicada à política, levando-o a advogar a visão de alguma forma de existência de somente um governo mundial’ [9]. Em seu livro ‘The Future of Man’ Teilhard escreveu: ‘Apesar de que ainda não se pode prever a forma, a humanidade amanhã vai acordar para um mundo pan-organizado’ [10].

A essência das idéias de Teilhard está contido em seu livro ‘O Fenômeno Humano’ [11]. Num esboço rápido, o autor defende uma continuidade absoluta entre criação da Terra, seres inanimados, seres vivos e o homo sapiens, aquele que, através do processo que denominou hominização atinge a capacidade reflexiva e, pela socialização torna-se a ‘camada pensante’ do planeta. É uma visão sintética do desenvolvimento evolutivo universal, terminada no aparecimento abrupto da ‘consciência do self’ – o limiar da reflexão – e posteriormente na união mundial de uma rede de todos os pensamentos humanos, o que denominou noosfera, em cujo âmago preside o Cristo, ápice da evolução. Cristo conduziria a humanidade de forma tanto transcendente como imanente para o ‘Ponto Omega’, o Reino de Deus. Esta noosfera representa o nível superior à biosfera, à hidrosfera e à atmosfera. Isto é, seria algo assim como uma extensão dos fenômenos geológicos e biológicos, produzido por uma ‘nova era’ da evolução, a noogênese (op. cit., pp. 188 ss). Suas obras foram banidas pela Igreja porque conceituavam um Cristo que nada tinha a ver com a noção Cristã.

Pois foi por aí mesmo que Alice Bailey e seu discípulo Muller pegaram Teilhard e estenderam para um conceito sincretista e panteísta de Cristo e de Deus como uma energia impessoal, Deus é tudo, está em tudo, e Cristo nada mais é do que um dos ‘Mestres Ascendentes’, um Avatar, juntamente com Maitreya e Boddhisattva ou o Imã Mahdi ou as ‘forças vivas de Gaia’, a ‘Mãe Terra’ [12]. A preparação para o reaparecimento de Cristo nada tem a ver com o conceito bíblico da volta de Cristo no Juízo Final, mas sim do ‘Mestre Universal’ que estabelecerá uma ‘Era de Ouro’ sobre a Terra.

E é exatamente isto que tem sido ensinado nas Escolas Robert Muller e recomendado pela UNESCO, através da Outcome-Based Education (OBE) (*): o fim de todos os conflitos religiosos pela eliminação de todas as religiões que seriam substituídas por um ‘naturalismo científico’ (**).

* * *

Fazer penetrar nas Nações Unidas estas idéias foi brincadeira de criança para o Secretário Assistente Robert Muller: Dag Hammarskjöeld, o economista racional nórdico, terminou sua carreira na Secretaria Geral como um grande místico, defendendo que a espiritualidade era a chave última para o destino da Terra, no tempo e no espaço [13]. Para se ter uma idéia de qual espiritualidade falava, um folheto sobre a Sala de Meditação no edifício sede, dizia que o misterioso altar magnético dentro dela ‘é dedicado ao Deus que todos os homens cultuam, sob diversos nomes e várias formas’ [id.]. Em 1973, U Thant, outro místico, fundou a organização ‘Cidadãos Planetários’, juntamente com o ativista da Nova Era Donald Keys. Esta organização está devotada à propaganda no Novo Gnosticismo, que elimina as noções básicas das religiões tradicionais. Como já dizia Olavo de Carvalho: ‘Com (a eliminação do) senso da eternidade e da universalidade, vai embora também o senso de verdade, a capacidade humana de distinguir o verdadeiro do falso, substituído por um sentimento coletivo de “adequação” ao “nosso tempo”. A “supraconsciência” da Nova Era [.....] (atinge) a mais absoluta falta de inteligência’ [op.cit., p 71].

Consta que Javier Perez de Cuellar, Secretário Geral de 1982-1992, teria sido abduzido por seres extraterrestres em 30 de novembro de 1989. Embora ele se recusasse a falar sobre isto, numa pergunta direta feita pelo Príncipe de Lichtenstein – supostamente uma autoridade mundial em UFO’s – ele não negou [id]. A possível invasão de seres alienígenas sai do reino da pura ficção científica para ser endossada pelo líder da ONU e considera-se que faria parte da propaganda para criar um governo mundial que representasse a Humanidade num eventual conflito interplanetário (para mais detalhes deste engodo ver [14]). No edifício sede da ONU existe um instrutor oficial de ‘meditação indígena’, Sri Chinmoy, que promove duas sessões semanais nas quais sua audiência deve relaxar e entrar em transe através de músicas.

Robert Muller re-escreveu o primeiro capítulo da Bíblia para incluir as Nações Unidas. Sob o título ‘A Nova Gênesis’ o primeiro verso fica assim:

‘E Deus viu que todas as nações da Terra, brancas e negras, ricas e pobres, de Norte a Sul, de Leste a Oeste, e de todos os credos enviavam seus emissários a uma alta casa de vidro [edifício sede] nas praias do Rio do Sol Nascente, na Ilha de Manhattan, para ficarem juntos, pensarem juntos, juntos cuidarem do mundo e todos os seus povos. E Deus disse: Isto é Bom. E foi o primeiro dia da Nova Era [New Age] na Terra’. (ver [9], p. 17).

Em 1980 a ONU inicia uma série de ‘Meditações para a Paz’, comandada por uma miríade de organizações esotéricas e ocultistas, filiadas à ‘Nova Espiritualidade’, embora isto não tenha vindo a público. Evoluíram para ‘Dias de Meditação’ em intervalos regulares, onde foi criada uma ‘Comissão Planetária’ organizada por John Randolph Price cujo objetivo é:

‘documentar a verdade de que o homem é um ser espiritual que possui todos os poderes do mundo espiritual é, na verdade, Deus individualizado, e desde que perceba esta sua verdadeira identidade, tornar-se-á um Mestre da Mente, com domínio sobre o mundo material’ (cit em [13]).

Foram criados os ‘Trabalhadores da Luz’ (Lightworkers) cuja função é levar a Humanidade a uma nova ‘consciência planetária’ (***).

Uma contribuição nada desprezível foi dada pela ativista albanesa Agnes Gonxha Boyaxhiu, estabelecida na Índia, onde fundou as ‘Missionárias da Caridade’ com vários hospitais para carentes e doentes terminais. O principal deles, em Calcutá, está localizado numa propriedade do Templo dedicado a Kali, a deusa indiana da destruição, cujo culto incluía sacrifícios animais. Em julho de 1981 pronunciou pela primeira vez uma ‘Oração Universal pela Paz’, na Igreja Anglicana de St. James, em Picaddilly, Londres, um dos fronts da promoção da Nova Era em círculos cristãos. Esta oração dizia:

‘Leve-me da morte para a vida, da falsidade para a verdade. Leve-me do desespero para a esperança, do medo para a confiança. Leve-me do ódio para o amor. Permita que a paz encha nossos corações, nosso mundo, nosso universo. Paz. Paz. Paz.’

É curioso que uma das mais importantes figuras do catolicismo no mundo, candidata à canonização – sim, trata-se da Madre Teresa de Calcutá (na foto com Danielle Duvalier, esposa de Jean-Claude Duvalier, o "Baby"-Doc) – ao invés de proferir uma prece cristã, tenha entoado uma adaptação de um antigo mantra dos Upanishads (tratados monísticos das doutrinas secretas hindus de 800-600 AC), modificado pelo ambientalista e monge Jainista Satish Kumar [15]. O mantra original diz: ‘Leve-me do irreal para o real! Leve-me da escuridão para a luz! Leve-me da morte para a imortalidade’.

Nos Upanishads não há lugar para um Deus pessoal como o Deus Judaico-Cristão; Deus é o Self, ‘o âmago interior, o self dentro do homem, e quem o conhece não sofre [...] não é um sujeito lógico, psicológico nem epistemológico, nem mesmo o self desejoso e ativo do idealismo europeu: é o puro sujeito conhecedor (prãjnã âtmã) [16]. Mas muitos cristãos (sic) consideram os Upanishads tão válidos quanto a Bíblia.

Será por coincidência que Madre Teresa mantinha relações estreitas com notórios ditadores assassinos, como Jean-Claude Duvalier, de quem recebeu a Legion d’Honneur em 1981 e – teoricamente impedida de visitar seu País – tenha ido à Albânia pouco depois da morte do ditador Enver Hoxha para prestar homenagens [17]? E posteriormente tenha voltado lá e dedicado seu Prêmio Nobel da Paz ao mesmo, tendo depositado uma coroa de flores do monumento à “Mãe Albânia”, em Tirana, e prestado homenagem no túmulo do ‘Camarada Enver Hoxha’, acompanhada oficialmente pela Sra. Hoxha, pelos principais Ministros de Estado e pelo Presidente da Assembléia do Povo? Jamais ela fez qualquer crítica ao brutal regime de Tirana nem protestou contra a supressão de todas as religiões [18]. Talvez por isto, em 7 de setembro de 2001, tenha pedido para se submeter a exorcismo pelo Arcebispo de Calcutá, Henry D’Souza [19].

O saudável movimento ecumênico – entre religiões nitidamente separadas mas unidas por alguns ideais comuns - está celeremente sendo substituído por um sincretismo religioso que modifica, de dentro, a própria liturgia, uma espécie de espiritualidade Cristocêntrica na qual o Cristo dos Evangelhos perde todo sentido e não haverá mais lugar para o Deus Judaico-Cristão nem para os Profetas Bíblicos. Veja-se a relação deste sincretismo monista com as idéias de Teilhard de Chardin mencionadas acima.

* * *

É pouco provável que haja uma conspiração ocultista na fundação da ONU. É mais plausível que todos esses elementos interessados num Governo Mundial sincretista e ditatorial, venham se aproveitando da facilidade de infiltração no organismo mundial dado o misticismo de seus dirigentes. Com isto se aproveitam na enorme penetração do mesmo em todos os países e em todas as áreas em cada país, para estabelecer uma rede mundial a serviço de seus propósitos. Precisamos estar alertas porque minando as bases religiosas ocidentais ruirá todo o edifício civilizacional nelas baseado: a liberdade, a democracia, a ciência e a tecnologia. Isto se tornará mais visível quando os frutos das escolas aqui mencionadas, em todo o mundo, se tornarem por sua vez nos líderes mundiais. Por esta razão apresentarei em breve um levantamento destas novas bases da educação originadas nas nefastas idéias de Robert Muller e Alice Bailey.



(*) Uma análise deste curriculum, que já chegou ao Brasil, e da educação ali proposta (OBE) já está em curso por este autor.

(**) Refiro os leitores ao primeiro artigo desta série, True Lies e aos Manifestos Humanistas lá citados. Esta é a sua origem.

(***) Para uma ampla compreensão deste processo nos bancos escolares é fundamental a leitura da obra de Berit Kjos, já citada [3], capítulo 4, Establishing a Global Spirituality.

REFERÊNCIAS

[1] Alice B. Bailey, Discipleship in the New Age, Lucis Press, 1955. Links para A Bailey:http://beaskund.helloyou.ws/netnews/bk/toc.html Alice baihttp://www.lucistrust.org/http://www.conspiracyarchive.com/NewAge/Alice_Bailey.htm

[2] http://www.unol.org/rms/wcc.html

[3] cit. em Berit Kjos, Brave New Schools, Harvest House Publishers, Eugene, Oregon,1995, p. 21

[4] http://prophecyconfirmations.com/1136prophecy.htm

[5] Peter Washington, Madame Blavatsky’s Baboon: A History of the Mystics, Mediums and Misfits Who Brought Spiritualism to America, Shocken Books, NY

[6] Teoshophical Society, Adyar

[7] Ver: http://www.uneco.org/Earth_in_the_Balance.html

[8] A nova Era e a Revolução Cultural, 1993, disponível para download em:http://www.olavodecarvalho.org/livros/neindex.htm Recomendo, em especial, a leitura atenta do cap. III, pp. 69-72

[9] The Desire to be Human: a Global Reconnaissance of Human Perspective in an Age of Transformation, Miranana, 1983. Tudo sobre Robert Muller, por ele mesmo, pode ser encontrado nos seguintes sites: www.goodmorningworld.org , www.robertmuller.org e http://www.robertmuller.org/decide/ .

[10] Harper & Row, 1955

[11] Ed. Herder, São Paulo, 1965, tradução do original francês Le Phénomene Humain, Ed du Seuil, Paris. Mais sobre Teilhard em: http://www.richmond.edu/~jpaulsen/teilhard/isnoogen.html

[12] http://prophecyconfirmations.com/1136prophecy.htm

[13] Muller, op. cit, citado em The Occult Character of the United Nations, de Alan Morrison, em: http://www.diakrisis.org/un_occultism.htm

[14] UFOs, Aliens and the Approaching Grand Deception, por Alan Morrison, em http://www.diakrisis.org . Mais uma vez a Sociedade Teosófica está presente: para uma descrição atual da vida extraterrestre por Madame Blavatsky ver: http://www.theosophy.com/theos-talk/200401/tt00460.html ; para uma descrição atual dos habitantes de Marte por Charles Leadbeater ver:http://www.theosophy.com/theos-talk/200401/tt00463.html

[15] Alan Morrison, em http://www.diakrisis.org/mother_teresa.htm

[16] K. Satchidananda Murty, Philosophy in India: Traditions, Teaching and Research, Indian Council of Philosophical Research, 1985 Ver também: Mircea Eliade, Histoire des Croyances et des Idées Religieuses, Ed Payot, 1976, Tomo I, vol 2

[17] http://www.nationmaster.com/encyclopedia/Mother-Theresa-of-Calcutta

[18] Yearbook on International Communist Affairs: Partie and Revolutionary Movements-1990, Hoover Institution Press, Stanford University, CA, Richard Staar, Ed.

[19] www.cnn.com/2001/WORLD/asiapcf/south/ 09/04/mother.theresa.exorcism

True Lies

True Lies por Heitor De Paola em 20 de janeiro de 2004

Resumo: É difícil traduzir true lies para o Português. Talvez a melhor seja mentiras embutidas numa verdade, por sua vez também embutida noutras mentiras. Mentiras com algum fundo verdadeiro que, sendo gradualmente administradas, entorpecem a mente de tal modo que a maioria acaba acreditando.

© 2004 MidiaSemMascara.org

Experimentem colocar uma rã numa panela comágua fervendo. Ela vai pular fora e se safar! Agora, coloquem a mesma rã em água fria e aqueçam lentamente. A rã vai gostar, a mudança gradual de temperatura vai entorpece-la, e quando ferver, ela já não poderá saltar porque estará morta.

É difícil traduzir true lies para o Português. Talvez a melhor seja mentiras embutidas numa verdade, por sua vez também embutida noutras mentiras. E é disto que tratarei aqui: de mentiras com algum fundo verdadeiro que, sendo gradualmente administradas, entorpecem a mente de tal modo que a maioria acaba acreditando. Se fossem mentiras abertas, ou ditas de chofre, seriam rejeitadas, tal como fez a rã. Mas quem não se deixa entorpecer e enxerga a verdade por trás de tanto mascaramento, percebe que o que ocorre hoje no mundo é o resultado de uma estratégia de domínio mundial, é logo tido como paranóico. Por esta razão, este artigo contém inúmeras referências de fontes.
Limitar-me-ei, por ora, a uma das maiores mentiras que vem sendo administrada de forma gradual e eficientíssima na mente das pessoas: a da necessidade de um Governo Mundial que assegure a eterna Paz entre os homens, do qual a Organização das Nações Unidas já seria o embrião. Esta seria a verdadeira globalização, mas enquanto isto se lança a idéia oposta: de que a globalização seria do interesse dos Estados Unidos da América. Esta é uma das mais eficientes estratégias de dissimulação. Lança-se um projeto, atribui-se o mesmo ao inimigo como coisa do demônio e, enquanto ele é combatido, instala-se aquilo mesmo que se finge combater.
A idéia inicial data de 1931 e tem sua origem na Escola Lênin de Guerra Política, de Moscou, onde se ensinava: “A guerra de morte entre comunismo e capitalismo é inevitável. Hoje, certamente, não estamos suficientemente fortes. Nosso tempo chegará em 20 ou 30 anos. Para vencer, precisamos do elemento surpresa, a burguesia deverá ser amortecida, anestesiada, por um falso senso de segurança. Um dia, começaremos a espalhar o mais teatral movimento pacifista que o mundo já viu. Faremos inacreditáveis concessões. Os países capitalistas, estúpidos e decadentes....cairão na armadilha oferecida pela possibilidade de fazer novos amigos e mercados, e cooperarão na sua própria destruição” (1). Posteriormente, esta ofensiva pela “paz” contaria com a encomenda de Stalin a Picasso de um símbolo, que resultou na famosa pomba branca com ramo de oliveira. Foi também por inspiração de Stalin que Picasso forjou uma das maiores fraudes artísticas do século XX, ao trocar o nome de quadro já pronto, La Muerte del Toro, para Guernica, após a destruição desta cidade pela Luftwafe.
Dois anos depois é lançado o primeiro “Manifesto Humanista” apelando para uma síntese de todas as religiões e uma ordem econômica de “cooperação social” (2). Em 1939 H G Wells, um autor de ficção científica obcecado por idéias místicas orientalistas, lança New World Order onde defende que a maior doença da humanidade é o individualismo nacionalista e advoga uma nova ordem de “democracias socialistas”. A brochura é publicada pela Carnegie Endowment for Peace, braço da Carnegie Foundation. O mesmo Wells publicará Open Conspiracy, (3) onde traça a estratégia de uma conspiração mundial. Mais tarde publicará The Shape of Things to Come: A Prophetic Vision of the Future (4), onde, após avaliar o estado mundial de então, mostra um governo mundial já estabelecido que exerce o poder ditatorial.
Em 1948 a National Education Association, fundada e financiada pela Carnegie Corporation, lança o que seria a base para todas as discussões posteriores:
“Fica bem estabelecida a idéia de que a preservação da paz e da ordem internacionais requer o uso da força para compelir uma nação a conduzir seus procedimentos e interesses dentro de um quadro estabelecido por um sistema mundial. A expressão mais moderna desta doutrina de segurança coletiva é a Carta das Nações Unidas. (...) Muitos acreditam que uma paz duradoura jamais será conseguida enquanto o mundo continuar constituído do atual sistema de estados-nações. Este é um sistema de anarquia internacional”. (5)
No mesmo ano o psicólogo comportamental B F Skinner, propõe (6) uma “sociedade perfeita” na qual “as crianças serão educadas pelo Estado, não por seus pais, e serão treinadas desde o nascimento para demonstrar somente os comportamentos e características desejáveis”. Suas idéias passaram a ser implantadas nas escolas americanas. Já em 1931, outro obcecado por ocultismo oriental, Aldous Huxley, (7) lançara Brave New World onde tais idéias era levadas ao extremo, talvez até servindo de inspiração a Skinner. Jamais a engenharia social tinha sido levada a tais extremos (*). Na mesma linha a Associação para Supervisão e Desenvolvimento dos Currículos Escolares (ASCD), publica To Nurture Humaneness: Commitments for the 70’s”, onde se defende que “os controles sociais não podem ser deixados à própria sorte e a mudanças não planejadas – usualmente atribuídas a Deus! (8) “Muitas das decisões que hoje são tomadas pelos indivíduos, em breve serão tomadas por outros em seu nome”! (9). (Meus itálicos)
O mais surpreendente é que em 1985 o Departamento de Estado dá à Carnegie Corporation “autoridade para negociar com a Academia de Ciências da União Soviética (conhecida como um ramo da KGB) no sentido de desenvolver novos currículos e re-estruturar a educação Americana!” (10).
Em 1999 é lançado o “Manifesto 2000” (11), terceira versão do Manifesto Humanista. Em seu item III são lançadas as bases para substituir todas as religiões por um certo “naturalismo científico” com o abandono de todas as idéias metafísicas ou teológicas, mas baseado exclusivamente nas ciências. No item VIII a, “Nova Agenda Global”, inclui “igualdade, estabilidade, alívio da pobreza, redução dos conflitos e salvaguardas para o meio ambiente”. O mais importante é o item IX (A Necessidade de Novas Instituições Planetárias). Uma das estratégias é utilizar “organizações e fundações voluntárias voltadas para a educação e o desenvolvimento social”. Obviamente, as ONG’s, apátridas no sentido mais extremo da palavra, totalmente desligadas dos governos nacionais para implementar o internacionalismo. Mas existem outras: reforma da Constituição da ONU, incluindo “um corpo legislativo bicameral, com um Parlamento Mundial eleito pelo povo, um imposto sobre transações financeiras para ajudar países subdesenvolvidos (seria a tal CPMF Mundial proposta pelo governo brasileiro?), o fim do direito de veto no Conselho de Segurança (objetivo defendido pelas ditaduras), uma Agência Ambiental, e um Tribunal Internacional (Tribunal Penal Internacional) com poderes de fazer valer suas sentenças”.
Nas “Promessas do Manifesto 2000” (12) aparece claramente qual o alvo principal dos mesmos: os Estados Unidos da América. O que nos dois primeiros era oculto, agora se desvela com clareza meridiana. Acusam-se os EEUU de isolacionistas, de estarem dominados por uma “ortodoxia religiosa”, defende-se uma Ética Planetária e novas instituições políticas para lidar com problemas globais. Mas não são os EEUU como um todo: são as administrações Republicanas, já que o Partido Democrata apoiou firmemente este Manifesto, através de uma das mais importantes figuras na New Age, Al Gore. Por isto a grita internacional e as acusações de fraude contra a eleição de Bush. Acusa o Congresso de então, majoritariamente Republicano, de obedecer a influências de uma “coalizão Cristã” (sic), de não retornar à UNESCO, de não reconhecer o Tribunal Penal Internacional, de diminuir a ajuda aos países subdesenvolvidos e de aderir às idéias liberais de livre comércio.
Outros objetivos, ainda não vislumbrados, foram genialmente acrescentados. Descobriu-se um meio de internacionalizar países, como Brasil e EEUU, que têm grandes extensões de território e tribos indígenas, através da criação de “nações indígenas”. Um novo conceito que vai muito além das tradicionais reservas, pois pretende-se um status internacional fora da soberania do País. Nos EEUU várias extensões de terra já são propriedade de ONG’s e tribos indígenas. No Brasil, os dois últimos governos e o atual atuam decisivamente neste sentido. Outro objetivo veio a ser importante pela rápida, extensa e profunda revolução nas comunicações com a Internet. Passou a ser necessário controla-la, o que não é tão fácil como a velha e simples censura dos meios de comunicação. Brasil, Índia e China já propuseram este controle. Cuba e China já a exercem de maneira cabal.
NOVOS DESENVOLVIMENTOS DA FARSA – OS FORUNS SOCIAIS MUNDIAIS
Como já disse acima, a melhor estratégia de dissimulação é estabelecer um projeto, chamá-lo de satânico ou hediondo, atribui-lo ao inimigo visado e, enquanto se combate o projeto como de autoria deste, criam-se as condições de implementa-lo. Autêntica true lie! Para quem pode ler em profundidade, as notícias dos Fóruns Sociais, mundiais ou locais, fica claro que seu objetivo é estabelecer a mais ampla globalização de que se tem notícia. No entanto, todas as manifestações e “teses” apresentadas são contra a globalização! Mas qual? Uma suposta globalização “neoliberal”, apenas um substituto para a falsa idéia de “imperialismo” inventada por Lênin, que seria comandada pelos Estados Unidos da América. Chega a ponto de pessoas de bom nível intelectual argumentarem que, se a globalização fosse idéia comunista existiria um “Manifesto do PC” em cada esquina, e não um McDonalds! Transforma-se a disseminação de empresas americanas pelo mundo como um bem urdido plano de conquista mundial e, evidentemente, como é de praxe e o atual Fórum de Mumbai não foge à regra, pretende-se o boicote a tais empresas!
Estes fóruns não passam de uma mistura psicótica de xamãs, pagés, pseudo-padres, dançarinos exóticos, para entorpecer um bando de adolescentes idiotas imbecilizados, talvez até com drogas das mais pesadas, e faze-los massa de manobra para uma “revolução mundial anti-neoliberal” e “entender como é boa a internacionalização, o “amor” e a “cooperação entre os povos”. Todos convenientemente vestindo jeans, comendo hambúrgueres e tomando Coca-Cola – ou usando só coca, sem cola! – enquanto os verdadeiros líderes traçam a estratégia para a globalização ditatorial. Nada mais são do que o novo passo na cronologia acima apresentada, de conquista de um governo mundial ditatorial, anti cristão, anti judaico (as duas únicas religiões que não entram no “multiculturalismo” planetário! Um exemplo claro de true lie é o uso que se faz da presença de monges tibetanos e indígenas de outros países. O Tibet, invadido pela China Comunista com o custo de centenas de milhares de vida, luta por sua autonomia e todos apóiam. Ora, se os tibetanos podem por que não os ianomâmis, ou txucarramães, os apaches, sioux, etc? Misturam-se alhos com bugalhos e só sobra os últimos pois a China não está nem aí; perdem, Brasil e EEUU!
Estes fóruns têm dado tão certo que já se organiza um novo, mais amplo, o Fórum Universal das Culturas, ou Fórum Barcelona 2004 (13) que, durante 141 dias reunirá pessoas de todas as partes do mundo com uma “oferta artístico-solidária-intelectual que vai de mesas redondas, debates, conferências e espetáculos”. “O Fórum é um novo acontecimento internacional para que pessoas de todas as procedências e culturas se encontrem, dialoguem e sugiram soluções para os principais problemas do nosso planeta” , segundo declarou ao Caderno Boa Viagem do Globo (08 de janeiro de 2004) Jaume Pagés, conselheiro-delegado. Já se podem antever os resultados pois haverá reflexões sobre variações climáticas, religião, movimentos migratórios, guerras e modelos econômicos, tendo como base os três eixos fundamentais: desenvolvimento sustentável, diversidade cultural e condições para a paz!
ONU: A GRANDE FARSA!
Desde 1948 nos acostumamos a ouvir que a ONU é o único organismo capaz de manter a paz entre as nações, a defesa dos direitos humanos e acabar com a pobreza e as injustiças no mundo. Por uma bela jogada de Stalin a sede ficou nos EEUU, em terreno doado por John D Rockfeller Jr. A intenção era dar a impressão ao mundo que os EEUU mandavam na ONU, uma excelente true lie. Foi fundada por um punhado de países, muitos dos quais não tinham a menor intenção de respeitar a carta que estavam assinando. Tal como Hitler, Stalin assinava qualquer coisa sem nenhum compromisso de honrar a assinatura. Como a maior parte dos países não respeitava o Pai dos Povos, foi preciso criar o sistema de veto até que a maré virasse e a onda avassaladora de nações descomprometidas assumisse a maioria. Chegou a hora.
Durante a guerra fria foi implementada, com a eficiência de sempre, a mentira de que a ONU acabara se desvirtuando e passara a ficar a serviço do “imperialismo” americano, enquanto, na surdina urdia-se a ampliação do número de países membros descomprometidos exatamente com os princípios de sua carta e da Declaração Universal dos Direitos do Homem, preparando-se o futuro Governo Mundial. Ainda existe uma maioria que pensa que o interesse neste governo é dos americanos, que ainda mandariam na ONU.
Vejamos. Entre os países membros, 102 não são democracias e não respeitam a liberdade e 47 são notórias ditaduras que violentam permanentemente os direitos humanos. Seis deles foram designados pelos EEUU como terroristas. Segundo levantamento de Fred Gedrich, da Freedom Alliance (14):- os 114 membros do Movimento dos Não Alinhados votaram contra os EEUU em 78% (Este grupo inclui todos os estados terroristas e ditatoriais e consideram heróis Castro, Kadhaffi e Assad) - os 22 membros da Liga Árabe votaram contra em 83% - os 56 membros da Conferência Islâmica, 79% - os 53 membros da União Africana, 80%
Muitos dizem que os EEUU não ajudam os pobres e por isto estes votam contra. Vejamos. Dos 12 bilhões de dólares de ajuda externa direta a 142 países no ano fiscal de 2002, seis países levaram a parte do leão: Israel, Afeganistão, Colômbia, Egito, Jordânia e Paquistão. Israel votou a favor dos EEUU em 93%, os outros cinco, coletivamente, 79% contra.
Por outro lado, os EEUU são responsáveis por 25-27% do orçamento da ONU. Em 1999 (veja-se a “coincidência” com o Manifesto 2000!) o Senado americano aprovou legislação baixando para 20%.
Todas as agências da ONU, futuros Ministérios do Governo Mundial (OMS, UNESCO, OIT, FAO, etc.) estão ocupados por países hostis aos EEUU, sem falar no Secretário Geral, Kofi Annan, uma das maiores jogadas de marketing contra as democracias. Depois de um vigoroso Dag Hammarskjöeld, um birmanês tonto que nunca soube o que fazia lá, U Thant, e um nazista, Kurt Waldheim, agora um legítimo representante dos países “excluídos”, Ghana! (os outros foram Lie Trygve, Butros Butros-Ghali e Javier Pérez de Cuellar).
(Os termos nos quais a ONU avalia o desempenho dos países membros em termos econômico sociais deixam de ser avaliados aqui porque já o foram por Anselmo Heidrich em seu excelente artigo IDH e Obscurantismo da ONU).
Como bem o diz Heidrich: a ONU é uma instituição corrupta e moralmente falida porque serve de guarida e porta voz para algumas das mais sinistras forças mundiais. E pergunta: porque razão os EEUU deveriam permitir que esta organização hostil ditasse sua política externa? Pergunta que qualquer pessoa que pense com mais de dois neurônios faz. Mas a resposta óbvia está acima: é o embrião de um futuro governo mundial, com uma burocracia monstruosa e crescente a exaurir cada vez os povos e a impor ditatorialmente, uma suposta nova cultura, a da New Age, com o fim dos Estados Nações e das religiões e morais tradicionais. Estas serão substituídas por um panteísmo animista e ocultista, assunto para o próximo artigo: True Lies II: as Raízes no Ocultismo.
(*) Wells e Huxley geralmente são lidos como apenas autores de ficção futurista. Na verdade não eram, acreditavam piamente que estavam sendo proféticos. Junto com George Bernard Shaw, pertenciam a sociedades secretas ligadas à uma das maiores quadrilhas de escroques e vigaristas do século passado, “iniciados” nas idéias psicóticas de Yeliena Pietrovna Blavatsky, Annie Besant, Cel Henry Olcott, Georgy Ivanovitich Gurdijeff, Charles Webster Leadbeater e outros, os criadores da Sociedade Teosófica e da farsa chamada Krishnamurti (15). Isto será objeto de um próximo artigo desta série.
REFERÊNCIAS
(1) Aula de Dmitri Z. Manuilsky, tutor de Nikita S. Khrushchev. Ver em: http://www.mt.net/~watcher/nwonow.html e http://www.ukrweekly.com/Archive/1960/1796021.shtml
(2) http://www.jcn.com/manifestos.html
(3) http://www.mega.nu:8080/ampp/hgwells/hg_cont.htm
(4) CORGI Books, Transworld Publishers Ltd.
(5) Dennis Cuddy, The Grab for Power: A Chronology of the NEA, Plymouth Rock Foundation, Marlborough, NH
(6) Walden II http://www.ship.edu/~cgboeree/ http://www.ship.edu/~cgboeree/skinner.html
(7) http://somaweb.org/ http://somaweb.org/w/huxbio.html
(8) pp. 50-51
(9) pp. 79
(10) Charlotte T. Iserbyt, Soviets in the Classrooms: America’s Latest Educational Fad Também em: http://www.newswithviews.com/iserbyt/iserbyt7.htm
(11) http://www.secularhumanism.org/manifesto/ 2000
(12) http://www.secularhumanism.org/manifesto/promise.htm
(13) http://www.barcelona2004.org/eng/
(14) UN General Assembly Voting Habits, em:
http://www.freedomalliance.org/view_article.php?a_ide=312
(15) Ver: Peter Washington, Madame Blavatsky’s Baboon: A History of the Mystics, Mediums and Misfits Who Brought Spiritualism to America, Shocken Books, NY

sábado, setembro 15, 2007

Semana histórica

Diogo Mainardi

Fernando Gabeira acertou um soco num senador. Melhor ainda: ele acertou um soco num senador petista. Melhor ainda: ele acertou um soco num dos senadores petistas que comandaram o banho de descarrego em Renan Calheiros, na última quarta-feira. Epa! Se é assim que funciona, eu também quero entrar na briga.

O banho de descarrego em Renan Calheiros deu certo. Ele saiu purificado do Congresso Nacional. E nem precisou pagar o dízimo. Nós é que pagaremos em seu lugar. O dízimo cobrado pelos bispos petistas tem um nome: CPMF. Que continuará sendo pago por crentes e descrentes, sacramentado por todos os partidos.

Em sua defesa, Renan Calheiros citou Antonio Gramsci, repetindo mais uma vez o argumento de que a imprensa – em particular VEJA – perseguiu-o a fim de desestabilizar Lula. Foi uma das piores semanas de todos os tempos para a intelectualidade de esquerda. Num dia, Osama bin Laden elogiou Noam Chomsky. No outro, Renan Calheiros recorreu a Gramsci. O que restava da esquerda acabou. Depois desses dois episódios, ela nunca mais conseguirá se reerguer.

Renan Calheiros intimidou os senadores prometendo denunciar seus pecados caso eles insistissem em cassá-lo. Nosso papel, a partir de agora, é descobrir os pecados de cada um deles. Descobrir e dedurar. Quanto maior e mais escandaloso o pecado, melhor. Mas defendo a necessidade de denunciar também os pequenos pecados. Nem que seja só para aborrecer. Estupidamente, acostumamo-nos a acreditar que, fora do horário de trabalho, um político tem o direito de se comportar como quiser. Renan Calheiros mostrou que isso é uma tolice, porque um segredo de alcova, por mais ínfimo que seja, sempre pode ser usado como instrumento de chantagem contra a democracia.

Um dos senadores achacados por Renan Calheiros foi Jefferson Péres, que empregou a mulher em seu gabinete. Se isso é verdade, Renan Calheiros está certo, Jefferson Péres está errado. Pena que suas denúncias tenham parado aí. Como reagiram os outros senadores durante seu discurso? O que eles fizeram? Aloizio Mercadante olhou para Patrícia Saboya? Ideli Salvatti pensou nas assessoras de Sibá Machado? Romero Jucá refletiu sobre o destino dos filhos fora do casamento? Edison Lobão foi flagrado por um telefonema de sua mulher?

Quem mais tinha a perder com a queda de Renan Calheiros nem era um senador, e sim Lula. Tanto que ele mobilizou o PT para salvá-lo. O acordo que une Lula a Renan Calheiros parece ser bem mais profundo e temerário do que aquele entre um senador e sua secretária. O acordo tem um aspecto público, ao alcance de todos. Basta analisar o organograma de uma Eletronorte. A dificuldade é tentar desmascarar o que acontece por trás do organograma.

Depois do julgamento no Supremo Tribunal Federal, eu disse que Lula seria lembrado como o presidente dos mensaleiros. Depois do julgamento no Senado, digo que seu legado será Renan Calheiros. Um evento como o de quarta-feira dá uma canseira danada. A gente acaba achando que nem adianta continuar a espernear. Adianta, sim. Adianta para desfazer um monte de crendices que ainda temos sobre o país. Adianta para consolidar a imagem de uma época. Renan Calheiros passa. Lula passa. A gente fica.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Suicídio coletivo

Merval Pereira -

No ambiente supostamente secreto da sessão que ontem absolveu o presidente do Senado, Renan Calheiros, pensando-se a salvo dos olhos e ouvidos da opinião pública, os senadores petistas Ideli Salvatti e Aloizio Mercadante subitamente ganharam uma desenvoltura que a primeira havia perdido em meio ao processo, quando a cada dia ficava mais evidente a culpa de Renan, e que o segundo nunca teve à luz do dia. Os dois foram os mais ativos defensores da absolvição do aliado, com uma argumentação tão politizada quanto falaciosa: insistiam com os senadores petistas tendentes à cassação que a derrota de Renan Calheiros seria uma vitória da oposição, que queria assumir a presidência do Senado.

Na véspera, uma contabilização não oficial indicava que havia na bancada petista seis senadores a favor da absolvição e outros tantos pela cassação do presidente do Senado. Coincidentemente, seis abstenções salvaram Calheiros da forca, seis senadores covardes que, ao que tudo indica, dobraram-se à pressão da direção partidária e fugiram de uma definição, acabando por revelar a fraqueza da liderança carcomida de Renan Calheiros.

Para confirmar que os seis votos acovardados vieram de uma orientação partidária petista, o próprio senador Aloizio Mercadante teve a coragem de anunciar publicamente que foi um dos seis que se abstiveram.

Ecoando os argumentos que o governo estimula, Renan atribuiu genericamente à "mídia" uma campanha contra si, enquanto o senador Almeida Lima disse que a disputa era entre o Senado e a mídia, que classificou de "abjeta, desqualificada, torpe e impudica".

Foi a mesma argumentação utilizada pelos envolvidos no mensalão. O então deputado Roberto Brant exortou seus companheiros a não temer a opinião pública, pois ela só representava uma elite, minoritária diante do vasto eleitorado brasileiro que apóia o governo. Foi absolvido, assim como todos os demais envolvidos no mensalão.

Ontem, o senador Almeida Lima advertiu seus pares para não transformarem o Senado em um poder "covarde, amedrontado, acocorado diante de uma imprensa nacional que quer nos substituir".

Ninguém foi capaz de comemorar vitória tão simbólica da falta de ética que predomina na política brasileira, a não ser senadores cuja existência é por si só o exemplo da decadência do Senado como instituição, como os Almeida Lima ou os Wellington Salgado da vida.

O resultado tão claramente desmoralizante de um dos poderes da República gerou clima de conspiração envolvendo Brasília. Diante de uma vitória que evidencia que Renan já não tem mais nem mesmo a maioria simples do plenário a seu favor, quanto mais condições morais para dirigir o Senado, é preciso perguntar, como nos romances policiais: a quem interessa a desmoralização do Senado?

O senador Cristovam Buarque dizia com todas as letras que interessava ao governo ter um Senado enfraquecido diante da opinião pública, para que o Executivo, e em especial o presidente Lula, se apresentassem como as reservas morais do país. Especialmente Lula, sempre longe - desta vez literalmente, nos países nórdicos -- das falcatruas e trapaças políticas em que sua base aliada está envolvida.

Há quem leve ao paroxismo a desconfiança, lembrando que desmoralizar o Senado interessa institucionalmente ao PT que, no seu 3º Congresso, defendeu o fim do Senado Federal. A luta pela sessão secreta, onde seus líderes cabalaram votos a favor de Renan como nunca fizeram à luz do dia, e o protesto preventivo da senadora Ideli Salvatti, querendo diluir entre todos os partidos a responsabilidade da decisão final, seriam parte desse plano tão secreto quanto secreta foi a sessão que acabou de vez com a credibilidade da Casa.

Esse raciocínio político, embora possa ter um fundo de verdade, não expressa a realidade, ou pelo menos não a sua totalidade. Absolvido Renan, o governo e o PT, embora continuem tendo uma direção subserviente no Congresso, terão também uma presidência que manterá com o Executivo relação necessariamente ambígua, de gratidão, mas, ao mesmo tempo, capaz de chantagens mais ou menos explícitas, dependendo da situação.

A falta de capacidade de Renan Calheiros de reatar os contatos com seus pares para reconstruir um ambiente propício ao andamento normal dos trabalhos do Senado ficará evidente nos próximos dias, quando os governistas tentarão chegar a um diálogo com a parte do Senado que votou pela cassação de Renan.

A pressão para que os novos processos sejam acelerados dentro da Comissão de Ética será aumentada, tal era o sentimento de frustração dos senadores, que se viram derrotados por um presidente que, além de continuar sob suspeita, até a votação final se utilizou da ameaça indireta para tentar neutralizar seus adversários.

Sob o comando do reverendo norte-americano Jim Jones, 914 seguidores da seita Templo do Povo foram forçados, em novembro de 1978, a beber uma mistura de suco de laranja, cianureto e analgésicos, no maior suicídio em massa de que se tem notícia até hoje.

Ontem, qual Jim Jones redivivo, o senador Renan Calheiros levou 81 senadores ao suicídio coletivo numa reunião secreta em Brasília.